8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mulheres muito fortes ou quando o desejo é mais forte que as convenções!

Sempre admirei quem ousa ir além dos estereótipos de normalidade impostos pela sociedade. Sobretudo sempre admirei aqueles e aquelas que ousam esculpir, nos próprios corpos, a bandeira libertária do desejo individual contra a padronização das convenções.

Tatuados (hoje mais inseridos na sociedade), body modifiers em geral, travestis e fisiculturistas, para citar alguns tipos mais conhecidos, sempre me provocaram fascínio, às vezes acompanhado de um certo espanto, diante de seu visual e de sua coragem de desafiar os preconceitos, apesar de todas as dores que dele advém. A maior parte dos discriminados, por vários preconceitos passíveis de dissimulação, busca esconder o estigma que lhes foi imposto pela sociedade para evitar a discriminação.

Entretanto, em algumas pessoas, o desejo de afirmar a individualidade, o desejo de afirmar o desejo parece ser tão forte que supera o medo da desaprovação social. E principalmente quando essas pessoas são do sexo feminino, normalmente mais restrito em suas possibilidades de afirmação como sujeito, minha admiração é ainda maior, embora não seja menor às vezes meu estranhamento.

Esse é o caso das fisiculturistas que abordo nessa postagem, aquelas mulheres que malham tanto que seus corpos ficam parecidos com corpos masculinos para lá de bombados, modelito Arnold Schwarzenegger. Naturalmente, não apenas eu me interesso por elas, mas também inúmeras outras pessoas, cada uma por sua razão.

Assim foi com dois fotógrafos, um americano, outro brasileiro que resolveram fazer ensaios com modelos fisiculturistas, explorando o inusitado de rostos maquiados e adornados com brincos se equilibrando em corpos ultramusculosos. O americano Martin Schoeller fez uma série de fotos de fisiculturistas que estão em exposição, na galeria de arte Hasted Hunt Kraeutler, em Nova York. O brasileiro André Arruda produziu também uma exposição, denominada Fortia Femina – Aceitação e Preconceito, com fisiculturistas nuas, que esteve em cartaz, no ano passado, no Centro Cultural da Justiça Federal no Rio. Clicando nos links, você pode ver mais imagens das exposições.
 
As fisiculturistas brasileiras – pelo que se vê nas fotos em preto e branco – são menos esculpidas que suas colegas americanas (nas fotos coloridas). Nestas realmente há uma maior explosão de músculos, músculos que muitos homens não ostentam. Ao observá-las, reflito primeiro que elas contestam, em carne e osso, o mito da maior fragilidade física feminina (essas espantosas mulheres mostram claramente que, querendo, mulheres podem ser tão ou mais fortes que homens); segundo, que elas questionam, com seu visual, o que seria o feminino e o masculino e suas belezas correspondentes.

Esteticamente não me agradam corpos excessivos, independente de aparecerem em homens ou mulheres. Acho que a figura humana fica muito pesada. Prefiro sempre o caminho do meio, equidistante entre as obes@s e @s ultramalhad@s. Entretanto, não posso deixar de admirar a poesia escrita pela coragem dessas mulheres de esculpir, nos próprios corpos, a força libertária do desejo. Nesses tempos novamente tão liberticidas, tão hostis às liberdades individuais, com os agentes do Estado tentando regular toda a nossa vida, sempre é bom destacar quem desafina do coro dos contentes. Tim-tim para elas!

sábado, 10 de julho de 2010

O goleiro Bruno e a candidata de programa!

Duas histórias provocaram polêmica na semana passada. Aparentemente distintas, vejo coisas em comum entre ambas.

A primeira, o escabroso caso do assassinato de Eliza Samudi, amante do goleiro Bruno, do Flamengo, sequestrada, espancada, estrangulada e, por fim, esquartejada, com as partes do corpo jogadas a cães e os ossos enterrados sabe-se lá onde.

A moça, do time das Marias de Chuteiras (moças que vivem às voltas com jogadores de futebol), como amplamente divulgado pela imprensa, transou com o tal Bruno, tendo ficado grávida dele. A partir da gravidez, passou a cobrar de Bruno o reconhecimento da paternidade da criança e correspondente pensão, naquela velha história do toma que o filho é teu.

Golpe dos mais antigos, dado por mulheres a fim de arrumar marido ou pensão, a exigência de Eliza para que Bruno reconhecesse a paternidade da criança nunca foi aceita pelo goleiro que, do tipo machista e violento, logo de início foi lhe metendo umas porradas e exigindo que tomasse abortivos. Eliza deu inclusive queixa numa delegacia da mulher contra as agressões sofridas.

Mas o fato é que a criança nasceu, em fevereiro, levou o nome do pai, e Eliza continuou em sua saga pelo reconhecimento da paternidade do menino, conseguindo que a Justiça obrigasse Bruno a fazer exame de DNA. Agora, não dá para entender porque, na primeira semana de junho, apesar de já ter passado por uma agressão razoável, a moça aceitou ir ter com o goleiro e amigos dele no sítio do atleta, chamado Sítio das Esmeraldas, em Minas Gerais. O desconfiômetro da moça estava desligado que nem cogitou o perigo que corria. Os próximos capítulos desse triste conto prometem ainda muitas cenas de terror.

De qualquer forma, o que impressiona é o fato de um caso que poderia ter sido resolvido na Justiça e, sendo comprovada a paternidade da criança, ter levado a uma pensão para o menino, ter chegado ao que chegou. Afinal o goleiro não é nenhum pobretão. Obviamente, o machismo do jogador mais alguns possíveis traços de psicopatia determinaram o triste fim dessa história.

Basta lembrar que, antes de surgirem evidências mais contundentes que o levaram à prisão, Bruno já havia argumentado, em sua defesa, que Eliza era uma “rodada”, que já tinha dormido com todo o time do São Paulo e feito um filme pornô. Em outras palavras, o filho podia ser de qualquer um, e Eliza era uma vadia cuja palavra consequentemente não valia nada.

Daqui partimos para a outra história que rolou pela Web. O cartunista Nani, no dia 6 agora, fez uma charge (ver imagem ao lado) onde aparece uma prostituta encostada numa parede, rodando a bolsa e dizendo: “o programa quem faz são os fregueses: PMDB, barba, cabelo e bigode; PDT, papai e mamãe e vai por aí...” Nani se referia ao programa de governo da candidata Dilma Roussef que, na segunda, dia 05/06, apresentou primeiro uma versão do documento, ao TSE, cheia de propostas autoritárias, depois apresentou outra versão e, por fim, apresentou as duas, ainda afirmando que haveria uma terceira.

Quando a primeira versão, baseada no programa do PT, chegou ao conhecimento público e do PMDB, partido aliado do governo, houve muita polêmica pelo caráter radical do texto. Após a chiadeira geral, Dilma se saiu com uma história de que o primeiro programa fora apresentado por engano, mesmo ela tendo rubricado e assinado o documento, que era uma coisa do PT, e ela não está de acordo com tudo que diz o PT, e que, por último, a segunda versão era a da coalizão que dá sustentação à sua canditadura.

O cartunista Nani partiu da palavra programa para se remeter à caricatura de uma prostituta, pois prostitutas fazem programa, que se vende a quem paga mais, apontando para o fato de Dilma ter mudado seu programa de governo por pressão do PMDB, PDT, etc...

Incrível ter lido mais comentários irados a respeito dessa charge do que a propósito do assassinato da Eliza Samudi. O que teve de gente acusando o cartunista de falta de respeito com as mulheres, por ter associado à imagem sugerida da candidata petista a uma prostituta, não foi brincadeira. Inclusive o presidente do PT, José Eduardo Dutra, escreveu no blog do Josias de Souza, que reproduziu a charge, o seguinte comentário:
Lamentável a reprodução no blog de Josias de Souza de charge grosseira e ofensiva. Não condiz com a reputação de seriedade do jornalista e está muito abaixo do nível que se espera de sua cobertura das eleições”.
Na página do cartunista, também choveu uma tempestade de comentários irados dada à suposta grande ofensa feita às mulheres pela charge onde se relaciona as idas e vindas do programa da candidata Dilma à imagem de uma prostituta dizendo que o programa quem define é o cliente.

Como disse no início da postagem, vi um pano de fundo comum a essas duas histórias aparentemente distintas. Percebi o quanto a sociedade brasileira continua moralista, hipócrita e machista. Percebi o quanto o valor das mulheres ainda está relacionado ao número de vezes em que abrem as pernas, ficam de joelhos ou de quatro. Sei que me entendem.

O goleiro Bruno procurou desqualificar a cobrança de Eliza quanto à paternidade do filho pelo fato de ela ter feito sexo com muitos homens e participado de um filme pornô. Se ela estava cobrando dele a paternidade é porque devia ter boas razões para acreditar que o filho não fosse de outro, não?

Os comentaristas que ficaram tão ofendidos, por ver relacionada à imagem de Dilma a uma prostituta, têm das prostitutas uma péssima visão, embora muitos hipocritamente  denominem as prostitutas de profissionais como outras quaisquer e inclusive as chamem de trabalhadoras do sexo, no jargão politicamente correto.

A verdade é que o jogador Bruno ficou profundamente revoltado porque uma mulher, que ele via como puta, portanto, não respeitável, tivesse o desplante de lhe cobrar alguma coisa, em particular o reconhecimento da paternidade de seu filho. Tão pouco respeitável seria Eliza, por seu histórico sexual, que poderia ser despachada desta para a melhor que ninguém sequer se daria ao trabalho de investigar, tamanha sua irrelevância. À parte os possíveis traços de psicopatia do sujeito, creditados à frieza com que planejou e executou o crime, o fato é que o número de homens que continua matando mulheres, por conta da visão que tem delas, permanece alto.

A verdade também é que os críticos da charge do Nani consideram simplesmente sugerir que uma mulher seja uma puta uma ofensa inominável porque putas têm como atividade fazer sexo com muitos homens (às vezes também com mulheres) e cobrar por isso. E isso não merece respeito.

Entretanto, de fato, ofensiva e mesmo obscena é essa maneira de pensar. Eliza pode ter sido oportunista, mas a lei faculta às mulheres pedir reconhecimento da paternidade dos filhos e requerer pensão para eles, e nada justifica a violência que sofreu, a morte precedida de tortura. E a charge do Nani só pode ser ofensiva para quem é muito moralista e hipócrita, sobretudo se for do PT, o partido das grandes imoralidades. De fato, ofensivo é associar a imagem das prostitutas, que não tem a vida nada fácil, que têm que trabalhar muito duro para sobreviver, a uma mulher que vendeu não o corpo mas sim a alma por um projeto de poder dos mais obscenos.

Nota: No site do Nani, vale também ver outra página, onde o cartunista mostra que, quando fez charges de outros políticos, inclusive utilizando a imagem de prostitutas, nunca houve tanta "polêmica" nem presidentes de partidos vieram dando lição de moral que eles próprios não têm.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os 8 aspectos do ressentido, por Friedrich Nietzsche.

Transcrevo postagem do blog do Augusto Nunes, falando sobre o técnico da seleção brasileira de futebol, Dunga, que melhor seria chamado de Zangado, o outro anão, enfezado, do conto da Branca de Neve. Tem muitos e muitas Dungas por aí. Recentemente me deparei com criatura dessa espécie, por isso me encantei com essa listagem das 8 características do ressentido. São perfeitas. Some-se a elas a fala da psicanalista Maria Rita Kehl quando afirma que o ressentido, “não conseguiu responder em tempo a uma agressão, real ou imaginária, e rumina a vingança que não será perpetrada: ficará estacionada na amargura que envenena a alma”. É isso aí. Cuidado com a fera, gente! Comam devagar para digerir tudo direitinho, para não sofrer de gases, ficar empachada. E sair por aí querendo se vingar de agressões reais e imaginárias. Pega mal! Enche o saco, dá espinha.

"A memória do ressentido é uma digestão que não termina", constatou o filosófo alemão Friedrich Nietzsche. E o ressentimento é incurável, informam as entrevistas concedidas ─ sempre a contragosto e com a mão no coldre ─ pelo técnico da Seleção Brasileira. Resumidas por Nietzsche, as oito características do ressentido juramentado compõem o mais nítido retrato 3 x 4 da alma de Dunga:

1. O ressentimento nunca é difuso: dirige-se contra alguém, alguma coisa, alguma entidade.

2. Há um contencioso entre o ressentido e o objeto do ressentimento. O ressentido tem contas a ajustar.

3. Para o ressentido, o desejo de vingança é suficiente. O ressentimento é uma revolta e, simultaneamente, o triunfo dessa revolta.

4. O ressentido invariavelmente acredita que sua infelicidade resulta do erro de outra pessoa, ou de um grupo.

5. ”É tua culpa se ninguém me ama”, raciocina o ressentido. ”É tua culpa se estraguei minha vida, e também é tua culpa se estragaste a tua”.

6. O ressentido atribui todos os erros ao outro. Não consegue aguardar em silêncio o momento do acerto. Explode freqüentemente em amargas recriminações.

7. O ressentido não sabe amar e não quer amar, mas quer ser amado. Mais que amado, quer ser alimentado, acariciado, acalentado, saciado. Não amar o ressentido é prova de maldade.

8. Para poder sentir-se um homem bom, o ressentido precisa acreditar que os outros são maus.

Sobrinho da soberba, primo da ira e irmão da inveja, o ressentimento não deve ser confundido com nenhum dos sete pecados capitais. Exibe singularidades suficientes para tornar-se o oitavo da lista. O ressentido, explica a psicanalista Maria Rita Kehl, “não conseguiu responder em tempo a uma agressão, real ou imaginária, e rumina a vingança que não será perpetrada: ficará estacionada na amargura que envenena a alma”.

Isso impossibilita a felicidade real, “aquela que não está na publicidade nem na auto-ajuda, aquela que não tem receita”, observa a autora do livro Ressentimento. A expressão Era Dunga ─ reduzida, aliás injustamente, a sinônimo de futebol feio, tosco, triste ─ desencadeou a digestão que não termina. Ele não consegue ser feliz sequer em momentos que fariam uma carmelita descalça cair no riso solto.

Capitão da Seleção vitoriosa na Copa de 1994, alternou beijos na taça com palavrões endereçados a quem fizera reparos ao time. Depois das duas vitórias do time na Copa da África do Sul, apareceu para a entrevista com o humor de quem acabou de sofrer uma goleada desmoralizante. Técnico talentoso, montou uma equipe que está pronta para materializar pela sexta vez o sonho permanente do País do Futebol. Mas não resiste à tentação da infelicidade.
Se vencer o que lhe parece uma guerra na África, o comandante da tropa triunfante será impiedoso com os derrotados, inclemente com os que discordaram. Em vez de um risonho vencedor entregue à celebração, o Brasil será confrontado com um jovem carrancudo berrando insultos aos que não conseguirão ouvi-los: estarão absorvidos pela festa.

Pior para Dunga. Ele nunca saberá o que perdeu.

Do blog do Augusto Antunes

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lady Gaga de namoro com morena!


Existem duas coisas que toda a celebridade feminina - hoje em dia - deve fazer para ser notícia: uma é fazer um ensaio ou clipe fetichista.

Nesse caso, até os homens entram na roda. Do Bruce Willis, passando pela Sharon  Stone, Madonna, Lady Gaga, Christina Aguilera e até a nossa top internacional, Gisele Bündchen, todo o mundo já apareceu de corset, roupas, arreios e botas de couro e um chicotinho para fazer o figurino. Se a celeb quer parecer ousada e sensual, tem que investir no modelito sadomasô.

Outro quesito fundamental para virar notícia é se dizer bissexual. A estonteante atriz Megan Fox, eleita a mulher mais sexy do planeta por mais de uma vez, já revelou gostar de meninos e meninas (ui!). Outra que seguiu pela mesma linha foi a bizarra Lady Gaga que disse, em entrevista ao site Showbiz Spy, em 2009, gostar também de mulheres.

Se é de fato ou se é para a foto, não se sabe, o certo é que, em férias da turnê mundial Monster Ball, a cantora foi flagrada em momentos de abraços e carícias com uma amiga em um passeio de iate, em St. Tropez, na França. Vejam o momento bi da atual diva do pop. Do jeito que a coisa anda, a heterossexualidade vai sair de moda!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Ricky Martin assumiu que é gay em comunicado. Era o óbvio ululante, então por que falou?

Vou dar razão ao mote deste blog, que é ser contra o coro dos contentes, e questionar o comunicado de Ricky Martin ao público,  no final de março, anunciando que é gay. Nada contra o rapaz da vida louca falar de sua vida o que bem entender - e melhor todo mundo assumido do que enrustido - mas comunicar à imprensa que é homossexual não soa estranho?

Alguém já viu alguma celebridade vir a público dizer que é hétero? Dirão: "ah, mas a sociedade pressupõe que todo mundo é hétero até prova em contrário, por isso não há razão para alguém declarar que é hétero." Mas também não há para declarar que é gay ou lésbica. Se queremos que a homossexualidade seja vista como natural, melhor agir de forma natural, como agem os héteros. Mesmo para quem sempre fingiu namorad@s de fachada, melhor simplesmente aparecer com a namorada, sendo mulher, ou com o namorado, sendo homem, do que reunir a família, os amigos e a imprensa para confessar que é homossexual. Homossexualidade não é pecado para ser confessado nem doença (foi retirada da Classificação Internacional de Doenças em 1990) para se anunciar como um desabafo tipo "tenho AIDS, mas estou vivo e bem."

Principalmente quando esses comunicados vêm de celebridades, como Ricky Martin, sempre me dá a impressão de que a criatura está com dificuldade para aparecer por seus dotes artísticos e resolve apelar para as declarações polêmicas a fim de se manter em evidência. Especialmente no caso de Ricky Martin, há razões para suspeitar de que seja realmente essa a intenção do cantor.

Li numa lista de discussão, em 2005, uma mensagem que falava da declaração de Martin (para a revista Blender) de que gostava de chuva dourada (brincadeira erótica com urina). Nessa mensagem, também já se comentava sobre a homossexualidade do intérprete, embora não tenha sido ela a razão da polêmica que girou em torno da citada declaração e sim à referência a uma preferência sexual da qual não se costuma falar em público. Martin chegou a se arrepender da revelação em função das pesadas críticas que recebeu, mas garantiu seus 15 minutos de fama.

Em junho de 2009, novamente Martin apareceu com outra declaração, desta vez assumindo que também transava com homens. Também porque sempre posara de hétero ("teve" uma namorada mexicana, a apresentadora Rebeca de Alba, por uma década), mas nunca convenceu nesse papel para quem tem um pouco de gayômetro. E, agora, em março de 2010, ele vem a público para comunicar que é gay, como se fosse alguma novidade.

Ativistas LGBT acharam o máximo. Eu achei o mínimo, pelo que ponderei acima, simples questão de marketing pessoal. E não fui só eu que achou estranho. Nos blogs e sites sobre celebridades mundo afora, o que se especula é que Martin teria recebido US$20 milhões, para se confessar homossexual, como adiantamento pelo livro de memórias sobre sua vida que está para lançar. Beeem, por vinte milhões de dólares até eu seria tentada a confessar toda a minha muy rica vida erótica para o Brasil e o mundo. Tá certo que não daria tanto IBOPE quanto as inconfidências sexuais das celebridades, mas alegraria muita gente..kkkkkk

Aliás, pode se ver, aqui no blog do próprio Ricky Martin, o rapaz falando de seu comunicado e de seu livro de memórias. É por essas e mais outras que prefiro o estilo natural e direto, mas sem espalhafato. Já disse isso em artigo que fiz sobre a visibilidade lésbica, há tempos atrás, citando Fernando Pessoa:

Não: não digas nada!/ Supor o que dirá/ A tua boca velada/ É ouvi-lo já./ É ouvi-lo melhor/Do que o dirias./O que és não vem à flor/Das frases e dos dias./És melhor do que tu./Não digas nada: sê!/Graça do corpo nu/Que invisível se vê./ Fernando Pessoa, 5/6-2-1931

O poema foi musicado pelos Secos e Molhados, nos idos da década de setenta, e continua belo e atualíssimo. Confira abaixo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Beijo, entre garotas, no Carnaval, provoca furor no Rio de Janeiro!

No país da corrupção siderada (Zé Dirceu, coordenador da campanha de Dilmatadura, acaba de embolsar mais de R$600 mil em nova mamataria com uma tal de Eletronet), tem gente preocupada com um beijo entre meninas numa balada de carnaval. É mole?

Ouçam a opinião dos comentaristas da CBN. Apesar de falar em homossexualismo, quando o melhor é falar de homossexualidade, os comentaristas demonstram o natural espanto diante de gente que se incomoda com um simples beijo mas não se mexe para lutar pela melhoria do país.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Gente tão louca que pensa que pode mudar o mundo - Feliz 2010!

Gente tão louca que pensa que pode mudar o mundo... E muda exatamente porque confia em suas loucuras!

A doutrinação de esquerda que recebemos, por estas plagas, nos ensina que é o povo que muda o rumo da história, que é a massa que promove as grandes revoluções. Quem não caminha junto com a manada não pode estar cert@.

Papo furado. A História mostra que é bem ao contrário! Revoluções, no sentido saudável do termo, de mudança de paradigmas, são sempre feitas, desde os primórdios da humanidade, porque indivíduos ou grupos de indivíduos preferiram priorizar suas "loucuras", seus sonhos, do que seguir a mesmice e estreiteza das massas.

A princípio são ridicularizados, perseguidos e às vezes até mortos por suas ideias, mas posteriomente essas mesmas ideias, que de fato são o que muda o mundo, começam a ser incorporadas pela sociedade e, enfim, aceitas pela massa como se sempre tivessem sido naturais.

O comercial da Apple abaixo faz uma homenagem a esses indivíduos que desafiaram as restrições intelectuais, artísticas, políticas e morais de seus tempos e, com isso, mudaram a maneira como vemos as coisas hoje. Tem poucas mulheres na lista (e existiram mais mulheres que poderiam orgulhosamente constar dela), mas fica para um próximo vídeo. Valeu a intenção.

Albert Einstein, Bob Dylan, Martin Luther King Jr., Richard Branson, John Lennon, R. Buckminster Fuller, John Ronald Reuel Tolkien, Muhammad Ali, Ted Turner, Maria Callas, Mahatma Gandhi, Amelia Earhart, Alfred Hitchcock, Martha Graham, Jim Henson, Frank Lloyd Wright, Picasso....

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A moça de vermelho e a baixaria dos machistas da UNIBAN


Quando vi a cena da moça sendo escoltada pela polícia via corredores da UNIBAN, ao som de PUTA, PUTA...., fiquei sem entender bem o que se passava por alguns segundos. Por que cargas d'água aquele monte de marmanjos e algumas senhoritas mais merecedoras de xingamentos do que a perseguida estavam promovendo semelhante tumulto contra aquela mulher?

Logo li que a perseguição se devia ao fato de a moça estar usando um vestido muito justo, curto e ainda por cima vermelho (alguns dizem que é rosa). Nas imagens dela saindo da escola, sob escolta, não se via o "provocador" vestido porque um professor havia lhe emprestado um jaleco. Só se viam e ouviam os agitados estudantes e seus impropérios seguindo o grupo.

Nas imagens acima, do Fantástico, Geyse Arruda, a moça agredida aparece com o tal vestido. Já vi "n" mulheres com esse modelito "cheguei", meio perua, meio vulgar, mas daí a esse visual merecer um quase linchamento, só evitado porque a polícia intercedeu....!!? Coisa mais absurda! E o Vice-reitor da Uniban, Ellis Wayne Brown, não vê razão para expulsar ninguém da turba ignara que agrediu e humilhou a moça.

O jornalista Reinaldo Azevedo escreveu um belo texto sobre esse causo inacreditável onde questiona: ....estranho o silêncio da militância feminista; estranho o silêncio das ONGs voltadas para os chamados direitos da mulher; estranho o silêncio de Nilcéia Freire, titular da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Sim, eu sei, a “moça de vermelho” não é exatamente uma militante; não é alguém que porte bandeira; não é veículo de uma causa. Ela é só uma cidadã, um indivíduo, vítima de uma brutalidade. Então todos se calam. Se a garota, ao menos, fosse negra, seria defendida em razão de sua condição que diriam “racial”. Como nem isso ela é, então sabem o que ela é? NADA!!!
O Reinaldo não sabe, mas as feministas devem estar, como de costume, mais preocupadas com a luta anticapitalista (significa eleger a candidata de Lula, apoiar o MST), o patriarcado, a misoginia, um monte de abstrações em torno das quais giram como moscas zonzas em torno da lâmpada. Foi preciso passar um bom tempo e muita gente começar a divulgar seu estranhamento quanto ao silêncio das feministas, sobre o caso bem mais terrível da menina presa com um bando de homens numa cela no Pará (a governadora é do PT), para que elas se mexessem e ainda assim timidamente.... Esse caso é bem mais ameno, embora gritantemente machista, então, vai lá saber se haverá uma reação. Se for para protestar contra o suposto golpe em Honduras, elas se mexem rapidinho, porém, para condenar machões grotescos que atacam mulheres por usarem roupas curtas e justas, qualquer cágado as supera.

Enfim, como diria o poeta: "...Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera." (Carlos Drummond de Andrade)
De qualquer forma, eu ainda protesto. Protestem também e depressa.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Da série "Uma imagem vale mais do que mil palavras"

A foto ao lado (de Wilson Júnior, Agência Estado) dá bem uma dimensão de a quantas anda a guerra do narcotráfico no Rio. Crivaram um fulano de balas e botaram num carrinho de supermercado na via pública. Crianças e uma senhora observam a curiosa compra. Rapazes ao fundo parecem conversar alheios ao presunto.

Hoje o número de mortos chegou a 33, e um dos policiais do helicóptero abatido na batalha foi enterrado, entre lágrimas e salvas de tiro, como herói.

No sábado, em entrevista à Globo, uma líder comunitária só sabia dizer que a situação era fruto do abandono da população à própria sorte pela sociedade e o governo. Que, se as autoridades investissem no "social", isso não existiria. Como se o narcotráfico fosse uma decorrência estrita da pobreza. Falta explicar porque, em todas as favelas, a maioria da população de baixa renda não está envolvida com a bandidagem. Bem ao contrário, é uma das grandes vítimas dela.

E é sempre a mesma história: enquanto a dita "esquerda" vem com essa ladainha vitimista, a "direita" quer simplesmente o bandido morto e acabou. Como em tudo mais, está na hora de superar essa dicotomia e buscar soluções que combinem apoio social e repressão mesmo (dentro da legalidade). Depois de tantos anos de negligência, agora não vai mais se conseguir resgatar os morros cariocas só com ações sociais. Muito menos com um presidente da república que vai para a Bolívia visitar o amiguinho Evo Morales e bota um colar de folhas de coca para demonstrar seu apoio às culturas ilícitas.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O verdadeiro petróleo do pré-sal


Como eu adoro charges, HQ (já fiz das minhas também,) não canso de me divertir com nossos chargistas. Divulgo mais um blog de charges, esse do cartunista Lute. A charge ao lado é dele. Não deixem de visitar o blog. Tem umas charges óootimas.

E aproveitando que hoje é o dia de dizer não ao caudilho Chávez da Venezuela, seguindo a orientação da campanha nomaschavez, criada no twitter, facebook, etc... (o site está fora do ar), deixo também o link do site chamado Museu do Comunismo. Está em inglês mas, com um inglês instrumental, dá para entender. E vale a pena visitar, ver a linha do tempo do mal, o hall da infâmia com os personagens desse enredo de assassinos e assassinatos.

Nós nos acostumamos com as imagens do totalitarismo de direita (os discursos de Hitler, as manifestações de massa do nazismo, o abominável dos campos de concentração), mas raramente tivemos acesso a imagens e vídeos relatando os horrores do totalitarismo de esquerda, embora este tenha matado muito mais gente do que sua contraparte azul. E as pessoas precisam ver e conhecer essa história, pois partidários dessas ditaduras estão aí de volta, em nosso país e em todo o continente latino-americano, se fazendo de bonzinhos, defensores do povo, dos oprimidos, agora também dos direitos da mulher, dos negros, dos homossexuais.

Olho vivo, minha gente! Democracia é fundamental!! No mas Chávez, aliás.

domingo, 26 de abril de 2009

Mate em legítima defesa


Pródigo em criar polêmicas, o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, com quem compartilho o decanato no MHB/MLGBT, não perdeu a chance de roubar a cena no modorrento cenário do Congresso da ABGLT, em Belém do Pará, em 19 de abril último, segundo matéria do site A Capa.

Afirmando que o Brasil Sem Homofobia "não funciona" e que as 500 propostas tiradas da Conferência Nacional LGBT (programa e evento ligados ao governo federal) "não têm diminuído a morte de homossexuais e travestis", Mott declarou que, caso os homocídios continuem em escalada alarmante, vai fazer campanha de reação a esses crimes a que dará o nome de 'Mate em legitima defesa’.
Claro, tratou-se de frase de efeito, mas que acabou sendo tomada literalmente por representantes da ABGLT e do governo federal, todos ligados ao ironicamente belicoso partido dos trabalhadores (PT), que bajula ditadores islâmicos (o presidente do Irã, assassino de homossexuais vem aí a convite de Lula), abriga terroristas e apóia invasões armadas de terras produtivas, com cada vez mais mortos e feridos.

Apesar do perfil, imbuídos de um episódico surto de pacifismo enviesado, Claudio Nascimento (Arco-Íris/ABGLT) ameaçou "solicitar ao congresso que intervenha" caso o antropólogo realmente leve a ideia adiante, classificando-a como "panfletaria e sem valor". Caio Varela, assessor parlamentar da senadora Fátima Cleide (PT-RO), saiu-se com uma história de que a colocação seria "capitalista e individualista (sic)". Eduardo Barbosa, do programa nacional de DST/Aids, disse que a proposta era "totalmente descabida" e "contrariava qualquer tipo de política pública voltada para os direitos humanos". Por fim, Toni Reis, presidente da ABGLT, afirmou que a idéia era “um factóide baratíssimo" e que “sua entidade era contra esse tipo de proposta, pois se identificava como pró-vida e pró Direitos Humanos."

A polêmica teve continuidade na lista gls, fórum informal pero no mucho da militância tupiniquim, e em outras listas congêneres, trazida pela repassagem da matéria do site A Capa por um dos listeiros de plantão. As opiniões aí se dividiram, com várias pessoas dando apoio a Mott, inclusive eu mesma, e outras tantas insistindo numa visão pacifista meio “de orelha” contra a qual supostamente a proposta do antropólogo se insurgiria. A partir dessa discussão, outras variantes ao redor do tema despontaram, da necessidade de se promover o aprendizado de técnicas de autodefesa, entre a população LGBT, à necessidade de se aumentar a auto-estima da mesma.

O mais engraçado da história é que tanto a frase de efeito (e sua idéia embutida) quanto suas variantes são apenas ovos de Colombo, ou seja, obviedades que, apesar de sua natureza, precisaram de alguém para apontá-las. Todo ser vivo, se atacado, busca se defender com as armas que possui e, se necessário for, para sobreviver, mata seu agressor. A lei reconhece a legítima defesa como válida (desde que comprovada) e exime quem a pratica da condenação por homicídio. As religiões, em geral, ao contrário do que parece que alguns imaginam, também reconhecem a legítima defesa como válida mesmo quando implica na morte de alguém.

Por fim, o pacifismo de Gandhi (e de seu discípulo moral, Martin Luther King), muito lembrado nessa falsa polêmica como contraposição à suposta proposta anti-vida(sic) do presidente do GGB, precisa ser lido de forma menos superficial. Esse pacifismo visa derrotar o opressor, inimigo, adversário (à escolha) tanto quanto a estratégia belicista e também produz mortos e feridos (pior que só de um lado). A diferença é que essa estratégia, que é fundamentalmente uma ação coletiva e não individual, busca derrotar o inimigo sem matá-lo, desmoralizando-o através da ação não-violenta (que exige sacrifícios), com a qual também se procura romper o círculo vicioso que a tática do “olho por olho, dente por dente” costuma engendrar. Como disse, também provoca mortos e feridos, mas as baixas e as sequelas físicas e psicológicas nas populações envolvidas costumam ser significativamente menores do que nos conflitos onde ambos os lados pegam em armas .

O pacifismo de Gandhi é, portanto, uma estratégia de luta, nada tendo a ver com passividade diante de agressores de qualquer ímpeto e natureza. Contra eles, todo o indíviduo tem o direito de se defender e de escolher a estratégia que lhe permitirá derrotar seu agressor, mesmo que ela implique na morte do atacante. Mott nada disse de novo, e o que de fato espanta é que sua fala tenha provocado reações tão inflamadas e, sobretudo, hipócritas.

No mais, espera-se que toda essa falação resulte mesmo em ações de empoderamento da população LGBT, como oficinas de promoção de auto-estima e de técnicas de autodefesa, e não apenas em mais reclamações junto a órgãos estatais que, mesmo em países civilizados, não estão em condições de estar protegendo seus cidadãos e suas cidadãs individualmente em casa ou nas ruas.

segunda-feira, 30 de março de 2009

A fera nossa de cada dia!

Esta semana que passou quase me vi envolvida num tremendo barraco pelo grande crime de não ter lido e não ter comentado um texto que me enviaram como circular num e-mail. Por conta da minha longa militância, algumas pesquisadoras, que já me entrevistaram, pedem meu parecer sobre suas teses. Muitas vezes, pela correria da vida cotidiana, deixo de comentar de imediato ou levo inclusive tempo para comentar o que me enviam. Nesses casos, contudo, quando sou objetivamente convocada a dar minha opinião sobre algo, pelo menos me sinto na obrigação de me desculpar por não ter lido ou por ter demorado a responder. Nunca me ocorreu, contudo, de alguém me vir com paus e pedras porque não expressei minha opinião sobre um texto. Tá certo que minha opinião vale muito (rsss), mas não é caso para tanto.

Como para tudo, porém, existe uma primeira vez, na semana passada fiz meu debut nesse tipo de imbróglio. Dado o caráter cordial do relacionamento que tinha com a pessoa barraqueira em questão (não sabia que era barraqueira até então) e pelo fato inclusive de estar tentando convencê-la a escrever num projeto coletivo de uma colega em comum (nem de minha iniciativa o projeto é), expliquei que não lera e comentara aquele texto dela, da barraqueira (embora tivesse comentado outros), por ter estado muito ocupada, ao mesmo tempo que busquei incentivá-la a redigir para o projeto coletivo pela idéia do projeto simplesmente. Mas a figura afirmou que, como lia meus textos, apesar de eu não ter pedido que o fizesse, eu tinha a obrigação (como amiga...rsss) de ler e comentar os dela, e, já que não lia os dela, não estava em posição de lhe pedir que escrevesse em nenhum outro lugar (sic). E quanto mais logicamente eu tentava argumentar com a dita, mais enfurecida ela ficava, começando, depois de um certo momento, literalmente a delirar, dizendo-se atacada, perseguida e não sei mais quantas outras. Como vi que estava entrando numa areia movediça porque a figura distorcia tudo o que eu dizia, entendendo inclusive o avesso do que eu falava, encerrei a conversa ponderando que ela estava querendo brigar, mas eu não queria, e desejando-lhe que ficasse bem e se encontrasse. A dita ainda me enviou uma mensagem desaforada, quando então a bloqueei, mas continua pela Web a destilar seu surto e, por certo, a veicular suas alucinações pelos bastidores da vida.

Conversa de louco, não é mesmo? Circulares de textos rolam aos milhares pelas caixas de entrada de todo mundo, por isso mesmo, quando se quer uma opinião de qualquer forma, a gente expressa isso claramente. Se não, entende-se que é facultativo ao destinatário comentar ou não a circular. Claro, todo mundo espera um feedback de tudo que envia, mas ninguém, em estado normal, arma um tremendo barraco porque alguém não leu um texto em particular.

Mas parece mesmo que está todo mundo meio louco, arrumando
brigas por motivos fúteis, como barris de pólvora humanos de pavio super-curto. Em novembro do ano passado, presenciei, mais do que vivi, um outro lance desses de ira despropositada. Ia deixar uma colega no ponto de ônibus, mas antes parei na farmácia, e ela me acompanhou para dar continuidade à conversa que mantínhamos. Estacionei o carro atrás de um outro de vidro fumê, e lá fomos às compras. Quando já estava no caixa, reparo que a pessoa do carro de vidro fumê manobrava, tentando sair, sabe-se lá por onde, pois não havia espaço para tal, e se aproximava perigosamente do meu carro. Pedi à colega que me acompanhava que fosse dizer @ motorista que esperasse um pouquinho que eu já estava pagando as compras. Minha colega foi e voltou irritada porque a motorista (era uma mulher) fora grosseira com ela, dizendo que tinha o que fazer, coisas do gênero (só ela, né?) em voz alta. Até apressei a caixa, alertando-a que tinha uma atacada ali no estacionamento e que era melhor correr.

Bem, saímos da farmácia e fomos para meu carro. Minha colega pegou a mochila que havia deixado no banco de trás, demos um beijinho de despedida, ela saiu em direção ao ponto de ônibus e eu sentei no banco do motorista, para dar partida no carro, quando se iniciou uma cena inusitada. Minha colega, que já estava a meio caminho do ponto de ônibus, retornou e se dirigindo ao carro de vidro fumê ergueu o braço e exclamou um “como é que é mesmo?”. Depois fiquei sabendo que a motorista havia dito para minha colega que era bom mesmo ela se apressar para não perder a hora na zona (sic). Ato contínuo, saiu do carro de vidro fumê uma versão brasileira do Arnold Schwarzenegger, se dirigiu a essa minha colega soltando fogo pelas narinas, pegou-a pelos ombros e a empurrou. Ela se estatelou no meio fio. Daí que saio eu do meu carro, para acudir a colega, e a barraqueira da motorista do vidro fumê sai do carro dela agora preocupada em controlar seu provável marido pitbulll que ela mesmo atiçara. Os transeuntes começaram a rodear a cena e a dizer para chamar a polícia ao mesmo tempo que xingavam o grandalhão de covarde, assim meio baixinho porque o tamanho do pitt e sua raiva botavam mesmo medo.

Enquanto eu entrava no meu carro de volta, para abrir a porta para minha colega a fim de sairmos dali (ela estava inclusive com um dos cotovelos sangrando), o Arnold também veio para o meu lado fungando e babando. Me senti como naquela cena do Alien III quando o monstro chega bem perto do rosto da Ripley mas não a mata porque sabe que ela estava grávida de outro monstrinho. O Arnold quase encostou o nariz no meu, mas eu mantive a pose e lhe disse que, se me tocasse, a coisa ia ficar feia. Funcionou porque ele se afastou, pude abrir a porta do carro do motorista e do passageiro para minha colega entrar e fugirmos dali. Antes pegamos a placa do veículo do pitt e, posteriomente, fomos à delegacia da mulher dar queixa. Como a colega já tinha problemas osteomusculares, o tombo agravou sua condição, estando até hoje na base da fisioterapia.

Coisa de louco, não é mesmo? Como é que alguém pode estar tão alterado a ponto de agredir outro alguém por que não tem paciência para esperar as manobras de um carro num estacionamento público? E as conseqüências de atitudes como esta? Minha colega poderia ter batido a cabeça no meio fio e ter sofrido algo bem mais sério do que problemas nas articulações.

Cito esses dois casos porque são os mais recentes que vivi, mas não são os únicos e não sou a única a ter vivido ou presenciado atitudes deste tipo principalmente em cidades como São Paulo. Tem muita gente que perde até a vida em simples brigas de trânsito, de bar, de rua. Gente que nunca sequer lhe viu, por qualquer picuinha, se toma de fúria descontrolada e parte para a baixaria verbal ou física num piscar de olhos.

O senso comum diz que há muitas pessoas por aí, carregadas de frustrações, desapontamentos, que buscam descarregar em outras pesssoas seus infortúnios, e o mais certo é simplesmente não deixar que elas lhe façam de lixeira. Sem dúvida, manter a cabeça fria em momentos de ataques alheios, súbitos e sem sentido, pode minimizar realmente as conseqüências dos atos dos destemperados sobre nossas vidas. Mas creio que é necessário uma análise mais ampla das sociedades que, cada vez mais, produzem gente assim tão irada, tão egoísta, tão amarga, tão de mal com a vida.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Como hoje é carnaval...













Passeando pela Web, blogs, sites e tudo mais que se encontra nesse caminho, encontrei o blog Men who look like old lesbians (Homens que parecem lésbicas velhas). Não é novidade, outros blogs L já citaram, mas nem por isso deixo de recomendar.

Como hoje é dia de folia, nada como rir um bocado com a cara dos bofes que parecem lésbicas (ou são as lésbicas que parecem com eles?). Alguns ainda dá para perceber que são homens, mas a maioria realmente poderia passar por uma sapa. E não tem só homens mais velhos que parecem sapas mais velhas, tem os jovenzinhos também que parecem com as lezzies teen, uns que parecem com as mais butches... tem de tudo. Tem até o Milton Nascimento com cara de sapa...rsss
E para ilustrar esse post botei aí uma sapa, a Vange Leonel, que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais parecida com o cara na foto ao lado (Bob Dylan, para quem não sacou). Estranhos mistérios da passagem do tempo. Talvez the answer may be blowing in the wind... rsss

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Vulvas flores












Resolvi postar essas vulvas-flores ou flores-vulvas após uma espécie de debate que rolou na lista gls, da qual participo, em função de um comentário depreciativo de um gay sobre nossa querida boceta. Comentava o rapaz com outro que era virgem de mulher e que só tinha visto as partes pudendas de uma ao nascer, e que, graças a Jesus, não lembrava desse triste momento.

Fiquei impressionada com a grosseria - para dizer o mínimo - já que a lista também é composta por mulheres e fundamentalmente lésbicas que, além de possuirem uma chana, também em geral são grandes apreciadoras de uma ou de várias.

Pedi ao dito que nos poupasse desses chistes sexistas, e a história virou um zum-zum-zum danado. Imaginasse ele - disse - se as lésbicas dessem para expressar sua opinião sobre os penduricalhos masculinos ali na lista. Ia ficar bem desagradável. O rapaz não gostou, disse que eu não tinha senso de humor e que estava fazendo tempestade em copo d'água. No fim, entre pontos e contrapontos se calou.

Fiquei pensando nessa coisa incrível da misoginia masculina (e aqui cabe se falar em misoginia sim) que afeta tanto alguns gays. Não que não existam lésbicas que também tenham repulsa ao sexo masculino (em ambos os sentidos), mas pelo menos não saem por aí dizendo na cara dos caras o quanto eles lhes parecem indigestos. Quando acontece de alguma querer ressuscitar o manifesto Scum, da Valerie Solanas, aquela que atirou no Andy Warhol, que pregava a destruição do sexo masculino, vozes iradas surgem imediatamente, inclusive de mulheres, contra a ousadia androfóbica. E olhe que as mulheres têm milênios de razões para terem mais bronca dos homens do que o contrário.

Historicamente inclusive essa maneira depreciativa de se referir ao sexo feminino, a que muitos gays chamam de racha, rachada, foi um dos motivos que levou à separação das lésbicas do Somos já nos idos de 1979. Posteriormente, eu mesma já me vi às voltas com essas e outras expressões de aversão às mulheres vindas de alguns gays. E olhe que elas vêm de homens pouco letrados e de outros tantos, como o rapaz em questão, bem letrados e articulados.

Pessoalmente não tenho repulsa ao sexo masculino em nenhum sentido. Apenas não tenho desejo por homens. Quando são bonitos, admiro-os esteticamente, mas não me dão tesão. Naturalmente todos e todas temos nossas idiossincrasias, nossas aversões e simpatias, mas, pelo menos por questão de decoro, devemos mantê-las conosco, pois essas coisas são de natureza por demais subjetiva para serem colocadas em público. Como se sabe gosto não se discute, havendo inclusive quem ame o feio porque bonito lhe parece.

Enfim, mesmo em tom de blague, certas coisas a gente só diz entre íntimos. Hoje mesmo estavam os gays rotulando a marchinha A cabelereira do Zezé, a mais tocada das marchinhas de carnaval, como homofóbica, porque - como bem lembram - ela diz: "Olha a cabeleira do Zezé. será que ele é... será que ele é.... bicha!!!" Não considero a letra ofensiva - talvez porque não seja bicha - mas obviamente não vou ficar entoando suas estrofes na cara dos gays, já que eles não acham graça nelas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vestido de Michelle Obama quase ofusca discurso do marido


Na terça-feira, dia 20, ocorreu a tão aguardada cerimônia de posse de Barack Obama, o primeiro presidente negro americano. Considerando a história pregressa dos negros nos Estados Unidos, marcada por virulento racismo, Obama ter chegado à presidência da maior potência mundial é, sem dúvida, um feito histórico sem precedentes.

Há mais ou menos 60 anos, os negros americanos nem sequer podiam sentar lado a lado com brancos em ônibus, havia lugares só para brancos e só para negros, universidades eram vetadas aos negros. Negros ainda tinham problemas para votar, e casar com brancos era proibido por lei. Aliás, o racismo nos EUA, ao contrário do Brasil, era inclusive institucional.

Então, claro, diante de tal quadro, a posse de Obama não poderia deixar de ser emocionante ainda que só pela questão racial. Fora isso, Obama aparece com um discurso progressista, preocupado com direitos humanos e meio-ambiente, em flagrante contraste com seu antecessor George W. Bush, a pior persona política que o mundo viu nos últimos anos, belicista, vilão ambiental, contrário a tudo que a maioria de nós considera como o necessário para um mundo melhor.

Assim, foi inevitável verter algumas lágrimas na cerimônia de posse de Obama. Não pensei, contudo, que fosse inevitável também dar umas risadas. Ao contrário dos europeus, os americanos em geral (há exceções, claro) nunca primaram exatamente pela elegância de modos e trajes. A breguice sempre os assediou, e não falo só dos adeptos da country music, dos caipiras da terra do tio Sam. É uma espécie de característica nacional na qual volta e meia algum deles resvala, sobretudo aqueles deles do sexo feminino...rsss

Michelle Obama não se fez de rogada e manteve a tradição. Apareceu num modelito amarelo-limão, meio-bordado, acompanhado de luvas e sapatos esverdeados de arribombar o malho. As filhas também estavam vestidas com cores vibrantes, mas, em crianças, a gente entende. Mesmo a mulher do vice-presidente que apareceu com um casaco vermelhão e botas pretas de fazer o gáudio da galera de clubes fetichistas, não pôde superar em visibilidade (rsss) a primeira-dama.

Agora, mais engraçado que o vestido da Michelle, só mesmo os comentários que ele gerou. Preocupados em manter a pompa e a circunstância e movidos pela simpatia provocada pelo casal Obama, a imprensa nacional abriu o baú dos eufemismos e largou brasa em frases como “o vestido luminoso de Michelle”, “o vestido reflete a personalidade forte de Michelle”, “o amarelo do vestido reflete a esperança”, além de paradoxos como “a elegância acintosa de Michelle”.... hehehe. Houve inclusive quem se irritasse com as críticas sobre o estilo luminoso da primeira-dama e visse nelas um velado racismo.

Tudo isso me fez lembrar o velho conto do Andersen, A roupa nova do rei, onde dois vigaristas se fazendo passar por estilistas, conhecedores da vaidade ilimitada do soberano de plantão, convencem-no que o estão vestindo com um tecido tão diáfano e chique que é como se fosse invisível. O monarca, não querendo parecer fora de moda, se auto-ilude de que está usando algo muito fashion e vai inclusive desfilar em público... pelado. Todos os súditos, não querendo contrariar sua majestade, fazem vista grossa diante da nudez real e participam da pantomima até que um menino – com a sinceridade típica da infância – olha para sua majestade e exclama a célebre frase: “ O rei está nu.” Quebrado o encanto, todos passam a gritar o mesmo para desespero da realeza.

Pois, é. Sou como aquele menino. Também morro de simpatia pelo casal Obama e desejo a ambos sucesso em sua difícil empreitada, mas o vestido de Michelle foi uma das coisas mais feias que vi na vida, não importa se feito pela mais cotada estilista cubana-americana do momento, custando os tubos, ou se comprado diretamente na notória grife DASPU...rsss

E que me perdoem as leitoras e leitores esse post-chiste, mas é que rir ainda é o melhor remédio. Continuo rindo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ativismo lésbico com síndrome de Mister Magoo


O Fantástico do outro domingo (07/12/08) entrou na atual moda da Rede Globo de combater o preconceito contra lésbicas, quem sabe para se redimir dos tempos em que as sáficas iam pro espaço em seus folhetins do horário nobre.

A propósito da novela A Favorita, onde a personagem Catarina (Lilia Cabral) se torna amiga da lésbica Estela (Paula Burlamaqui) e sofre por tabela o preconceito e a discriminação direcionados à colega, o Fantástico elaborou um quadro para mostrar que a arte de fato imita a vida.

O quadro, chamado de Amiga Gay, entrevistou mulheres que, na vida real, são héteros mas têm amigas lésbicas e são discriminadas por isso. Mostra também o preconceito sofrido por duas atrizes que se fazem passar por namoradas num passeio pelos corredores de um shopping. O tom do programa é todo de condenação ao preconceito.

Pois, é! Mas não é que apareceu ativista lésbica dizendo que o Fantástico estava prestando um desserviço às lésbicas com o quadro em questão?!? E por quê? Porque em vez de chamar o quadro de Amiga Lésbica, o Fantástico o intitulou de Amiga Gay. Porque pinçaram uma frase da novela onde a filha da personagem Catarina diz para a mãe: “A senhora não é lésbica, não pode deixar que falem mal de você assim”. Porque as atrizes que se fizeram passar por namoradas, impressionadas com o que ouviram dos transeuntes no shopping, disseram que era melhor fingir não ser lésbica, não dar a cara à tapa. Houve ainda quem dissesse que o Fantástico perdeu a chance de defender o projeto de lei contra a homofobia que tramita no Senado em Brasília!

Gente confusa. A luta é contra o preconceito e não para afirmar identidades políticas. Isso sem falar que a turma das mulheres que se relacionam com mulheres tem um leque amplo de identidades que não se resume à palavra lésbica, à identidade lésbica. Há várias outras. À parte ainda que o Fantástico usou a palavra gay como adjetivo e, durante o quadro, também a palavra lésbica, portanto, dando visibilidade a ambas.

Por outro lado ainda de novo, programas de TV não são militantes, não tem que seguir a cartilha militante, fazer uma espécie de realismo socialista da questão lésbica. A abordagem é outra e só pode ser. A linguagem das novelas e dos programas de TV não pode ser panfletária. Talvez um Globo Repórter, tocando em várias facetas da questão, até incluísse falas mais militantes, mas também sem obrigação de fazê-lo.

O que importa é que a maior rede de televisão do Brasil vem exibindo, em horário nobre, um verdadeiro show contra o preconceito sofrido pelas mulheres que se relacionam com outras mulheres. As novelas da Globo conformam a opinião popular em um nível que a militância jamais conseguiu e duvido que consiga algum dia, entre outras coisas, porque não tem poder para isso.

Além do mais, por fim, identidades políticas só tem sentido se usadas de forma funcional, estratégica e não essencialista. Quando as pessoas começam a achar que é mais importante dar visibilidade à palavra lésbica do que lutar contra o preconceito, é o caso de consultar o oculista, pois estão todas com síndrome de Mister Magoo, aquele antigo e célebre personagem dos desenhos animados que arrumava as maiores trapalhadas por causa de sua visão prá lá de curta.

Postei uma das historinhas do Magoo para a gente lembrar os problemas que uma miopia acentuada pode causar...rsss

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Crimes da paixão: entre a defesa da honra e a síndrome de Medéia.

Embora não tenha acompanhado diretamente o seqüestro da menina Eloá, de 15 anos, mantida refém pelo ex-namorado, no próprio apartamento, durante 5 dias, mais ocupada que estava com a disputa eleitoral, não pude, por fim, deixar de me inteirar do assunto e lamentar o trágico desfecho.

Não se sabe ainda ao certo o que de fato ocorreu quando a polícia invadiu o apartamento (estão para fazer a reconstituição do crime) que redundou na morte de Eloá (com um tiro na virilha e outro na cabeça), no ferimento da amiga Nayara (levou um tiro no rosto) e na prisão do agressor Lindemberg Alves, 22.

Até agora, a tendência é apontar enorme incompetência da polícia numa ação que tirou do prédio o criminoso vivo e as duas reféns feridas, uma de morte. Isso sem falar nas desastradas declarações do comandante da ação policial que disse à imprensa não ter optado por atingir o agressor, antes da invasão, por ele ser um jovem apaixonado.

Análises sobre o crime pipocaram por todos os lados e, naturalmente, culpou-se o machismo do jovem e da própria sociedade brasileira que engendra este tipo de solução masculina para amores rejeitados. Seguiram nessa linha feministas, psicólogos e psiquiatras. Apenas em algumas opiniões se levantou também a questão da profunda perturbação emocional em que se encontrava o rapaz.

Como sigo a perspectiva de desafinar o coro dos contentes, queria fazer uma análise um pouco diferente do já dito. Primeiro que, claro, no caso de Eloá, considerando a diferença de idade entre os ex-namorados, responsabilizar a vítima adolescente pelo ocorrido, em qualquer nível, é inadequado, para dizer o mínimo.

Mas e se fosse uma mulher adulta em outro caso passional? Realmente seria possível tachar a agredida apenas como vítima, sem ao menos considerar a possibilidade de ela também ter sido inábil na administração da separação? Sem considerar o estado de perturbação emocional, por exemplo, de um homem que se descobre traído, lembrando inclusive o que ainda pensa a sociedade sobre os “cornos”? Seria sempre a mulher apenas a vítima indefesa nas mãos do sempre brutal algoz masculino?

Mulheres também são passionais e igualmente buscam vingar-se de seus/suas ex-parceiros/as (lésbicas sabem bem disso). A diferença é que, privadas em geral da possibilidade de expressar o ressentimento pela via da violência física, dadas às diferenças de poder existentes entre homens e mulheres, as mulheres em geral se utilizam de outros artifícios para reparar o ego ferido.

Se os homens ainda atacam de defesa da honra, como desculpa para seus tresloucados gestos, as mulheres atacam de síndrome de Medéia, a célebre personagem da mitologia grega que, abandonada por Jasão, mata os próprios filhos para vingar-se do esposo que a trocara por outra. Isso sem falar de outros expedientes não menos dramáticos de que se utilizou essa personagem nessa tragédia grega que expressa tão bem o lado sombrio do feminino.

Nos versos de Sêneca (Medéia):
Nenhuma força no mundo
nenhum incêndio, nenhum ciclone
Ou máquina de guerra
Possui a violência de uma mulher abandonada
Nem sua violência, nem seu ódio.

Ou nos versos de Chico Buarque: “dei para maldizer o nosso lar/ para sujar teu nome, te humilhar/ e me vingar a qualquer preço/ te adorando pelo avesso/só para mostrar que ainda sou tua/ até provar que ainda sou tua (Atrás da Porta)".

Casos de mulheres que buscam “matar” parceiras (os) atacando a imagem e a credibilidade dos ex até mesmo em nível de trabalho não são raros. Há as que passam uma vida inteira purgando o despeito, colocando-se inclusive na situação patética de buscar vingança contra um fantasma, já que as pessoas não ficam – como fotografias – estáticas no tempo. Algumas Medéias conseguem inclusive arruinar a vida de seus desafetos. E saem impunes de seus malfeitos.

Claro, não estou defendendo a impunidade para crimes passionais, que, na verdade, é o x desta questão. Apenas me desagrada, pelo maniqueísmo, a visão da mulher sempre como vítima e do homem sempre como algoz. Querer que Lindemberg Alves pague pelo crime que cometeu é uma coisa. Negar que ele possa ter feito o que fez tomado por profunda perturbação emocional, reduzindo-o a um machista sádico, é outra. Afinal também arruinou a própria vida.

O sentimento da separação é comparado por especialistas com o sentimento de luto, como uma espécie de experiência de morte. Dependendo de como se dá a separação pode ocorrer uma ferida narcísica que personalidades mais frágeis, como as masculinas em geral, tentam sarar com a morte daquela/daquele que cometeu o crime do abandono. Não se poderia então ir além da questão de machismo na abordagem desses temas?

E não, não estou me contradizendo, já que afirmei acima que o comandante da operação de resgate de Eloá deu a declaração desastrada de que não atingira Lindemberg porque tratava-se de um rapaz apaixonado. Se atingir Lindemberg fosse a única solução possível para pôr fim àquela situação – o que é bastante discutível do ponto de vista técnico – era a ação que deveria ter sido tomada, pois independente de estar “apaixonado“, ele estava armado e ameaçava a vida de duas meninas desarmadas. O indiscutível agressor era ele, e empatia com o coração partido do rapaz não cabia na situação. Aqui parece ter mesmo rolado sexismo, ainda que inconsciente.

Mas enfim, nestes assuntos de amores rejeitados e corações partidos, todo cuidado é pouco de modo que a sede de justiça não leve a análises simplistas e maniqueístas e não vire apenas sede de sangue da mesma forma que a perturbação emocional dos agressores, ainda que não deva ser desconsiderada, não se torne desculpa para a impunidade.

Foto: Nayara e Eloá
Música: Atrás da Porta, Chico Buarque de Holanda,
com Elis Regina


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