8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A amizade é o amor que nunca morre. Feliz dia dos amigos!

Hoje, no Brasil, é dia do mais nobre dos sentimentos humanos: a amizade, aquela que, nas palavras do poeta Mário Quintana, é o amor que nunca morre. Hoje também a humanidade aportou na lua 46 anos atrás (20/07/1969), quase no fim do dia. Um feito memorável.

Um bom dia para nascer, portanto, o que me aconteceu há 61 anos. Quem diria. Ainda estou por aqui firme e forte. Por isso, para homenagear o dia em que nasci, dia da amizade, deixo abaixo vídeo com Elis Regina cantando Canção da América. Deixo também de comentar sobre a corrupção nossa de cada dia,  pois nada é mais incompatível com a amizade do que a sordidez da desonestidade pessoal ou política.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Marxistas sempre erram. Mas por que não desistem de insistir nos erros?

Os textos de Jabor sobre sua época de crença na esquerda socialista, comunista, etc. sempre me fazem lembrar da minha própria trajetória também marcada pela influência de esquerda (ainda que da esquerda libertária) e cheia de ilusões. Dar adeus às ilusões não é fácil, mas imprescindível para o crescimento pessoal e político. Muitos caminhos levam a Roma, portanto, insistir em um que sempre só deu becos sem saída é meio patológico. Impressiona que a esquerda fóssil brasileira insista numa ideologia que não passou no test drive da História e segue criando destruição por onde passa. Se eles não aceitam virar essa página da História, precisamos virá-la por eles.

Destaque:

Nunca me esqueço de um debate do grande intelectual “aroniano” José Guilherme Merquior com dois marxistas na TV. Os dois falavam sempre dos erros da esquerda, mas considerados apenas como “percalços” de uma marcha triunfal para o futuro. Eles diziam, batendo no peito: “Erramos no stalinismo, na Hungria, em Praga, aqui erramos em 1935, 1964, em 1968, mas continuaremos lutando.” Merquior respondeu na lata: “Por que vocês não desistem?”
O volume morto
A palavra de ordem não era derrotar o capitalismo? Pois agora estão conseguindo cumprir

No Brasil, qual a diferença entre o comunismo de antigamente e o comunismo de hoje? Só uma: hoje eles estão no poder. Essa é a diferença principal. Na oposição são ardorosos sabotadores, no poder são um desastre administrativo. E se dedicam a sabotar o capitalismo mesmo dentro do poder capitalista. Como eles costumavam dizer, essa é a “contradição principal” deles: como ser contra o regime e governá-lo ao mesmo tempo?

A outra diferença entre ontem e hoje é de sentimentos: antes havia sim uma esquerda romântica, como vi e vivi nos tempos de estudante na UNE. A esquerda não era corrupta. Hoje a esquerda é só um pretexto para o petismo, o lulismo e o banditismo.

Naquela época, não. Nosso romantismo era meio babaca, mas era a única porta para entender o mundo.

Nós éramos mais “puros”, mais poéticos, mais heroicos que os meus colegas de PUC, todos já de gravatinhas adultas. Como era bom se sentir acima dos outros, não por competência ou cultura, mas por superioridade ética. Os operários eram nossa meta existencial. Para nós eles eram o futuro da Humanidade. Nas oficinas do jornal estudantil que eu fazia, crivavam-nos de perguntas e agrados, sendo que os ditos operários ficavam desconfiados e pensavam que nós éramos veados e não fervorosos “revolucionários”.

Naquele tempo não era possível pensar de outro jeito. De Sartre a Brizola, não havia outra ideologia disponível. A guerra fria dividia o mundo em duas facções, e a tomada do poder de Fidel Castro inebriou nossos desejos. Mesmo delirando em utopias, queríamos verdadeiramente, romanticamente salvar o país, contra o “imperialismo americano, o latifúndio e a direita espoliadora”. Não havia espaço para outras ideias, e quem ousasse pensar diferente era canalha, lacaio dos americanos. Por exemplo, Raymond Aron era de “direita” porque discordou do Sartre, pois esse incitava seus leitores para agir; Aron ensinava-os a pensar. Como acreditávamos nessa dualidade, ela virou uma verdade incontestável. E essas “verdades” criaram uma nova linguagem que praticávamos com fé e determinação. Em vez dos fatos, a linguagem bastava e nos movia. A linguagem ignorava o mundo real, chato e complexo demais para a mutação histórica que faríamos pois, afinal, éramos os “sujeitos da história”. Só as palavras simplistas explicavam nossa visão de mundo: alienação, massa atrasada, massa avançada, conscientização, sectarismo, aventureirismo, reacionarismo, entreguismo, proletariado, democracia burguesa e a palavra sagrada que tudo justificava: o “povo”.

E é impressionante a manutenção das mesmas ideias de 50 anos atrás. Éramos implacáveis com as tentativas de conciliação; um dia, o próprio Costa e Silva aceitou receber uma delegação de estudantes. Nada aconteceu porque nós, na porta do Planalto, nos recusamos a vestir paletós. Nossas certezas eram tão sólidas que me lembro de dizer, no dia 31 de março de 1964: “Oba! Já derrotamos o imperialismo americano; agora só falta a burguesia nacional!” No dia seguinte, a UNE pegava fogo e surgia o anão verde-oliva Castelo Branco, o novo ditador.

Como era fácil ignorar a realidade quando se é da oposição, como era (e é) moleza tramar um programa político sem ter de administrar nada. Os românticos esquerdistas achavam que administrar era coisa de capitalistas (e ainda acham) pois, no desespero da zona geral, tiveram agora de contratar um “neoliberal” para tentar salvar um país quase em “perda total”.

Na época, tudo fazia sentido para nós, sentido calcado em palavras-chaves que descreviam a vida, o país, as tragédias mundiais, a subestimação da resistência daquele mal chamado “capitalismo” que tudo descrevia. O capitalismo era tratado como uma pessoa: “capitalismo hoje acordou de mau humor, o capitalismo tentou nos enganar outro dia, o capitalismo está mentindo etc.” Nunca entenderam (como hoje) que o capitalismo não é um regime político, mas um modo de produção — mal ou bem, o único que ainda funciona nesse mercado devastado por crises.

O socialismo utópico ou não era a única ideologia que movia o mundo e que agora justifica a destruição do Estado e do país que os petistas estão perpetrando. De certa forma, essa cagada que aprontaram (perdoem a vulgaridade) foi uma vitória.

A palavra de ordem não era derrotar o capitalismo? Pois agora estão conseguindo cumprir sua utopia: derrotá-lo (e o Brasil junto) sem terem nada para botar no lugar. É espantosa a capacidade de errar dessa gente. Mas para eles, na pior tradição hegeliana, o “erro” é apenas um acidente de percurso. O erro é apenas uma contradição negativa e passageira. Nesse tempo, as reuniões eram incessantes e insuportavelmente longas. E era o mesmo papo de agora no PT: precisamos falar com o povo, com movimentos sociais, sindicatos e (uma palavra que me deprimia) “associações de bairro”. Eu pensava: “Que será isso? Será que querem conscientizar minhas tias?”. Nas infinitas reuniões todos falavam inflados de certezas e ao final se perguntavam: o que fazer? Ninguém sabia. Mas continuávamos firmes militantes do nada, sem saber para onde ir, porque ter dúvidas era “revisionismo”. É como hoje; ver o Rui Falcão falando até me emociona, pois é uma viagem no tempo. Não havia espaço para os males internos e seculares do Brasil; tudo era culpa dos inimigos externos (como hoje — não é, Dilma?).

Hoje já estão no “volume morto”, como definiu o Lula num raro acesso de autocrítica, mas continuarão persistindo na marcha da insensatez. Eles não mudam nunca.

Nunca me esqueço de um debate do grande intelectual “aroniano” José Guilherme Merquior com dois marxistas na TV. Os dois falavam sempre dos erros da esquerda, mas considerados apenas como “percalços” de uma marcha triunfal para o futuro. Eles diziam, batendo no peito: “Erramos no stalinismo, na Hungria, em Praga, aqui erramos em 1935, 1964, em 1968, mas continuaremos lutando.” Merquior respondeu na lata: “Por que vocês não desistem?”

Fonte: O Globo, 14/07/2015

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

Não costumo curtir o Gregório Duvivier e praticamente desconheço o Porta dos Fundos. Costuma ser bobo da corte esquerdista assim como o Danilo Gentili é da corte direitista, mas, no texto abaixo, sem dúvida acertou em cheio. Quem coloriu sua foto de perfil do facebook, por ocasião da aprovação do casamento LGBT nos EUA, viu bem o que ele descreve abaixo. Gente sem noção dizendo que não ia colorir sua foto porque tinha criança morrendo de fome na África, bicho morrendo no Brasil, ou seja, coisas mais importantes na qual se engajar. E até gente desfazendo amizade porque uns amigos coloriram suas fotos e outros não coloriram. Tudo muito antidemocrático e estúpido. Como ele bem diz, "o problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada." "...melhor seria se se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha." 
Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?" 
O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.
Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha. 
É sempre a mesma coisa. Primeiro todo o mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: "Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (...). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém".

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?"

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

Fonte:  FSP, 13/07/2015

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Na reforma política, os parlamentares, à revelia dos anseios da população, continuam legislando em causa própria

A gente nem pode ficar contente com a decadência do PT porque outras forças igualmente corruptas e patrimonialistas já irrompem no cenário político para tomar o seu lugar como protagonistas do roubo do erário público e degeneradores das instituições. No texto abaixo, editorial do Estadão (14/07), vê-se bem que suas excrescências do legislativo, na contramão dos anseios populares, estão trabalhando para minar os órgãos destinados exatamente a coibir a corrupção parlamentar.

Com a mesma perspectiva, o presidente da Câmara, muito comemorado pela direitosa (ontem Reacionaldo Azedo postou vários vídeos de entrevista que fez com o fulano) por marcar a independência do legislativo frente ao executivo (leia-se "governos petistas) e ser conservador, trabalha pela nomeação de executivo amigo em posto estratégico na Caixa, hoje ocupado por dirigente da confiança de Dilma. Em outras palavras, é apenas o roto buscando substituir o rasgado. O problema do Brasil não é de esquerda ou de direita. É de falta de consciência democrática, de cultura democrática. Todo o mundo só pensa em mamar nas tetas do Estado e enriquecer às custas da população que trabalha e sustenta esses parasitas de cores várias.

Reformando em causa própria

Do ponto de vista do desejável equilíbrio entre os Poderes da República, a queda de braço entre o Congresso e o Planalto que se observa desde a posse de Dilma Rousseff em seu segundo mandato tem resultado na crescente conquista, pelos parlamentares, de uma autonomia que se contrapõe à hegemonia política do Executivo que vigorou por mais de uma década de lulopetismo no poder. O reequilíbrio de um dos fundamentos do sistema democrático garante o cumprimento, em sua plenitude, das funções legislativas e fiscalizadoras do Parlamento. Mas, em vez de aplicar seu revigorado poder exclusivamente em benefício do País, os parlamentares passaram a legislar em causa própria. A reforma política em pauta no Congresso é um exemplo. Demonstra como os nobres parlamentares se têm dedicado à prática vergonhosa de atender a seus próprios interesses.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou o texto básico da reforma política no qual, em vez de aprimorar e endurecer a fiscalização da atividade político-partidária, torna mais difícil a apuração de irregularidades pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), exatamente no momento em que o País manifesta indignação com a malversação de recursos públicos entranhada nos desvãos do poder público.

Em outro plano, mas ainda focados prioritariamente nas vantagens políticas de que se podem beneficiar, os parlamentares têm-se prevalecido da debilidade política do Planalto para lhe impor derrotas significativas na votação de medidas como as do ajuste fiscal necessário ao saneamento das contas do governo. Até mesmo a oposição – no caso, o PSDB –, pensando apenas em fazer Dilma Rousseff sangrar, tem contrariado o indiscutível interesse público, como o fez ao votar contra o fator previdenciário criado por iniciativa dos tucanos na administração FHC.

O golpe dos deputados contra o poder de fiscalização do TSE é um escândalo que favorece a falta de probidade e de transparência na manipulação dos recursos financeiros que alimentam a organização partidária e as campanhas eleitorais. Por exemplo, o prazo que hoje o Ministério Público tem para representar contra os suspeitos de cometer irregularidades é substancialmente reduzido: de até junho do ano seguinte à eleição foi antecipado para 19 de dezembro do ano eleitoral. Isso praticamente inviabiliza investigações mais complexas. O projeto reduz as multas por irregularidades praticadas e acaba com a punição mais pesada imposta hoje aos partidos cujas contas são rejeitadas: o bloqueio das cotas do Fundo Partidário.

Fontes do TSE ouvidas pelo jornal O Globo entendem que a iniciativa dos deputados criará enormes obstáculos para o cumprimento da função fiscalizadora do tribunal e ainda minimizará o efeito inibidor que a imposição de multas pesadas tem sobre a prática de irregularidades relacionadas com o financiamento eleitoral. Ou seja, é uma reforma feita rigorosamente na contramão do clamor popular – e dos imperativos éticos – contra a corrupção que se tornou endêmica na relação dos gestores públicos com os fornecedores do governo, como tem sido fartamente comprovado pela Operação Lava Jato e seus desdobramentos.

Outro efeito do crescente sentimento de poder dos parlamentares é a tendência de exercer controle sobre os órgãos de fiscalização do Estado, inclusive o Tribunal de Contas da União (TCU), que apesar do nome não é parte do Poder Judiciário, mas apenas um órgão auxiliar do próprio Congresso que, como diz o nome, tem a missão de fiscalizar as contas da União. Há vários exemplos desse surto de onipotência dos congressistas. Um deles é o projeto que está pronto para ser votado na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara que autoriza fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial no TCU, realizada pelo Congresso com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU). Quer dizer: o Congresso quer o apoio de um órgão de apoio do Executivo – a CGU – para controlar um órgão de apoio do Legislativo – ou seja, dele mesmo, o Congresso.

Na verdade, trata-se de uma artimanha para alertar os ministros do TCU – que em dias divulgarão sua decisão sobre as contas públicas do ano findo comprometedoras do comportamento da presidente – que eles podem passar de pedra a vidraça. Trata-se de desavergonhada manobra de intimidação, com a qual a maioria dos parlamentares certamente não concordará.

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