Nós, brasileiros, fomos todos vítimas de bitolante educação esquerdista desde o ensino fundamental, situação que recrudesceu com os governos Lula, embora tenha sido estabelecida sobretudo a partir do período ditatorial militar, quando os marxistas se refugiaram nas universidades e na cultura, passando a forjar o pensamento recente da sociedade.
Por isso, crescemos todos tendo uma visão totalmente distorcida de muita coisa (eu não fui exceção a essa regra) e negativa da direita que, a bem da verdade, é um termo que carece de precisão e em relação ao qual há muita confusão, inclusive entre quem se identifica como de direita.
Outro dia li um artigo de um blogueiro liberal dizendo que era preciso recuperar a imagem da direita porque ninguém sofre mais preconceito no Brasil do que a direita, já que a esquerda mentirosa (e como!) relacionou a direita à ditadura militar, o que era um absurdo porque a ditadura nada tinha de liberal em sentido algum. De fato, pelo simples fato de ser ditadura não poderia ser liberal, mas não era nem do ponto de vista econômico, como a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), no Chile. Pelo contrário, era em tudo muito parecida com este período lulopetista em que vivemos, apesar de mais autoritária.
Para esse blogueiro, portanto, ser de direita é ser liberal. Entretanto, entre os vários comentários divergentes do ponto de vista do autor, incluindo os de gente que se definia como de esquerda, um dizia:
Na verdade para mim liberalismo não é ‘de direita’ em lugar nenhum do mundo, mas falta definir o que é um e o que é o outro. Os republicanos americanos são gastadores e contra aborto e liberação das drogas (para ficar em dois exemplos) isto é ‘de direita’, mas não é liberal. Para praticamente qualquer país do mundo liberalismo vai significar menos estado e direita e esquerda implicam em usos (na melhor das hipóteses) diferentes do estado.
No Brasil, a esquerda rotulou a direita fundamentalmente como conservadora e autoritária e teve a ajuda da ditadura militar, que era positivista, no seu afã mitômano. E claro se autodefiniu como progressista, embora a esquerda sempre tenha sido tão careta em termos de moral e costumes quanto a direita conservadora. Vamos lembrar que, há apenas umas três décadas, a dita esquerda ortodoxa resolveu abraçar as causas homo, da mulher, ecologista, negra, entre outras, quando a questão da luta de classes se mostrou insuficiente para continuar mobilizando as pessoas.
Então, concluindo, considero ultrapassadas essas divisões "esquerda x direita", de forma estanque e maniqueísta, incompatíveis com a realidade do mundo atual. Sou fundamentalmente libertária, ou seja, antiestatista, portanto me aproximo dos liberais que oferecem uma estrutura social, política e econômica com menos estado (portanto menos mediocridade, corrupção e autoritarismo), mas não sou nada conservadora, pelo contrário sou bem libertina. Pragmaticamente, voto da social-democracia ao liberalismo, excluindo conservadores e socialistas-comunistas (o que no Brasil não é nada fácil por causa da geleia ideológica), mas sou sobretudo contra autoritários de todo o tipo (nazifascistas, comunistas, populistas, fundamentalistas religiosos..). Para mim, de fato, o embate dos dias de hoje é entre democratas e autoritários, libertários e liberticidas (talvez sempre tenha sido). Fico sempre com quem oferecer mais liberdade para os indíviduos, não descuidando do aspecto social.
Vale lembrar ainda que as definições de direita e de esquerda, liberal, conservador e progressista variaram de acordo com o momento histórico, com os países ou regiões, ou mesmo com o autor das definições. Norberto Bobbio, pensador político italiano (1909-2004), a grosso modo, afirmava que a esquerda seria a que busca a igualdade, considerando as diferenças entre as pessoas fruto das relações sociais, enquanto a direita buscaria a liberdade e consideraria as diferenças entre as pessoas fruto das decisões arbitrárias da Natureza.
Nos EUA, chama-se de liberal quem de fato, para nós e os europeus, são os social-democratas; de conservadores, os partidários do liberalismo econômico mas não das liberdades individuais, em termos de moral e costumes, e de libertários, os liberais de tipo clássico que são antiestatistas e tem uma agenda progressista em termos de moral e costumes. Na Europa e na América Latina (incluindo o nosso país), essas divisões correspondem mais ao gráfico que posto abaixo. Notem que os libertários não se situam nem à esquerda nem à direita.
De fato, melhor seria, na minha opinião, que a humanidade se pautasse por aquilo que mais tem dado resultados práticos na gestão das sociedades, à parte as terminologias, sem deixar de lado preocupações sociais e ambientais, mas respeitando a liberdade de escolha dos indíviduos, sendo os indivíduos a controlar o Estado e não o Estado a controlar os indivíduos.