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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Manifestantes violentos: Inimigos da democracia

BRASIL, 2013 | O black bloc, ou bloco negro, que entra nas passeatas para promover violência e vandalismo/ ITÁLIA, 1922 | Os “camisas negras”, paramilitares fascistas, apoiam a ascensão ao poder do ditador Benito Mussolini  (Fotos: Lost Art e Afp)
Inimigos da democracia

Manifestantes violentos tentam sequestrar as passeatas e mostram seu lado autoritário. A PM suspeita que alguns deles façam isso por dinheiro

Alberto Bombig e Marcos Coronato, com Rafael Ciscati

"Quem não é fascista sai do chão!” O grito de guerra costuma prenunciar a entrada em ação, nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras, de um grupo autoritário e violento, cujas táticas incluem o anonimato e a destruição de patrimônio privado e público. Há data certa para que eles tentem aterrorizar as cidades brasileiras: 7 de setembro, sábado, o Dia da Independência. Nesse dia, o tal grupo, felizmente minoritário, tentará mais uma vez impor sua vontade ao brasileiro – ao cidadão disposto a sair às ruas para protestar sem violência, e também ao cidadão com vontade de aproveitar em paz o fim de semana e a festa cívica. Nas mentes intolerantes do grupo, o sucesso é recriar em escala nacional as cenas tristes vistas recentemente no Rio de Janeiro e em São Paulo em manifestações que descambaram para a violência.

Na quinta-feira (8), o grupo invadiu as Câmaras Municipais do Rio e de Campinas, interior de São Paulo, e a Assembleia Legislativa do Rio. No dia 17 de julho, no Rio, um protesto organizado na rua onde mora o governador Sérgio Cabral, no Leblon, começou de forma pacífica. Manifestantes desencadearam, então, um confronto com a polícia. Barricadas de lixo incendiado tomaram as ruas, agências bancárias, bancas de jornal e lojas foram destruí­das. Houve feridos dos dois lados, incluindo quatro policiais. Em São Paulo, o roteiro foi similar. A passeata era de protesto contra o governador Geraldo Alckmin e em apoio aos manifestantes fluminenses. A marcha começou pacífica, até que um grupo atacou agências bancárias e lojas de carro. No embate com a polícia, ao menos um manifestante saiu ferido. Nos dois casos, poucas dezenas de indivíduos conseguiram sequestrar o rumo da manifestação.

Não se trata apenas de formas diferentes de protestar. O grupo, sempre com a mesma tática, ignora as causas e as vontades da maioria que deseja se manifestar pacificamente – e, desde junho, brada nas ruas por seus direitos, conquistando atenção dos governantes e dos partidos, alvos das críticas. Ao partir para a depredação e a provocação da Polícia Militar, o grupo minoritário não apenas destrói patrimônio público e alheio. Ele também acaba com a manifestação e com a disposição dos cidadãos e das famílias de ir às manifestações seguintes. Pior: esse grupo tem um plano.

A pequena minoria que enfraqueceu a manifestação no Rio e que tentará estragar o 7 de Setembro é formada por uma vertente bem específica do movimento anarquista – os manifestantes violentos, com uma tática chamada black bloc. Curiosa e infelizmente, os seguidores do método parecem não perceber quanto sua forma de agir os aproxima daqueles que eles consideram seus piores inimigos – os fascistas. As duas linhas de pensamento se propõem a defender o cidadão comum, o trabalhador, o assalariado. Ambas supõem saber o que é melhor para esse cidadão, mais do que ele mesmo. Ambas colocam em risco a segurança alheia a fim de atingir seus objetivos. Ambas negam, aos que delas discordam, direitos básicos – à segurança, à propriedade, à manifestação pacífica. Ambas incentivam o indivíduo, escondido pelo grupo, a agir com uma brutalidade que ele não mostraria se estivesse sozinho. Ambas admitem reduzir outros indivíduos a símbolos do mal – podem ser o estrangeiro e o diferente, no caso do fascista, ou o empresário e o policial, no caso do anarquista violento. Não sem motivo, o ditador fascista Benito Mussolini, que levou a Itália a entrar na Segunda Guerra Mundial ao lado dos nazistas, dizia-se simpatizante de ideias anarquistas.


Como outras tribos autoritárias que veem beleza no uso da força contra a democracia, tanto o fascista como o anarquista violento pecam pela ignorância e pela soberba. São incapazes de observar com humildade a história e outras sociedades, a fim de aprender o que deu certo e o que deu errado. “Ao observar os black blocs, vejo um grupo uniformizado, com um método de violência sistemática, que considera a intolerância um método legítimo de manifestação – algo bem distante do conceito original de anarquia”, diz o cientista político Humberto Dantas, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e conselheiro do Movimento Voto Consciente. “Alguns grupos ainda têm uma percepção romântica da violência, como se fosse possível você recorrer a ela uma última vez, só porque acha necessário. O comunismo e o nazismo defendiam isso”, afirma o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A tática black bloc de protestos de rua foi criada na Alemanha, em 1980. Naquele momento, os manifestantes se levantavam contra a desocupação forçada de certas áreas e prédios em Berlim. Entre os ocupantes dessas áreas havia anarquistas pacíficos, defensores de comunidades alternativas, ambientalistas e ativistas contra a energia nuclear. Numa sexta-feira, uma passeata com 15 mil pessoas dirigiu-se a uma área comercial da cidade. Um grupo se propôs a atuar como “tropa de choque” da passeata e adotou roupas pretas, rosto coberto, capacetes e máscaras contra gás. Esse bloco de negro teve papel fundamental em tornar a passeata violenta, depredar o comércio local e iniciar uma batalha contra a polícia. O grupo recebeu o apelido de Black bloc, e o padrão foi imitado e adaptado em muitas manifestações mundo afora. Em Gênova, Paris, Toronto, Londres, Istambul, Santiago – e, mais recentemente, Rio e São Paulo. Além de recorrer à violência e ao terror contra cidadãos que deixam de trabalhar ou transitar por medo dos protestos, os Black blocs distorcem o uso do anonimato. Cobrir o rosto é compreensível em manifestantes que se opõem a regimes opressores, que podem perseguir o cidadão por suas convicções políticas. Mesmo nesses casos, o ato de impacto contra a opressão pode ser mostrar o rosto. Na Passeata dos Cem Mil, no Rio, em 1968, não se teve notícia de algum manifestante de rosto coberto – num momento em que o Brasil vivia o auge da ditadura militar. Não há sentido em cobrir o rosto no Brasil de hoje, a não ser para cometer crimes. O artigo quinto da Constituição garante o direito à livre manifestação de pensamento, mas não sob o manto do anonimato.


Cobrir o rosto é marca registrada do Black bloc. Alguns deles consideram razoável “apenas” destruir bens. Vandalizam o que é dos outros, como agências bancárias, pontos comerciais e automóveis, e também o que é de todos, como pontos de ônibus e sinais de trânsito. Outros defendem a busca do confronto violento com a polícia. Essa é a linha de conduta empregada em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Black blocs se recusaram por duas vezes a conversar com jornalistas de ÉPOCA na rua, durante manifestações em São Paulo. Pela internet, é possível encontrar muitos simpatizantes da tática – há 37 mil seguidores de uma página nacional, quase 20 mil da página do Rio e 9 mil da página de São Paulo. Essa popularidade dificulta saber quem realmente entra em ação e pode falar por experiência própria e quem apenas incentiva virtualmente e se passa por manifestante, por farra ou ignorância. Nos protestos, percebe-se um padrão. Ao ouvir o grito de guerra contra os “fascistas”, o grupo sabe que chegou a hora de hostilizar os policiais. A maioria se restringe a pular, gritar e ofender. Entra em ação uma equipe menor, que cobre o rosto com capuzes e camisetas. Lançam contra os policiais pedras, paus, placas e pedaços de mobiliário urbano, patrimônio público depredado. Se os policiais recuam, o grupo inicia a destruição do que estiver na frente.

ENGAJADO? Manifestante ataca a polícia em São Paulo, no sábado (3). A PM suspeita que alguns participantes são contratados para promover baderna (Foto: Nacho Doce/Reuters)
ÉPOCA conversou com integrantes da cúpula da PM sobre investigações a respeito. A Polícia Militar paulista acredita que 50 a 80 pessoas participam das ações em São Paulo. “Eles sempre começam com a provocação, em busca de um revide dos policiais que justifique a depredação. Como a PM não entra mais nessa, eles mesmos iniciam o quebra-quebra”, diz um coronel. Segundo ele, os policiais já tentaram dialogar com o grupo, mas eles se recusaram a conversar. A violência é vista com tolerância por outras entidades que ganharam visibilidade durante os protestos. Bruno Torturra, participante do Mídia Ninja – um grupo que se propõe a reportar protestos e movimentos sociais pelo lado dos manifestantes –, se recusou a condenar o vandalismo, em entrevista na semana passada ao programa Roda viva, da TV Cultura de São Paulo. “Eles são jovens que sofrem violência há muito tempo. A maioria deles não confia no Estado”, disse Torturra. “Eles falam que vândalo é o Estado. Consigo entender de onde esse pensamento vem.” Um raciocínio tortuoso e similar é feito por integrantes do Fora do Eixo, o movimento social que se anuncia como incentivador da arte e deu origem ao Mídia Ninja. “Quando o Black bloc vai para a rua quebrar agências bancárias, está dando uma resposta à violência que sofre diariamente por parte do Estado”, diz Pablo Capilé, um representante do Fora do Eixo. “O guri que está na periferia, vendo a polícia bater e um banco lucrando bilhões – o que é vandalismo para ele? Vandalismo é o pai dele apanhando e o banco lucrando.

Os problemas com os Black blocs talvez ultrapassem a ideologia distorcida. A maior parte deles pode estar sendo enganada e induzida a seguir baderneiros que se vendem por uma pequena quantia. De acordo com a investigação da PM paulista, há evidências de que manifestantes da tática black bloc recebam remuneração e apoio que vai além da simples orientação tática para os protestos. Desde a madrugada do sábado (3), cerca de 20 deles estão acampados em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Todos os dias, no final da tarde, um veículo abastece o acampamento com cerveja, carne, biscoitos e salgadinhos. A PM afirma ter testemunhado o pagamento de uma diária de R$ 70 aos integrantes do grupo. Na madrugada daquele dia, eles picharam os muros do palácio. Os policiais limparam tudo e avisaram que novas pichações não seriam toleradas. Um manifestante desafiou a ordem e foi preso. Ao verificar os documentos dele, os policiais descobriram que o rapaz era de Rondônia. Suspeitam que ele tenha vindo apenas para a ocupação, como outros, provenientes de Minas Gerais e do Paraná. A suspeita é que eles sejam manifestantes profissionais. As apurações não identificaram, até o momento, quem financia o movimento. A PM afirma haver sinais de que esses manifestantes recebam apoio de grupos de esquerda ou ligados ao transporte clandestino.

O Black bloc representa apenas a versão mais recente e violenta dos movimentos anarquistas, que têm rejeitado toda forma de poder nos últimos 170 anos. Surgiram vertentes como anarcocomunismo, anarcocoletivismo, anarcossindicalismo e anarcofeminismo. Há também o anarquismo pacifista, o verde e o individualista. A história fornece exemplos abundantes de anarquistas que recorreram à violência, sim, mas para lutar contra governos totalitários, como na Guerra Civil Espanhola, em 1936. Os primeiros anarquistas não adotaram esse nome – o rótulo foi colado a eles, como um xingamento. Receberam a pecha de anarquistas os primeiros parlamentaristas que ousavam questionar a monarquia absolutista na Inglaterra do século XVII. Eles foram à guerra, a Inglaterra se tornou parlamentarista e deu um grande passo rumo ao aprimoramento da democracia.

O primeiro homem a colar a si próprio a etiqueta de anarquista foi o filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon. Em 1840, comparava a propriedade privada a roubo. Entre seus muitos arroubos e erros, o próprio Proudhon produziu um dos mais belos elogios que se pode fazer à diversidade de pensamento e à capacidade do indivíduo de decidir por conta própria. Ele afirmou que, abrigados no anonimato e na multidão, os homens dariam apenas respostas “estúpidas, incoerentes e violentas”. Na multidão, eles não hesitariam em apoiar a ditadura da maioria sobre a minoria.

No fundo, aquilo que os atuais anarquistas brasileiros imaginam ser “democracia” é essa ditadura. A democracia de verdade não aceita violência nem anonimato. É verdade que se trata de um sistema político lento, cheio de falhas – e que, nos últimos anos, tem gerado no brasileiro frustração e expectativas difíceis de realizar. Mas é o melhor sistema que a humanidade já inventou para regular seus interesses e conflitos. 

Fonte: Época, 16/08/2013

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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Mentores dos Black Bostas vêm de agrupamentos de extrema-esquerda da década de 70 na Itália e na Alemanha!

Black Bostas: excesso de hormônios, escassez de neurônios

Nas franjas do Black Bloc

Demétrio Magnoli, O Globo

“Muitos dos jovens que estão usando essa estratégia da violência nas manifestações vieram das periferias brasileiras. Eles já são vítimas da violência cotidiana por parte do Estado e por isso os protestos violentos passam a fazer sentido para eles”.

Rafael Alcadipani Silveira, autor do diagnóstico que equivale a uma celebração do vandalismo, não é um músico punk, mas um docente da FGV-SP. O seu (preconceituoso) raciocínio associa “violência” a “periferia” — como se esse sujeito abstrato (a “periferia”) fosse portador de uma substância inescapável (a “violência”).

Por meio do conhecido expediente de atribuir a um sujeito abstrato (a “periferia”) as ideias, as vontades e os impulsos dele mesmo, Silveira oculta os sujeitos concretos que produzem um “sentido” para “protestos violentos”. Tais sujeitos nada têm a ver com a “periferia”: são acadêmicos-ativistas engajados na reativação de um projeto político que arruinou as vidas de uma geração de jovens na Alemanha e na Itália.

No DNA humano estão inscritas as “pegadas” da evolução dos seres vivos. Nas obras de arte, encontram-se os sinais de uma extensa cadeia de influências que as interligam à história da arte. Similarmente, pode-se identificar nos textos políticos uma genealogia doutrinária, que se manifesta em modelos argumentativos típicos e expressões estereotipadas.

O professor da FGV menciona a “violência cotidiana por parte do Estado”. Nas páginas eletrônicas dos Black Blocs, pipoca a expressão “Estado policial”. Bruno Torturra, o Mídia Ninja ligado a Marina Silva, definiu os Black Blocs como “uma estética” e defendeu a “ação direta”, desde que “dirigida aos bancos”.

Pablo Ortellado, filósofo e ativista, elogiou a “ação simbólica” de destruição de uma agência bancária que, interpretada “na interface da política com a arte”, simularia a ruína do capitalismo. Eu já li essas coisas — e sei onde.

Tudo isso foi escrito na década de 1970, pelos intelectuais italianos que lideraram os grupos autonomistas Potere Operaio, Lotta Continua e Autonomia Operaia. Eles mencionavam as qualidades exemplares da “ação direta” e a eficiência da “violência simbólica”.

Toni Negri pregava a violência como ferramenta para defender os “espaços” criados pelas “ações de massa” e exaltava o “efeito terrível que qualquer comportamento subversivo, mesmo se isolado, causa sobre o sistema”.

Avançando um largo passo, Franco Piperno clamava pela “combinação” da “potência geométrica da Via Fani” (referência ao sequestro de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, em Roma, no 16 de março de 1978) “com a maravilhosa beleza do 12 de março” (alusão ao assassinato de um policial, em Turim, pelo grupo extremista Prima Linea, em 1977).

Depois do assassinato de Moro, Negri e Piperno foram processados e injustamente condenados a cumprir sentenças de prisão, que acabaram sendo revertidas. Intelectuais, de modo geral, não sujam as próprias mãos. Os líderes autonomistas não integravam as Brigadas Vermelhas ou a Prima Linea — e, portanto, não deram as ordens que resultaram em atos de terror.

Eles apenas ensinaram a seus jovens seguidores, alguns dos quais viriam a militar nas organizações terroristas, que a violência é necessária, eficaz e bela. A responsabilidade deles não era criminal, mas política e moral, algo que jamais tiveram a decência de reconhecer.

Onde fica a fronteira entre a violência “simbólica” e a violência “real”? Na noite de 2 de abril de 1968 bombas incendiárias caseiras explodiram em duas lojas de departamentos de Frankfurt, que já estavam fechadas. A ação pioneira do grupo Baader-Meinhof, inscrita “na interface da política com a arte”, foi cuidadosamente planejada para não matar ninguém. Era a violência “só contra coisas”, não “contra pessoas”, na frase de Ortellado para justificar as ações dos Black Blocs.

O primeiro cadáver do Baader-Meinhof, um guarda penitenciário, surgiu na operação de resgate de Andreas Baader, em maio de 1970. Depois, vieram outros cadáveres, de chefes de polícia, juízes, promotores ou empresários. Tais personalidade seriam “símbolos” do “sistema” — isto é, segundo uma interpretação possível, “coisas”, não “pessoas”.

A tragédia alemã precedeu a tragédia italiana, mas não a evitou. No “Outono Alemão” de 1977, um jovem radical desiludido escreveu uma carta amarga, irônica, indagando sobre os critérios para decidir quem tinha mais responsabilidade pela opressão capitalista — e, portanto, deveria ser selecionado como alvo. “Por que essa política de personalidades? Não poderíamos sequestrar junto uma cozinheira? Não deveríamos pôr um foco maior nas cozinheiras?”

Os nossos alegres teóricos dos Black Blocs aplaudem o incêndio “simbólico” de uma agência bancária, mas ainda não se pronunciaram sobre o valor artístico da vandalização de edifícios empresariais, shopping-centers, delegacias, palácios de governo ou residências. Por que esse “foco” nos bancos?

Eugênio Bucci — ele também! — usou a palavrinha “estética” quando escreveu sobre a suposta novidade do “esporte radical e teatral de jogar coquetel molotov contra os escudos da tropa fardada”. Não existe, porém, novidade.

Ortellado publicou um artigo sobre as fontes da “tática” dos Black Blocs, evidenciando suas conexões com os movimentos autonomistas de “ação direta” na Alemanha e Itália dos anos 1970 e 1980, cujos destacamentos de choque servem de modelo aos nossos encapuzados.

Ele não diz com clareza, mas as teses políticas que reativam o culto da manifestação violenta originam-se precisamente de alguns dos acadêmicos-ativistas daquele tempo, hoje repaginados como mestres grisalhos do movimento antiglobalização.

Os Black Blocs anunciam um “badernaço nacional” para o 7 de setembro. Mas o “badernaço” intelectual começou antes, na forma dessas piscadelas cúmplices para idiotas vestidos de preto que rebobinam um desastroso filme antigo.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Democracia e liberalismo

Denis Lerrer Rosenfield
Bom texto do filósofo Denis Lerrer Rosenfield sobre os liberticidas bolivarianos e islâmicos e a funesta relação do governo brasileiro com essa gente que absurdamente busca atribuir ao liberalismo um viés antidemocrático, quando democracia de fato é exatamente a liberal. Destaco os seguintes trechos do texto, mas ele todo vale a leitura:

Nos países bolivarianos a "democracia" está sendo instrumentalizada para a implementação de seu projeto socialista, destroçando as liberdades, destruindo as instituições, tornando as oposições inviáveis, calando os meios de comunicação e implantando a dominação do "líder máximo" e de seu partido. Embora ditos não religiosos, sua ideologia se caracteriza por concepções teológico-políticas. 

Acrescentem-se as restrições infligidas pelos que buscam impor normas religiosas ao conjunto da população, pelo controle absoluto dos costumes, atingindo mulheres e homossexuais, para que se tenha uma melhor visão de como a democracia é, dessa forma, pervertida. Ou seja, os que dissociam democracia de liberalismo, dizendo defender aquela, têm forte pendor liberticida. Mascaram-no, porém, ao atribuírem ao liberalismo um viés não democrático. 

Eis o contexto ideológico em que se move a diplomacia brasileira, acatando todas as medidas liberticidas dos países bolivarianos e islâmicos, conivente com seus desmandos de subversão da democracia por meios democráticos. O País acaba se alinhando à escória mundial em nome da democracia - e os mais afoitos, em nome da luta contra o neoliberalismo. O Foro de São Paulo é a sua celebração!

Democracia e liberalismo

Denis Lerrer Rosenfield

O uso equivocado ou dúbio de palavras não só dificulta a compreensão, como é potente fator de desorientação da ação humana. Quanto pior conceitualizamos um evento, tanto menos somos capazes de entender o que está acontecendo. Os juízos moral e político ficam sem parâmetros, ziguezagueando ao sabor das conveniências ideológicas.

Um caso particularmente relevante concerne ao modo como o dito "golpe" egípcio é avaliado e, para além dele, como a diplomacia brasileira "compreende" o que vêm a ser os "progressos" da América Latina em sua vertente socialista, bolivariana. Ainda recentemente o Brasil sediou o Foro de São Paulo, entidade esquerdista latino-americana que se caracteriza por seu apreço a toda política liberticida, em nome - pasmem! - de uma nova "democracia". Eles gostam mesmo é de uma "boa" ditadura. Os representantes ideológicos do passado procuram travestir-se com um manto politicamente aceitável, para enganar os incautos.

A propósito do juízo político sobre os eventos no Egito, alguns analistas fizeram um uso muito curioso dos conceitos de "democracia" e "liberalismo", como se lá tivesse ocorrido uma colisão entre ambos. Mais comezinhamente, deveríamos dizer que lá ocorreu um divórcio entre um resultado eleitoral e os que defendem direitos e liberdades, que vinham sendo usurpados por um governo islamista. Este foi sufocando as liberdades, impondo sua particular interpretação dos valores islâmicos, os defendidos pela Irmandade Muçulmana. Convém não esquecer que essa mesma organização religiosa foi a responsável pelo assassinato do presidente egípcio Anuar Sadat, participou da fundação da Al-Qaeda e apoia o terrorismo do Hamas na Faixa de Gaza. Aliás, o atual líder da Al-Qaeda é egresso da mesma Irmandade Muçulmana. As credenciais "democratas" desse "partido" são, portanto, de difícil aceitação!

Há um problema conceitual de monta aqui envolvido. A democracia, assim entendida, viria a significar exclusivamente a realização de eleições e a adesão incondicional aos eleitos, como se daí em diante tivessem eles o "direito" de tudo fazer, ficando a sociedade submetida ao seu arbítrio. A democracia seria mero instrumento de conquista do poder, que uma vez garantido asseguraria a seus detentores a prerrogativa de tudo decidir, sendo soberanos no sentido ilimitado do termo. Nenhuma lei os limitaria, salvo a de fachada que eles mesmos se outorgam. O próprio Poder Judiciário torna-se um mero joguete em suas mãos, nada decidindo verdadeiramente, devendo subordinar-se aos ditames do Executivo.

Logo, os direitos individuais são abolidos - valores burgueses, no dizer bolivariano; valores ocidentais, para os islamistas. As liberdades são progressivamente sufocadas em nome desses "outros" valores socialistas/islamistas, conforme o caso, com o Estado vedando todos os poros por onde uma sociedade respira. Normalmente seus alvos mais diretos são os grupos de mídia e imprensa, porque quem procura impor seus valores e ideias tem como objetivo eliminar toda liberdade de expressão. Não espanta, pois, que advoguem por uma "democratização dos meios de comunicação", forma velada de controlar a mente das pessoas e, por intermédio delas, a sociedade em geral. Ainda no Foro de São Paulo o presidente da Bolívia, Evo Morales, julgou - na ausência de juízo que o caracteriza - que "sobra" liberdade de imprensa na América Latina. Ou seja, o que "sobra" é o que ainda não conseguiram eliminar. Teve a adesão dos "companheiros".

Se a democracia é definida apenas em termos eleitorais, ela é reduzida a uma de suas condições, eliminando todas as outras. E a alternância no poder termina por não se concretizar, porque os que detêm as rédeas de comando da máquina do Estado eliminam tal possibilidade. Medidas arbitrárias são tomadas contra os opositores, tratados como se criminosos fossem. São comuns os processos contra os que se rebelam contra essa situação, pois tidos como inimigos a serem aniquilados.

A liberdade de imprensa, condição fundamental de toda sociedade livre, vê-se afrontada por restrições crescentes, como na Venezuela, onde empresas são fechadas ou vendidas a "empresários" amigos. Observe-se, nesse sentido, a nova lei de controle da imprensa e dos meios de comunicação, recém-aprovada no Equador: doravante eles serão submetidos ao governo, que passará a agir por intermédio de "censores legais".

Nos países bolivarianos a "democracia" está sendo instrumentalizada para a implementação de seu projeto socialista, destroçando as liberdades, destruindo as instituições, tornando as oposições inviáveis, calando os meios de comunicação e implantando a dominação do "líder máximo" e de seu partido. Embora ditos não religiosos, sua ideologia se caracteriza por concepções teológico-políticas. No caso do presidente Nicolás Maduro não lhe falta nem sua comunicação espiritual com o ex-protoditador Hugo Chávez, que "fala" com ele através de uma "pomba". É um homem abençoado, particularmente bem-aventurado!

Acrescentem-se as restrições infligidas pelos que buscam impor normas religiosas ao conjunto da população, pelo controle absoluto dos costumes, atingindo mulheres e homossexuais, para que se tenha uma melhor visão de como a democracia é, dessa forma, pervertida. Ou seja, os que dissociam democracia de liberalismo, dizendo defender aquela, têm forte pendor liberticida. Mascaram-no, porém, ao atribuírem ao liberalismo um viés não democrático. 

Eis o contexto ideológico em que se move a diplomacia brasileira, acatando todas as medidas liberticidas dos países bolivarianos e islâmicos, conivente com seus desmandos de subversão da democracia por meios democráticos. O País acaba se alinhando à escória mundial em nome da democracia - e os mais afoitos, em nome da luta contra o neoliberalismo. O Foro de São Paulo é a sua celebração!

Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosfia na UFRGS. E-MAIL: denisrosenfield@terra.com.br

Fonte: Estado de São Paulo, 12/08/2013

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Drácula com Jonathan Rhys Meyers (The Tudors) estreia em outubro e promete


Começa a ser exibida nos EUA, no dia 25 de outubro, a série Drácula, da NBC, com Jonathan Rhys Meyer (The Tudors) no papel do famoso conde da Transilvânia, sedento de sangue e vingança.

Nesta versão da mais do que fértil saga vampiresca iniciada por Bram Stoker, com seu romance Drácula, a história ocorre no final do século 19, quando o vampiro-mór chega a Londres se passando por um empresário americano, Alexander Grayson. que quer modernizar a sociedade vitoriana com os avanços da ciência. Ele tenciona investir na nova tecnologia da energia elétrica que promete iluminar a noite (sem queimar vampiros como o faz a luz do sol). 


Na realidade, contudo, o real objetivo de Drácula é se vingar da sociedade secreta, a Ordem do Dragão, que séculos antes, havia assassinado sua esposa enquanto pilhava sua vila, além de tê-lo amaldiçoado com a imortalidade (quem me dera essa maldição).

Para tal, Drácula contará com a ajuda de Renfield, que nessa versão é apenas o valete do vampiro e não mais "o maluco comedor de aracnídeos em algum hospício" da versão original. E contará também com uma ajuda insólita: Van Helsing. O célebre caçador de Drácula e de vampiros em geral se junta ao conde sanguinolento (de fato Van Helsing é quem exuma Drácula nesta história) pelo objetivo comum de se vingar da Ordem do Dragão, também responsável pela execução de sua família (de Helsing). Van Helsing dispõe dos meios para vingar-se, mas precisa da força e da ferocidade do vampiro para implementá-los.

Fora essa parceria herética, igualmente temos Jonathan Harker como um repórter (não mais corretor de imóveis) que se envolve com os negócios de Grayson e Mina Murray, como sua namorada, que no entanto estuda para ser médica. Só a personagem Lucy permanece próxima da história original como uma impetuosa alpinista social.

Os planos de vingança de Drácula, porém, serão conturbados pela paixão que  desenvolve por Mina Murray (Jessica De Gouw), uma espécie de reencarnação de sua falecida esposa. No elenco, além de Meyer, outros rostos conhecidos como Victoria Smurfit (About a Boy), Thomas Kretschmann (King Kong), Jessica De Gouw (Arrow), Oliver Jackson-Cohen (Mr. Selfridge), Nonso Anozie (Game of Thrones) e Katie McGrath (Merlin). O roteiro é de Daniel Knauf (Carnival), que também é produtor-executivo em parceria com Tony Krantz (24 Horas), Colin Callender e Gareth Neame (Downton Abbey).

A série promete porque, entre outras coisas, o belo Jonathan Rhys Meyer tem o physique du rôle perfeito para o papel, além de ser bom ator (combinação pouco comum nos intérpretes das célebres criaturas da noite). E, pelo que se pode observar pelos trailers abaixo e as imagens já liberadas, a produção parece ser caprichada. 

Agora é orar para que também chegue ao Brasil. Nos EUA vai passar depois do Grimm. Por que não aqui também? Com o fim um tanto melancólico de True Blood (decaiu um bocado nas últimas duas temporadas), seria ótimo poder contar com uma recriação perversa, sofisticada e sexy da clássica história de Bram Stoker, provando que algumas coisas nunca morrem mesmo.

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