8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Jean Wyllys à deriva num mar de incoerências

Jean Wyllys de Che Guevara: o desplante intelectual em seu apogeu.

Um estudo sobre Jean Wyllys
Por: Lorenzo Dumas (crônica de um encontro fictício com Jean Wyllys)


Ornado por um terno preto de corte justo, com os cabelos desgrenhados tombados em um rosto seduzido pelo desleixo de uma barba por fazer, Jean Wyllys surge à distância e se põe a caminho do Congresso Nacional sob o rangido dos seus sapatos de couro custeados pelo dinheiro público. Os olhos fatigados de quem luta contra si mais do que contra os outros se perdem no horizonte solitário que o tempo pincelou de cinza. A gravata rosa, enroscada em seu pescoço como uma naja indiana, verte a exuberância simbólica de sua cor camisa abaixo, enquanto o resplendor de um arco íris em miniatura pendura-se como distintivo na altura do coração. 

À medida que progride, a passada leve desenha o seu caminhar ágil, fazendo os cabelos hollywoodianos recém alisados sacudirem cinematograficamente. Ao que parece, nem a moda cubana, nem a norte-coreana são agraciadas a ponto de compor o vestuário do deputado socialista, que elege, sensatamente, as tendências americanas como o molde de sua aparência. Mas sensatez em um cínico não passa de hipocrisia. Jean Wyllys, que hoje se parece mais com o personagem Jon Snow do seriado ''imperialista'' Game of Thrones, já foi visto travestido de Che Guevara em determinada ocasião, com direito a boina com broche de arco íris, no entanto, presumo que tal acontecimento tenha se dado mais por fetiche de quem ele considera um macho alfa de coturno do que por apego propriamente dito às novidades da indústria fashion cubana. 

Os socialistas amam a tal ponto a América que querem fazer do capitalismo um clube, cujas benesses somente eles podem usufruir às custas dos outros. A isso denomina-se comunismo. O socialismo ''progressista'' do vencedor do Big Brother Brasil 5, expressão máxima da cultura de massa e do capitalismo, assim como o socialismo ''revolucionário'' de Che Guevara, que ao ser capturado na selva ostentava um Rolex de ouro em seu punho esquerdo, é como o canto sedutor das sereias gregas que atraíam os marinheiros para a sua própria morte. Na lenda, Odisseu amarra o seu corpo no mastro da embarcação para não se deixar seduzir pelo canto. Hoje, devemos nos amarrar no mastro incólume da história, norteados pelos ventos da razão, para concluirmos que todo socialista é, no mínimo, um mal informado. Os devaneios me assaltam e as palavras, essas que me acodem contra o punhal dos progressistas revolucionários, me escapam. 

Mas eu paro, respiro e reparo que a leveza de cada passo de Wyllys não impede que a erudição dos seus óculos Ray-Ban, de armação fina, estremeça. O eixo das lentes enviesa, mas é logo corrigido pelo gesto intelectual onde a ponta de um dos dedos vem de encontro ao centro dos óculos. A performance termina com as mãos acariciando a gravata, para que alinhada fique esta faminta serpente rosa, estreita e longa, que rasteja de um lado para o outro na iminência do bote peçonhento que homofobiza até mesmo Clodovil Hernandes, em meio ao elegante, embora demasiadamente curto, peitoral do ex-BBB. 

Jean Wyllys é conduzido pelo vento seco da cidade inventada por Juscelino Kubitscheck e à sua frente, ao invés da majestade de um tapete vermelho, estende-se uma interminável lista de contradições infames por onde o decoro do parlamentar chafurda. Como um defensor dos direitos humanos pode ser devoto de Che Guevara e da Revolução Cubana que perseguiu, prendeu e executou milhares de homens, mulheres, crianças e homossexuais? Como um indivíduo que bebe Coca-Cola, participa do Big Brother Brasil, fatura R$1.000.000,00 e não doa um centavo sequer, pode ter o desvario ideológico de se auto-intitular socialista-progressista? Como é possível conceder apoio à Luciana Genro, esta que sobe em palanques venezuelanos para lamber as botas de Fidel Castro e Hugo Chávez, sem ser cúmplice do mal que acomete a vida dos nossos vizinhos sul-americanos? Como um bastião da tolerância, um baluarte indelével da igualdade como Jean Wyllys pode chamar de ''negro gordo e burro'' um semelhante, somente por este ter discordado de uma de suas considerações?

E a Igreja Católica que possibilitou o primeiro emprego de Wyllys como menor aprendiz na Caixa-Econômica, seria esta então uma fábrica de estelionatários e predadores sexuais como declarou odeputado? A exceção vale como regra quando és tu o inquisidor, eminente senhor? E quando és tu o oprimido, não te sentes mal por ser diminuído pela ignorância implacável? Perdes tanto tempo escondendo as suas limitações por trás de um diploma de mestrado, se definindo como um intelectual progressista, quando bastaria um pouco de honra e sabedoria de vida para não lançar no próximo a mesma pedra que não desejas receber em seu telhado.

Jean caminha e dos seus bolsos escapole uma infinidade de recibos ressarcidos pelo dinheiro público que parece não satisfazer as suas necessidades pouco franciscanas. Que tipo de obscenidade intelectual leva um homem público que recebe R$26.723,13 a reclamar do seu salário como fez em entrevista recente a Marcelo Tas? Além do salário, há a verba indenizatória que somada ao auxílio moradia e ao ressarcimento ilimitado de despesas médicas, faz com que o custo anual médio de um deputado seja de R$140.629,09. Confesso que Wyllys é, neste aspecto, um deputado acima da média: neste ano já gastou R$183.000,00 da verba indenizatória em aluguel de automóveis, gasolina aditivada, viagens de avião para terceiros, marketing pessoal, aluguel de máquina de café expresso (os socialistas não bebem o café coado oferecido pela Câmara) e refeições em restaurantes de luxo. R$ 43.000,00 a mais do que a média dos deputados. E para não negar ao parlamentar a mesma tolerância que ele finge pregar, se R$150,00 na churrascaria Cruzeiro do Sul e R$202,62 em um restaurante à beira-mar em Niterói não se caracterizem como despesas de luxo, então peço que as desconsidere, mas não sem lembrar que milhares de famílias brasileiras sobrevivem com muito menos do que a quantia gasta pelo parlamentar em uma reles refeição; não sem lembrar que são essas famílias, assim como todas as outras deste país, que custeiam os caprichos desses verdugos medíocres da ética. 

Enquanto me perco novamente em devaneios, Jean passa por mim e adentra o Congresso Nacional com a despretensão de quem desfila; com a serpente rosa que desliza no peito e a todos intimida; com a empáfia disfarçada de quem tudo finge saber; de quem cobiça somente o poder. E os recibos da impostura, assim como as demais falcatruas, deixam uma senda de descaso para o brasileiro ver. Em verdade, Jean Wyllys não caminha: submerge. Submerge em um oceano de incoerências em busca da superfície, sem se dar conta de que o ar puro está na direção contrária.

Fonte: Diário da Corte, Coluna do Lorenzo, 19 de novembro de 2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Governo manobra para adiar votação do projeto que anula decreto dos conselhos populares

Manobras do governo e de aliados seguem adiando votação do projeto que anula decreto dos conselhos populares

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB), cotado para ser indicado ao TCU, com apoio do Palácio do Planalto, mais uma vez não incluiu na pauta da reunião do colegiado os projetos de decreto legislativo que sustam os efeitos do decreto de Dilma que cria a Política Nacional de Participação Social. São dois os projetos que anulam o decreto presidencial que institui os chamados “conselhos populares”: o PDS 117/2014, de autoria do senador Alvaro Dias, e o PDS 147/2014, que já foi aprovado na Câmara e foi redigido pelo deputado Mendonça Filho (DEM). O projeto do senador Alvaro Dias, que anula o decreto nº 8.243 assinado pela presidente Dilma, e que vigora no país desde o dia 23 de maio, já possui parecer favorável do senador Pedro Taques (PDT-MT), relator da matéria. O outro projeto, aprovado na Câmara no final do mês de outubro, também é relatado por Pedro Taques, que, entretanto, ainda não entregou seu parecer.

Logo após o segundo turno das eleições, os deputados federais votaram este projeto, que chegou ao Senado com promessa de ser rapidamente apreciado na CCJ ou mesmo no Plenário. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que chegou a dizer que o decreto de Dilma seria derrubado, do final de outubro até esta semana, em nenhum momento colocou em votação requerimentos de urgência, para que os projetos de Alvaro Dias e do deputado Mendonça Filho fossem analisados diretamente no Plenário, sem passar pela CCJ. E como os projetos não entraram na pauta desta semana, a CCJ, comandada por Vital do Rêgo, indicado pelo governo para o TCU, só terá mais três semanas para votar o projeto, para o qual o governo ainda pode pedir vistas. As manobras do governo e de seus aliados estão sendo vitoriosas, e está ficando para o ano que vem a votação do projeto que anula o decreto.

Enquanto isso, Dilma já pode começar seu segundo mandato convocando o tal “conselho popular” a opinar sobre as políticas públicas.

Leia aqui o relatório do senador Pedro Taques ao projeto de Alvaro Dias.

Fonte: site do senador Álvaro Dias, 24/11/2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os passos para um impeachment ou, seguindo os conselhos de Lula, não esquecemos que o mesmo povo que elege um político pode destituí-lo.


Sem golpismos


por Merval Pereira

As manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, sejam nas ruas, sejam de políticos oposicionistas ou de meios de comunicação, podem ser precipitadas, inconvenientes politicamente, mas nunca golpistas, como defensores do governo as rotulam na expectativa de reduzir o seu ímpeto. Nada tem a ver, pois, com pedidos de intervenção militar, esses sim vindos de uma minoria golpista.

A razão da demanda existe pelo menos em tese, seria a indicação, feita pelo doleiro Alberto Yousseff, de que a campanha de 2010 foi financiada por dinheiro do petrolão. E ainda está para ser aprovada a prestação de contas da campanha deste ano, que até segunda ordem será analisada no TSE pelo ministro Gilmar Mendes.

Ou ainda um crime de responsabilidade por não ter a presidente impedido o uso da Petrobras para financiamentos de sua base política, ou ter compactuado com esse esquema, durante o período em que foi a principal responsável pela área de energia.

No mensalão, quando o publicitário Duda Mendonça confessou que havia recebido pagamento no exterior, num paraíso fiscal, pelo trabalho de campanha de 2002, abriu-se a possibilidade concreta de impeachment do então presidente Lula, que não foi adiante por uma decisão política da oposição.

E quem diz que não há golpismo em usar a Constituição para destituir um presidente da República é o ex-presidente Lula, que aparece em um vídeo que se espalha pela internet defendendo essa tese em um programa de televisão após o impeachment de Collor, liderado pelo PT na ocasião. Disse Lula: “(...) foi uma coisa importante o povo brasileiro, pela primeira vez na América Latina dar a demonstração de que é possível o mesmo povo que elege um político destituir esse político. Eu peço a Deus que nunca mais o povo brasileiro esqueça essa lição”.


As democracias mais sólidas do planeta preveem a possibilidade de impeachment do presidente da República, e um exemplo disso é os Estados Unidos, onde nos anos recentes dois presidentes foram alvos de uma ação dessas pelo Congresso. Um, o ex-presidente Bill Clinton, envolvido em um escândalo sexual na Casa Branca, escapou da punição no Congresso, e outro, Richard Nixon, acabou renunciado diante da certeza de que seria impedido pelo Congresso.

No Brasil, o presidente da República reeleito pode ser impedido por fatos ocorridos no mandato anterior, pois o artigo 15, da lei 1.079, de 10 de abril de 1950, que “define os crimes de responsabilidade e regula o respectivo processo de julgamento”, diz que a “denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo”.

De acordo com o parágrafo primeiro e seus incisos, do artigo 86 da Constituição Federal, “O Presidente ficará suspenso de suas funções: I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal; II – nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal”. 

Pelo mesmo motivo, o ex-presidente Lula não pode ser acusado de crime de responsabilidade por atos cometidos nos oito anos de sua gestão à frente da Presidência. Caso venha a ser acusado de algum crime, será julgado na Justiça de primeira instância, sem foro privilegiado.

Julgado procedente o pedido de impedimento pelo Senado do presidente da República (artigo 52, § único, da Constituição da República), assumirá o Vice- Presidente da República, em caráter definitivo, nos termos do artigo 79, caput, da Constituição Federal.

No caso da presidente Dilma, no entanto, se a acusação for o financiamento da campanha eleitoral por dinheiro ilegal provindo do petrolão, também o vice Michel Temer estará impedido, pois é a chapa que será impugnada, e nesse caso, de acordo com o artigo 81 caput, da Constituição Federal, “far-se-á eleição, noventa dias depois de aberta a última vaga”.

Seria um caso diferente do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, pois naquela ocasião apenas ele foi acusado dos desvios de dinheiro, enquanto seu vice Itamar Franco pôde assumir a presidência, pois não foi envolvido nas acusações. Caso, porém, a acusação contra a presidente for por crime de responsabilidade pela sua atuação no caso da Petrobras, apenas ela será impedida, podendo assumir o vice-presidente Michel Temer.

Fonte: O Globo, 18/11/2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"Não enche": trilha sonora para fins de caso mal resolvidos


Comecei a fazer uma revisão do blog que, embora tenha começado com a predisposição de desafinar do coro dos contentes desde o princípio, configurava-se, num primeiro momento, como um projeto mais pessoal a ser compartilhado entre conhecidos. Mas a vida, como sempre nos levando por mares nunca dantes navegados, mudou a perspectiva do blog que se tornou mais público e com temática mais política.

Nesse processo revisor, contudo, estou mantendo a maioria das postagens iniciais, checando links e imagens e atualizando as postagens no geral. Neste sentido, segue o post com a letra e a música de Não Enche, do Caetano Veloso, uma daquelas músicas atemporais para fins de caso mal resolvidos.
------------------------------------------------------------------------------------
Caetano sempre me traduzindo. Pelo direito de xingar as quadradas, as dementes, as peruas, as piranhas, as sanguessugas, as vagabas, as à-toas, as vadias, as mesquinhas, as manipuladoras, as canalhas. Pelo livre delito de dizer a verdade.

Não enche

Me larga, não enche
Você não entende nada
E eu não vou te fazer entender...

Me encara, de frente
É que você nunca quis ver
Não vai querer, nem vai ver
Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente
Eu nunca posso perder
Me larga, não enche
Me deixa viver, me deixa viver
Me deixa viver, me deixa viver...

Cuidado, oxente!
Está no meu querer
Poder fazer você desabar
Do salto, nem tente
Manter as coisas como estão
Porque não dá, não vai dá...

Quadrada! Demente!
A melodia do meu samba
Põe você no lugar
Me larga, não enche
Me deixa cantar, me deixa cantar
Me deixa cantar, me deixa cantar...

Eu vou
Clarificar
A minha voz
Gritando
Nada, mais de nós!
Mando meu bando anunciar
Vou me livrar de você...

Harpia! Aranha!Sabedoria de rapina
E de enredar, de enredar
Perua! Piranha!Minha energia é que
Mantém você suspensa no ar
Prá rua! se manda!
Sai do meu sangue
Sanguessuga
Que só sabe sugar
Pirata! Malandra!
Me deixa gozar, me deixa gozar
Me deixa gozar, me deixa gozar...

Vagaba! Vampira!
O velho esquema desmorona
Desta vez prá valer
Tarada! Mesquinha!
Pensa que é a dona
E eu lhe pergunto
Quem lhe deu tanto axé?

À-toa! Vadia!
Começa uma outra história
Aqui na luz deste dia "D"
Na boa, na minha
Eu vou viver dez
Eu vou viver cem
Eu vou vou viver mil
Eu vou viver sem você...(2x)

Eu vou viver sem você
Na luz desse dia "D"
Eu vou viver sem você...



Publicado originalmente em 03/09/08

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites