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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Diante de um quadro econômico e político tão adverso, a permanência de Dilma no poder é opção pelo imobilismo

Fernando Gabeira, como todos os brasileiros minimamente conscientes do que se passa no Brasil, sabe da necessidade imperiosa da demissão de Dilma da presidência da República. O lulopetismo estabeleceu um estado fascista no Brasil, embora da boca pra fora socialista populista. Fascista porque em conluio com o capital financeiro (banqueiros), empreiteiros, empresários de várias áreas, inclusive das comunicações, para sua manutenção. Gente que hoje teme a perda de suas mordomias, de seus lucros, na contramão dos interesses do país.

A realidade, porém, é que a permanência de Dilma humilha os brasileiros, por seu envolvimento até agora impune na mais alta corrupção, e se configura como opção pelo imobilismo. Isso num momento em que urge a presença no governo de quem possa agir com firmeza diante do mar revolto criado pela própria presidente. Impeachment já é questão de sobrevivência da nação.

Destaque:
Os ventos legais conduzem ao impeachment, assim como os clamores da rua. O impeachment, dizem alguns, seria traumático: instrumento muito raro e já aparece duas vezes numa jovem democracia. Mas que outra maneira tem a jovem democracia senão aplicar a lei?
[...]
Diante de um quadro econômico, político e climático tão adversos, supor que uma presidente detestada pela maioria, sem apoio no Congresso, é a mais indicada para conduzir o País é a opção pelo imobilismo. E em termos nacionais é hora de se mover, não de ficar parado.
Banqueiros, empresários e colunistas

Banqueiros, empresários e colunistas têm se pronunciado contra o impeachment de Dilma. Faltam elementos, dizem alguns. Ainda faltam, dizem outros mais cautelosos.
O próprio New York Times chegou a essa conclusão, com o mesmo argumento: não há motivo. Creio que essa convicção possa evoluir quando analisarmos todas as pontas da investigação.
O quadro geral desenha um governo que utilizou um esquema criminoso para se manter no poder. Mas quadros gerais não bastam. O ministro Gilmar Mendes foi o primeiro a juntar as pontas que revelam o caminho do impeachment: contas de campanha. A vulnerabilidade de Dilma fica clara quando o turbilhão de informações fragmentadas começa a tomar corpo.

De fato, não basta ver a Petrobrás em ruínas, destroçada pelo governo petista nem saber que o partido recebeu milhões das empreiteiras da Lava Jato. O senso comum ligaria as propinas à campanha milionária de Dilma. 

Mas é preciso mais. Um dos empreiteiros, Ricardo Pessoa, da UTC, doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma, por intermédio do tesoureiro, Edinho Silva. E não foi por amor à causa, mas medo de perder seu negócio milionário com o governo.

Nas anotações de Marcelo Odebrecht há menção às contas na Suíça que poderiam aparecer na campanha de Dilma. As contas existem e eram usadas para pagar propinas.

Descendo um pouco mais a escada, Gilmar Mendes encontrou inúmeros indícios de ilegalidades na campanha de Dilma. Só uma empresa que tem um motorista como sócio recebeu R$ 24 milhões da campanha de Dilma. A empresa chama-se Focal. Está sendo investigada e parece que uma cirúrgica troca de letra, pode definir melhor a natureza de seu negócio.

Por que todos esses fatos encadeados ainda não motivaram uma investigação do Ministério Público? Talvez fosse impossível para Rodrigo Janot viver a contradição de investigar Dilma e, simultaneamente, colocar sua própria confirmação como procurador-geral nas mãos dela. Como possivelmente será difícil investigá-la depois de ter seu nome confirmado por ela. Mas agora é diferente.

Janot está sendo acionado por um ministro do Supremo que, como o senso comum, acha que existe uma relação entre o assalto à Petrobrás e a campanha de Dilma. Só que Gilmar, como outros observadores, acha isso a partir de indícios, depoimentos, que só não convencem porque ainda são tratados fragmentariamente. Gilmar é ministro do TSE e aponta o caminho real, unificando os indícios, mostrando a leviandade de ignorar os dados da Lava Jato num julgamento desses.

Os ventos legais conduzem ao impeachment, assim como os clamores da rua. O impeachment, dizem alguns, seria traumático: instrumento muito raro e já aparece duas vezes numa jovem democracia. Mas que outra maneira tem a jovem democracia senão aplicar a lei?

Outro argumento é que duas quedas num curto espaço de tempo deformariam o eleitorado, que passaria a votar de forma irresponsável, contando sempre com o impeachment. É uma tese discutível. Ela serviria também para anular a utilidade do instituto do recall político, que existe desde o início do século 20 nos Estados Unidos.

A base legal do impeachment sairá da análise cruzada das contas de Dilma com os dados da Lava Jato e toda essa indústria de notas frias de gráficas inexistentes e empresas de fachada. Os fatos estão aí e a história de que foram doações legais não resolve o problema. Tornar legal dinheiro obtido em esquema de corrupção é pura lavanderia.

Quando todas as peças se encaixarem e a evidência emergir, pode ser ainda que muitos prefiram a continuidade de Dilma. Mas aí será outra discussão.

Estamos no auge de uma crise econômica e política. A realidade exterior nos surpreende com notícias negativas, como os sobressaltos na China, com possível repercussão aqui. E se olharmos para um quadro mais amplo, o clima, veremos que se espera-se um El Niño intenso este ano. Isso significa grandes problemas, como os que tivemos em 1988. Incêndios no Norte, inundações no Sul. O El Niño não tem o peso das questões urgentes do momento. Mas os analistas, quando Dilma assumiu, disseram que ela enfrentaria uma tempestade perfeita. Ainda não contavam com o El Niño, a tempestade das tempestades.

Diante de um quadro econômico, político e climático tão adversos, supor que uma presidente detestada pela maioria, sem apoio no Congresso, é a mais indicada para conduzir o País é a opção pelo imobilismo. E em termos nacionais é hora de se mover, não de ficar parado.

Não se fala mais que impeachment é golpe. Apenas que não há motivo para o impeachment. É positivo, porque esse debate popularizou o texto da Constituição, que prevê o impeachment.

O argumento de agora tem uma outra natureza: o impeachment é um instrumento legal, mas não há motivo para ele. Quando se der a ligação das evidências esparsas, o argumento de que não há motivo dará lugar ao medo de traumas para a estabilidade dos negócios. Aí talvez debate seja mais fácil. Nossa experiência histórica mostra que não dói tanto assim. Os que pedem um Fiat Elba de Dilma vão se deparar com verbas que dariam para comprar muitas Ferraris e Lamborghinis.

Será uma discussão simples: aplicar ou não aplicar a lei. A escolha de não aplicá-la, essa, sim, pode abalar os alicerces de nossa convivência democrática. E nos afundar numa crise desesperadora. O ministro Celso de Mello tem razão quanto aponta uma delinquência institucional mascarada de política. Conviver com a impunidade nesse nível é humilhante para os brasileiros. Eles saberão voltar às ruas, nos momentos adequados.

Nesta semana Dilma e Lula foram lembrados com frases de protesto no rodeio de Barretos. Não aprovo os termos do protesto, mas eles revelam como se espalha a rejeição.

Quem valoriza o equilíbrio no Brasil de hoje tem de perceber, como um ciclista, que ele depende do movimento. Parados, vamos todos cair no chão, embora uma queda de banqueiros e empresários seja suavizada pelos bolsos acolchoados.

Fonte: Estadão, 28/08/2015

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Dilma: mentindo sempre e queimando o Brasil

Artigo de Míriam Leitão demonstrando o quanto Dilma mentiu para os brasileiros nas eleições do ano passado e como continua mentindo hoje. Destaco:
Em todas as entrevistas, Dilma foi confrontada com os dados, em todas ela os negou e atacou adversários que apontavam a necessidade de ajuste, que defendiam o corte de ministérios e a redução dos gastos do governo. Era possível saber. Difícil era ignorar os abundantes indicadores antecedentes de que o Brasil estava entrando numa crise pelos erros cometidos pelo governo.
A distância da realidade continua, ainda agora. Na entrevista de segunda-feira, ela defendeu o ex-presidente Lula e disse que a oposição incentiva contra ele uma “intolerância inadmissível”. E acrescentou: “A intolerância é a pior coisa que pode acontecer numa sociedade, porque cria o “nós” e o “eles”. Isso é fascismo.” Quem mais incentiva essa divisão é o grupo político da presidente. Aliás, houve um comício em 2014 em que o ex-presidente Lula gritou do palanque: “agora é nós contra eles”. Isso depois de citar como sendo “eles” dois nomes de jornalistas: o de William Bonner e o meu.

Os antecedentes

Quem comparar o que a presidente Dilma falava há um ano e o que ela disse esta semana concluirá que são duas pessoas. O que dizia é o oposto do que diz. Os casos de divórcio entre a então candidata e os fatos foram muitos na campanha. No “Jornal Nacional” do dia 19 de agosto de 2014, Dilma afirmou que a inflação era zero e que pelos “indicadores antecedentes” o país estava retomando o crescimento.

Em entrevista aos três maiores jornais na segunda-feira, Dilma disse: “Fico pensando o que é que podia ser que eu errei”. Ela mesma respondeu que o erro foi ter demorado tanto a perceber a crise. Em seguida, justifica o erro. “Não dava para saber em agosto. Não tinha indício de uma coisa dessa envergadura.”

Exatamente naquele agosto, em que a presidente acha que não dava para saber, o jornalista William Bonner fez a seguinte pergunta para ela, com riqueza de dados e indícios de crise de grande envergadura:
A inflação anual, neste momento, está no teto daquela meta estabelecida pelo governo, está em 6,5%. A economia encolheu 1,2% no segundo trimestre deste ano e tem uma projeção de crescimento baixo para o ano que vem. O superávit deste primeiro semestre foi o pior dos últimos 14 anos. Quando confrontada com esses números a senhora diz que é a crise internacional. Aí, quando os analistas dizem que 2015 vai ser um ano difícil, um ano de acertos de casa, que é preciso arrumar a economia brasileira e, portanto, isso vai impor sacrifício, vai ser um ano duro, a senhora diz que isso é pessimismo. E aí eu lhe pergunto: a senhora considera justo, olhando para os números da economia, ora culpar o pessimismo, ora culpar a crise internacional pelos problemas? O seu governo não tem nenhum papel, nenhuma responsabilidade nos resultados que estão aí?”
Dilma respondeu:
Bonner, primeiro, nós enfrentamos a crise, pela primeira vez no Brasil, não desempregando, não arrochando os salários, não aumentando os tributos, pelo contrário, diminuímos, reduzimos e desoneramos a folha. Reduzimos a incidência de tributos sobre a cesta básica. Nós enfrentamos a crise, também, sem demitir. Qual era o padrão anterior...”
Bonner:
Mas o resultado, no momento, é muito ruim, candidata.”
Dilma:
Não, o resultado no momento, veja bem...”
Bonner:
Inflação alta, indústrias com estoques elevados, ameaça de desemprego ali na frente.”
Dilma:
Veja bem, Bonner. Eu não sei, eu não sei da onde que estão seus dados, mas nós estamos...”
Bonner:
Da indústria, candidata.”
Dilma:
Nós temos duas coisas acontecendo. Nós temos uma melhoria prevista no segundo semestre. Vou te dizer por quê.”
Bonner:
Isso não é ser otimista em contrapartida ao pessimismo que a senhora critica?”
Dilma:
Não. Não. Você sabe, Bonner, tem uma coisa em economia que chama os índices antecedentes. O que que são os índices antecedentes? A quantidade de papelão que é comprada, a quantidade de energia elétrica consumida, a quantidade de carros que são vendidos. Todos esses índices indicam uma recuperação no segundo semestre, vis-à-vis ao primeiro. Além disso, a inflação, Bonner, cai desde abril, e, agora, ela atinge, hoje, se você não olhar pelo retrovisor e olhar pelo que está acontecendo hoje, ela atinge 0%. Zero.”
Este é um exemplo. Em todas as entrevistas, Dilma foi confrontada com os dados, em todas ela os negou e atacou adversários que apontavam a necessidade de ajuste, que defendiam o corte de ministérios e a redução dos gastos do governo. Era possível saber. Difícil era ignorar os abundantes indicadores antecedentes de que o Brasil estava entrando numa crise pelos erros cometidos pelo governo.

A distância da realidade continua, ainda agora. Na entrevista de segunda-feira, ela defendeu o ex-presidente Lula e disse que a oposição incentiva contra ele uma “intolerância inadmissível”. E acrescentou: “A intolerância é a pior coisa que pode acontecer numa sociedade, porque cria o “nós” e o “eles”. Isso é fascismo.” Quem mais incentiva essa divisão é o grupo político da presidente. Aliás, houve um comício em 2014 em que o ex-presidente Lula gritou do palanque: “agora é nós contra eles”. Isso depois de citar como sendo “eles” dois nomes de jornalistas: o de William Bonner e o meu.

Fonte: Blog da Míriam Leitão, 26/08/2015

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dilma, de fato, a bem-amada das elites


Em Recordar é viver: quando o PT defendia a renúncia ou o impeachment de FHC, resgatei duas notícias de 1999, para mostrar o discurso de dupla moral dos petistas que, hoje, comparam impeachment com golpe. Agora, reproduzo outro exemplo da dupla moral petista, do discurso da boca pra fora da máfia da estrelinha. Todo o mundo está careca de ouvir a ladainha de que a direita e as elites tramam contra o governo popular de Dilma Roussef, mas a verdade é que Dilma e o PT têm contado com o apoio de boa parte da elite brasileira mais preocupada com seus lucros e interesses vários do que com o futuro do país. No texto abaixo, Rodrigo da Silva, do site Spotniks, apresenta 7 exemplos de como a elite financeira e empresarial do Brasil se opõem ao impeachment da presidente.

7 exemplos de como a elite brasileira é contrária ao impeachment de Dilma


por Rodrigo da Silva

Vai dizer que você nunca ouviu isso por aí? O discurso é claro: há um golpe em vigor, organizado pela elite econômica do país. Grandes empresários e industriais, descontentes com o governo popular de Dilma Rousseff, tramam um processo ardiloso de impeachment. É uma luta dos ricos contra os defensores dos pobres.

A fórmula está presente de forma repetitiva nas defesas contundentes dos militantes governistas. Mas quanto disso realmente é verdade? Aparentemente, nada.

Alguns dos principais representantes da elite econômica brasileira já marcaram publicamente suas posições em relação ao impeachment de Dilma: são radicalmente contrários. Banqueiros, grandes empresários, donos de grupos de mídia, organizações industriais, todos convergem para o mesmo lugar. Não há possibilidade de um processo de impedimento.

Na lista abaixo, reunimos as figuras e organizações mais influentes do país e suas posições em relação ao impeachment. Ao fim, como diz Roberto Ellery, diretor da Faculdade de Economia da UNB, resta a pergunta: “quantos grandes empresários ainda terão de se manifestar a favor do governo para que alguns percebam de que lado está a elite?”.

1) ROBERTO SETÚBAL, PRESIDENTE DO ITAÚ UNIBANCO

Roberto Setúbal. Talvez você nunca tenha ouvido falar nesse nome, mas provavelmente já cruzou com a fachada de seu empreendimento, presente em milhares de esquinas do país. Roberto é presidente do Itaú Unibanco e membro de uma família com uma fortuna avaliada em mais de US$ 3,3 bilhões. Seu banco é a empresa de maior valor de mercado do Brasil e obteve um crescimento de 29% do lucro líquido no ano passado.

Numa entrevista concedida à Folha nesse final de semana, Roberto foi taxativo: é sumariamente contrário ao impeachment de Dilma Rousseff.
Nada do que vi ou ouvi até agora me faz achar que há condições para um impeachment. Por corrupção, até aqui, não tem cabimento. Não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquemas de corrupção. Pelo contrário, o que a gente vê é que Dilma permitiu uma investigação total sobre o tema [corrupção na Petrobras]. Era difícil imaginar no Brasil uma investigação com tanta independência. A Dilma tem crédito nisso.”
Para o presidente do maior banco privado do hemisfério sul, tampouco as pedaladas fiscais seriam motivo suficiente para o impeachment:
Isso é grave e pode merecer algum tipo de punição. Mas não me parece ser motivo para tirar a presidente. Até porque presidentes anteriores a ela passaram por situações semelhantes. Seria um artificialismo querer tirar a presidente neste momento. Criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia.”
 Apesar da crise, o lucro do Itaú Unibanco no segundo trimestre de 2015 teve um aumento de 22,1% em relação ao mesmo período de 2014.

2) JOÃO ROBERTO MARINHO, VICE-PRESIDENTE DO GRUPO GLOBO

A família Marinho é reconhecidamente a mais rica do país, com uma fortuna avaliada em mais US$28,9 bilhões. Todo esse dinheiro pode ser representado num único símbolo, presente na formação da vida brasileira há cinco décadas: o Grupo Globo.

Como noticia a Folha de São Paulo, João Roberto Marinho, vice-presidente da organização, fez lobby contrário ao impeachment de Dilma nas últimas semanas, reunindo líderes das principais forças políticas do país e integrantes do governo para pedir moderação. Marinho encontrou-se com o vice-presidente Michel Temer, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e reservadamente com as bancadas do PT e do PSDB.

Segundo um integrante do governo, o empresário também esteve com Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, com Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social e Henrique Alves, ministro do Turismo (que também é dono de uma afiliada da TV Globo no Rio Grande do Norte). Além disso, também esteve com Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, três das principais figuras da oposição.

Para Michel Temer, Marinho pediu uma avaliação sobre as chances do Planalto conseguir recompor sua base no Congresso e questionou os caminhos que o PMDB vê para o país. Reservadamente, o vice-presidente de um dos maiores grupos de mídia do mundo foi categórico: é hora de acalmar os ânimos, conter a crise política e tocar o barco. Com Dilma.

Apesar da crise, o grupo Globo fechou 2014 com um faturamento de R$ 16 bilhões, um crescimento de 9,7% sobre o ano anterior.

3) O GLOBO

A posição da família Marinho é sustentada por um editorial publicado há algumas semanas no principal jornal impresso do grupo: O Globo. É dessa forma que o terceiro maior jornal do país anuncia sua posição contrária ao impeachment de Dilma.
Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo. Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?”
O editorial é curto e objetivo: pede o fim imediato da crise política e condições para que a presidente governe. Para O Globo, a oposição ao governo Dilma é “inconsequente”.
É preciso entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o Executivo. Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do “grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto, maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação. Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de desemprego e queda de renda. Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto.”
Com tudo isso às claras, vozes ligadas ao PT insistem em dizer que o Grupo Globo defende um “golpe midiático”. Nada que possua qualquer ligação com o mundo real.

4) FIESP E FIRJAN

No último dia 18, o governo federal aplicou um gesto de boa vontade para aproximar ainda mais o Planalto do setor empresarial brasileiro: orientou os bancos públicos a liberar crédito mais barato para empresas de diversos setores da economia. Durante a semana, Dilma pediu apoio explícito num encontro com representantes de alguns dos maiores grupos do país. Participaram da reunião, segundo a lista de presentes divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República: Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Carlos Fadigas, da Braskem, Carlos Mariani, da PIN Petroquímica, Gunnar Nebelung e Waldemir Loto, da Amaggi, Ingo Plöger, do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Marco Stefanini, da Stefanini, Paulo Tigre, da DHB Indústria e Comércio LTDA, Pedro Faria, da BRF, Pedro Wongtschowski, da Ultrapar, Ralph Lima Terra, da Abdib e Rubens Ometto, da Cosan.

Poucos dias antes, duas organizações empresariais saíram em apoio à presidente: a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), uma organização que representa 130 mil indústrias, e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), que representa 10 mil indústrias.

Numa nota assinada em conjunto, após um pedido de unidade feito por Michel Temer, as duas organizações defenderam que o “momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil”.
“O povo brasileiro confiou os destinos do país a seus representantes. É hora de colocar de lado ambições pessoais ou partidárias e mirar o interesse maior do Brasil. É preciso que estes representantes cumpram seu mais nobre papel – agir em nome dos que os elegeram para defender pleitos legítimos e fundados no melhor interesse da Nação.”
Em entrevista ao O Globo, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da FIRJAN, disparou:
Os empresários não podem assistir a esse jogo vagabundo, de quinta categoria, da arquibancada. No fundo (a nota), é um grito para endossar o apoio ao Temer.”
As principais representantes das indústrias do Rio e de São Paulo marcaram suas posições. Sem impeachment.

5) CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA

FIESP e FIRJAN são filiadas à Confederação Nacional da Indústria, a CNI. Há poucos dias, em entrevista para a Folha de São Paulo, Robson Andrade, presidente da organização, também se manifestou contrário ao impeachment:
Escolhemos em outubro a liderança que gostaríamos de ter, mas escolhemos em cima de um programa de governo em que acreditávamos, de gestão, de crescimento. Por uma série de fatores econômicos e políticos, não se efetivou. Temos agora de ajudar a construir um país diferente. As instituições têm de ser respeitadas. Foi eleita, tem de respeitar e ajudar a construir o país dentro do sistema político que temos, com a liderança que escolhemos. Mas é necessário também que ela tome as decisões que o país precisa, não podemos ficar à mercê de problemas políticos.”
Questionado se era a favor do impeachment, foi taxativo:
Não sou a favor. Temos mecanismos da Justiça que têm de avaliar essas questões. Não acho que simplesmente o impeachment resolverá. O que vai resolver é ajudarmos a construir um Brasil diferente do que temos hoje. Não estou falando que tem de apoiar a presidente, mas que nós temos de achar um caminho para que nossos representantes, principalmente o Congresso, aprovem as medidas necessárias. A eleição da presidente é mais visível, mas, em 2014, as promessas dos candidatos aos governos, ao Senado e à Câmara, foram as mesmas, de que vão melhorar [o país]. Estamos esperando por isso e acho que temos de dar as mãos e ajudar a construir. Se a economia melhorar e o país voltar a crescer, a tendência é que a [impopularidade] mude completamente.”
Os grupos que representam as maiores indústrias do país têm suas posições bem definidas – a favor do governo.

6) LUIZ CARLOS TRABUCO, PRESIDENTE DO BRADESCO


Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, recusou um convite de Dilma para ser Ministro da Fazenda no final do ano passado – cargo que acabaria ocupado por Joaquim Levy. Hoje, adota um tom apaziguador, apesar de não usar a expressão impeachment. Para ele, é preciso mudar a postura em relação ao Planalto e combater a crise política para gerar governabilidade à Dilma.
Precisamos sair desse ciclo do quanto pior, melhor. Melhor para quem? Para o Brasil, não é. As pessoas precisam ter a grandeza de separar o ego pessoal do que é o melhor para o país.”
Em entrevista recente ao O Globo, Trabuco manteve a posição de que é preciso diminuir o conflito político.
Os problemas econômicos se resolvem, porque são matematização de certas variáveis que podem ser consertadas. Mas os problemas políticos, não. Eles são de ideias, de ideologia, de postura. É uma energia usada para provocar calor, e hoje o país precisa de energia para provocar luz.”
Apesar da crise, o Bradesco teve o maior lucro da sua história no segundo trimestre de 2015, com um aumento de 18,4% do lucro líquido em relação ao mesmo período do ano passado.

7) BANQUEIROS, BANQUEIROS E BANQUEIROS.

A chamada da Folha é triunfante: grandes empresários ainda preferem evitar impeachment de Dilma. E não são os únicos. Os banqueiros, que Dilma apregoava à imagem de Marina Silva nas últimas eleições, também – e Luiz Carlos Trabuco e Roberto Setúbal não são exceções. Há poucos dias, o Ministro da Fazenda se encontrou com alguns deles. Além de Trabuco e Setúbal, participaram da reunião: Alexandre Abreu (Banco do Brasil), Miriam Belchior (Caixa Econômica Federal), André Esteves (BTG Pactual), José de Menezes Berenguer (JPMorgan), Manoel Felix (Indusval/ABBC), Rossano Maranhão (Safra) e Sérgio Agapito Rial (Santander).

Na reunião, Levy apresentou a chamada “Agenda Brasil”, o conjunto de ações e medidas econômicas apresentadas por Renan Calheiros para conter a crise. Segundo aponta a Folha, os banqueiros gostaram.
O mercado preferiria ficar onde está”, diz o diretor de um banco à coluna de Maria Cristina Frias, na Folha.
Sem crise política. Sem impeachment. Sem “golpe de elite”. Definitivamente, em time que está ganhando não se mexe.

Fonte: Spotniks, por Rodrigo da Silva, 24/08/2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tecnicolor, o disco dos Mutantes pra inglês ouvir, que virou referência de produção experimental


Eles escondiam um fabuloso tesouro que só viria ao mundo quase 30 anos depois do lançamento de Jardim Eletrico:

Tecnicolor.

A história é simples: a Polydor inglesa queria editar um disco dos Mutantes, todo cantado em inglês, com a produção de Carlos Olmes.

O trabalho, cantado em inglês, francês, espanhol e português chegou a ser gravado e, infelizmente, engavetado até 2000.

Tecnicolor teve uma edição luxuosa com desenhos do encarte feitos por Sean Lennon, filho do eterno líder dos Beatles, John, e grande fã dos Mutantes.

Algumas faixas chegam a impressionar mais do que as originais como a versão, em inglês, para "Ando Meio Desligado", "I Feel a Little Spaced Out". Se em português o vocal era quase sussurrante, agora a voz de Rita era amplificada e o final ainda mais sensacional, com uma bela demonstração do apuro de Serginho na guitarra.

Algumas faixas ganharam versões hilárias, como "A Minha Menina", de Jorge Ben e que aparece no primeiro disco Os Mutantes, transformada em "She's My Shoo Shoo".

Ao ser lançado, o CD recebeu elogios nos quatro cantos do planeta, sendo uma das molas propulsoras para a volta do grupo no Século XXI.

À convite do produtor Carl Holmes, aproveitaram para gravar algumas canções no estúdio Des Dames, com a intenção era lançar um álbum principalmente em inglês para atrair público internacional. Mas a Polydor desistiria do projeto mesmo com um álbum inteiro já gravado. Somente em 1999, o disco seria lançado, chamado Tecnicolor.

No ano 1999 a gravadora Universal, dona do catálogo da extinta Polydor, finalmente resolveu lançar Tecnicolor, o álbum gravado pela banda durante sua passagem pela França em 1970. A ilustração e a caligrafia do álbum, na versão editada no ano de 1999, são da autoria de Sean Lennon. Na época, em 1970, a Polygram inglesa convidou o grupo a morar em Londres e pediu para que eles gravassem um álbum com canções em língua inglesa. Apenas Arnaldo Baptista sabia desse convite e só contou aos outros integrantes após regressaram ao Brasil.

Em fevereiro de 2005 a revista britânica Mojo incluiu o álbum Os Mutantes em sua lista de "50 Most Out There Albums of All Time" (algo como os "50 Discos Mais Experimentais de Todos os Tempos"). Eles obtiveram a 12ª posição na lista, à frente de nomes como Beatles, Pink Floyd e Frank Zappa. Ainda em 2005, a também britânica Q Magazine igualmente colocou o álbum em 12º lugar, em sua lista dos "40 greatest psychedelic albums of all time" ("Os 40 maiores discos psicodélicos de todos os tempos).

Faixas

Panis Et Circenses
Bat Macumba
Virginia
She's My Shoo Shoo (A Minha Menina)
I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado)
Baby
Tecnicolor
El Justiciero
I'm Sorry Baby (Desculpe, Babe)
Adeus Maria Fulô
Le Premier Bonheur Du Jour
Saravah Panis Et Circenses (Reprise)

Fonte: Youtube

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Para de fato combater a corrupção, é necessário diminuir a concentração de poder e manter a liberdade de imprensa e de escolha das pessoas

Odemiro Fonseca
Bom texto do empresário Odemiro Fonseca em O Globo demonstrando que só a punição dos corruptos não vai resolver o problema da corrupção endêmica que temos no Brasil. É necessário uma reforma estrutural do Estado brasileiro, reduzindo-o generosamente para diminuir a concentração de poder e manter a liberdade de imprensa e de escolha das pessoas.

Destaque:

Ideologias e corrupção estão ligadas pela concentração do poder estatal. Das experiências comunistas aos capitalismos de Estado. Nos países desenvolvidos que viveram e vivem experiências liberal-democráticas, o poder político é descentralizado e estatais não existem ou são poucas, regulamentação sobre abrir e fechar empresas é simples e a transparência, refletida na imprensa livre, é grande e protegida. É nesses países que a corrupção é muito menor.
Ideologias e corrupção
O único caminho é diminuir a concentração de poder e manter a liberdade de imprensa e de escolha das pessoas

Por Odemiro Fonseca

Somos o que cremos, defendem economistas comportamentais, alguns filósofos e psiquiatras. Por exemplo, alguém que creia ser possível e louvável criar um mundo melhor somente ou prioritariamente através da ação do Estado precisa de uma ideologia. Quem crê o contrário não precisa. É uma clivagem fundamental, pois a busca por um mundo melhor através da ação do Estado requer (concentrar poder) criar burocracia estatal ativa, que desenvolve objetivos próprios e clientelas e que capturam o sistema político, entrincheirando-se com demandas crescentes. A aliança entre políticos, burocratas estatais (inclusive os de empresas estatais) e suas clientelas privadas, com benefícios concentrados e interesses alinhados, precisa minimizar (transparência) para passar do formalismo burocrata em servir todos os cidadãos igualmente, para a escolha seletiva, o patrimonialismo e a economia de compadrio (poder discricionário). Finalmente chegamos à corrupção. Prova-se fórmula de Robert Klitgaard C= CP+PD-T (corrupção = concentração de poder + poder discricionário – transparência).

Ao contrario das ideologias, sejam na forma de teocracias, socialismos, comunismos, capitalismos de Estado, a liberal democracia (liberalismo clássico que criou o Estado Democrático, fruto do iluminismo) não é uma ideologia, portanto nada de bandeiras, cores, flores, hinos, “homem massa”, “locomotivas estatais”, “modelos”, “planejamentos centrais”. Baseia-se numa razão crítica, inacabada, que pressupõe tolerância, que é a convivência pacífica entre pessoas diferentes e consciência de que o conhecimento e a ação humana são limitados, que o progresso humano vem da sua criatividade, por tentativa e erro. Talvez esse seja o problema do liberalismo, seu laicismo racional e o respeito pela democracia moderna, que gera uma “fraqueza motivacional” (Habermas) que as ideologias não demonstram.

Ideologias e corrupção estão ligadas pela concentração do poder estatal. Das experiências comunistas aos capitalismos de Estado. Nos países desenvolvidos que viveram e vivem experiências liberal-democráticas, o poder político é descentralizado e estatais não existem ou são poucas, regulamentação sobre abrir e fechar empresas é simples e a transparência, refletida na imprensa livre, é grande e protegida. É nesses países que a corrupção é muito menor.

Crenças ideológicas sempre trouxeram corrupção. O PT não é um ponto fora da curva. Mas, na fórmula de Klitgaard, não existe a variável “impunidade”. Se formos somente nesta direção, o esforço atual será desperdiçado. A corrupção se tornará mais cara, insidiosa, ousada. O único caminho é diminuir a concentração de poder e manter a liberdade de imprensa e de escolha das pessoas. Desconcentrar poder significa desestatização, regulamentação menos abusiva e no limite, concessões de serviços ao setor privado. E mais federação. Resolve-se de quebra enormes problemas políticos.

Fonte: O Globo, 20/08/2015

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