Incrível como o sucesso de Luana Lopes Lara, jovem brasileira que se tornou milionária aos 29 anos, suscitou o despeito, misturado a muito sexismo, da esquerda anacrônica e retrógrada que temos no Brasil.
Um sujeito teve a "capacidade" de levantar a árvore genealógica da moça pra tentar diminuir seu mérito porque ele não adviria de seu talento e esforço, mas sim de condição social privilegiada. Lembrei daquela frase do Churchill: "O socialismo é a filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja". Também do velho ditado "A inveja é a homenagem que a mediocridade presta ao talento".
A família da moça é tradicional, bem de vida, mas não milionária. A mãe, professora de matemática; o pai, engenheiro elétrico. Provavelmente colocaram a filha para estudar balé no Bolshoi Brasil a fim de lhe inculcar disciplina, já que o treinamento dos bailarinos é pra deixar o de qualquer atleta no chinelo.
Chegou a atuar como bailarina profissional na Áustria por pouco tempo, mas decidiu investir na outra área com a qual sempre teve familiaridade, a área de matemática e tecnologia, entrando no MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das mais prestigiadas universidades do mundo. Saiu de lá para fundar a empresa Kalshi de previsões de mercado.
Luana não recebeu a empresa de herança. Ela fundou a empresa, com um colega, Tarek Mansour que, em 6 anos, a transformou em bilionária. Ainda no Brasil, Luana foi medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e bronze em matemática. Nos EUA, antes de sua empresa, ela passou por processos seletivos nas conceituadas hedge funds Bridgewater e Citadel (de Ken Griffin). O dinheiro compra muita coisa - dizem que até amor verdadeiro - mas não compra inteligência, não compra talento, não compra resiliência. Essas características individuais são dadas pela natureza, não por condições sociais. Mulher rica sem talento vira socialite. As com talento virão empresárias, cientistas.
Mulheres que vieram de condições sociais adversas também conseguem ser bem-sucedidas por meio de seus talentos. A deputada federal Tabata Amaral veio da periferia, pai motorista de caminhão, mãe vendedora de flores, diarista, muitas dificuldades econômicas, mas seu talento chamou a atenção de professores, já na escola primária, que a ajudaram com despesas educacionais. Depois obteve uma bolsa de estudos no colégio Etapa. Participou em cinco competições internacionais de ciências, como a Luana. Em 2012, com mentoria do programa da Fundação Estudar para jovens talentos, que também financiou Luana, teve a chance de estudar e se formar na Universidade de Harvard em Astrofísica e Ciência Política. Deveria ter ficado na área tecnológica em vez de se meter na política brasileira capaz de rebaixar o QI até do Einstein.
A famosa JK Rowling, terror dos tonhões peruqueiros, tornou-se bilionária exclusivamente por seu talento literário. Antes da fama, Rowling era uma mãe solteira e desempregada, vivendo de assistência social na Escócia. Seu primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, reza a história, foi escrito em cafés, enquanto sua filha dormia no carrinho de bebê. A saga inteira de Harry Potter, com sete livros, vendeu mais de 600 milhões de cópias em todo o mundo, foi traduzida para mais de 80 idiomas e a tornou uma mulher rica.
Contra a meritocracia, pela mediocracia
Os críticos da meritocracia aparentam partir da ideia de que, como existem muitas diferenças sociais entre as pessoas, um sistema baseado em mérito seria impossível, já que o ponto de partida das pessoas é desigual. De fato, porém, seus problemas com a meritocracia advêm de ela supostamente levar a resultados desiguais entre as pessoas. O pesquisador e educador australiano Professor Steven Schwartz cita, em seu texto "
Em Defesa da Meritocracia", dois trechos de Michael Sandel, autor de
A Tirania do Mérito: o que aconteceu com o bem comum, bíblia dos antimeritocráticos:
Mesmo que fosse possível garantir que todos tenham igualdade de oportunidade de competir por bens sociais (como a entrada em uma universidade de elite), a sociedade permaneceria estratificada porque diferenças inatas de talento e perseverança produziriam resultados desiguais.
Uma meritocracia perfeita bane todo senso de dom ou graça", escreve ele. "Isso diminui nossa capacidade de nos vermos como compartilhando um destino comum. Deixa pouco espaço para a solidariedade que pode surgir quando refletimos sobre a contingência de nossos talentos e fortunas."
Estes trechos mostram claramente que, para os antimeritocráticos, o que veem de errado na meritocracia é que ela se opõe à ideia contranatural de igualdade de resultados defendida por essa turma. Contranatural porque é a Mãe Natureza quem nos faz desiguais. Ela não distribui nada igualitariamente: nem beleza, nem inteligência, nem talentos, nem características de personalidade e caráter, como a perseverança, a resiliência. Não há como existir igualdade de resultados a não ser nivelando forçosamente todo mundo por baixo, coibindo os talentos, promovendo a estagnação do progresso humano que advém de indivíduos destacados. É o que vemos hoje com a substituição do mérito acadêmico pela ascensão educacional via sistema de cotas por identidades grupais. Em vez de produzir espaço para a solidariedade, como diz Sandels, esses esquemas produzem conflitos, discórdias e ressentimentos. Produzem sobretudo muita mediocridade.
Lutar por sociedades que deem igualdade de largada para todos, a chamada igualdade de oportunidades, é dever de quem quer progresso social e justiça. Combater a pobreza e as discriminações sociais são parte indissociável desse pacote. Entretanto, como diz o professor Schwartz em seu artigo:
Evitar a meritocracia é contraproducente tanto social quanto economicamente. Em vez disso, vamos nos esforçar para refiná-la e aperfeiçoá-la. Uma meritocracia verdadeiramente liberal trata todas as pessoas de forma justa, reconhece nossa humanidade compartilhada e oferece a todos os membros da sociedade a oportunidade de se elevarem com base em seus méritos.
Usar condições sociais como desculpa para inveja, mediocridade, sexismo é ridículo. A jovem Luana Lopes Lara é um claro exemplo de sucesso. O Brasil precisa deixar de ser o país que curte o fracasso.