8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Boas Festas e Feliz 2009


Cartão Virtual de Boas Festas e Feliz Ano Novo do site Um Outro Olhar On-line que administro.

"Mais um ano se passou com suas dores e delícias, seus espinhos e carícias, suas derrotas e conquistas.

Mais um ano se aproxima com suas inúmeras perspectivas que se abrirão para novos horizontes, desde que possamos vê-las com um outro olhar.

Boas Festas e Feliz 2009!
Saúde, paz, e um pouco de tudo que de melhor a vida pode oferecer!"

http://www.umoutroolhar.com.br/.


Imagem: Mark Marek

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ativismo lésbico com síndrome de Mister Magoo


O Fantástico do outro domingo (07/12/08) entrou na atual moda da Rede Globo de combater o preconceito contra lésbicas, quem sabe para se redimir dos tempos em que as sáficas iam pro espaço em seus folhetins do horário nobre.

A propósito da novela A Favorita, onde a personagem Catarina (Lilia Cabral) se torna amiga da lésbica Estela (Paula Burlamaqui) e sofre por tabela o preconceito e a discriminação direcionados à colega, o Fantástico elaborou um quadro para mostrar que a arte de fato imita a vida.

O quadro, chamado de Amiga Gay, entrevistou mulheres que, na vida real, são héteros mas têm amigas lésbicas e são discriminadas por isso. Mostra também o preconceito sofrido por duas atrizes que se fazem passar por namoradas num passeio pelos corredores de um shopping. O tom do programa é todo de condenação ao preconceito.

Pois, é! Mas não é que apareceu ativista lésbica dizendo que o Fantástico estava prestando um desserviço às lésbicas com o quadro em questão?!? E por quê? Porque em vez de chamar o quadro de Amiga Lésbica, o Fantástico o intitulou de Amiga Gay. Porque pinçaram uma frase da novela onde a filha da personagem Catarina diz para a mãe: “A senhora não é lésbica, não pode deixar que falem mal de você assim”. Porque as atrizes que se fizeram passar por namoradas, impressionadas com o que ouviram dos transeuntes no shopping, disseram que era melhor fingir não ser lésbica, não dar a cara à tapa. Houve ainda quem dissesse que o Fantástico perdeu a chance de defender o projeto de lei contra a homofobia que tramita no Senado em Brasília!

Gente confusa. A luta é contra o preconceito e não para afirmar identidades políticas. Isso sem falar que a turma das mulheres que se relacionam com mulheres tem um leque amplo de identidades que não se resume à palavra lésbica, à identidade lésbica. Há várias outras. À parte ainda que o Fantástico usou a palavra gay como adjetivo e, durante o quadro, também a palavra lésbica, portanto, dando visibilidade a ambas.

Por outro lado ainda de novo, programas de TV não são militantes, não tem que seguir a cartilha militante, fazer uma espécie de realismo socialista da questão lésbica. A abordagem é outra e só pode ser. A linguagem das novelas e dos programas de TV não pode ser panfletária. Talvez um Globo Repórter, tocando em várias facetas da questão, até incluísse falas mais militantes, mas também sem obrigação de fazê-lo.

O que importa é que a maior rede de televisão do Brasil vem exibindo, em horário nobre, um verdadeiro show contra o preconceito sofrido pelas mulheres que se relacionam com outras mulheres. As novelas da Globo conformam a opinião popular em um nível que a militância jamais conseguiu e duvido que consiga algum dia, entre outras coisas, porque não tem poder para isso.

Além do mais, por fim, identidades políticas só tem sentido se usadas de forma funcional, estratégica e não essencialista. Quando as pessoas começam a achar que é mais importante dar visibilidade à palavra lésbica do que lutar contra o preconceito, é o caso de consultar o oculista, pois estão todas com síndrome de Mister Magoo, aquele antigo e célebre personagem dos desenhos animados que arrumava as maiores trapalhadas por causa de sua visão prá lá de curta.

Postei uma das historinhas do Magoo para a gente lembrar os problemas que uma miopia acentuada pode causar...rsss

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sandálias da miséria

Esta foto dos pés negros assentados em sandálias improvisadas com garrafas de água e tiras de trapos de pano, faz jus ao velho ditado de que uma imagem vale mais do que mil palavras. É aparentada àquela foto, do fotógrafo Kevin Carter, da criança morrendo na África sob o olhar atento e ávido de um urubu.

A diferença entre ambas, embora falem dos extremos a que a miséria pode levar o ser humano, é que a foto de Carter reflete uma situação inexorável enquanto a outra aponta ainda para alguma esperança, apesar dos pesares.

A despeito de descrever uma situação de penúria que viola o direito de qualquer pessoa de ter condições de se prover com vestuário básico (uma sandália de verdade, um sapato) e manter condições de higiene necessárias à saúde, a imagem também apresenta a capacidade criativa do ser humano mesmo diante de grande adversidade. Não deixa de surpreender, à parte a tristeza que a imagem evoca, a engenhosidade do portador daqueles pés pretos de compor um “pisante” com o lixo não-reciclável de garrafas pet.

Desta engenhosidade se pode tirar a lição de que sempre existem alternativas possíveis para os problemas relativos à saúde, alimentação, educação, etc...já que, muitas vezes, dada à permanência desses problemas, somos inclinados a vê-los até como naturais. Pobreza, miséria, violência, corrupção são fatos tão corriqueiros, sobretudo no Brasil, que acabamos acreditando que sejam mesmo insolúveis, numa concepção perigosa que não confere com a realidade.

A bem da verdade, bastaria que se aplicassem simplesmente alguns dos artigos da Declaração dos Direitos Humanos ou mesmo da constituição do país para que essas imagens dantescas de fome, miséria e pobreza não mais viessem a nos assombrar, envergonhar. Um bom passo é sem dúvida o conhecimento dos direitos humanos, dos mecanismos já existentes para garanti-los e o que ainda se pode fazer para ampliá-los.

Música Milagres/Misérias com Adriana Calcanhoto

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Nós somos campeões do mundo

Pra levantar a moral quando o inimigo interno ou externo parece grande demais, é bom lembrar que somos campeões do mundo, como dizia Fred Mercury, na antológica We are the champions.

Letra e vídeo abaixo.

I've paid my dues -
Time after time -
I've done my sentence
But committed no crime -
And bad mistakes
I've made a few
I've had my share of sand kicked in my face -
But I've come through

We are the champions - my friends
And we'll keep on fighting - till the end -
We are the champions -
We are the champions
No time for losers
'Cause we are the champions - of the world -

I've taken my bows
And my curtain calls -
You brought me fame and fortuen and everything that goes with it
-
I thank you all -

But it's been no bed of roses
No pleasure cruise -
I consider it a challenge before the whole human race -
And I ain't gonna lose -

We are the champions - my friends
And we'll keep on fighting - till the end -
We are the champions -
We are the champions
No time for losers
'Cause we are the champions - of the world -

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Crimes da paixão: entre a defesa da honra e a síndrome de Medéia.

Embora não tenha acompanhado diretamente o seqüestro da menina Eloá, de 15 anos, mantida refém pelo ex-namorado, no próprio apartamento, durante 5 dias, mais ocupada que estava com a disputa eleitoral, não pude, por fim, deixar de me inteirar do assunto e lamentar o trágico desfecho.

Não se sabe ainda ao certo o que de fato ocorreu quando a polícia invadiu o apartamento (estão para fazer a reconstituição do crime) que redundou na morte de Eloá (com um tiro na virilha e outro na cabeça), no ferimento da amiga Nayara (levou um tiro no rosto) e na prisão do agressor Lindemberg Alves, 22.

Até agora, a tendência é apontar enorme incompetência da polícia numa ação que tirou do prédio o criminoso vivo e as duas reféns feridas, uma de morte. Isso sem falar nas desastradas declarações do comandante da ação policial que disse à imprensa não ter optado por atingir o agressor, antes da invasão, por ele ser um jovem apaixonado.

Análises sobre o crime pipocaram por todos os lados e, naturalmente, culpou-se o machismo do jovem e da própria sociedade brasileira que engendra este tipo de solução masculina para amores rejeitados. Seguiram nessa linha feministas, psicólogos e psiquiatras. Apenas em algumas opiniões se levantou também a questão da profunda perturbação emocional em que se encontrava o rapaz.

Como sigo a perspectiva de desafinar o coro dos contentes, queria fazer uma análise um pouco diferente do já dito. Primeiro que, claro, no caso de Eloá, considerando a diferença de idade entre os ex-namorados, responsabilizar a vítima adolescente pelo ocorrido, em qualquer nível, é inadequado, para dizer o mínimo.

Mas e se fosse uma mulher adulta em outro caso passional? Realmente seria possível tachar a agredida apenas como vítima, sem ao menos considerar a possibilidade de ela também ter sido inábil na administração da separação? Sem considerar o estado de perturbação emocional, por exemplo, de um homem que se descobre traído, lembrando inclusive o que ainda pensa a sociedade sobre os “cornos”? Seria sempre a mulher apenas a vítima indefesa nas mãos do sempre brutal algoz masculino?

Mulheres também são passionais e igualmente buscam vingar-se de seus/suas ex-parceiros/as (lésbicas sabem bem disso). A diferença é que, privadas em geral da possibilidade de expressar o ressentimento pela via da violência física, dadas às diferenças de poder existentes entre homens e mulheres, as mulheres em geral se utilizam de outros artifícios para reparar o ego ferido.

Se os homens ainda atacam de defesa da honra, como desculpa para seus tresloucados gestos, as mulheres atacam de síndrome de Medéia, a célebre personagem da mitologia grega que, abandonada por Jasão, mata os próprios filhos para vingar-se do esposo que a trocara por outra. Isso sem falar de outros expedientes não menos dramáticos de que se utilizou essa personagem nessa tragédia grega que expressa tão bem o lado sombrio do feminino.

Nos versos de Sêneca (Medéia):
Nenhuma força no mundo
nenhum incêndio, nenhum ciclone
Ou máquina de guerra
Possui a violência de uma mulher abandonada
Nem sua violência, nem seu ódio.

Ou nos versos de Chico Buarque: “dei para maldizer o nosso lar/ para sujar teu nome, te humilhar/ e me vingar a qualquer preço/ te adorando pelo avesso/só para mostrar que ainda sou tua/ até provar que ainda sou tua (Atrás da Porta)".

Casos de mulheres que buscam “matar” parceiras (os) atacando a imagem e a credibilidade dos ex até mesmo em nível de trabalho não são raros. Há as que passam uma vida inteira purgando o despeito, colocando-se inclusive na situação patética de buscar vingança contra um fantasma, já que as pessoas não ficam – como fotografias – estáticas no tempo. Algumas Medéias conseguem inclusive arruinar a vida de seus desafetos. E saem impunes de seus malfeitos.

Claro, não estou defendendo a impunidade para crimes passionais, que, na verdade, é o x desta questão. Apenas me desagrada, pelo maniqueísmo, a visão da mulher sempre como vítima e do homem sempre como algoz. Querer que Lindemberg Alves pague pelo crime que cometeu é uma coisa. Negar que ele possa ter feito o que fez tomado por profunda perturbação emocional, reduzindo-o a um machista sádico, é outra. Afinal também arruinou a própria vida.

O sentimento da separação é comparado por especialistas com o sentimento de luto, como uma espécie de experiência de morte. Dependendo de como se dá a separação pode ocorrer uma ferida narcísica que personalidades mais frágeis, como as masculinas em geral, tentam sarar com a morte daquela/daquele que cometeu o crime do abandono. Não se poderia então ir além da questão de machismo na abordagem desses temas?

E não, não estou me contradizendo, já que afirmei acima que o comandante da operação de resgate de Eloá deu a declaração desastrada de que não atingira Lindemberg porque tratava-se de um rapaz apaixonado. Se atingir Lindemberg fosse a única solução possível para pôr fim àquela situação – o que é bastante discutível do ponto de vista técnico – era a ação que deveria ter sido tomada, pois independente de estar “apaixonado“, ele estava armado e ameaçava a vida de duas meninas desarmadas. O indiscutível agressor era ele, e empatia com o coração partido do rapaz não cabia na situação. Aqui parece ter mesmo rolado sexismo, ainda que inconsciente.

Mas enfim, nestes assuntos de amores rejeitados e corações partidos, todo cuidado é pouco de modo que a sede de justiça não leve a análises simplistas e maniqueístas e não vire apenas sede de sangue da mesma forma que a perturbação emocional dos agressores, ainda que não deva ser desconsiderada, não se torne desculpa para a impunidade.

Foto: Nayara e Eloá
Música: Atrás da Porta, Chico Buarque de Holanda,
com Elis Regina


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Canção da tarde no campo




Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vais fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
Subo monte, desço monte.
meu peito é puro deserto.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.

©Cecília Meireles

Imagem: Márcio Camargo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sympahty for the devil - Simpatia pelo Diabo


A invenção de Deus

A humanidade inventou Deus
porque existe o desespero
porque existe a incerteza
porque existe o imponderável.

Por causa dessa incomensurável solidão
Que é a única coisa que nos acompanha
até a hora da nossa morte. Amém!
--------------------------------
Daí que minha simpatia vai para Lucífer ou Lilith (como queiram)!

Sympathy for the devil - Rolling Stones


(M. Jagger/K. Richards)

Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for long, long years
Stole many man's soul and faith

And I was 'round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate

Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game

I stuck around St. Petersburg
When I saw it was a time for a change
Killed the Czar and his ministers
Anastasia screamed in vain

I rode a tank
Held a general's rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank

Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeah
Ah, what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
(woo woo, woo woo)

I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made
(woo woo, woo woo)

I shouted out,
"Who killed the Kennedys?"
When after all
It was you and me
(who who, who who)

Let me please introduce myself
I'm a man of wealth and taste
And I laid traps for troubadours
Who get killed before they reached Bombay
(woo woo, who who)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
(who who)
But what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah, get down, baby
(who who, who who)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But what's confusing you
Is just the nature of my game
(woo woo, who who)

Just as every cop is a criminal
And all the sinners saints
As heads is tails
Just call me Lucifer
'Cause I'm in need of some restraint
(who who, who who)

So if you meet me
Have some courtesy
Have some sympathy, and some taste
(woo woo)
Use all your well-learned politesse
Or I'll lay your soul to waste, um yeah
(woo woo, woo woo)

Pleased to meet you
Hope you guessed my name, um yeah
(who who)
But what's puzzling you
Is the nature of my game, um mean it, get down
(woo woo, woo woo)

Woo, who
Oh yeah, get on down
Oh yeah
Oh yeah!
(woo woo)

Tell me baby, what's my name
Tell me honey, can ya guess my name
Tell me baby, what's my name
I tell you one time, you're to blame

Oh, who
woo, woo
Woo, who
Woo, woo
Woo, who, who
Woo, who, who
Oh, yeah

What's my name
Tell me, baby, what's my name
Tell me, sweetie, what's my name

Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Woo, who, who
Oh, yeah
Woo woo
Woo woo

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ANIMA ANIMUS


























Mora em mim
Um menino tímido,
Um malandro sacana,
Um Brad Pitt sem fama
Que quer na cama
Uma mulher de seios à espreita,
Numa camisola branca,
De dedos frágeis, boca rubra,
De pernas longas entreabertas,
Com uma vulva ávida e agridoce,
Com seu mar negro onde mergulho fundo
Como quem não quer mais voltar para esse mundo
Onde tudo me atordoa.

Míriam Martinho

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

F comme Femme - M de Mulher

F comme Femme foi um sucesso do cantor e compositor belga-italiano Salvatore Adamo no fim dos anos 60, em 1968 mais precisamente. Eu estava entrando na adolescência e não entendia nada de francês nem de mulher, mas já achava ambos lindos.

Continuo não entendendo nada de francês, só o instrumental, e embora meu conhecimento de mulheres tenha melhorado bastante com o tempo, não saberia dizer o quanto entendo destes meus inesgotáveis objetos de desejo. Quem sabe não sempre fui um homem preso no corpo de uma mulher... rsss

De qualquer forma, continuo achando ambos lindos: o idioma francês e a mulher. Por isso, num momento sessão nostalgia, postei um vídeo com a música (com cenas do Adamo), a letra original e uma tradução que parece apropriada.

Como também femme para nós, por um empréstimo via inglês, é aquela senhorita que faz par com a butch, quem quiser encarar uma dupla leitura da chanson que fique à vontade. Bon appetit!

F comme Femme

Elle est éclose un beau matin
Au jardin triste de mon coeur
Elle avait les yeux du destin
Ressemblait-elle à mon bonheur ?
Oh, ressemblait-elle à mon âme ?
Je l'ai cueillie, elle était femme
Femme avec un F rose, F comme fleur

Elle a changé mon univers
Ma vie en fut toute enchantée
La poésie chantait dans l'air
J'avais une maison de poupée
Et dans mon coeur brûlait ma flamme
Tout était beau, tout était femme
Femme avec un F magique, F comme fée

Elle m'enchaînait cent fois par jour
Au doux poteau de sa tendresse
Mes chaînes étaient tressées d'amour
J'étais martyre de ses caresses
J'étais heureux, étais-je infâme ?
Mais je l'aimais, elle était femme

Un jour l'oiseau timide et frêle
Vint me parler de liberté
Elle lui arracha les ailes
L'oiseau mourut avec l'été
Et ce jour-là ce fut le drame
Et malgré tout elle était femme
Femme avec un F tout gris, fatalité

À l'heure de la vérité
Il y avait une femme et un enfant
Cet enfant que j'étais resté
Contre la vie, contre le temps
Je me suis blotti dans mon âme
Et j'ai compris qu'elle était femme
Mais femme avec un F aîlé, foutre le camp

Salvatore Adamo

M de Mulher
Ela desabrochou numa bela manhã
No jardim triste de meu coração.
Trazia os olhos do destino,
Assemelhava-se a minha felicidade?
Oh, ela se parecia com minha alma?
Eu a colhi, ela era mulher,
Femme como "f" rosa, como flor.

Ela transformou meu universo,
Encantou toda a minha vida,
A poesia cantava no ar,
Eu tinha uma casa de bonecas.
E em meu coração ardia minha chama,
Tudo era belo, tudo era mulher," femme" com um "f" mágico,
"f" de fada.

Ela encantava-me cem vezes por dia
Com o doce arrimo de sua ternura.
Minhas cadeias estavam trançadas pelo amor,
Eu era mártir de suas carícias.
Eu era feliz... e seria eu um infame?
Mas eu a amava, ela era mulher.

Um dia, o pássaro tímido e débil
Veio falar-me de liberdade.
Ela arrancou-lhe as asas,
O pássaro morreu com o verão.
Naquele dia fez-se o drama
E, apesar de tudo, ela era mulher,
Femme com um "f" todo cinzento, de fatalidade.

Na hora da verdade
Havia uma mulher e uma criança,
Aquele menino em que eu me convertera
Contra a vida, contra o tempo.
Estou encolhido dentro de minha alma
E compreendi que ela era mulher.

tradução de Marysa Alfaia

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sexo pago: você faria?

A propósito de uma matéria sobre saunas para lésbicas, rolou uma divertida e significativa discussão, na lista gls, uma das mais freqüentadas do meio lgbt, sobre sexo casual entre mulheres, que acabou terminando num papo sobre dstês e sexo pago.

Me chamou a atenção o fato de as mulheres mais velhas serem mais abertas quanto a possibilidade de sexo casual, sexo entre desconhecidas e mesmo sexo pago enquanto as mais jovens, em geral, mais ligadas ao ideal do amor romântico.

Por medo da transmissão de dstês, em relação as quais as mulheres seriam mais vulneráveis inclusive por questões anatômicas, ou por considerarem que, para fazer sexo, é imprescindível haver ligação afetiva também, a maioria disse que dispensaria as saunas para éLes.

Sexo pago então, nem pensar pelo visto. Mas por que não? Mulheres não teriam simples necessidades físicas também? O que haveria de tão problemático em pagar por sexo? Não seria uma relação às vezes mais honesta e igualitária do que muitas relações amorosas onde falta sinceridade e sobra manipulação?

O que você acha?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Imagine eu e você - Imagine Me and You

Imagine Me and You é uma gracinha de filme. Uma comédia romântica lésbica, com duas mulheres bonitas, todo o mundo compreensivo, e uma cena de reecontro, em meio a um trânsito congestionado, de amolecer o mais empedernido dos corações.




Imagine Me & You
(Imagine Me & You, EUA, Inglaterra, Alemanha, 2005)
Gênero: Comédia
Duração: 94 min.
Produtora(s): BBC Films, Cougar Films Ltd., Ealing Studios, Focus Features, Fragile Films, X-Filme Creative Pool
Diretor(es): Ol Parker
Roteirista(s): Ol Parker
Elenco: Piper Perabo, Lena Headey, Matthew Goode, Celia Imrie, Anthony Head, Darren Boyd, Sue Johnston, Boo Jackson, Sharon Horgan, Eva Birthistle, Vinette Robinson, Ben Miles, John Thompson (5), Mona Hammond, Ruth Sheen

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A implosão da Mentira - Affonso Romano de Sant'Anna

Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes.
Alegremente mentem.
Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam.
Mas suas frases falam.
E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade pela mentira,
nem à democracia pela ditadura.

Fragmento 2
Evidente/mente
a crer nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.
Mentem com a cara limpa
e nas mãos o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente
como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical? mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país de mentira
—diária/mente.

Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.

Mentem como se Colombo
partindo do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.

Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.

Penso nas flores cuja verdade das cores
escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre
diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5
Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira
só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.

Poema publicado em 1980, pelo autor, em vários jornais, mas também em algumas antologias como A Poesia Possível, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1987.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Realidade














Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho…
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho…

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada…
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho…

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci…

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei… se te perdi…

(Florbela Espanca )

terça-feira, 5 de agosto de 2008

SONETO DE DEVOÇÃO - Vinicius de Moraes

Sambesi - Joachim Schneider
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

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