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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vestido de Michelle Obama quase ofusca discurso do marido


Na terça-feira, dia 20, ocorreu a tão aguardada cerimônia de posse de Barack Obama, o primeiro presidente negro americano. Considerando a história pregressa dos negros nos Estados Unidos, marcada por virulento racismo, Obama ter chegado à presidência da maior potência mundial é, sem dúvida, um feito histórico sem precedentes.

Há mais ou menos 60 anos, os negros americanos nem sequer podiam sentar lado a lado com brancos em ônibus, havia lugares só para brancos e só para negros, universidades eram vetadas aos negros. Negros ainda tinham problemas para votar, e casar com brancos era proibido por lei. Aliás, o racismo nos EUA, ao contrário do Brasil, era inclusive institucional.

Então, claro, diante de tal quadro, a posse de Obama não poderia deixar de ser emocionante ainda que só pela questão racial. Fora isso, Obama aparece com um discurso progressista, preocupado com direitos humanos e meio-ambiente, em flagrante contraste com seu antecessor George W. Bush, a pior persona política que o mundo viu nos últimos anos, belicista, vilão ambiental, contrário a tudo que a maioria de nós considera como o necessário para um mundo melhor.

Assim, foi inevitável verter algumas lágrimas na cerimônia de posse de Obama. Não pensei, contudo, que fosse inevitável também dar umas risadas. Ao contrário dos europeus, os americanos em geral (há exceções, claro) nunca primaram exatamente pela elegância de modos e trajes. A breguice sempre os assediou, e não falo só dos adeptos da country music, dos caipiras da terra do tio Sam. É uma espécie de característica nacional na qual volta e meia algum deles resvala, sobretudo aqueles deles do sexo feminino...rsss

Michelle Obama não se fez de rogada e manteve a tradição. Apareceu num modelito amarelo-limão, meio-bordado, acompanhado de luvas e sapatos esverdeados de arribombar o malho. As filhas também estavam vestidas com cores vibrantes, mas, em crianças, a gente entende. Mesmo a mulher do vice-presidente que apareceu com um casaco vermelhão e botas pretas de fazer o gáudio da galera de clubes fetichistas, não pôde superar em visibilidade (rsss) a primeira-dama.

Agora, mais engraçado que o vestido da Michelle, só mesmo os comentários que ele gerou. Preocupados em manter a pompa e a circunstância e movidos pela simpatia provocada pelo casal Obama, a imprensa nacional abriu o baú dos eufemismos e largou brasa em frases como “o vestido luminoso de Michelle”, “o vestido reflete a personalidade forte de Michelle”, “o amarelo do vestido reflete a esperança”, além de paradoxos como “a elegância acintosa de Michelle”.... hehehe. Houve inclusive quem se irritasse com as críticas sobre o estilo luminoso da primeira-dama e visse nelas um velado racismo.

Tudo isso me fez lembrar o velho conto do Andersen, A roupa nova do rei, onde dois vigaristas se fazendo passar por estilistas, conhecedores da vaidade ilimitada do soberano de plantão, convencem-no que o estão vestindo com um tecido tão diáfano e chique que é como se fosse invisível. O monarca, não querendo parecer fora de moda, se auto-ilude de que está usando algo muito fashion e vai inclusive desfilar em público... pelado. Todos os súditos, não querendo contrariar sua majestade, fazem vista grossa diante da nudez real e participam da pantomima até que um menino – com a sinceridade típica da infância – olha para sua majestade e exclama a célebre frase: “ O rei está nu.” Quebrado o encanto, todos passam a gritar o mesmo para desespero da realeza.

Pois, é. Sou como aquele menino. Também morro de simpatia pelo casal Obama e desejo a ambos sucesso em sua difícil empreitada, mas o vestido de Michelle foi uma das coisas mais feias que vi na vida, não importa se feito pela mais cotada estilista cubana-americana do momento, custando os tubos, ou se comprado diretamente na notória grife DASPU...rsss

E que me perdoem as leitoras e leitores esse post-chiste, mas é que rir ainda é o melhor remédio. Continuo rindo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

E - afinal - a Catarina ficou com a Stella?

O autor de A Favorita, João Emanuel Carneiro, depois de gravar a despedida de Stella e Catarina, com Stella assumindo a paixonite não correspondida pela amiga, e tudo terminando em lágrimas e abraços e exclamações de futuras saudades pra cá e pra lá, mudou de idéia ao fim e ao cabo e, no último capítulo da novela, botou as duas indo juntas para Buenos Aires.

Stella diz para a amiga que estava feliz por ela ter aceito o convite para viajar, Catarina diz que era tudo influência dela (Stella) estar indo tomar avião, etecetera... Uma conversa meio mole, meio sonsa, aparentemente ainda só de amigas, mas, considerando o papo ocorrido quando Stella assumiu seu amor por Catarina, sem dúvida pelo menos ambígua.

Aí já não dava mais para a Catarina dizer que não sabia com quem estava se metendo, né? Se eu fosse a Stella, encararia a mudança súbita da situação com muitas esperanças. E você como se sentiria?

E como viu esse final feliz meia-boca entre as duas?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ne me quitte pas, ainda na onda de Maysa, quando fala o coração!

Ainda na onda da Maysa redescoberta, Ne me quitte pas, com tradução!

E o autor do livro Maysa - Só numa multidão de amores, Lira Neto, no qual é baseada a minissérie, está metendo o pau no roteiro da versão televisiva da trajetória da diva.

Diz que 90% do que a gente tá vendo é pura ficção. Mandaram a personagem histórica pro espaço, reduziram-na a uma menina mimada e autodestrutiva, tirando o caráter do seu drama existencial.

Fora distorções históricas importantes como omitir que Maysa foi, apesar de rainha da fossa, e não apenas por causa de Boscôli, que também não era tão cafajeste como retratado na minissérie, uma das primeiras cantoras brasileiras a gravar bossa-nova já em 1957.

Se Lira Neto está querendo vender seu livro que, lançado em abril de 2007, também está bombando mais do que nunca, fez o marketing certo. Licença poética a gente entende, mas, quando a distorção histórica é grande, me dá o maior bode. Daí que lá vou eu comprar o livro. Aliás, em um dos posts do blog do livro, uma entrevista com o jornalista Lira Neto, para a International Magazine, registra-se a razão porque Maysa já mereceu 2 posts por aqui. Vale a pena ler a entrevista. Cito:

"Maysa está de volta à cena em biografias e discos tributos. Trinta anos após sua morte, a cantora e compositora que desafinou do coro dos contentes de seu tempo é relembrada por sua voz, suas composições e, principalmente, por sua personalidade. O livro Maysa: Só numa multidão de amores, do jornalista Lira Neto, é um dos responsáveis pelo retorno dessa mulher/mito que teve seus imensos olhos verdes descritos pelo poeta Manoel Bandeira como "dois oceanos não pacíficos".
Segue também a letra de Ne me quitte pas.



Ne Me Quitte Pas
Jacques Brel
Composição: Paroles et Musique: Jacques Brel 1959

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
À savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
À coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas (x4)

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas (x4)

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embrasser
Je te raconterai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas (x4)

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quite pas (x4)

Ne me quite pas
Je ne veux plus pleurer
Je ne veux plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas (x4)

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ética do outing: Quando é válido assumir os outros!

Coming out of the closet é a expressão em inglês que, na tradução para o português, virou o célebre sair do armário. Sair do armário é quando uma pessoa decide assumir sua homossexualidade ou qualquer outra preferência sexual não-ortodoxa publicamente.

Outing, por sua vez, é a expressão também em inglês que designa o ato de tirar alguém do armário à revelia. Ação política controversa, pois implica expor a privacidade alheia, ela divide opiniões em sua aplicação, mas vem sendo utilizada cada vez mais em todo o mundo.

Para alguns ativistas LGBT, o outing deveria ser feito com todos os enrustidos, pois eles contribuem pouco ou nada para o avanço dos direitos humanos LGBT, embora se beneficiem imensamente dos ganhos conquistados pelos que tiveram a coragem de se assumir.

O argumento é consistente, mas esbarra no fato de que as pessoas dependem de empregos para sobreviver, e a homossexualidade, ou qualquer outra atividade sexual diferente da heteronormalidade tradicional, pode ainda ser motivo de demissão no trabalho, pode criar problemas na relação da pessoa com a família e mesmo em seu círculo pessoal de socialização.

Por essa razão, o outing indiscriminado, mesmo de celebridades, não costuma ser bem aceito. Prefere-se incentivar as pessoas a que se assumam espontaneamente no seu ritmo de autoaceitação para que o sair do armário se dê com o mínimo de problemas em relação ao entorno de cada um(a).

Entretanto, há uma variante do outing que tem ganho cada vez mais adeptos: o outing de pessoas que, embora pertencentes a minorias sexuais, atuam contra os direitos dessas minorias ou contra membros dessas minorias, por razões pessoais egoístas, como ascender na carreira, ou para prejudicar um desafeto.

Nesses casos, o outing é não só moralmente justificável como necessário. Ao não fazê-lo, principalmente contra gente influente, permite-se que essas pessoas continuem agindo em prejuízo da comunidade ou dos indivíduos aos quais atingem diretamente. O silêncio e a inação da comunidade em relação a essas pessoas torna a todos cúmplices de suas atitudes hipócritas e deploráveis. Pelo contrário, ao assumi-las, encoraja-se pelo menos algumas delas a pensar duas vezes antes de repetir as mesmas ações no futuro.

Concordo inteiramente com essa última perspectiva. Pior do que os que lutam contra nossos direitos, não sendo da comunidade, só mesmo os que, sendo do meio, atuam contra os interesses coletivos ou contra membros da comunidade por razões mesquinhas.

Obviamente, não se fala aqui de pessoas que são discretas simplesmente, reservadas, e não ficam levantando bandeira a toda hora e em todo o lugar. Essas pessoas agem naturalmente, não escondem que são LGBT mas também não ostentam, não podendo, portanto, ser classificadas como “no armário” muito menos como traidoras da causa.

Fala-se aqui de enrustidos que chegam ao ponto de difamar e perseguir outros membros da comunidade enquanto secretamente continuam mantendo relações não-heterotradicionais. Estes devem ser assumidos para expor sua hipocrisia e destruir sua má influência.

O outing às vezes é mal-visto porque utilizado também por pessoas sem princípios que invadem a privacidade alheia para faturar com matérias sensacionalistas ou para simplesmente prejudicar alguém. Principalmente celebridades costumam sofrer com a imprensa marrom que não mede esforços para divulgar detalhes picantes da vida íntima de artistas, políticos e gente influente em geral.

Nesse quesito, não só a homossexualidade de alguns mas também o fetichismo de outros são um prato cheio para os escândalos. Em março do ano passado, o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, foi vítima desse tipo de ação antiética. Um vídeo, em que ele aparece em cenas sadomasoquistas de temática nazi com algumas mulheres, foi divulgado na Internet, pelo tablóide inglês News of The World, e virou um escândalo total.

Mosley foi várias vezes ameaçado de demissão e afirmou que a revelação devastou sua família. De qualquer forma, conseguiu dar a volta por cima, assumiu suas preferências e até conseguiu processar o jornal por invasão de privacidade. Segundo o presidente da FIA, a divulgação das imagens foi obra de alguém da área do motor a fim de desestabilizá-lo.

Naturalmente, o outing político nada tem a ver com esse tipo de ação mercantilista e de má-fé. Ele é estritamente destinado aos hipócritas que, embora membros de uma comunidade estigmatizada, usam dos estigmas que a afetam para atacar indivíduos dessa mesma comunidade ou para, ao combater a luta pelos direitos dessa comunidade, usufruir de benesses pessoais. O outing dessas pessoas é, nessas circunstâncias, como afirma o ativista Peter Tatchell, da aguerrida organização inglesa OutRAge, a quem devo muitas das idéias desse artigo, uma potente técnica de autodefesa queer.

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