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no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ótimo texto de Pereira Coutinho: Caminhando com Ferreira Gullar

O cientista-social português João Pereira Coutinho é um dos poucos conservadores que, em geral, consigo ler com gosto e, inclusive, com quem consigo concordar algumas vezes. Seus congêneres brasileiros são, em geral, reacionários demais para o meu gosto.  No texto abaixo, Coutinho vai além do flaflu direita x esquerda e afirma, comentando a entrevista de Ferreira Gullar à VEJA:

A entrevista é sobretudo uma lição de política só possível em alguém que, permanecendo à esquerda no que a esquerda tem de melhor (uma insubordinação instintiva perante abusos ou privilégios injustificáveis), aprendeu e refletiu com a experiência histórica. (....)

Ferreira Gullar não alinha em farsas. O capitalismo tem páginas abomináveis de miséria e exploração, sobretudo nas incipientes sociedades industriais do século 19? (....)
 
Fato: sem freios éticos ou legais, o capitalismo é destrutivo e autodestrutivo. Mas quando existem esses freios, e nenhum liberal clássico prescinde deles (Adam Smith, antes de escrever "A Riqueza das Nações", escreveu primeiro a sua "Teoria dos Sentimentos Morais", base ética de qualquer sociedade civilizada), não há outra forma, historicamente comprovada, de gerar riqueza.

Destaco esse trecho, mas todo o artigo é muito bom. Vale a pena a leitura!

Caminhando com Ferreira Gullar

Viajo para Londres. Na mala, algumas revistas para ler nas duas horas de voo. Tiro a primeira. Folheio as páginas iniciais. Encontro Ferreira Gullar em entrevista à "Veja". O dia está ganho.

Sobre o poeta, não vale a pena dizer o óbvio: depois da morte do lusitano Mário Cesariny (1923-2006), Ferreira Gullar é o único poeta de língua portuguesa que merece a honraria do Nobel.
Embora, atendendo às anedotas recentes da academia sueca (Elfriede Jelinek, Herta Müller etc.), talvez seja mais correto dizer que é o Nobel que precisa do prestígio de Gullar.

Mas a entrevista é sobretudo uma lição de política só possível em alguém que, permanecendo à esquerda no que a esquerda tem de melhor (uma insubordinação instintiva perante abusos ou privilégios injustificáveis), aprendeu e refletiu com a experiência histórica.

"Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é", diz o poeta. Eis o "espírito do tempo", feito de oportunismo e farsa ideológica.

Ferreira Gullar não alinha em farsas. O capitalismo tem páginas abomináveis de miséria e exploração, sobretudo nas incipientes sociedades industriais do século 19? Sem dúvida --e ler Charles Dickens é, nesse quesito, mais relevante do que ler Marx, que nunca pôs os pés numa fábrica e tinha Engels para sustentá-lo.

Mas o capitalismo, apesar de tudo, "é forte porque é instintivo", diz o poeta. Em apenas uma frase, Gullar resume o que Adam Smith escreveu em dois volumes, 250 anos atrás.

Existe nos seres humanos um desejo natural para "melhorarem a sua condição", escrevia o filósofo escocês. E essa melhoria material só se consegue quando o açougueiro, o cervejeiro e o padeiro perseguem o seu próprio interesse, negociando os seus produtos e procurando aumentar os seus lucros.

Fato: sem freios éticos ou legais, o capitalismo é destrutivo e autodestrutivo. Mas quando existem esses freios, e nenhum liberal clássico prescinde deles (Adam Smith, antes de escrever "A Riqueza das Nações", escreveu primeiro a sua "Teoria dos Sentimentos Morais", base ética de qualquer sociedade civilizada), não há outra forma, historicamente comprovada, de gerar riqueza.

Claro que, para um marxista puro e duro, o capitalista nunca gera riqueza; ele explora quem trabalha e vive do suor alheio, de preferência fumando o seu charuto e brandindo o chicote. Raymond Aron, o mais incisivo crítico do marxismo que conheço, tem páginas notáveis onde desmonta essa dicotomia caricatural entre "capital" e "trabalho".

Ferreira Gullar prefere uma metáfora: "O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas". E acrescenta, para os lentos de raciocínio: "A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária".

Finalmente, as lições da história: Ferreira Gullar não se limita a relembrar os crimes do "socialismo real", hoje uma evidência para qualquer pessoa com dois neurônios em funcionamento.

Ele deixa uma pergunta devastadora: quantos dos defensores de Cuba estariam dispostos a viver lá? Sim, a viver enjaulados em uma ilha de onde é difícil sair, onde publicar um livro implica uma permissão governamental --e onde a igualdade na miséria é a única igualdade que existe e resiste?

É um bom princípio de responsabilidade política: só defendermos regimes sob os quais estamos dispostos a viver. Todo resto é pose pornográfica.

Infelizmente, não sobra espaço para as meditações estéticas propriamente ditas. Mas Ferreira Gullar, relembrando a morte de um filho, deixa esta definição (meta) poética primorosa: "Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos".

Nem mais: escrever é continuar essa revelação interminável do ainda não-dito, do ainda não-experimentado, como se o poeta fosse o elo presente de uma corrente interminável.

Ou, como o próprio Gullar escreveu nos seus velhinhos "Poemas Portugueses", que praticamente aprendi de cor: "Caminhos não há/ Mas os pés na grama/ os inventarão/ Aqui se inicia/ uma viagem clara/ para a encantação".

Caminhar com Ferreira Gullar tem sido, hoje e sempre, uma lição e um privilégio.

Fonte: Folha de São Paulo, 02/10/2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Divulgando Petição 33 razões para não votar em Celso Russomanno



Por que isto é importante?  33 razões para não votar no Celso Russomanno (e assinar/divulgar esta petição!) Link da petição ao final do texto.

 1) Você sabia que Celso Russomanno tentou derrubar o projeto Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos corruptos? Na votação dos destaques da proposta, Russomanno, juntamente com Paulo Maluf, votou para que fosse retirado do projeto o período em que um político se tornaria inelegível por compra de votos ou abuso de poder, o que desfiguraria o projeto e o tornaria praticamente nulo. Graças à pressão popular, a proposta de Russomanno e Maluf foi rejeitada pela maioria da Câmara. Após a derrota na tentativa de desfigurar a lei e beneficiar os políticos corruptos, Russomanno demagogicamente votou a favor do texto final que aprovou o projeto. A Lei Ficha Limpa foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros e se tornou um marco fundamental para a democracia e para a luta contra a corrupção e a impunidade no país. Trata-se de uma conquista de todos os brasileiros, que Russomanno tentou derrubar. Por que será? Veja mais informações: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/camara-dribla-destaques-que-anulavam-ficha-limpa/ 

 2) Você sabia que Celso Russomanno apoia (publicamente inclusive, conforme vídeo citado logo abaixo) o projeto que Maluf criou para tentar impedir que o Ministério Público investigue os políticos corruptos? A Lei de Maluf apoiada por Russomanno prevê a criminalização, inclusive com pena de prisão, de promotores e procuradores. Paulo Maluf foi incluído na lista de procurados pela Interpol e pode ser preso se pisar em um dos 181 países que mantêm representação com a polícia internacional. Por que será que Russomanno quer, juntamente com Maluf, punir o Ministério Público por investigar políticos corruptos? Veja neste vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=RNYdR8X55lo 

3) Você sabia que Russomanno apresentou, como deputado, um projeto que aumenta a pena de quem caluniar políticos? Contra políticos que caluniam, Russomanno não apresentou nenhum projeto, mas votou contra o Ficha Limpa e foi favorável à lei de Paulo Maluf, para tentar calar o Ministério Público (Folha de S. Paulo – 26/07/2012). 

 4) Você sabia que Russomanno denuncia empresas com uma mão e mantém contratos com as concorrentes com a outra? Deu na Veja. Nas eleições de 1994, Russomanno se elegeu deputado federal usando e enganando os cidadãos humildes no seu programa Aqui Agora, onde denunciava empresas que não cumpriam suas obrigações com os clientes. Ao mesmo tempo ele mantinha contratos de publicidade com empresas concorrentes. Russomanno vendia blindagem para as empresas que não quisessem ser expostas em um programa de TV. (Revista Veja – 19/10/1994)

 5) Você sabia que, apesar de se apresentar como "um homem simples e do povo", Celso Russomanno é, na verdade, um grande empresário muito rico? É dono de quatro empresas, um instituto e uma rádio. Segundo dados declarados pelo próprio ao TSE, seu patrimônio é de mais de R$ 2 milhões de reais. 

6) Você sabia que, apesar de se apresentar como "um homem simples" que gosta de "andar no meio do povo", Russomanno é, na verdade, um homem muito rico, mas muito rico mesmo? Na sua declaração de bens à Justiça Eleitoral constam cinco casas: mansões no Morumbi, na praia, em Brasília, em Campos do Jordão, dois apartamentos em áreas nobres da cidade de São Paulo, sete carros (entre eles uma Mercedes Bens, uma Blazer e um Passat), uma lancha Pahton, uma moto Italiana Duccati e 22 bicicletas para pedalar nas horas vagas. 

7) Você sabia que Celso Russomanno sempre se apresentou como jornalista, mas na verdade o que ele sempre fez foram transações comerciais camufladas como se fossem entrevistas e reportagens? Veja o que disse à Folha de São Paulo a diretora comercial do Circuito Night and Day, programa em que Russomanno se apresentava como "repórter e jornalista": "Sobrevivemos de merchandising e matérias comerciais (…) começamos a entrevista com um bate-papo descontraído e só depois falamos da empresa ou do produto" (Folha de S. Paulo – 16/10/1994). 

8) Você sabia que, apesar de se apresentar como "advogado", Russomanno nunca passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil? O candidato é bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas de Guarulhos, mas não é advogado uma vez que ele não passou no exame da OAB para obter o registro que autoriza o exercício da profissão. Segundo a OAB, Russomanno está infringindo as normas da Lei 8.906/94 e o exercício ilegal da profissão é crime tipificado no Código Penal. (Consultor Jurídico – 13/08/1988). Veja mais no link abaixo: http://www.conjur.com.br/1998-ago-13/entidade_mover_acao_deputado_stf 


9) Você sabia que a OAB processou Russomanno por advogar ilegalmente? (O Estado de S. Paulo – 21/08/1998) 

10) Você sabia que Russomanno também foi denunciado na OAB pela prática ilegal de aliciamento de clientes? Na queixa apresentada pela 86ª subseção da OAB de Itapecerica da Serra (SP), além do exercício ilegal da profissão de advogado Russomanno foi denunciado por prática de aliciamento de clientes. A denúncia foi motivada por anúncios do Plantão Jurídico veiculado pela TV. Russomanno mantinha o serviço Plantão Jurídico pelo sistema 0900, em que oferecia pelo telefone uma "orientação dos seus direitos" (conforme dizia a gravação que atendia as ligações com a voz do candidato). O serviço custava R$ 3,95 por minuto. Russomanno reconheceu que o Plantão Jurídico (0900-112.222) foi criado com o objetivo de levantar dinheiro para o Inadec (instituto que preside). Ainda que ele fosse advogado - o que não é -, Russomanno estaria errado porque a captação de clientes através de anúncio é ilegal, segundo a OAB. (Consultor Jurídico – 13/08/1988)

11) Você sabia que o vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (a mesma entidade que já denunciou Russomanno por exercício ilegal da profissão e aliciamento de clientes) é Luiz Flávio D’Urso, que também é vice da sua chapa a prefeito? Russomanno coliga-se assim justamente com um dos chefes da entidade que já o acusou de charlatanismo. Talvez por isso o caso tenha sido esquecido pela OAB… (Brasil 247 – 29/06/2012)

12) Você sabia que Russomanno virou réu no STF por falsidade ideológica após ter se candidatado a prefeito de Santo André, em 2000, sem nunca ter morado na cidade? Ele transferiu seu domicílio eleitoral por puro oportunismo, até que foi proibido pelo TRE de participar do horário eleitoral. Por causa deste episódio, Russomanno virou réu no STF, mas o processo foi direcionado para a primeira instância em razão dele ter perdido o foro especial de Deputado Federal que tinha em 2010. (Folha de S. Paulo – 29/09/2000) 

13) Você sabia que Russomanno já foi réu no STF por lesão corporal? Segundo denúncia do MPF, ussomanno teria desacatado e agredido um funcionário do Incor (Instituto do Coração) de São Paulo que estava no exercício de suas funções, além de ter danificado a porta do pronto-socorro. O incidente ocorreu no dia 23 de outubro de 2002. O Supremo Tribunal Federal recebeu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo os autos do processo (INQ 1794) em que o então deputado federal Celso Russomanno respondia por lesão corporal dolosa contra Luiz Antônio Pessin, funcionário do Incor na época. (Folha Online – 01/03/2007)

14) Você sabia que Russomanno já foi acusado de suborno na CPI do Narcotráfico? Durante a CPI do Narcotráfico, ocorrida em 1999, o motorista Adilson Frederico Dias Luz acusou Russomanno, que era sub-relator da comissão, de suborno. O objetivo, segundo Adilson, era que ele acusasse o advogado de Campinas, Artur Eugênio Matias. O motorista afirma ter implicado o advogado em troca de sua liberdade. Na época a OAB-SP comunicou o fato às corregedorias do Tribunal de Justiça e do Ministério Público de São Paulo (Consultor Jurídico – 15/12/2009). 

15) Você sabia que Celso Russomanno foi denunciado no STF por peculato por pagar com dinheiro público uma funcionária particular? É o mesmo crime que está levando o mensaleiro João Paulo Cunha para a cadeia. Segundo o STF, ao indicar e manter Sandra de Jesus para ocupar cargo em comissão (secretária parlamentar) vinculado ao seu gabinete junto à Câmara dos Deputados, Celso Russomanno teria possibilitado o desvio de recursos públicos, uma vez que a servidora continuava a administrar e a gerir a empresa de Russomanno localizada em São Paulo. O ministro Cezar Peluso alegou na época: “Reconheceu-se a falsidade da rescisão contratual, uma vez que mesmo após ser demitida pela empresa foi mantida a relação de emprego com o dinheiro público”. (Portal Terra – 10/10/2008 e Folha de S. Paulo – 11/05/2005). 

16) Você sabia que Russomanno já defendeu na Câmara os interesses do seu sócio e maior doador de campanha, que foi condenado a cinco anos de prisão por crime contra a ordem tributária? Em 2004, ele apresentou à Comissão de Defesa do Consumidor, na Câmara dos Deputados, o requerimento de número 301, no qual pedia para que fossem investigadas denúncias sobre suposta concorrência desleal da Coca-Cola contra a Dolly. Depois de defendido por Russomanno, Laerte Codonho (dono da Dolly) tornou-se, além de seu sócio, o maior doador de campanha do ex-deputado federal na disputa ao governo paulista em 2010, além de ser patrocinador de um de seus programas de TV. Codonho foi condenado a cinco anos de prisão em regime semiaberto em novembro de 2011 por crime contra a ordem tributária. Em recente entrevista ao Estado de S. Paulo, Russomanno defendeu novamente Codonho afirmando que “ele é um grande brasileiro” e que tem “muito orgulho de ser seu sócio” (O Estado de S. Paulo – 30/07/2012). 

17) Você sabia que a agência de publicidade de Celso Russomanno, a AND Comunicação, está com os bens bloqueados por irregularidades na justiça? A agência está com os bens indisponíveis. O bloqueio, pedido pela Fazenda Nacional e autorizado pela Vara da Fazenda Pública de Diadema, tem como alvo o sócio de Russomanno (aquele mesmo que ele defendeu na Câmara), o empresário Laerte Codonho, que foi condenado a cinco anos de prisão. (O Estado de S. Paulo – 31/07/2012) 

18) Você sabia que Russomanno e seu sócio (aquele mesmo que foi condenado à prisão) mantinham um heliporto clandestino na Zona Norte de São Paulo? O mesmo local era usado como estúdio de gravação dos programas de Russomanno na empresa em que ele e Laerte Codonho (ele mesmo, o dono da Dolly) mantém. Na época, uma assessora de Russomanno ligou para a Subprefeitura da Casa Verde querendo explicações por terem retirado o heliporto. Mesmo clandestino, Russomanno acreditava ter o direito de ter um heliporto (Folha de S. Paulo – 28/12/2006). 

19) Você sabia que Russomanno, apesar de se apresentar como um “homem muito humilde”, humilha os mais simples na base do “você sabe com quem está falando”? Deu no Painel da Folha. Em 2006, Celso Russomanno bateu boca no estacionamento da Câmara com um taxista que obstruía a passagem de seu carro. Aos berros, o deputado destratou o motorista. Em seguida, chamou um segurança para deter o taxista, que já havia se desculpado. Quando o passageiro tentou acalmar Russomanno, o parlamentar disparou: “Não me chame de você! Sou deputado federal!” (Folha de S. Paulo – 07/09/2006). 

20) Você sabia que Celso Russomanno “sai no braço” com mulher? Segundo a Folha de S. Paulo, “Durante uma reunião do Partido Progressista, em 2008, em Brasília, os deputados Celso Russomanno e Aline Corrêa saíram no braço.” (Folha de S. Paulo – 02/07/2008). 

21) Você sabia que um funcionário do Metrô registrou boletim de ocorrência por lesões corporais e constrangimento ilegal contra Celso Russomanno? Vicente Gilmarino Neto, responsável pela estação Ana Rosa, disse que Russomanno o pegou pelo braço e lhe deu voz de prisão para obrigá-lo a dar explicações sobre uma pane num elevador (Folha de S. Paulo – 19/03/2012). 

22) Você sabia que Russomanno foi flagrado fazendo uma emenda parlamentar destinando R$ 1,1 milhão de dinheiro público para uma empresa dele próprio? O dinheiro iria para a entidade que ele preside, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor. Flagrado pela reportagem do Portal IG, Russomanno recuou e abortou a operação (IG – 08/12/2010). 

23) Você sabia que, durante 15 anos, Russomanno esteve lado a lado com Maluf? Ele fez a vida política ao lado de Maluf, que é seu padrinho e mentor. Ingrato, hoje ele o renega. Mas a verdade é que em 1979 conseguiu um cargo comissionado no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista (então ocupado por Paulo Maluf). “Ele levava e trazia papel para lá e para cá, era office-boy do Calim Eid”, contou Maluf (Revista Piauí). 

24) Você sabia que, depois de romper com Maluf, Russomanno se aliou à Igreja Universal do Reino de Deus? Após 15 anos ao lado de Paulo Maluf, o ex-deputado Celso Russomanno rompeu os laços com o padrinho e deixou o PP para se filiar ao PRB (sigla nanica controlada pela Igreja Universal). O apresentador de TV tem um perfil distante do estilo de vida pregado pelos evangélicos: namorou capas da Playboy e começou a carreira vendendo fitas com cenas picantes do carnaval. O plano da Universal para Russomanno é claro: usar sua popularidade para repetir em São Paulo seu sucesso no Rio com o senador Marcelo Crivella, reeleito em 2010. Profissionais vinculados à TV Record e à Universal participam ativamente do Programa Eleitoral de Celso Russomanno (Folha de S. Paulo 10 de dezembro de 2011). 

25) Você sabia que a família de Russomanno já viajou pelo mundo com passagens pagas com dinheiro público (o seu dinheiro)? Russomanno foi ativo participante do escândalo das passagens da Câmara. O candidato usou a cota parlamentar, de uso exclusivo do dono do cargo, para fornecer passagens aéreas enquanto deputado federal para levar a filha a Nova York e a mulher a Montevidéu. De acordo com relatório de passagens emitidas para o gabinete do ex-deputado, entre 2008 e 2009 foram emitidos 8 bilhetes de sua cota para familiares ou terceiros. Russomanno acha normal e alega não haver ilegalidade nem imoralidade em pagar pelas férias da família com dinheiro público. 

26) Você sabia que até mesmo o comitê da campanha de Russomanno está irregular? O comitê da campanha foi instalado em um casarão da Avenida Itacira, na zona sul da cidade, sem obter licença da prefeitura (Folha de São Paulo – 02/08/2012). 

27) Você sabia que, como deputado, Russomanno apresentou uma proposta defendendo porte de arma para todos os congressistas? Em 2010, a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições doou (de R$ 1,7 milhão arrecadado) R$ 100 mil à sua campanha ao governo paulista (Folha de S. Paulo – 26/07/2012). 

28) Você sabia que Russomanno opera uma rádio sem autorização, e que a rádio funciona em Leme, no interior de São Paulo, mas a concessão pertence a uma empresa do Pará? Apesar de não possuir concessão do Ministério das Comunicações para exercer a radiodifusão, o candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, opera ao menos desde 2011 uma rádio no interior do Estado. O candidato declarou à Justiça Eleitoral ser dono de empresa de rádio em Leme (SP) em sociedade com familiares, mas a concessão pertence a uma empresa de Cametá, cidade do interior do Pará. A Rede Brasil FM 101,1, que funciona no endereço da empresa de Russomanno, usa a concessão dada em novembro de 2010 à Amazônia Comunicações, que está registrada em nome de um médico de Cametá, João Batista Silva Nunes (Folha de S. Paulo). 

29) Você sabia que, por causa de uma reportagem sensacionalista feita por Russomanno no Aqui Agora, uma família humilde foi muito prejudicada? Deu na Folha de S. Paulo. Russomanno fez uma “reportagem” acusando o cachorro de uma família simples de ter matado o gato da vizinha. Ele nunca ouviu a versão da família e foi pessoalmente cobrar satisfações sobre uma suposta indenização que a família deveria dar à dona do gato morto. Um mês depois o Juizado Especial de Pequenas Causas concluiu que o cachorro não atacou a gata, já que a cadela estava em outro bairro. A família prejudicada sofreu uma série danos morais na vizinhança e entrou com processos contra o SBT (Folha de S. Paulo – 25/03/1994). 

30) Você sabia que, em 1994, Russomanno (então candidato a Deputado Federal) foi acusado de não ter honrado o contrato de compra da casa onde morava, uma bela mansão no Morumbi no valor de 300 mil dólares? Atualmente a mesma propriedade deve valer mais de R$ 5 milhões (Fonte: Revista Veja 19/10/1994). 

31) Você sabia que Russomanno constrangeu um homem em uma situação dramática por puro sensacionalismo? Durante o seu programa Aqui Agora, Russomanno filmou o resgate de homem que ficou preso nas ferragens do carro após um acidente. Por mais de 80 minutos ele e sua equipe atrapalharam os bombeiros e constrangeram o acidentado, que ficou seminu na frente das câmeras. Renato Lopes nunca autorizou o uso dessas imagens e, mesmo assim, elas foram exibidas no programa, trazendo constrangimentos e danos morais para a vítima (O Estado de S. Paulo – 25/03/1994). 

32) Você sabia que Russomanno utilizou a estrutura de seu gabinete em Brasília para distribuir convites e ajudar na divulgação do Miss Brasil? Russomanno levou, em 1998, as candidatas a Miss Brasil para passear por Brasília, e suspendeu uma sessão no Congresso para que os deputados pudessem cumprimentar todas as candidatas (O Estado de S. Paulo – 18/03/1998).

33) Você sabia que Russomanno tem poderes paranormais? A parte exótica de sua personalidade é destacada através dos seus autodeclarados dons exotéricos. Ele se diz parapsicólogo e hipnólogo. E emenda: “hipnotizo para fazer o bem, como ajudar as pessoas a parar de fumar” (Vejinha SP). Fonte: http://forarussomanno.tumblr.com Siga-nos: http://twitter.com/RussoNaoMano

Link da petição

sábado, 29 de setembro de 2012

7 de outubro: Dia Nacional sem Mensalão (homenagem a Joaquim Barbosa)


Uma homenagem muito justa ao Ministro Joaquim Barbosa, um dos grandes responsáveis por dar esperança aos brasileiros de ver enfim alguma justiça neste país.

Obrigada, Ministro, e fique calmo. Não perca a cabeça com as provocações do Livrandowski ou qualquer outro. E continue o bom trabalho, apesar das pressões. No dia 7 de outubro, faremos nossa parte e celebraremos o dia nacional sem mensalão.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A teoria política da corrupção


Na linha do "quanta gente se vendeu ao lulopetismo", mais um ótimo texto do sociólogo Demétrio Magnoli sobre os notáveis malabarismos de pensamento de que os apoiadores da quadrilha se valem, para distorcer a realidade, na tentativa de desacreditar o STF e livrar a cara dos mensaleiros petistas (os graúdos ao menos).

Por Demétrio Magnoli

Nos idos de 2005, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos formulou o discurso adotado pelo PT em face do escândalo do mensalão. O noticiário, ensinou, constituiria uma tentativa de "golpe das elites" contra o "governo popular" de Lula. No ano passado o autor da tese assumiu a presidência da Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura. É nessa condição que, em entrevista ao jornal Valor (21/9), ele reativa sua linha de montagem de discursos "científicos" adaptados às conveniências do lulismo. Desta vez, para crismar o julgamento do mensalão como "julgamento de exceção" conduzido por uma Corte "pré-democrática".

A entrevista diz algo sobre o jornalismo do Valor. As perguntas não são indagações, no sentido preciso do termo, mas introduções propícias à exposição da tese do entrevistado - como se (oh, não, impossível!) jornalista e intelectual engajado preparassem o texto a quatro mãos. Mas a peça diz uma coisa mais importante sobre o tema do compromisso entre os intelectuais e o poder: o discurso científico sucumbe no pântano da fraude quando é rebaixado ao estatuto de ferramenta política de ocasião.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) narraram uma história de apropriação criminosa de recursos públicos e de fabricação de empréstimos fraudulentos pela direção do PT, que se utilizou para tanto das prerrogativas de quem detém o poder de Estado. Wanderley Guilherme, contudo, transita em universo paralelo, circundando o tema da origem do dinheiro e repetindo a versão desmoralizada da defesa: "O que os ministros expuseram até agora é a intimidade do caixa 2 de campanhas eleitorais (...). Isso eles se recusam a discutir, como se o que eles estão julgando não fosse algo comum (...), como se fosse algum projeto maligno".

Wanderley Guilherme não parece incomodado com a condenação dos operadores financeiros do esquema, mas interpreta os veredictos dos ministros contra os operadores políticos (ou seja, os dirigentes do PT) como frutos de um "desprezo aristocrático" pela "política profissional". O dinheiro desviado serviu para construir uma coalizão governista destituída de um mínimo de consenso político, explicou a maioria do STF. O cientista político, porém, atribui o diagnóstico a uma natureza "pré-democrática" de juízes incapazes de compreender tanto os defeitos da legislação eleitoral brasileira quanto o funcionamento dos "sistemas de representação proporcional", que "são governados por coalizões das mais variadas".

O núcleo do argumento serviria para a defesa de todo e qualquer "mensalão". Os acusados tucanos do "mensalão mineiro" e os acusados do DEM do "mensalão de Brasília" estão tão amparados quanto os petistas por uma concepção da "política profissional" que invoca a democracia para justificar a fraude do sistema de representação popular e qualifica como aristocráticos os esforços para separar a esfera pública da esfera privada. A teoria política da corrupção formulada pelo intelectual deve ser lida como um manifesto em defesa de privilégios de impunidade judicial do conjunto da elite política brasileira.

Mas, obviamente, o argumento perde a força persuasiva se for lido como o que, de fato, é. Para ocultar seu sentido, conferindo à obra uma coloração "progressista", Wanderley Guilherme acrescenta-lhe uma camada de tinta fresca. A insurreição "aristocrática" do STF contra a "política democrática" derivaria da rejeição a uma novidade histórica: a irrupção da "política popular de mobilização", representada pelo PT. A Corte Suprema estaria "reagindo à democracia em ação" por meio de um "julgamento de exceção", um evento singular que "jamais vai acontecer de novo".

É nesse ponto do raciocínio que a teoria política da corrupção se transforma na corrupção da teoria política. Uma regra inviolável do discurso científico, explicou Karl Popper, é a exigência de consistência interna. Um discurso só tem estatuto científico se estiver aberto a argumentos racionais contrários. Quando apela à profecia de que os tribunais não julgarão outros casos com base na jurisprudência estabelecida nos veredictos do mensalão, Wanderley Guilherme embrenha-se pela vereda da fraude científica. A sua hipótese sobre o futuro - que, logicamente, não pode ser confirmada ou falseada - impede a aplicação do teste de Popper.

Há duas leituras contrastantes, ambas coerentes, sobre o "mensalão do PT". A primeira acusa o partido de agir "como os outros", entregando-se às práticas convencionais da tradição patrimonial brasileira e levando-as a consequências extremas. O diagnóstico, uma "crítica pela esquerda", interpreta o extenso arco de alianças organizado pelo lulismo como fonte de corrupção e atestado da falência da natureza transformadora do PT. A segunda acusa o partido de operar, sob o impulso de um projeto de poder autoritário, com a finalidade de quebrar os contrapesos parlamentares ao Executivo e se perpetuar no governo. A "crítica pela direita" distingue o "mensalão do PT" de outros casos de corrupção política, enfatizando o caráter centralizado e as metas de longo prazo do conjunto da operação.

A leitura corrompida de Wanderley Guilherme forma uma curiosa alternativa às duas interpretações. Seu núcleo é uma celebração da corrupção inerente à política patrimonial tradicional, que seria a "política profissional" nos "sistemas de representação proporcional". Seu verniz aparente, por outro lado, é um elogio exclusivo da corrupção petista, que expressaria a "irrupção da política de mobilização popular" e a "democracia em ação". Na fronteira em que o pensamento acadêmico se conecta com a empulhação militante, o paradoxo pode até ser batizado como dialética. Contudo mais apropriado é reconhecê-lo como um reflexo especular da fotografia na qual Paulo Maluf e Lula da Silva reelaboram os significados dos termos "direita" e "esquerda".

Fonte: ESP (27/09/12): SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP
E-MAIL: DEMETRIO.MAGNOLI@UOL.COM.BR

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