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quinta-feira, 22 de abril de 2021

Marie Curie: o que o filme da Netflix deixou de contar sobre a cientista

Foto de divulgação do filme Radioactive, protagonizado por Rosamund Pike; a atriz está caracterizada em frente a uma lousa preenchida com elementos químicos
Marie Curie (Rosamund Pike) ensinando na Sorbonne em cena do filme Radioactive Radioactive/Netflix/Divulgação

Ela visitou o Brasil em 1926, foi a primeira mulher a fazer doutorado na França e a única a ganhar dois prêmios Nobel em campos científicos diferentes.

Protagonizado pela brilhante Rosamund Pike e com a participação especial de Anya Taylor-Joy, Radiactive (2019) foi lançado recentemente na Netflix. Dirigida por Marjane Satrapi, a biografia narra alguns dos principais feitos de Maria Salomea Skłodowska, a Marie Currie, que nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 7 de novembro de 1867, e mais tarde se mudou para Paris, na França, para realizar seu doutorado. Um dos principais nomes da ciência mundial, a polonesa descobriu, em parceria com seu marido, Pierre Curie, dois novos elementos, o Rádio e o Polônio, e possibilitou um dos mais eficazes tratamentos contra o câncer, a radioterapia.

O filme entrega, mas deixa alguns fatos importantes de fora ou até subentendidos, o que é compreensível, levando em conta a escolha de roteiro do diretor. Para você conhecer ainda mais essa cientista e mulher fenomenal, separamos dez coisas sobre a icônica Marie Currie que o longa não te conta (ou te conta muito por cima):

1. Marie Curie é até hoje a única mulher na história a ganhar dois prêmios Nobel

Radiactive (2019) mostra que a cientista foi duas vezes vencedora do Nobel, uma vez de Física e outra de Química, e que em ambos os episódios precisou lutar contra adversidades instauradas pela sociedade patriarcal e sexista. O que o filme não deixa tão explícito é que ela é a única mulher na história da Ciência a realizar tais feitos!

2. Ela é também a única pessoa a ser premiada pelo Nobel em dois campos científicos diferentes

O químico Linus Pauling ganhou dois prêmios Nobel: um em 1954, de Química, por sua obra científica, e outro em 1962, pelo seu ativismo contra testes nucleares. Só que este segunda foi o Nobel da Paz. Não tira o método do norte-americano, considerado um dos cientistas mais importantes de todos os tempos, mas Marie Curie foi indicada e ganhou dois prêmios Nobel no campo da Ciência, tornando pioneira e única na história, entre homens e mulheres, a conquistar tamanha honraria.

3. A polonesa foi a primeira mulher a fazer doutorado na França

Em uma época em que estudar era algo raríssimo para as pessoas do sexo feminino, que eram forçadas a seguir as imposições sociais machistas caso não quisessem ficar mal faladas (como serem boa esposas, mães e donas de casa), Curie não só fez doutorado como foi durante ele que encontrou na radiação, baseada em estudos iniciais realizados por Henri Becquerel, sua tese de conclusão de curso. É importante lembrar que, como o filme mostra, Curie foi a primeira mulher a lecionar na Universidade de Sorbonne.

Foto em preto e branco da cientista Marie Curie andando de bicicleta com seu marido, Pierre, em Paris; eles posam para a foto em uma vilinha florida
Pierre e Marie Currie durante passeio de bicicleta em Paris, em 1895, fotografados por Albert Harlingue em um jardim no bairro de Sceaux Musée Curie ; coll. ACJC / Albert Harlingue, Cote MCP69/Divulgação

4. O pai de Marie também era da área de Exatas

Władysław Skłodowski era professor de física e matemática no ginásio em uma escola de Varsóvia, cidade em que moravam, mas foi demitido por defender a independência da Polônia e a falar abertamente sobre isso. Como da época parte do país pertencia à Rússia czarista, um regime que flertava bastante com o absolutismo, não era permitido ter certas opiniões, ainda mais quando ela eram contrárias ao imperador e a seu governo. Mais tarde, o pai de Marie chegou a abrir um escola, mas esta funcionava muito precariamente.

5. Marie Curie lutou contra a depressão

Radiactive (2019) dá indícios para o espectador de que a cientista tinha algum transtorno mental, cujo estopim foi a morte da mãe, a pianista Bronisława Skłodowska, que faleceu de tuberculose em 1878, quando Marie tinha apenas 11 anos. Desde então, a polonesa tinha aversão a hospitais, que foi onde teve que se despedir de sua mãe. Entretanto, o longa não deixa explícito que Curie lutou contra a depressão, principalmente durante o começo da adolescência, e que o estopim não foi apenas a morte da mãe, mas também a da irmã mais velha, que morreu de tifo quando Curie tinha 7 anos de idade.

6. A cientista não era ateia

Em uma das partes do filme disponível no catálogo da Netflix, Rosamund Pike, que interpreta a cientista polonesa, retruca a irmã, quando questionada sobre acreditar em vida após a morte, e diz que crê, sim, que a mãe esteja em um lugar melhor: em um buraco na Polônia, que é bem melhor que a França. Para muitos, essa fala dá a entender que a cientista era ateia, ou seja, não acreditava na existência de divindades. Contudo, Curie se considerava agnóstica, acreditando apenas naquilo que pode se provar, mas concordando ser impossível afirmar com certeza se Deus existe ou não.

7. Ela bem que tentou voltar para a Polônia

O filme dirigido por Marjane Satrapi falhou nessa questão. Parece que Curie nunca quis voltar para a Polônia, tendo encontrado na França, mais precisamente em Paris, sua casa. Em determinada cena, a irmã da cientista até sugere que ela retorne para Varsóvia, argumentando que lá todo mundo a amava, o que não era bem verdade. Marie cogitou voltar para seu país de origem, sendo que Pierre Curie, seu marido, estava até disposto a ir com ela e se tornar professor, só que a Universidade da Cracóvia se recusou a aceitá-la no papel de cientista, simplesmente porque ela era mulher. Então, no fim, apesar de tudo, a França ainda era um país, entre muitas aspas, mais “promissor”.

8. A polonesa não usou seu dinheiro apenas para ajudar os soldados de guerra

Uma cena de Radiactive (2019) mostra Curie oferecendo suas honrarias de ouro dos prêmios Nobel que recebeu em troca de ambulâncias e equipamentos para ajudar os soldados de guerra, que estavam tendo partes do corpo amputadas sem necessidade, por pura falta de recursos médicos. Nas duas vezes em que ganhou o Nobel, porém, ela distribuiu dinheiro para pessoas próximas que ela sabia que estavam precisando, inclusive muitos estudantes foram ajudados financeiramente pela Madame Marie, como era carinhosamente conhecida.

Foto em preto e branco da cientista Marie Curie durante visita ao Brasil; ela está rodeada de pessoas e o Pão de Açúcar aparece ao fundo
Marie e Irène Curie (de roupas totalmente pretas ao centro) no Rio de Janeiro, em 1926, posando com outros estudiosos em frente ao Pão de Açúcar Musée Curie ; coll. ACJC / Cote MCP1266/Divulgação

9. Marie Curie já esteve o Brasil

Em agosto de 1926, a cientista desembarcou em Belo Horizonte para participar de uma conferência sobre radiatividade na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Naquela época, os primeiros paciente com câncer estavam sendo tratados com a “Curieterapia”, hoje conhecida como radioterapia, no Instituto de Radium de Belo Horizonte, primeiro hospital especializado no uso da radioterapia contra o câncer no Brasil. Ele atraiu a atenção da cientista, que durante sua passagem pelo Brasil visitou o local e doou duas agulhas de rádio, usadas no processo de irradiação dos tumores, para a instituição criada pelo médico Borges da Costa. Curie veio acompanhada de sua filha mais velha, Irène Joliot-Curie, que também fazia pesquisas sobre a radiação aplicada na medicina.

10. Ela morreu aos 66 anos, vítima da sua própria genialidade

O longa não mede esforços para mostrar o quanto a sociedade é oportunista e pensa apenas em lucro, com empresas lançando produtos “radiativos” apenas pelo hype, sem antes fazer questão de saber se era seguro ou não. Sem contar o fato de o ser humano usar as descobertas de Marie e Pierre para o mal, criando as horrorosas bombas atômicas. Mas o filme não conta como a cientista morreu – só que, provavelmente, foi por causa da radiação, já que Curie e mais um monte de gente que havia sido exposta a ela estavam sendo diagnosticadas com anemia e câncer. Marie Curie faleceu em 1934, aos 66 anos, vítima de uma leucemia gravíssima. Até hoje, as anotações e as coisas deixadas pela polonesa só podem ser manuseadas com proteção, por causa da radiação que continuam emanando. 

Clipping Radioactive: 10 coisas sobre Marie Curie que o filme da Netflix não conta, por Isabella Otto, 20/04/2021, Capricho

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Oito filmes protagonizados por mulheres para ver na Netflix


Dicas de filmes no Netflix onde as mulheres são as protagonistas. Vale conferir.

The Girl on the Train

Emily Blunt em “A Garota no Trem” (Imagem: reprodução)
Emily Blunt estrela esse thriller baseado em obra homônima que acompanha a vida de uma alcoólatra recém-divorciada que não lida muito bem com a própria vida após a separação, caindo numa espiral depressiva, incapaz de manter um emprego ou lidar com a solidão. Pouco a pouco, vamos descobrindo mais sobre seu passado, o de seu marido e das pessoas que compõem o novo núcleo familiar, tanto do ex quanto da personagem principal. Este é um filme para aquelas que amaram “Gone Girl” (“Garota Exemplar”) e que amam um bom suspense psicológico e mulheres representadas de maneira excepcionalmente em suas falhas e vulnerabilidades.

Gone Girl
Rosamund Pike em “Garota Exemplar” (Imagem: reprodução/Netflix)
“Garota Exemplar“, título com o qual chegou ao Brasil, retrata o desaparecimento de Amy Dunne e a busca pelo seu paradeiro liderada por seu marido, com a investigação tomando rumos inesperados. Dirigido por David Fincher, esse filme é muito popular e vale a audiência. Se já o assistiu, vale muito a repetição.

Rosamund Pike carrega a película do começo ao fim, numa atuação pela qual foi indicada ao Oscar, Globo de Ouro e Critics Choice Awards, além de várias outras premiações no ano de 2015.

Annihilation
Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Tuva Novotny, Natalie Portman e Jennifer Jason Leigh
(Imagem: divulgação/Paramount Pictures/Netflix)
Outro filme extraído das páginas de um livro, “Annihilation” (“Aniquilação”) segue a trilogia de Jeff Vandermeer, que conta sobre a descoberta de uma área protegida pelo governo: quem vai lá explorar, nunca retorna, e quem consegue, sempre deixa uma parte de si para trás. O filme faz algumas modificações no material do livro, mas não fica aquém dele.

É uma ficção científica bem elaborada, com protagonismo feminino em peso e um elenco notável: Natalie Portman é a protagonista e a equipe que lhe acompanha para a área desconhecida é composta por Tessa Mae Thompson, Jennifer Lason Leigh e Gina Rodriguez. Oscar Isaac faz o ex-marido de Portman. Quem gosta de elementos de ficção científica e reflexões sobre a humanidade e o que significa ser humano não pode perder esse filme.

RAW
Garance Marillier em “Raw” (Imagem: reprodução)
Não é para quem tem estômago fraco. “RAW” celebra o horror contando a história de Justine, uma estudante de veterinária que começa a mudar seu comportamento após o ingresso na faculdade, onde se envolve numa espiral canibalista e de vampirismo. Além de protagonizado por uma mulher, o filme também é dirigido por outra, Julia Ducournau, em estreia eficiente atrás da câmara.

“RAW” pode ser visto como um filme de horror gore ou metáfora sobre um dos períodos mais transformadores na vida de alguém, destoando da postura rudimentar normalmente agregada ao gênero. Um filme repleto de simbologia e feito de forma bem competente.

Loja de Unicórnios
Brie Larson em “Loja de Unicórnios” (Imagem: divulgação/Netflix)
Brie Larson nos leva ao seu coming of age, mas para aqueles perto dos seus 30 anos: um drama com adições de romance, mas cujo coração mora no cerne dramático mesmo. Idealizado e dirigido por Larson, ela também dá vida à protagonista, uma mulher expulsa da Academia de Artes que precisa retornar para a casa dos pais, sentindo-se descrente na própria capacidade e sem rumo algum na vida.

A obra dialoga perfeitamente com os apaixonados por criação, amantes da escrita, das artes e do meio cultural, mas também fala a qualquer pessoa que tenha tido um sonho e foi derrubada pela vida. Vemos a saga da protagonista e sua vida indo do multicolorido ao cinza. Também assistimos a abordagem de temas como  a descoberta do amor, o assédio em ambiente de trabalho, o sexismo e reconexão com a própria família.

I Am Mother
Cena de “I Am Mother” (Imagem: divulgação/Netflix)
“I Am Mother” é protagonizado por figuras femininas e envolve elementos de tecnologia, humanidade, ciência e inteligência artificial. Tudo se mistura num cenário pós-apocalíptico onde ninguém tem nome. Mesmo a protagonista tem apenas o nome de “Filha”. Os outros personagens também levam alcunhas não personalizadas.

No resumo da Netflix, vemos que “a humanidade foi dizimada e o futuro recomeça com uma garota e um robô que ela chama de mãe”. A relação entre mãe e filha é abordada conforme vamos descobrindo mais sobre o universo, o que levou ao fim da sociedade, como ela era e as possibilidades de reconstrução. As atrizes Clara Rugaard-Larsen e Hilary Swank conseguem manter a atenção dos expectadores, apesar do isolamento do cenário.

A Gente Se Vê Ontem

Eden Duncan Smith e Danté Crichlow em cena de “A Gente Se Vê Ontem”
 (Imagem: divulgação/Netflix)
Produzido por Spike Lee e dirigido por Stefon Bristol, "A gente se vê ontem" apresenta dois pré-adolescentes de inteligência superaguçada tentando provar que viagem no tempo é possível. Eles conseguem o feito, mas a princípio, o avanço é pouco – voltam apenas 24 horas no passado. A história se desenrola de fato quando o irmão da protagonista acaba sendo morto por dois policiais brancos, e ela convence seu amigo a voltar no tempo para tentar salvar o parente amado. Ambos embarcam nessa jornada mesmo cientes de que mudar os acontecimentos pode acabar afetando o presente de modo inesperado.

Durante o longa, as diversas tentativas frustradas da dupla refletem sobre escolhas, consequências, num misto de ficção científica e drama emocional. A mensagem principal é sobre resistir contra as adversidades, mesmo contra tudo. Existe também crítica à violência policial e contra o racismo. “A Gente Se Vê Ontem” funciona bem para quem gosta da temática de ficção científica e quer assistir o protagonismo de jovens negros, com destaque para a atriz principal.

February
Kiernan Shipka em cena de “February”, título em português (Imagem: divulgação/Netflix)
Estrelado por Kiernan Shipka, Emma Roberts e Lucy Boynton, “Enviada do Mal” se passa num instituto exclusivo para garotas e garante um clima mórbido e frio do começo ao fim do filme. Trata-se de um terror sem sustos e reações forçadas, levado por sua narrativa de suspense, com foco nas atuações das protagonistas.

Típico terror psicológico, de ar sombrio e  estilo fragmentado, criando um cenário de quebra-cabeças com perguntas provocativas até o final da projeção. “February” mantém o mistério até o terceiro ato, sendo muito indicado para os amantes do terror ou de apenas contos misteriosos cujas respostas podem ou não ser respondidas.

Com informações de Delirium Nerd, por Nathalia de Morais,  09/08/2019

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Game of Thrones: de como estragar o final da série mais popular de todos os tempos

Daenarys, em estilo nazi, fala a seu exército no episódio final de GoT

Game of Thrones: de como estragar o final da série mais popular de todos os tempos

por Míriam Martinho

No site do Omelete, a resenha do final de Game of Thrones, por Camila Sousa (19/05), declara que o sentimento geral sobre a série é de que o final "apresentado em tela não foi construído de forma satisfatória". De que a série, assim como Lost e Dexter, começou bem e terminou decepcionante, perdendo-se na própria narrativa. Foi educada.

De fato, maratonei a série toda, enquanto assistia a última temporada, portanto, estou com a memória bem fresca, e não posso deixar de concordar com o dito acima. Para começo de conversa, desconstruíram a principal protagonista da série, Daenarys Targaryen (a quem ensinaram todos a amar),  principalmente a partir do quarto episódio da última e muito irregular oitava temporada.

Daenarys toma o controle da cidade escravista de Meereen
O perfil de Daenarys construído pela série até a temporada oito (um resumo de sua trajetória)

A história da rainha dos dragões é contada, durante a série, como uma trajetória de superações. Começa com Daenarys, jovem mulher, vendida para um bárbaro dothraki pelo próprio irmão, em troca de exército, conquistando o bruto e virando a Khaleesi (rainha) da horda. Quando o marido morre, ela o coloca numa pira funerária, com os três ovos de dragão que ganhara de presente e se une a eles em meio as chamas. Ao fim do rito, ressurge nua, incólume, e com três dragões bebês (Drogon, Viserion e Rhaegal). se empoleirando em seu ombro e a seu redor (episódio 10, primeira temporada). Os dragões são nomeados a partir do nome do falecido marido de Daenarys, Khal Drogo, e de seus dois irmãos, Viserys Targaryen e Rhaegal Targaryen.

Daí por diante, inicia-se sua saga repleta de conquistas, apesar de alguns reveses (cidade de Qahar, onde obtém um navio; cidades da Baía dos Escravos, Astapor, onde finge vender um de seus dragões em troca do exército dos Imaculados, a quem depois ordena que mate todos os senhores de escravos locais; cidade de Yunkai, onde também liberta escravos e agrega os mercenários dos Corvos Tormentosos a seu exército - o líder destes, Daario Naharis inclusive se torna seu amante - ; cidade de Meereen, a última cidade escravagista onde se instala e de onde tenta consolidar o fim da escravidão na região, renomeando a Baía dos Escravos de Baía dos Dragões.

Os traficantes e senhores de escravos locais se rebelam contra Daenarys e, quando ela estava assistindo lutas numa arena (fossa de Daznack) em Meereen, é atacada pelos Filhos da Harpia, grupo mascarado contrário às suas políticas abolicionistas. Drogon, seu maior dragão, aparece para tirar a mãe do cerco e, embora ferido, a leva pelos ares para a região do Mar Dothraki. De volta ao começo de sua saga, às voltas com os dothraki que a capturam, Daenarys põe fogo na tenda onde os Khals (chefes da tribo) tentavam decidir seu destino, entre ameaças de estupro e morte, mata-os queimados e ressurge das chamas. Ao vê-la emergir da cabana em fogo, os dothraki ajoelham-se diante dela, tornam-se parte de seu exército, e voltam com ela para Meereen. Em Meereen, Daenarys usa seus dragões para atear fogo na armada dos escravagistas que pretendiam derrubá-la e, depois, decide deixar Daario, como governante da cidade, para manter a liberdade da população e a paz local. Ruma então para Westeros em busca de reaver o Trono de Ferro, situado em Porto Real (na vida real, cidade de Dubrovinic na Croácia), usurpado dos Targaryens que haviam governado os 7 reinos por 3 séculos. Quando parte, seu exército e frota já estavam como no vídeo abaixo, ao som do mais belo tema musical da série (o da casa Targaryen).



O perfil de Daenarys permanece coerente na temporada 7

De volta à Pedra do Dragão, antiga residência dos Targaryens, Daenarys se reúne com três ilustres convidadas: Olenna Tyrell, Yara Greyjoy e Ellaria Martell. As três mulheres tentam convencer Daenerys a atacar Porto Real de imediato com todo o seu poderio, que a cidade cairia em um dia. Daenarys, assessorada por Tyrion Lannister (que matara o próprio pai, por isso era fugitivo), que se tornara seu consultor (Mão da Rainha) em Meereen, diz não querer ser rainha das cinzas, o que aconteceria se atacasse diretamente Porto Real. Daenerys explica às outras mulheres como pretende atacar Cersei Lannister: sitiando Porto Real com os exércitos de Tyrell e Martell e tomando o Rochedo Casterly, propriedade dos Lannister, com os Imaculados e os dothraki. Meio a contragosto, as aliadas concordam, mas Olenna, em conversa particular com Daenarys, lhe diz que não deveria escutar "homens inteligentes" como Tyrion, que ela havia se mantido viva por tanto tempo, ignorando-os. Disse ainda que os  senhores de Westeros eram ovelhas e que Daenerys tinha que ser quem de fato ela era: um dragão.


Infelizmente, Daenerys não ouviu a voz da sabedoria de suas aliadas, sobretudo de Olenna, e o resultado foi a prisão de Yara Greyjoy e Ellaria Martell e a morte de Ollena Tyrel pelos Lannisters e seus aliados. Pior, entra em cena Jon Snow, bastardo da casa Stark, que vem à Pedra do Dragão para extrair o vidro de dragão (uma das únicas matérias primas capaz de matar os caminhantes brancos, seres inumanos) e pedir que Daenarys se some a ele na luta contra os mortos-vivos do Rei da Noite, uma ameaça tão grande que qualquer outra luta entre os humanos deixava de fazer sentido. 

Daenarys acaba permitindo que Jon Snow extraia o vidro de dragão das cavernas de sua região, e Tyrion se sai com a brilhante ideia de capturar um zumbi para mostrar à irmã Cersei de modo a convencê-la a estabelecer uma trégua entre os humanos para lutarem todos contra os mortos do Rei da Noite. Jon Snow e outros vão em busca do tal espécime, ficam sitiados pelos caminhantes e seus mortos-vivos num ponto além da colossal muralha que separava o extremo-norte dos 7 Reinos e acabam salvos por Daenerys que, nesse resgate, perde um de seus dragões (Viserion) para o Rei da Noite. Começa aí sua série de perdas, acentuada pelo envolvimento amoroso que passa a ter com o sobrevivente Jon Snow no último episódio da sétima temporada.

Cersei Lannister, bem mais esperta do que Daenarys e em coerência com seu perfil egoísta, se compromete a enviar tropas para o norte a fim de combater o Rei da Noite, mas depois declara para o irmão Jamie que mentira. Os Stark e a Targaryen que se matassem para derrotar o Rei da Noite porque se não conseguissem, com dragões e tudo, não seriam os exércitos dela que fariam diferença na batalha. E, se conseguissem, estariam enfraquecidos posteriormente para lutar contra ela pelo controle do trono de ferro.


Daenarys chega em Winterfell para lutar contra o Rei da Noite
 O perfil de Daenarys começa a mudar na oitava temporada

Mantendo o perfil solidário das outras temporadas, Daenarys ruma para Winterfell, lar da casa Stark, com Jon Snow, a fim de ajudar a humanidade na luta contra a extinção. Mas nem ela nem seu exército são bem recebidos pelos nortistas ou pela família Stark, o que, por si só já é um bocado estranho. Numa luta de vida e morte, contra um exército de zumbis, qualquer aliado deveria ser recebido com beijos, abraços e risos. Mas não, Daenarys não é bem recebida por Sansa Stark, já então Lady de Winterfell, que só pensa em causa própria e vê a mãe dos dragões como uma ameaça à soberania da região que sonhava independente. Daenarys, contudo, permanece diplomática até quando, diante de Jaime Lannister, assassino de seu pai, para não se indispor com os anfitriões, inclinados a perdoá-lo, permite que Jaime viva para lutar contra os mortos-vivos em vez de insistir em executá-lo por seus crimes.

No fim, não é ela que salva a humanidade nem seus exércitos nem exército algum e sim Arya Stark predestinada a fazê-lo. Arya consegue matar o Rei da Noite com sua adaga valiriana e simultaneamente todos os caminhantes e o exército de mortos-vivos se desfazem ou se amontoam no chão definitivamente mortos. Para Daenarys só restaram perdas: perdeu metade de seu exército, perdeu seu melhor e mais querido escudeiro Jorah Mormont, em defesa de sua rainha, e ficou sabendo que seu namorado, Jon Snow, era na verdade seu sobrinho Aegon Targaryen, filho de seu irmão Rhaegar Targaryen e de Lyanna Stark (irmã de Ned Stark que criara Jon como filho) e, em tese, seu potencial rival, por ser homem, pelo Trono de Ferro. 

Ainda em Winterfell, depois da cremação dos que morreram em combate e de jantar para celebrar os sobreviventes, Daenarys pede a Jon que não diga a ninguém, nem para suas irmãs (de fato primas), sobre sua real identidade porque a revelação viraria uma bola de neve colocando em risco seu objetivo de se tornar rainha dos 7 reinos. Mas Jon Snow, embora jure que não ia contar nada a ninguém, acaba por revelar a verdade a suas irmãs (primas), que rejeitam Daenarys, porque só pensam na própria família, desejam o norte independente de qualquer poder central e não querem alianças com ninguém (deveriam ter rejeitado a ajuda de Daenarys desde o começo, não?). De fato, Sansa queria ser Rainha de Winterfell e, para tal, precisava do norte autônomo, o que não seria possível com Danaerys no poder. Daí que, embora também tenha jurado guardar o segredo de Jon, interessada em minar Daenarys, Sansa conta a verdade para Tyrion que conta para Varys (outro dos conselheiros da rainha). Aí Varys já começa a cogitar Jon como rei e a dizer que se preocupava com o estado mental de Daenarys (com base no quê?).

Missandei é decapitada
No caminho para Porto Real, do qual nunca deveria ter se desviado, mais perdas para Daenarys. Seus navios com os Imaculados são atacados por Euron Greyjoy, aliado dos Lannisters, bem como um de seus dois dragões remanescentes, Rhaegal, é morto. Pior, Missandei, sua amiga e conselheira, acaba prisioneira de Cersei Lannister ao cair na água, após o ataque que naufragou o navio onde estava. Enquanto isso, Cersei também decide abrir os portões da Fortaleza Vermelha, onde reside, para o povo de Porto Real a fim de usá-lo como escudo contra Daenarys. Se a mãe dos dragões decidisse atacar a fortaleza, teria que matar milhões de inocentes e acabaria com sua imagem de "quebradora de correntes" (adquirida por sua luta abolicionista).

De volta à Pedra do Dragão, Daenarys discute com Varys e Tyrion, que temem um massacre em Porto Real, mas concorda com eles em, primeiro, exigir de Cersei rendição em troca de sua vida. Caso Cersei não aceitasse seus termos, pelo menos a população de Porto Real saberia que ela, Daenarys, havia feito de tudo para evitar um banho de sangue e que Cersei Lannister recusara. Saberiam ao menos a quem responsabilizar quando o céu lhes caísse sobre a cabeça.

Depois dessa decisão, em conversa com Tyrion, Varys demonstra claro interesse em trair Daenarys e apoiar Jon como rei porque tinha direito ao trono, era mais moderado que Daenarys, era homem, o que facilitaria o apoio dos lordes de Westeros ao rei. Tyrion apela para a ideia do casamento dos dois, Jon e Daenarys, mas Varys contesta dizendo que ela era muito forte para ele, ela o curvaria à sua vontade, como, aliás, já acontecia. Em seguida, temos a cena do ultimato a Cersei em frente à Fortaleza Vermelha e a exigência do retorno de Missandei aos seus. Cersei não só não aceita o ultimato como ainda ordena que Montanha, seu monstruoso guarda-costas, decepe a cabeça de Missandei que, antes de morrer, grita "dracarys", o comando para os dragões soltarem fogo nos inimigos.


Daenerys enraivecida toca fogo em Porto Real inteira
O perfil de Daenaerys deixa de ser coerente com o apresentado a série toda

Nos dois últimos episódios da série, vemos uma Daenarys enlutada pelas perdas de seus entes queridos, como Jorah Mormont, Missandei e Rhaegal, e ressentida pelas traições dos que a rodeiam.  Recapitulando, embora tivesse prometido que não contaria às irmãs sobre sua verdadeira origem, Jon Snow lhes disse a verdade. Mal intencionada, Sonsa contou para Tyrion que contou para Varys que passou a conspirar contra a rainha sob seu teto. Além de escrever recados pra todos os reinos dizendo que Jon era o verdadeiro herdeiro do trono de ferro, Varys ainda aparece em conversa com garota da cozinha do palácio dando a entender que estava tentando envenenar Daenarys. Tyrion o denuncia, e Daenarys o condena à morte por traição via fogo de dragão. Apesar de ter denunciado Varys, Daenarys alerta Tyrion que a próxima vez que lhe falhasse seria a última (porque Tyrion contara o segredo de Jon para Varys).

Nesse ponto vemos a quebra do perfil da rainha dos dragões que a série nos ensinou a amar, marcado pela empatia com as pessoas e por senso de justiça. Ao contrário da reunião que teve ao chegar à Pedra do Dragão, com Olenna Tyrell, Yara Greyjoy e Ellaria Martell, quando disse que não atacaria diretamente Porto Real com os dragões, pois não queria ser a rainha das cinzas, desta feita, agora com Tyrion e seu único fiel escudeiro remanescente, Verme Cinzento, Daenarys deixa claro que Cersei considerava sua piedade com os mais fracos sua fraqueza e que estava disposta a contestar essa ideia. Tyrion lhe recorda que os habitantes de Porto Real não eram diferentes dos escravos que Daenarys libertara em Meereen, que eram de fato reféns de Cersei e que não mereciam morrer. Afirma que diante do poderio bélico de Daenarys, por causa de Drogon, o exército e os aliados de Cersei deserdariam, e a rainha se renderia tocando o sino. Pede que a mãe dos dragões aguarde o toque dos sinos pra interromper o ataque, pois não haveria mais razão pra luta. Daenarys parece concordar e diz a Verme Cinzento que apronte as tropas e que aguarde seu sinal para atacar.

Montada em Drogon, Daenarys consegue, com habilidade, evitar os grandes arpões dos chamados Escorpiões (que já haviam matado Rhaegal) e toca fogo em toda a frota de Euron Greyjoy bem como nos Escorpiões em cima das muralhas da cidade, cujos portões também arrebenta abrindo espaço para a entrada de seu exército. Destrói também a Guarda Dourada que estava na frente das muralhas da cidade e se posta com Drogon, em cima de uma mureta dentro da cidade, aguardando o bater dos sinos. Os sinos tocam, mas, contrariando o perfil da personagem, o que se vê é o rosto enraivecido de Daenarys, de olhos dilatados, enquanto observa a Fortaleza Vermeha, morada de Cersei. Alça voo com Drogon na direção da Fortaleza, mas, no meio do caminho, vai botando fogo em toda a cidade, já rendida, matando milhares de inocentes. Se tivesse se dirigido apenas à Fortaleza Vermelha e a destruísse, com Cersei e seus aliados dentro, ainda faria sentido com sua trajetória de matar os vilões e poupar os inocentes. Quando passa a detonar a cidade inteira, porém, Daenarys se torna apenas mais uma nobre insensível em busca de poder. Pra maioria, teria ficado louca como seu pai que fora assassinado exatamente por querer por fogo em tudo e em todos.

Na cena mais absurda do final de GoT, o prisioneiro Tyrion ajuda a eleger o novo rei 
Fim de série cheio de inconsistências, incoerências, e até risível

A partir do ataque de Daenarys à população de Porto Real,  a série descamba de vez, com os personagens dizendo e fazendo coisas sem sentido. Ainda no quinto episódio, temos Arya Stark que chegara à cidade com Sandor Cleagane (o Cão) para matar Cersei sendo demovida da ideia, já dentro da Fortaleza Vermelha, pelo próprio Sandor com um discurso lacrimoso contra a vingança. Logo ela que não exitara em matar por vingança nenhum de seus alvos. Depois quase morre queimada ou soterrada pelo bombardeio de Drogon sobre a cidade, mas escapa num cavalo branco que milagrosamente aparece em meio a uma rua cheia de escombros.

Cersei fora informada, por seu principal conselheiro, que Daenarys já tinha destruído a frota de Greyjoy, a Guarda Dourada, todos os Escorpiões possíveis e imagináveis, mas insiste em ficar postada em frente a uma das janelas da Fortaleza Vermelha vendo a cidade queimar. Quando finalmente é convencida a escapar, a Fortaleza já estava desmoronando, e ela acaba morrendo soterrada com o irmão Jaime, que aparecera para resgatá-la, numa tentativa de escapar pelos porões do edifício já entupidos de escombros. Pelo menos a morte dos dois juntos fez sentido, já que seu amor, tóxico ou não, era de fato muito verdadeiro.


Desconstruindo Daenarys num episódio lamentável do ponto de vista narrativo
No último episódio, então, o roteiro se torna até risível em certos momentos, fora a falta de emoção de sua uma hora e vinte minutos de existência. De verossímil, coerente e emocionante, só as lágrimas de Tyrion ao ver os irmãos, Jaime e Cersei, soterrados nos porões da Fortaleza Vermelha, e a reação de Drogon ao ver sua mãe morta, antes de carrega-la pelos ares. Porque claro, já se sabia de antemão, que alguém haveria de matar Daenarys após seu massacre de Porto Real.

Enquanto os três possíveis assassinos, Tyrion, Arya e Jon, caminham pela cidade destruída rumo ao local onde os exércitos de Daenarys estão reunidos, Daenarys chega a bordo de Drogon e caminha para se dirigir a seus homens do topo de uma enorme escadaria. As asas de Drogon batem atrás dela, fazendo-a parecer, por instantes, uma figura demoníaca (ver aos 02:02 do vídeo abaixo), numa estranha referência judaico-cristã em uma série sobre um mundo pagão. Quando se dirige a seu exército, a imagem faz clara alusão aos discursos proferidos por Hitler em cenários similares, embora não em ruínas. Comparações com o nazismo, em geral, são conhecidas como falácias ad hitlerum, quando alguém não tem mais argumentos razoáveis a apresentar e  quer apenas desqualificar o oponente.

Exatamente o que foi feito aqui pelos roteiristas. Uma personagem que se caracterizou a série inteira como libertadora de escravos e preocupada com os mais fracos e oprimidos, desde seu primeiro momento, chega ao final da história como uma tirana, comparada ao demônio e a Hitler. Se fosse Cersei no lugar de Daenarys, caracterizada como vilã desde sempre, nas mesmas circunstâncias, a comparação até procederia, mas, no caso de Daenarys, foi a maior forçação de barra que já se viu numa série.



Mas o festival de inconsistências e incoerências perfilam por todo o episódio. Tyrion vai preso por ter soltado o irmão, Jaime, a fim de que ele tentasse salvar Cersei e fugissem juntos. Foi considerado traidor, mas, ao contrário do que ocorrera com Varys, não é executado rapidamente. Fica na prisão para poder convencer Jon a matar Daenarys.

Arya diz para Jon que ele era uma permanente ameaça a Daenarys, pois ela sabia sua verdadeira origem, e que podia reconhecer uma assassina quando via uma. Logo Arya que aprendeu a matar desde criancinha, meteu-se numa sociedade de assassinos para se aprimorar na arte de matar e assassinou sem qualquer problema vários de seus desafetos.

Jon vai visitar Tyrion numa sala improvisada como cadeia. Antes de entrar, deixa suas armas com os Imaculados que guardam a cela. Tyrion lista uma série de razões pra que Jon mate Daenarys. Jon deixa a cela e vai se encontrar com Daenarys na sala do Trono de Ferro que subsistira ao ataque. Ao contrário do que ocorreu na frente da cela de Tyrion, cheia de guardas, não havia um só imaculado para guardar a rainha, como de costume. Apenas Drogon guardava a entrada do local, mas, como Jon era meio Targaryen, considerava-o família e o deixou entrar. Difícil é entender porque Daenarys ainda confiava em Jon, depois que não guardou o segredo de sua origem, como ela até suplicara.

Jon Snow mata Daenarys
Jon reclama com Daenarys que viu guardas Lannisters já rendidos sendo executados, que viu crianças pequenas incineradas e pediu clemência para Tyrion. Uma Daenarys irreconhecível diz que as execuções eram necessárias, que Cersei tinha usado inocentes para tentar paralisá-la, por isso precisava contestá-la, e que não podia poupar Tyrion porque ele a traíra, que não dava para ficar realizando pequenas clemências (sic). Daenarys tenta convencer Jon a participar do mundo novo que queria criar, eles se beijam, e ele a mata. Drogon chega para destruir o Trono de Ferro (porque a luta pelo poder é a fonte de todos os males) e levar o corpo da mãe para lugar desconhecido, mas poupa Jon por ser Targaryen também. Pelo menos, no caso do dragão há uma explicação plausível para  que não matasse Jon.

Porque nos outros casos, ninguém entende porque nem os Imaculados nem os dothraki executaram Jon e Tyrion imediatamente. Pelo contrário, no que parecem ser bons tempos depois da morte de Daenarys, tanto que há exércitos do norte ao redor de Porto Real, aparece Tyrion todo cabeludo, barbado e sujo sendo levado de algemas, por Verme Cinzento, para um encontro com os lordes e ladies de Westeros. Aí a situação descamba para o risível mesmo, pois um prisioneiro acaba decidindo, numa conversa muito mole, um novo rei (Bran Stark) de quem ele seria o novo conselheiro maior (de novo "Mão do Rei"). E Jon Snow, que também aparece posteriormente numa cela, todo esfarrapado e desgrenhado, é condenado de novo a ir para a Patrulha da Noite, onde vai poder viver entre os selvagens, como sempre quis. Será que alguém acha plausível um prisioneiro dizer para seu captor, no caso Verme Cinzento:  - "Olhe, não cabe a você decidir meu destino. Deixe eu eleger aqui, com as ladies e os lordes, quem será o novo rei, para ele decidir o que será de mim." É muita palhaçada.

No fim, Sansa sonsa, torna-se rainha de Winterfell, pois "convence" seu irmão Bran da importância do norte independente. Arya Stark vai em busca de novas terras ao oeste, ao menos uma conclusão válida para sua personagem. Jon volta para a Patrulha da Noite e depois segue com os selvagens para o norte do norte, e os 6 reinos passam a ser governados por Bran, o quebrado, e os coadjuvantes da série, como Brienne de Tarth, Sor Davos Seaworth, Samwell Tarly, Sor Bronn (aquele mercenário que lucrou com as guerras em geral) e claro Tyrion, cúmplice de regicídio.

Análise Final

Aproveitando que tinha maratonado a série enquanto via a última temporada, fiz esse resumo da trajetória da Daenarys Targaryen para demonstrar a incoerência da conclusão que deram para a personagem e também a fim de fazer um descarrego da irritação que o final da série me provocou. A questão nem é o fato da principal protagonista da série ter morrido. Em outras séries muito boas, como Breaking Bad, para citar um exemplo, o protagonista morre no final, mas toda sua trajetória, durante os episódios exibidos, leva naturalmente a essa possibilidade. Sua morte foi coerente com o estilo de vida do personagem, uma conclusão totalmente verossímil. Poderia citar outras.

No caso da Daenarys foi bem ao contrário. Repetindo, o caráter empático da personagem aparece já quando ela era só a Khaleesi de Khal Drogo, líder dos dotrakhi, e salva mulheres, de uma aldeia que os dotrakhis saquearam, de estupro e escravidão. Quando se instalou em Meeren, agora já como mãe dos dragões, chegou a prender dois deles nos porões da pirâmide onde vivia porque um camponês disse que eles haviam incinerado sua filha. Quando adquiriu os Imaculados, mandou que matassem todos os mestres de escravos, mas nenhuma criança. Quando voltou à Pedra do Dragão, disse a suas aliadas, como visto anteriormente, que não iria atacar Porto Real diretamente, com seus dragões e poderio bélico, porque não queria ser a rainha das cinzas. E, contrariando suas próprias prioridades, deixou a guerra com Cersei para ir ajudar Jon Snow em sua luta contra o exército do Rei da Noite. E isso já no terceiro capítulo da última temporada. É plausível acreditar, portanto, que praticamente da noite para o dia, Daenarys tenha se transformado de Dr. Jekyll em Mister Hyde, que tenha perdido a empatia pelos inocentes que sempre defendeu? Perdido seu costumeiro senso de justiça?  Essa virada não se sustenta.



Daenarys era a personagem mais interessante de Game of Thrones exatamente por essa empatia pelo próximo que a fez ser amada pelos escravos libertos e outros que a seguiram e lhe valeu tantos fãs. Registre-se que não libertou escravos só para agregá-los a seus exércitos. Fez questão de deixar um governante em Meereen para garantir que a escravidão não voltaria à ex-baía dos escravos.

Qual dos outros nobres das casas dos 7 reinos tinha qualquer preocupação com seus súditos? Suas preocupações sempre giravam exclusivamente em torno dos seus parentes (inclusive para matá-los, se estivessem atrapalhando) e de seus projetos de poder, buscados a qualquer preço e da forma mais violenta possível. Daenarys combinava a força natural de ser imune a chamas e mãe de dragões com uma consciência muita clara de contra quem podia usar essas forças, como traficantes e senhores de escravos, exércitos inimigos e pessoas que a atacavam. E inclusive conseguia ser até misericordiosa com quem a traía, como foi o caso de Jorah Mormont que, nos seus tempos de Kahleesi, passara informações sobre ela para o rei Robert Baratheon, então rei dos 7 Reinos. Em Winterfell, após a derrota do Rei da Noite, Daenarys inclusive legitimou o bastardo de Robert, que sempre fora um simples ferreiro, como Gendry Baratheon, lorde da Ponta Tempestade. É plausível, portanto, acreditar que, por estar enlutada pela perda de amigos queridos e de seu dragão Rhaegal e por querer contestar a suposta fraqueza que Cersei via em seu coração gentil (como lhe dissera certa feita Jorah Mormont), Daenarys virasse do avesso e saísse matando população civil, crianças, mulheres e idosos?

A série teria que ter tido uns quatro episódios a mais, pelo menos, para explicar semelhante mudança de personalidade de forma convincente. Como ficou, deu a nítida impressão de que simplesmente uma mulher tão ambiciosa e poderosa como Daenarys tinha que morrer. Nem casar com Jon Snow seria solução, embora ela quisesse, porque, na opinião de Varys, ela era muito forte pra ele, iria dobra-lo à sua vontade. Daí inventarem uma mudança de caráter repentino da personagem que a fizesse cometer um desatino e justificasse seu assassinato. Aliás, falando no assassino, Jon Snow que sempre pareceu viver a contragosto, meio sem propósito e guiado por amargo senso de dever, virando Comandante da Patrulha da Noite sem querer, Rei do Norte sem querer, voltando a vida pela mão de uma feiticeira (chegou a pedir que não o trouxesse de volta, caso morresse de novo), só serviu para Daenarys como Dalila para o Sansão. Desde que o conheceu e, por ele se apaixonou, a vida de Daenarys desandou.

Moral da história para as mulheres: se você é ambiciosa, tem um objetivo claro na vida, grande potencial de atingir o que deseja por suas qualidades pessoais, por sua força e determinação, não deixe de lado suas prioridades para cuidar das de nenhum boy (ou mesmo girl) engraçadinho. Ele pode lhe retribuir com uma facada no peito num final de romance tão sem sentido e decepcionante como foi o de Game of Thrones. A gente se sente meio lesada por ter assistido.

N.E. Mal tinha terminado o tragicômico episódio final de Game of Thrones e a HBO já estava divulgando trailer da de Westworld, uma série de ótima qualidade que a gente espera não dure tanto a ponto de estragar como GoT.




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