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terça-feira, 30 de abril de 2019

Aborto seletivo e infanticídio de meninas provocam déficit de 23 milhões de mulheres no mundo



23 milhões de mulheres

Após pico de nascimento de meninos, proporção entre sexos volta a se estabilizar

Faz muito tempo que sabemos que nascem mais homens que mulheres no mundo. Grosso modo, para cada 1.000 mulheres nascem 1.050 homens. Ou seja, há 5% mais recém-nascidos do sexo masculino. Não se sabe a causa dessa diferença, mas que ela existe ninguém duvida. Outro fato conhecido é que em muitos países e culturas as famílias preferem filhos homens. As razões são muitas: em alguns lugares casar a filha exige o pagamento de dote, em outros lugares se acredita que os filhos do sexo masculino são melhores em sustentar os idosos. 

O interessante é que transformar esse desejo em realidade levou ao aparecimento de crenças e mitos, mas nenhum deles funciona. Pernas para cima, relação sexual no início ou fim do ciclo fértil e outras simpatias parecem não alterar a proporção.

Esse fato só mudou quando surgiram métodos capazes de determinar o sexo antes do nascimento. Primeiro o ultrassom, agora os testes sanguíneos. Assim, a partir da década de 1970, os pais começaram a saber o sexo do filho(a) antes do nascimento e essa informação, juntamente com a possibilidade de fazer um aborto legal ou ilegal, permitiu aos pais controlarem o sexo dos seus filhos. É bem conhecido que na China a restrição ao número de filhos e a valorização do filho macho levaram ao aparecimento do fenômeno do aborto seletivo de meninas. Apesar de comprovado, a extensão da prática e a consequência para o balanço dos sexos ainda eram pouco conhecidas. Mas isso mudou com um estudo publicado nesta semana.

Um grupo de quatro cientistas levantou nos registros de nascimento em 200 países quantos meninos e meninas nasceram a cada ano entre 1950 e 2017. Para cada país, eles determinaram o número de meninos e meninas nascidas por ano. Os dados entre 1950 e 1970 foram usados para determinar a razão entre meninos e meninas em cada país antes do ultrassom.

O número é um pouco diferente em diferentes regiões do globo. Para cada 1.000 meninas nasciam 1.031 meninos na África subsaariana, 1.063 no sudeste asiático e 1.067 na Oceania. Em todos os casos, o número é constante durante os 20 anos. Mas a partir de 1970, na Índia e na China e depois em outros países, o número de crianças do sexo masculinos cresce rapidamente. Em alguns países, chega a 1.200 meninos para cada 1.000 meninas. No total, foram identificados 12 países: Índia, Albânia, Montenegro, Tunísia, Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Vietnã, China, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan. No Brasil, a relação não se alterou entre 1950 e 2017.

Porém, o mais interessante é que o pico dessa seleção por meninos ocorreu por volta de 10 ou 20 anos após seu início e depois começou a retroceder. Houve essa redução em 11 dos 12 países, sendo que em 6 o nível normalizou.

Esse pico de nascimento de meninos, que se deve ao aborto seletivo de meninas, criou um déficit de meninas no mundo. Se esse aumento não tivesse ocorrido, o mundo teria hoje 23 milhões de mulheres a mais. O número é grande - 23 milhões de pessoas é aproximadamente a população de São Paulo -, mas é pequeno se pensarmos que existem por volta de 4 bilhões de mulheres no mundo. Mas os cientistas ficaram intrigados com o fato de essa aberração já ter desaparecido em muitos países e estar regredindo em quase todos. Afinal, os exames para determinar o sexo antes do nascimento estão cada vez mais disponíveis, o aborto, cada vez mais acessível, e a preferência por meninos não parece ter desaparecido.

Uma possível explicação saltou aos olhos quando os cientistas observaram que o número de filhos caiu rapidamente, saindo de seis ou sete filhos por casal em 1950 para números próximos a dois em 2017. É exatamente durante essa queda que o excesso de meninos aumenta. E quando as famílias se estabilizam em dois filhos o fenômeno desaparece.

Uma possível interpretação é que, durante os anos em que as sociedades estavam diminuindo os números de filhos por casal, os casais não se conformavam em só ter e abortavam a segunda menina na esperança de ter um menino. Quando dois filhos passaram a ser a norma, parece que o fenômeno desapareceu. Se é essa a verdadeira explicação, não sabemos: podem ter havido mudanças no nível educacional ou nos costumes, mas é certo que esses 23 milhões de meninas desaparecidas estão voltando a nascer. Uma boa notícia.

Mais informações: systematic assessment of the sex ratio at birth for all countries and estimation of national imbalances and regional reference levels. proc. nat. acad. sci (usa) 2019

Fonte: O Estado de S.Paulo, por Fernando Reinach, 27/04/2019


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