terça-feira, 14 de julho de 2020

Perdoar o PT só quando ele reconhecer seus erros e não mais apoiar ditaduras



Impressionante o artigo do diretor de Redação do Globo, Ascâmio Selene, com o título de "É hora de perdoar o PT" (11/07/2020).  O texto segue abaixo da análise.

Para começar, o autor lista e destrincha duas das principais características que levaram boa parte da população brasileira a execrar o PT: a roubalheira siderada e a índole claramente autoritária.

Depois, porém, diz que os líderes petistas já foram punidos e que "imaginar que o partido repetirá eternamente os mesmos erros do passado é uma forma simples, fácil e errada de se ver o mundo". Onde foi parar aquele velho ditado de que o lobo perde o pelo, mas não perde o vício?

Quanto ao autoritarismo genético do petismo, exemplificado por seus ataques à imprensa e à democracia vide “controle externo da mídia”, “instrumentos de mediação”, “conselhos populares”, segundo Ascâmio Selene, tudo não passou de tentações que, hoje mais do que antes, podem ser facilmente rechaçadas.

E toda essa conversa mole para concluir que, para se livrar do bolsonarismo, "O Brasil não tem tempo para esperar por uma outra esquerda, renovada e livre da influência do PT."

Então, a figura reconhece que o PT é corrupto e autoritário, mas, mesmo assim, a gente deve perdoá-lo porque não existe outra esquerda capaz de vencer a direita no próximo pleito!!??

Perguntinhas que não querem calar: o PT fez alguma vez um mea culpa sobre os erros cometidos? O PT pediu perdão pelo mensalão, o petrolão e tantos outros escândalos de corrupção que perpetrou contra os cofres públicos? Que eu saiba não. Petistas sempre foram apenas os pobres coitados perseguidos pela imprensa, o judiciário, as elites, nunca os responsáveis por nada. Então, por que cargas d'água a gente haveria de perdoar quem nunca pediu perdão por seus erros? Aliás, seria  temerário perdoá-lo mesmo se tivesse se arrependido publicamente do que fez, já que o partido sempre mentiu deslavadamente, imagine então perdoá-lo quando nunca se retratou nem de deslizes. É óbvio que só se pode imaginar, ao contrário do que diz o redator de O Globo, que o PT, voltando ao poder, irá repetir tudo que fez no passado. Aliás, é tão certo quanto a cor do céu ser azul.

Sobre o DNA autoritário do petismo, em nada a sigla mudou também. Nesse começo de mês mesmo, a Gleise Hoffman saudou os 99 anos do partido comunista chinês, mantenedor de uma ditadura genocida e horrenda, campeã de desrespeito aos direitos humanos. https://bit.ly/2ZmKVhU  Aliás, o que mais se viu, com o PT no poder, foi o partido alinhado com tudo quanto é ditadura do mundo, em particular com as da distopia socialista. Isso ao mesmo tempo em que sempre hiperdimensionou a ditadura militar de 64-85 que perseguiu sua turma no passado. Então, por que a gente haveria de desconsiderar a índole autoritária do PT, se ela continua presente e, portanto, sempre ameaçadora? Porque agora existe uma direita capaz de pôr freio nas tentações autoritárias do petismo? É sério isso? Não é melhor, então, que a direita permaneça no poder?

Bem ao contrário do autor do texto, eu tenho certeza de que, para a esquerda ter chance de voltar a ser eleitoralmente viável, precisa sair da sombra do PT e secundarizar a pauta identitária dos atuais desnorteados movimentos sociais. O Brasil pode sim esperar uma outra esquerda, renovada e livre da influência do PT. Uma esquerda que recupere a credibilidade que foi para o brejo exatamente pela associação de toda a esquerda ao petismo. De preferência, uma centro-esquerda, menos fanática e mais pragmática que se disponha a conversar com todo o espectro político que assim se disponha. Só assim poderemos de fato pavimentar caminhos pelos quais se possa chegar ao objetivo comum de paz e prosperidade. PT nunca mais. 🤮

É hora de perdoar o PT - Jornal O Globo
Arte O Globo Foto Reprodução

É hora de perdoar o PT

Não há como uma nação se reencontrar se 30% da sua população for sistematicamente rejeitada. Esse é o tamanho do problema que o Brasil precisa enfrentar e superar. Significa a parcela do país que vota e apoia o Partido dos Trabalhadores em qualquer circunstância. Falo dos eleitores, não apenas dos militantes. Me refiro aos que acreditam na política de mudança do partido, não aos seus líderes. Os que acreditam e sustentam o PT são a maioria do terço de eleitores perenes do partido, não os que foram flagrados nos dois grandes escândalos de corrupção que marcaram as gestões petistas.

Esse agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional. Passou da hora de os petistas serem reintegrados. Ninguém tem dúvida de que os malfeitos cometidos já foram amplamente punidos. O partido teve um ex-presidente e seu maior líder preso e uma presidente impedida de continuar governando. Outros líderes históricos também foram presos ou afastados definitivamente da política. Hoje, respeitadas as suas idiossincrasias naturais, homens e mulheres de esquerda devem ser convidados a participar da discussão sobre o futuro do país. Têm muito a oferecer e acrescentar.

A gritaria contra a roubalheira já cansou, não porque se queira permitir roubalheiras, mas porque é oportunista politicamente. Claro que houve desvios de dinheiro público na gestão de Lula e Dilma, as provas são abundantes e as condenações não deixam dúvidas. Mas o PT é maior que isso e, como já foi dito, para ladrões existe a lei. Imaginar que o partido repetirá eternamente os mesmos erros do passado é uma forma simples, fácil e errada de se ver o mundo. Os erros amadurecem as pessoas, as instituições, os partidos políticos. Não é possível se olhar para o PT e ver só corrupção. O petismo não é sinônimo de roubo, como o malufismo.

Superada esta instância, que é mais fácil, terá de se ultrapassar também a índole autoritária que um dia foi semeada no coração do PT e vicejou. Exemplos são muitos, como a tentativa de censurar a imprensa através de um certo “controle externo da mídia”, de substituir a Justiça por “instrumentos de mediação” em casos de agressão aos direitos humanos, ou de trocar a gestão administrativa por “conselhos populares”. Se estas tentações foram barradas no passado, quando até o centrão apoiava o PT, certamente não prosperarão num ambiente muito mais polarizado como o de hoje.

O fato é que o ódio dirigido ao PT não faz mais sentido e precisa ser reconsiderado se o país quiser mesmo seguir o seu destino de nação soberana, democrática e tolerante. Não pode se esperar essa boa vontade dos que carregam faixas pedindo intervenção militar e fechamento do Supremo e do Congresso, um grupelho ideológico, burro e pequeno que faz parte da base do presidente Jair Bolsonaro. Mas é bastante razoável ter esta expectativa em relação a todos os outros, sejam eles de direita, de centro-direita ou de centro.

Não se pode negar que parte considerável do Brasil é de esquerda. Como tampouco há como se ignorar a força da direita nacional. Ambos os campos existem e precisam ser representados politicamente. O Brasil não tem tempo para esperar por uma outra esquerda, renovada e livre da influência do PT. O país precisa se reencontrar logo para construir uma alternativa ao bolsonarismo, este sim um problema grave que deve ser enfrentado por todos. Perdoar o PT não significa abrir mão de convicções. Ao contrário, significa pavimentar caminhos pelos quais pode se chegar ao objetivo comum de paz e prosperidade.

Ué, mas o Lula não foi solto? E não é fato que tantos outros também nunca foram presos?

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