8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Manifestações de 7 de setembro: voltando às ruas para melhorar o Brasil!


Novas manifestações, organizadas nas redes sociais, estão previstas para o dia 7 de setembro próximo em todo o Brasil. As principais bandeiras são o combate a corrupção, ações nas áreas de saúde e educação, reformas políticas, tributárias, entre outras chamadas.

Abaixo, links dos eventos cadastrados e confirmados para cada cidade e um vídeo de convocação do Anonymous para os eventos.

ACRE
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ALAGOAS
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AMAPÁ
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AMAZONAS
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BAHIA
CEARÁ
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DISTRITO FEDERAL
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ESPÍRITO SANTO
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GOIÁS
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MARANHÃO
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MATO GROSSO
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MATO GROSSO DO SUL
https://www.facebook.com/events/292118647592293/
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MINAS GERAIS
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PARÁ
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PARAÍBA
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PARANÁ
https://www.facebook.com/events/469431986481521/ https://www.facebook.com/events/338240642975662/
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PERNAMBUCO
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PIAUÍ
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RIO DE JANEIRO
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RIO GRANDE DO NORTE
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RIO GRANDE DO SUL
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RONDÔNIA
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RORAIMA
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SANTA CATARINA
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SÃO PAULO
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SERGIPE
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TOCANTINS
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EXTERIOR
Fonte: Folha Política, Lígia Ferreira, 02/09/2013

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Há 50 anos Martin Luther King fazia o discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho)


Há 50 anos Martin Luther King fazia o discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho) que entrou para a História como o corolário do movimento pelos direitos civis dos negros americanos e um verdadeiro mote para todas as pessoas que lutam por igualdade de direitos e oportunidades para todos os seres humanos.

Todo o discurso que transcrevo abaixo, traduzido e em versão original, acompanhado de vídeo com o pronunciamento do reverendo, em 28 de agosto de 1963, no Lincoln Memorial, em Washington, é uma grande peça de oratória cívica e democrática que propõe, a partir dos próprios princípios democráticos, que se passasse do discurso à prática, ou seja, que se efetivasse a igualdade entre negros e brancos perante a lei, igualdade sempre negada aos negros na história americana. 

Em um pronunciamento emocionante, em tom mítico-religioso, pleno de significado e bastante acessível a públicos variados, Martin Luther King propunha simplesmente transformar sonho em realidade. E sua proposta continua a ecoar até hoje, tendo no trecho abaixo o cerne de sua mensagem que deveria ser a bandeira de todos os movimentos sociais, bandeira, contudo, que anda meio rasgada hoje em dia. 

Pode-se trocar o "não julgada pela cor da pele" por qualquer outra particularidade que leve a preconceitos e discriminações que dá na mesma. O sonho de que detalhes que diferenciam as pessoas deixem de ser obstáculos a sua realização como indivíduos nas sociedades permanece tão válido hoje quanto há 50 anos.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Nesta quarta-feira, a passagem dos 50 anos do discurso de Luther King será lembrada, no mesmo local onde o reverendo o proferiu, pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o que, por razões óbvias, trará mais emoção ainda a essa data já tão marcante.


Eu tenho um sonho

"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.

Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.

Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.

Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.

Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.

Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.

Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre. 

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."

Fonte: DHNET
Martin Luther King's "I Have a Dream" speech, August 28, 1963 
I am happy to join with you today in what will go down in history as the greatest demonstration for freedom in the history of our nation.

Five score years ago, a great American, in whose symbolic shadow we stand today, signed the Emancipation Proclamation. This momentous decree came as a great beacon of hope to millions of slaves, who had been seared in the flames of withering injustice. It came as a joyous daybreak to end the long night of their captivity. But one hundred years later, the colored America is still not free. One hundred years later, the life of the colored American is still sadly crippled by the manacle of segregation and the chains of discrimination.

One hundred years later, the colored American lives on a lonely island of poverty in the midst of a vast ocean of material prosperity. One hundred years later, the colored American is still languishing in the corners of American society and finds himself an exile in his own land So we have come here today to dramatize a shameful condition.

In a sense we have come to our Nation's Capital to cash a check. When the architects of our great republic wrote the magnificent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir.

This note was a promise that all men, yes, black men as well as white men, would be guaranteed to the inalienable rights of life liberty and the pursuit of happiness.

It is obvious today that America has defaulted on this promissory note insofar as her citizens of color are concerned. Instead of honoring this sacred obligation, America has given its colored people a bad check, a check that has come back marked "insufficient funds."

But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation. So we have come to cash this check, a check that will give us upon demand the riches of freedom and security of justice.

We have also come to his hallowed spot to remind America of the fierce urgency of Now. This is not time to engage in the luxury of cooling off or to take the tranquilizing drug of gradualism.

Now is the time to make real the promise of democracy.

Now it the time to rise from the dark and desolate valley of segregation to the sunlit path of racial justice.

Now it the time to lift our nation from the quicksands of racial injustice to the solid rock of brotherhood.

Now is the time to make justice a reality to all of God's children.

It would be fatal for the nation to overlook the urgency of the moment and to underestimate the determination of its colored citizens. This sweltering summer of the colored people's legitimate discontent will not pass until there is an invigorating autumn of freedom and equality. Nineteen sixty-three is not an end but a beginning. Those who hope that the colored Americans needed to blow off steam and will now be content will have a rude awakening if the nation returns to business as usual.

There will be neither rest nor tranquility in America until the colored citizen is granted his citizenship rights. The whirlwinds of revolt will continue to shake the foundations of our nation until the bright day of justice emerges.

We can never be satisfied as long as our bodies, heavy with the fatigue of travel, cannot gain lodging in the motels of the highways and the hotels of the cities.

We cannot be satisfied as long as the colored person's basic mobility is from a smaller ghetto to a larger one.

We can never be satisfied as long as our children are stripped of their selfhood and robbed of their dignity by signs stating "for white only."

We cannot be satisfied as long as a colored person in Mississippi cannot vote and a colored person in New York believes he has nothing for which to vote.

No, we are not satisfied and we will not be satisfied until justice rolls down like waters and righteousness like a mighty stream.

I am not unmindful that some of you have come here out of your trials and tribulations. Some of you have come from areas where your quest for freedom left you battered by storms of persecutions and staggered by the winds of police brutality.

You have been the veterans of creative suffering. Continue to work with the faith that unearned suffering is redemptive.

Go back to Mississippi, go back to Alabama, go back to South Carolina go back to Georgia, go back to Louisiana, go back to the slums and ghettos of our modern cities, knowing that somehow this situation can and will be changed.

Let us not wallow in the valley of despair. I say to you, my friends, we have the difficulties of today and tomorrow.

I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.

I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed. We hold these truths to be self-evident that all men are created equal.

I have a dream that one day out in the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at the table of brotherhood.

I have a dream that one day even the state of Mississippi, a state sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.

I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by their character.

I have a dream today.

I have a dream that one day down in Alabama, with its vicious racists, with its governor having his lips dripping with the words of interpostion and nullification; that one day right down in Alabama little black boys and black girls will be able to join hands with little white boys and white girls as sisters and brothers.

I have a dream today.

I have a dream that one day every valley shall be engulfed, every hill shall be exalted and every mountain shall be made low, the rough places will be made plains and the crooked places will be made straight and the glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together.

This is our hope. This is the faith that I will go back to the South with. With this faith we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope.

With this faith we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood.

With this faith we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to climb up for freedom together, knowing that we will be free one day.

This will be the day when all of God's children will be able to sing with new meaning "My country 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing. Land where my father's died, land of the Pilgrim's pride, from every mountainside, let freedom ring!"

And if America is to be a great nation, this must become true. So let freedom ring from the hilltops of New Hampshire. Let freedom ring from the mighty mountains of New York.

Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania.

Let freedom ring from the snow-capped Rockies of Colorado.

Let freedom ring from the curvaceous slopes of California.

But not only that, let freedom ring from Stone Mountain of Georgia.

Let freedom ring from every hill and molehill of Mississippi and every mountainside.

When we let freedom ring, when we let it ring from every tenement and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old spiritual, "Free at last, free at last. Thank God Almighty, we are free at last."

Prepared by Gerald Murphy (The Cleveland Free-Net - aa300) Distributed by the Cybercasting Services Division of the National Public Telecomputing Network (NPTN).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Grupos que recorrem à violência, devem ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS
Concordo inteiramente com o filósofo Denis Rosenfield: grupos que recorrem à violência, devem ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia. Sou idealmente libertária, sonho com uma sociedade que possa se autogerenciar sem a figura do Estado, muito mais uma fonte de problemas do que de soluções, como a história da humanidade nos conta, sobretudo a do século passado, com seus regimes totalitários. Entretanto, como não sou porra-louca, sei que tal sonho ainda está bem distante, particularmente no Brasil, então realisticamente apoio iniciativas no sentido de diminuir o tamanho do Estado, colocando-o sobre as rédeas da população, e que tornem a democracia brasileira realmente mais representativa.

Existe muita gente de diferentes nuances ideológicas que questiona o sistema democrático, por suas falhas, mas não se pode, por causa delas, solapar-se a democracia representativa, sob o risco, como também a História nos ensina, de ver surgir mais uma vez a barbárie autoritária, identifique-se ela como for. Daí que é de suma importância começar de fato a coibir os manifestantes violentos (black bostas, anarcotários, psolistas, etc...), não importando o que as redes sociais, cheias de "revolucionários anticapitalistas", pensem e digam. Essas baixarias violentas até contra hospitais não podem continuar acontecendo impunemente. Há formas de se protestar de maneira democrática no Brasil. Os que não entendem isso precisam ser reprimidos mesmo!    

Democracia e violência
Denis Lerrer Rosenfield * 

A democracia é uma forma de regramento de conflitos e de repressão à violência. Traduz-se o regramento pelo Estado de Direito, no qual as leis, válidas para todos, se caracterizam pela imparcialidade, impessoalidade e universalidade. As regras que a constituem não são, por isso mesmo, arbitrárias, mas fruto de todo um ordenamento constitucional, garantido pelo voto de todos os cidadãos.

Não pode ela, então, conviver com a violência que ameaça a estabilidade constitucional e a segurança jurídica e física. Contratos devem ser respeitados e os bens públicos e dos cidadãos, garantidos pela autoridade estatal, em particular pela polícia e pelo Judiciário. O mesmo vale para a integridade física das pessoas e seu direito de livre circulação pelas ruas.

Causa, portanto, a maior surpresa constatarmos que em recentes manifestações carros de empresas de comunicação foram destruídos; sedes dessas mesmas empresas, ameaçadas; agências bancárias, vandalizadas; revendas de carros, igualmente destruídas; tudo isso sob o olhar complacente da polícia, como se não devesse intervir. Até o Hospital Sírio-Libanês foi palco de obstruções, impedindo pessoas de recorrer à sua emergência. A noção de limite foi perdida!

Acrescentem-se a invasão ao Palácio do Itamaraty, a ameaça física ao governador do Rio, Sérgio Cabral, que não pode fazer uso de seu apartamento, perturbando seus vizinhos, as tentativas de coagir o governador paulista, Geraldo Alckmin, em frente ao palácio do governo, para que tenhamos um quadro mais completo da inércia reinante. Convém lembrar, seguindo a lição de Hobbes, que a formação do Estado pressupõe que este exerça o monopólio da violência. Os cidadãos abdicariam do seu uso em proveito da paz e da ordem públicas, condição da sociabilidade humana. Imaginem se cada um puxasse uma arma ou agredisse fisicamente qualquer pessoa para resolver um conflito. Seria o caos completo.

O mesmo vale para os grupos que se digladiam pelo poder, usando o voto para dirimir os conflitos e lutas inerentes à sua conquista. Com tal objetivo é estabelecida uma série de pré-requisitos para o ordenamento dessa disputa, como eleições periódicas, liberdade de organização partidária, imprensa e outros meios de comunicação livres, respeito aos resultados, direito das minorias e assim por diante. Em caso de descontentamento, devem os inconformados dirigir-se aos tribunais, no caso brasileiro, ao Tribunal Superior Eleitoral.

Grupos que não aceitam o Estado de Direito e a ordem constitucional, recorrendo à violência, devem, sim, ser duramente reprimidos, pois são ameaças reais à existência da democracia. Se agirem livremente, só tendem a enfraquecer as instituições. Pretendem ser aceitos democraticamente, tendo como finalidade a eliminação da própria democracia. Criam, para isso, um clima de instabilidade institucional.

Note-se que nas jornadas de junho e nas manifestações de julho/agosto grupos de extrema esquerda fizeram uso impunemente da violência, como se esta fosse um instrumento legítimo de luta política. Na verdade, eles são a negação da política, embora recorram a supostas justificativas sociais. Uma das mais recorrentes é alegar que são contra a "criminalização dos movimentos sociais". O que isso significa? Apenas um passaporte para o uso irrestrito da violência, algo que lhes garantiria a impunidade. Pretendem estar ao abrigo da lei, desrespeitando-a completamente. Na verdade, são criminosos que atentam contra a ordem democrática e, por isso mesmo, deveriam ser presos e julgados, não mais circulando livremente pelas ruas.

Para inibir a ação policial contam com o apoio de uma mídia alternativa atualmente em voga, cuja especialidade é filmar policiais que estão cumprindo a sua função, recorrendo à força para reprimir atos violentos que se voltam contra a ordem pública. É o seu dever. E o que acontece, então? São apresentados, segundo o ângulo da foto e/ou da filmagem, como "brutamontes" que estariam reprimindo jovens e estudantes... A inversão é total!

Os mascarados que saqueiam, destroem, ameaçam fisicamente as pessoas e produzem medo generalizado são apresentados como "heróis" sociais. Em vez de a lei ser a eles aplicada, teríamos a justificativa da violência, como se esta devesse ser aceita. O intolerável não pode ser democraticamente tolerado, sob pena de instabilizarmos as instituições, que são as garantes da paz pública, princípio primeiro do Estado.

As jornadas de junho, caracterizadas por serem essencialmente manifestações pacíficas de descontentamento e crítica aos partidos políticos e às autoridades constituídas, nos níveis federal, estadual e municipal, atingindo todos os partidos políticos, sem exceção, foram uma prova inequívoca da vitalidade de nossa democracia. Angariaram ampla simpatia popular, alcançando pessoas das mais diferentes faixas etárias, de renda e de escolaridade. A sociedade, autonomamente mobilizada pelas redes sociais, soube dizer não ao que está aí, farta de demagogia, de falta de representatividade política, de altos impostos que se traduzem em serviços públicos de baixa qualidade.

A inconformidade com a corrupção e o desvio de recursos públicos foi flagrante, mostrando cidadãos atentos aos valores básicos de toda convivência propriamente política. Repudiaram claramente a violência, a ponto de alguns participantes e simpatizantes dessas jornadas dizerem que não aceitariam participar desse tipo de manifestações. A violência foi e é amplamente rechaçada, numa nítida demonstração de uma sociedade civil madura.

A questão, contudo, consiste na disparidade entre essa maturidade social e a falta de legitimidade das autoridades públicas, que nem da irrupção da violência sabem tratar. Quando passarão a respeitar as suas obrigações constitucionais, próprias da democracia?

Fonte: O Estado de S.Paulo*Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail:denisrosenfield@terra.com.br

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Quem coletivizou os discriminados foram os conservas enlatados e não a esquerda ou os próprios discriminados


O economista Rodrigo Constantino descobriu, no conservadorismo, um veio inesgotável de clichês e uma escada para vencer na vida (virou colunista da Veja agora). Embora continue se dizendo liberal (em detrimento dessa corrente de pensamento), cada vez mais escreve como conservador, com um pensamento crescentemente simplista e maniqueísta, não perdendo a chance de atacar os movimentos sociais e defender tradições (inclusive religiosas, embora se diga ateu). Sob o pretexto de criticar uma suposta coletivização que os movimentos sociais fariam dos indivíduos, neoconstantino, como agora é conhecido, atacou, em duas postagens da última semana, o movimento feminista, o negro e o LGBT.   

Constantino não gosta dos movimentos sociais em geral porque eles contestam as ideias mofadas que ele tem na cabeça e não porque coletivizam seja quem for. Para começo de conversa, é sempre bom lembrar que quem coletivizou vários segmentos da população, em categorias estanques negativadas e despidas de direitos, não foi nenhuma esquerda, ou os próprios discriminados, e sim a direita, sobretudo a conservadora. 

Não foram as vítimas das coletivizações que se colocaram numa situação de perda da individualidade só para contrariar os neoconstantinos e congêneres. Não foram os negros que se colocaram grilhões e amargaram voluntariamente séculos de escravidão e apartheid por gosto, por espírito masoquista.

Não foram as mulheres que se reduziram ao papel de empregadas de cama e mesa e incubadeiras e se privaram dos mais elementares direitos de cidadania só para se fazer de vítimas e reivindicar privilégios. 

Não foram os homossexuais que se patologizaram num suposto terceiro sexo, de supostas características comuns a todos os LGBT, vivendo à margem e sujeitos a todo tipo de violência por gosto e para igualmente reivindicar privilégios. 

Não, quem criou todas essas coletivizações foi a turma de conservas enlatados de tipos como Constantino. A esquerda, no máximo, pode ser responsabilizada por instrumentalizar essas categorias - que a turma de Constantino criou - e reafirmá-las para seus fins pouco democráticos. Mas ela não é geradora dessas coletivizações não. A César o que é de César, pois não? 

Então, esse discurso que busca atribuir aos movimentos sociais uma suposta coletivização dos discriminados, alijando-os de sua individualidade, é de fato mero ressentimento dos conservas enlatados por sua perda do poder de categorizar e marginalizar as pessoas como sempre fizeram. Os coletivizados, pelos conservas enlatados, pegaram os estigmas que lhes foram impostos e os transformaram em bandeiras de luta por igualdade de direitos, bandeiras estas que certos liberaizinhos de araque, como Constantino, só defendem da boca pra fora. Passaram a se autodefinir como bem entendem e a sonhar seus próprios sonhos. E os conservas enlatados não se conformam com isso, embora sejam os paladinos do conformismo em suas frequentes prédicas aos outros. Como se sabe, pimenta nos olhos alheios é refresco.

De fato, quem quer que as pessoas venham a ser medidas por sua individualidade e não por detalhes como sexo, etnia ou orientação sexual (para ficar nos exemplos citados), não pode ser contra movimentos que há séculos lutam para que isso exatamente venha a acontecer. Se, nas últimas décadas, a "esquerda" se apropriou desses movimentos e os adequou aos seus propósitos de lutas de classes várias é porque outras forças políticas e ideológicas não souberam fazer frente a essa cooptação. O discurso simplista e distorcido de Constantino & Cia neocon  é um exemplo contundente do que digo.  

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