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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Marithania Silvero recebe prêmio por encontrar nó que rebate teoria do cientista Louis Kauffman

A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.
A matemática Marithania Silvero, na Universidade de Sevilla.PACO PUENTES

O prêmio de pesquisa Vicent Caselles reconhece Marithania Silvero por encontrar um nó que rebate uma teoria do cientista Louis Kauffman

A espanhola Marithania Silvero ainda não havia nascido quando Louis Kauffman (Nova York, 1945) apresentou em 1983 a conjectura que estabelecia que duas famílias de nós matemáticos eram equivalentes. Silvero nasceu em Huelva em 1989, quando a comunidade científica tinha aceitado a teoria do matemático norte-americano. Em 2015, três décadas depois que Kauffman apresentou sua conjectura e pouco antes de uma reunião programada entre os dois cientistas, Marithania Silvero refutou a teoria do mestre. O matemático não apenas endossou a solução encontrada por Silvero, como ambos se tornaram estreitos colaboradores. Sua descoberta foi reconhecida com o prêmio de pesquisa Vicent Caselles, concedido pela Real Sociedade Matemática Espanhola e pela Fundação BBVA.

Silvero gosta de desafios desde menina. Seu melhor passatempo eram os problemas e ela cresceu entusiasmada com o mundo da matemática, ciência em que atualmente pesquisa e da qual é professora na Universidade de Huelva, depois de ter trabalhado em outros centros de pesquisa da Espanha, Polônia e Estados Unidos.

Sua pesquisa está enquadrada na topologia e, mais especificamente, na teoria dos nós, que a cientista simplifica para torná-la compreensível a partir de uma corda com as pontas grudadas. Os matemáticos estudam as transformações que podem ser feitas nessa corda, esticando-a e mudando de forma, mas sem cortá-la. A partir dessas transformações surgem propriedades e, de acordo com diferentes características, os nós se agrupam em famílias.

Louis Kauffman estabeleceu em 1983 que duas dessas famílias, a de nós alternativos e a de pseudo-alternantes, eram equivalentes. Até Silvero iniciar sua tese, orientada pelos professores Juan González-Meneses e Pedro González, e defendida no Instituto de Matemática da Universidade de Sevilha, ao qual pertence como colaboradora, Marithania construiu um nó pseudo-alternante e, recorrendo ao polinômio de Conway, descobriu que esse nó não poderia ser alternativo, refutando assim a conjectura de Kauffman.

Apaixonada pela pesquisa pura, ela defende a relevância da ciência básica.
Os matemáticos estudam os nós porque podemos defini-los e analisá-los para conhecer suas propriedades”, explica.
A teoria dos nós tem sua origem, segundo a pesquisadora, na tentativa de William Thomson, físico e matemático conhecido como Lord Kelvin, de classificar os átomos de acordo com as trajetórias que descrevem as partículas que os formam. Embora sua teoria tenha demonstrado não ser válida, a classificação de nós ficou como um problema matemático e surgiu o ramo da teoria dos nós, que tem aplicações em química, biologia, física e outras disciplinas.

No entanto, Marithania não se concentra nas aplicações dos resultados, mas nas fundações que mais tarde as tornam possíveis. “Gosto de pesquisa pura, de ciência básica, a responsável por expandir os limites do conhecimento. Se depois meus resultados puderem ajudar cientistas de outras áreas a resolver seus problemas, ficarei feliz, mas esse não é meu objetivo”, afirma, embora reconheça que essa parte, fundamental para estabelecer a base para futuras pesquisas, seja menos visível.

Silvero refutou a conjectura de Kauffman com um contraexemplo, algo que causou impacto no mundo da ciência espanhola se considerarmos que o último relatório do PISA nos reprova em matemática. Ela atribui sua trajetória ao apoio constante que encontrou na família, nos professores e amigos. É por isso que defende a importância do ensino, que os professores amem a matéria que lecionam e transmitam esse sentimento aos alunos.
Acredito que uma das causas dos resultados do PISA poderia ser o fato de que, nas escolas, a matemática não está sendo ensinada por matemáticos. Profissionais de outras áreas podem ter os conhecimentos, mas é muito difícil que possam despertar e transmitir um interesse e uma paixão pela matemática que eles mesmos não possuem”.
Ela também se sente feliz por não ter encontrado os obstáculos que limitam o acesso das mulheres a carreiras científicas. Suas estadias no exterior, sua dedicação à pesquisa e sua carreira sempre tiveram o apoio da família e dos professores.
Não senti um tratamento diferente ao dispensado aos meus companheiros, mas é verdade que conheço companheiras que tiveram outras experiências”, resume, admitindo que seu mundo não é alheio aos preconceitos comuns na sociedade. “Quando falo que sou matemática, às vezes me dizem: ‘Não parece’. Então, pergunto: qual aspecto uma matemática tem?”, lamenta diante da persistência de estereótipos e ideias preconcebidas.
Silvero também admite a ausência de modelos atuais que orientem as jovens para o mundo da ciência. Acredita que as figuras do século XIX já não valem, porque as meninas e adolescentes não se identificam com elas. De fato, reconhece que não tinha um modelo claro a seguir, que o construiu a partir das atitudes daqueles que lhe transmitiram a paixão pela ciência à qual se dedica. E, para retribuir, participará do próximo encontro da associação internacional Greenlight For Girls (G4G) para promover carreiras científicas entre meninas em idade escolar.


Clipping Jovem matemática refuta conjectura estabelecida há 30 anos, por Raúl Limón, El País, 21/12/2019

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Lista da BBC Culture dos 100 melhores filmes realizados por mulheres

Imagem relacionada
O Piano (1003) de Jane Campion, primeiro lugar entre os 100 filmes de diretoras (ver abaixo)
A BBC Culture lançou uma lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres. Desta lista resultou uma análise internacional de especialistas em cinema onde participaram 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de cinema de 84 países diferentes.

“Cléo das 5 às 7” – [Cléo de 5 à 7, França, 1962]
O filme mais votado por “The Piano” (1993), de Jane Campion, que obteve 43,5% dos votos dos críticos.
Os críticos votaram em 761 filmes diferentes no total. Agnès Varda foi a realizadora mais popular em termos de número de filmes, com 6 filmes entre os 100 melhores, seguida por Kathryn Bigelow, Claire Denis, Lynne Ramsay e Sofia Coppola.
É com satisfação que apresentamos a maior e mais internacional lista de críticos de cinema da BBC Culture”, disse Rebecca Laurence, editora da BBC Culture. “Ficámos impressionados com a enorme resposta: 368 críticos, académicos, figuras da indústria e programadores de filmes de 84 países diferentes. E temos o prazer de informar que o número de votantes é equilibrado em termos de sexo, com um número ligeiramente maior de mulheres do que homens. Esperamos, como sempre, que esta lista provoque debates e inspire a descoberta da maravilhosa e diversificada coleção de filmes criados por mulheres ao longo da história do cinema.”, acrescentou a editora.
A análise mostra ainda que a maioria dos 100 melhores filmes são das décadas de 1990 e 2000. Os anos mais populares são 1999, 2008 e 2017, com cinco filmes cada. Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Bélgica, Canadá, Japão foram os países mais populares.

Lista completa:

100. The Kids are All Right (Lisa Cholodenko, 2010)
99. The Souvenir (Joanna Hogg, 2019)
98. Somewhere (Sofia Coppola, 2010)
97. Adoption (Márta Mészáros, 1975)
96. The Meetings of Anna (Chantal Akerman, 1977)
95. Ritual in Transfigured Time (Maya Deren, 1946)
94. News From Home (Chantal Akerman, 1977)
93. Red Road (Andrea Arnold, 2006)
92. Raw (Julia Ducournau, 2016)
91. White Material (Claire Denis, 2009)
90. Fast Times at Ridgemont High (Amy Heckerling, 1982)
89. The Beaches of Agnes (Agnès Varda, 2008)
88. The Silences of the Palace (Moufida Tlatli, 1994)
87. 35 Shots of Rum (Claire Denis, 2008)
86. Wadjda (Haifaa Al-Mansour, 2012)
85. One Sings, The Other Doesn’t (Agnès Varda, 1977)
84. Portrait of Jason (Shirley Clarke, 1967)
83. Sleepless in Seattle (Nora Ephron, 1993)
82. At Land (Maya Deren, 1944)
81. A Girl Walks Home Alone at Night (Ana Lily Amirpour, 2014)
80. Big (Penny Marshall, 1988)
79. Shoes (Lois Weber, 1916)
78. The Apple (Samira Makhmalbaf, 1998)
77. Tomboy (Céline Sciamma, 2011)
76. Girlhood (Céline Sciamma, 2014)
75. Meek’s Cutoff (Kelly Reichardt, 2010)
74. Chocolat (Claire Denis, 1988)
73. On Body and Soul (Ildikó Enyedi, 2017)
72. Europa Europa (Agnieszka Holland, 1980)
71. The Seashell and the Clergyman (Germaine Dulac, 1928)
70. Whale Rider (Niki Caro, 2002)
69. The Connection (Shirley Clarke, 1961)
68. Eve’s Bayou (Kasi Lemmons, 1997)
67. The German Sisters (Margarethe von Trotta, 1981)
66. Ratcatcher (Lynne Ramsay, 1999)
65. Leave no Trace (Debra Granik, 2018)
64. The Rider (Chloe Zhao, 2017)
63. Marie Antoinette (Sofia Coppola, 2006)
62. Strange Days (Kathryn Bigelow, 1995)
61. India Song (Marguerite Duras, 1975)
60. A League of their Own (Penny Marshall, 1992)
59. The Long Farewell (Kira Muratova, 1971)
58. Desperately Seeking Susan (Susan Seidelman, 1985)
57. The Babadook (Jennifer Kent, 2014)
56. 13th (Ava DuVernay, 2016)
55. Monster (Patty Jenkins, 2003)
54. Bright Star (Jane Campion, 2009)
53. The Headless Woman (Lucrecia Martel, 2008)
52. Happy as Lazzaro (Alice Rohrwacher, 2018)
51. Harlan County, USA (Barbara Kopple, 1976)
50. Outrage (Ida Lupino, 1950)
49. Salaam Bombay! (Mira Nair, 1988)
48. The Asthenic Syndrome (Kira Muratova, 1989)
47. An Angel at my Table (Jane Campion, 1990)
46. Near Dark (Kathryn Bigelow, 1987)
45. Triumph of the Will (Leni Riefenstahl, 1935)
44. American Honey (Andrea Arnold, 2016)
43. The Virgin Suicides (Sofia Coppola, 1999)
42. The Adventures of Prince Achmed (Lotte Reiniger, 1926)
41. Capernaum (Nadine Labaki, 2018)
40. Boys Don’t Cry (Kimberly Peirce, 1999)
39. Portrait of a Lady on Fire (Céline Sciamma, 2019)
38. Paris is Burning (Jennie Livingston, 1990)
37. Olympia (Leni Riefenstahl, 1938)
36. Wendy and Lucy (Kelly Reichardt, 2008)
35. The Matrix (Lana and Lilly Wachowski, 1999)
34. Morvern Callar (Lynne Ramsay, 2002)
33. You Were Never Really Here (Lynne Ramsay, 2017)
32. The Night Porter (Liliana Cavani, 1974)
31. The Gleaners and I (Agnès Varda, 2000)
30. Zama (Lucrecia Martel, 2017)
29. Monsoon Wedding (Mira Nair, 2001)
28. Le Bonheur (Agnès Varda, 1965)
27. Selma (Ava DuVernay, 2014)
26. Stories we Tell (Sarah Polley, 2012)
25. The House is Black (Forugh Farrokhzad, 1963)
24. Lady Bird (Greta Gerwig, 2017)
23. The Hitch-Hiker (Ida Lupino, 1953)
23. We Need to Talk About Kevin (Lynne Ramsay, 2011)
21. Winter’s Bone (Debra Granik, 2010)
20. Clueless (Amy Heckerling, 1995)
19. Orlando (Sally Potter, 1992)
18. American Psycho (Mary Harron, 2000)
17. Seven Beauties (Lina Wertmüller, 1975)
16. Wanda (Barbara Loden, 1970)
15. The Swamp (Lucrecia Martel, 2001)
14. Point Break (Kathryn Bigelow, 1991)
13. Vagabond (Agnès Varda, 1985)
12. Zero Dark Thirty (Kathryn Bigelow, 2012)
11. The Ascent (Larisa Shepitko, 1977)
10. Daughters of the Dust (Julie Dash, 1991)
9. Fish Tank (Andrea Arnold, 2009)
8. Toni Erdmann (Maren Ade, 2016)
7. The Hurt Locker (Kathryn Bigelow, 2008)
6. Daisies (Věra Chytilová, 1966)
5. Lost in Translation (Sofia Coppola, 2003)
4. Beau Travail (Claire Denis, 1999)
3. Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (Chantal Akerman, 1975)
2. Cléo from 5 to 7 (Agnès Varda, 1962)
1. The Piano (Jane Campion, 1993)

Clipping BBC divulga lista dos 100 melhores filmes realizados por mulheres, Comunidade Cultura e Arte, 01/12/2019

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Cientista francesa Émilie Du Châtelet escreveu livro que marcou geração de matemáticos e físicos e foi peça-chave do Iluminismo Europeu

A cientista francesa Émilie Du Châtelet (1707-1949)
Quando descobriu que estava grávida, sabia que estava com os dias contados.

Era 1749 e a marquesa tinha 42 anos. Naquela época, a expectativa de vida na França não chegava a 30 anos e o parto trazia sempre um risco enorme.

Mas longe de se resignar ao que considerava sua "sentença de morte", a descoberta da gravidez a levou a se dedicar incansavelmente ao trabalho tido como o seu maior legado científico.

Ela trabalhava por 18 horas diárias, com apenas dois intervalos de uma hora cada, e dormia cerca de quatro horas.

Émilie havia abandonado toda a vida social aristocrática e só interrompia sua produção para ver seu jovem amante e pai de sua quarta e última filha.

Em 4 de setembro de 1749, Du Châtelet deu à luz seu bebê. Seis dias depois, ela morreu de embolia pulmonar.

Se o mau presságio se concretizou, o mesmo aconteceu com sua missão. Du Châtelet terminou seu trabalho dias antes do parto.

O que começou como uma tradução francesa do famoso livro de Isaac Newton Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, mais conhecido como Principia, acabou se tornando um volume de mais de 500 páginas com contestações e checagens próprias e de terceiros às teorias do físico inglês.

O livro seria publicado 10 anos depois e marcaria toda uma geração de matemáticos e físicos franceses, e suas ideias filosóficas o tornariam peça-chave no Iluminismo europeu.

Essa ainda é a única tradução completa em francês desse texto revolucionário e ao mesmo tempo sombrio de Newton.

No entanto, 270 anos após sua morte, Émilie du Châtelet é lembrada quase exclusivamente por ter sido amante de Voltaire por 15 anos (que, aliás, não era o amante mencionado acima).

É verdade que, em vida, ele era o autor mais famoso da França.

Mas, como mostram sua produção intelectual e estudos recentes, ela era uma cientista talentosa e intelectual com mérito próprio.

Autodidata

Gabrielle Émilie le Tonnelier de Breteuil nasceu em 17 de dezembro de 1706 em Paris, no seio de uma família aristocrática francesa. Era a única menina entre seis irmãos.

Se por um lado teve aulas com professores prestigiados e aos 12 anos falava seis línguas, de outro, por ser mulher, não lhe foi permitido continuar os estudos e teve que se tornar autodidata para, com a ajuda de amigos, aprender os dois temas que mais a atraíam: matemática e física.

Ela tinha tanto talento para a matemática que em Versalhes era famosa por seu dom como apostadora. O dinheiro obtido era gasto com livros e equipamentos científicos.
Se eu fosse rei, reformaria esse abuso que encolhe metade da humanidade. Eu gostaria que as mulheres participassem de todos os direitos humanos, sobretudo, os da mente", afirmou.
Nunca chegou a ser rei, ou rainha, mas se tornou marquesa.
Quando completou 18 anos, sabia que teria que se casar e aceitou a proposta do marquês Florent-Claude du Châtelet, um distinto oficial do Exército", relata a biografia publicada pela Sociedade Americana de Física em 2008.
Esse acabou sendo um arranjo conveniente para Émilie", continua o texto, "porque o marido estava frequentemente longe de casa, deixando-a livre para satisfazer seus próprios interesses em estudar matemática e ciências por sua própria conta."
Nos primeiros anos de casamento, tiveram três filhos e ela exercia seu papel de mãe e dama da alta sociedade que as normas sociais exigiam.

Mas aos 26 anos ela deu um basta.

Émilie questionava os anos em que "gastou seu tempo" com "coisas inúteis". "Dedicava um tempo extremo ao cuidado dos meus dentes, do meu cabelo, e ao descuido de minha mente e de meu conhecimento", escreveu ela.

 Livro de Robyn Arianrhod aborda a influência
de Émilie du Châtelet na 'revolução newtoniana'

Uma mente livre

Du Châtelet não era apenas passional em sua trajetória intelectual, mas também na amorosa, diz Robyn Arianrhod, matemática e historiadora da ciência, na revista Cosmos em 2015.
Ela era demais para a maioria das pessoas do seu tempo: ambiciosa demais, intelectual demais, emocional demais e  sexualmente liberada demais", afirma a pesquisadora.
Tanto foi que durante toda sua vida foi alvo de fofocas.

Dizia-se, por exemplo, que a matemática não lhe interessava tanto quanto ter romances com os homens que lhe ensinavam. Mas, no caso dela, a realidade superou a ficção.

Voltaire e Émilie
Quando Du Châtelet e Voltaire começaram a se relacionar, ela tinha 26 anos e ele, 38.

À época, era normal que pessoas em casamentos arranjados de famílias aristocráticas vivessem separadas e tivessem amantes, acrescenta Arianrhod, que em 2011 publicou um livro sobre Du Châtelet e outra cientista, Mary Somerville, chamado Seduzidas pela Lógica (em tradução livre).

O incomum é que a marquesa não tinha um relacionamento discreto com Voltaire, já que eles moravam juntos.

E, embora ele fosse uma celebridade, ainda era um plebeu.

Como se não bastasse o escândalo para a sociedade da época, o marido de Du Châtelet apoiou o romance dos amantes e até se tornou amigo de Voltaire.

Tanto que o marido, Voltaire e o amante citado acima, o poeta e soldado Jean François de Saint-Lambert, estavam com ela no dia de sua morte.

Madame Newton

A casa de campo para onde Du Châtelet e Voltaire se mudaram tornou-se um local de encontro para intelectuais e cientistas, além de um laboratório para diversas experiências.

A biblioteca tinha mais de 20 mil livros, mais do que muitas universidades da época, diz o texto da Sociedade Americana de Física.

Segundo a entidade, uma das contribuições mais importantes dela à ciência está ligada à conservação de energia, com base em experimentos com bolas de chumbo caindo sobre um leito de argila.
Ela mostrou que as bolas que atingiram o barro com o dobro da velocidade penetraram quatro vezes mais profundamente no barro; aquelas com três vezes a velocidade atingiram uma profundidade nove vezes maior. Isso sugeriu que a energia é proporcional ao mv², não ao mv, como Newton sugerira", explica.
Sua profunda admiração por Newton não a impediu de mostrar as limitações da teoria que ela defendia tanto publicamente e que lhe valeu o apelido "Madame Newton".

Du Châtelet e Voltaire promoveram as teorias do britânico Newton em um momento em que a comunidade científica e intelectual francesa privilegiava as ideias filosóficas do francês René Descartes.

Eles foram os primeiros a perceber que "Principia havia mudado não apenas a maneira como vemos o mundo, mas a maneira como vemos a ciência", escreveu Arianrhod em Seduzidas pela Lógica.

Com Newton, a ciência deixou de ser qualitativa e ligada a especulações metafísicas e religiosas, ganhando teorias e métodos quantitativos.
Desde então, esse estilo de física matemática teve um impacto tão impressionante na maneira como vivemos e como olhamos no universo que Newton é provavelmente o cientista mais importante de todos os tempos e Émilie era uma das primeiras estudiosas a promover ativamente sua nova maneira radical de pensar", afirma Arianrhod.
Principia abrangeu muitos dos valores do Iluminismo, e o texto final de Châtelet (que elogiava a teoria newtoniana e, ao mesmo tempo, a criticava usando as mesmas ferramentas) era como a iluminação quadrada.

É por isso que Arianrhod escreve em seu livro que du Châtelet "quebrava estereótipos sobre mulheres e matemáticos, estereótipos que duraram até as vésperas do século 21".
Em particular, mostrou que é possível ser emocional e racional, intelectual e sexy."

Clipping Émile du Châtelet, a matemática grávida que correu contra ‘sentença de morte’ para terminar seu maior legado científico, por Ana Pais, BBC News Mundo, 23/11/2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Esther Duflo ganha Nobel de Economia com trabalho sobre a pobreza

Francesa Esther Duflo foi uma das vencedoras do Nobel de Economia de 2019
— Foto: Patrick Kovarik / AFP
Franco-americana é a segunda mulher na história a ganhar o prêmio. Trabalho da pesquisadora dá enfoque econômico diferente sobre a pobreza.
A franco-americana Esther Duflo firmou-se nos últimos anos como uma das economistas mais brilhantes de sua geração. Ela é a segunda mulher na história a ganhar o Nobel de Economia, depois da americana Ellinor Ostrom em 2009, e também a mais jovem, com 46 anos.

Ela compartilhou o Nobel de Economia de 2019 com dois homens, o americano nascido na Índia Abhijit Banerjee, que é seu marido, e o americano Michael Kremer. Seus trabalhos, realizados essencialmente na Índia, concentram-se na redução da pobreza.
Estou honrada. Para ser honesta, não achei que era possível ganhar o Nobel tão nova", reagiu a economista. "O prêmio Nobel de Economia é único em comparação com outros prêmios, reflete uma mudança no campo econômico e geralmente leva muito tempo [antes que a teoria seja posta em prática]", acrescentou, ao ser questionada pela Academia.
Em sua carreira, Esther Duflo ganhou muitos prêmios, incluindo a medalha John Bates Clark em 2010, que recompensa os trabalhos de economistas nos Estados Unidos com menos de 40 anos.

Em 2013, a Casa Branca a escolheu para assessorar o presidente Barack Obama em temas de desenvolvimento. Foi ainda parte do novo Comitê para o Desenvolvimento Mundial.
Acaso e trabalho de campo
É uma intelectual francesa de centro-esquerda que acredita na redistribuição e na noção otimista de que amanhã poderá ser melhor que hoje", escreveu a New Yorker sobre ela em 2010, em uma edição dedicada a inovadores da atualidade.
Nascida em Paris em 1972, cresceu em uma família protestante, com uma mãe pediatra, muito envolvida em obras humanitárias, e um pai professor de matemática.

Graduada na Ecole Normale Supérieure e na Ecole des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS) na França, também tem um doutorado do Massachusetts Institute of Technology (MIT) nos Estados Unidos, onde é professora.

No Laboratório de Pesquisa Abdul Latif Jameel sobre Alívio à Pobreza, que ela co-fundou em 2003 e lidera, seu trabalho é baseado em experiências de campo em parceria com organizações não governamentais.

Por exemplo, "se é estabelecido um novo programa de tutoria nas escolas, são escolhidas 200 escolas ao acaso, 100 das quais o programa será estabelecido e as outras 100 não", explicou à AFP em 2010, quando recebeu a medalha John Bates Clark.

Esther Duflo é também a única mulher entre todos os vencedores do Nobel em 2019.

O avanço dos estudantes é comparado e avaliado em ambos os casos, e os resultados dessa pesquisa são encaminhados às autoridades públicas e a organizações beneficentes como a Fundação Bill e Melinda Gates para que sejam "ampliados", apontou.

'Caricaturas e clichês'

Seu livro "Repenser la pauvreté" (Repensar a pobreza), escrito em colaboração com Abhijit Banerjee, recebeu o prêmio Financial Times/Goldman Sachs ao Livro Econômico do Ano de 2011.
Nossa visão da pobreza está dominada por caricaturas e clichês", disse em uma entrevista com a AFP em 2017. "Se quisermos entender os problemas associados à pobreza, devemos ir além dessas caricaturas e entender por que o fato de ser pobre muda algumas coisas no comportamento e outras não".
Para ela, esse esforço para mudar a percepção da pobreza também precisa ser aplicado à economia e aos economistas.

Os economistas têm uma reputação muito ruim e parte dessa má reputação se justifica provavelmente pela forma como a disciplina funciona", explicou no começo de 2019 em uma entrevista ao France Inter.
Quando você é economista,as pessoas acham que você está interessado nas finanças ou que você trabalha para os ricos, mas isso não é necessariamente o caso".

Clipping Esther Duflo, de 46 anos, é a mais jovem a ganhar Nobel de Economia, 14/10/2019, G1, via APF

terça-feira, 8 de outubro de 2019

História do Outubro Rosa, a campanha de prevenção ao câncer de mama


Campanha surgiu em 1990 em Nova York (EUA)
O movimento popular internacionalmente conhecido como Outubro Rosa é comemorado em todo o mundo. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, empresas e entidades. Este movimento começou nos Estados Unidos, onde vários Estados tinham ações isoladas referente ao câncer de mama e ou mamografia no mês de outubro, posteriormente com a aprovação do Congresso Americano o mês de Outubro se tornou o mês nacional (americano) de prevenção do câncer de mama.

A história do Outubro Rosa remonta à última década do século 20, quando o laço cor-de-rosa, foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990 e, desde então, promovida anualmente na cidade (www.komen.org). 

Em 1997, entidades das cidades de Yuba e Lodi nos Estados Unidos, começaram efetivamente a comemorar e fomentar ações voltadas a prevenção do câncer de mama, denominando como Outubro Rosa. Todas ações eram e são até hoje direcionadas a conscientização da prevenção pelo diagnóstico precoce. Para sensibilizar a população inicialmente as cidades se enfeitavam com os laços rosas, principalmente nos locais públicos, depois surgiram outras ações como corridas, desfile de modas com sobreviventes (de câncer de mama), partidas de boliche e etc. (www.pink-october.org).

A ação de iluminar de rosa monumentos, prédios públicos, pontes, teatros e etc. surgiu posteriormente, e não há uma informação oficial, de como, quando e onde foi efetuada a primeira iluminação. O importante é que foi uma forma prática para que o Outubro Rosa tivesse uma expansão cada vez mais abrangente para a população e que, principalmente, pudesse ser replicada em qualquer lugar, bastando apenas adequar a iluminação já existente.

Obelisco do Ibirapuera
A popularidade do Outubro Rosa alcançou o mundo de forma bonita e elegante, motivando e unindo diversos povos em em torno de tão nobre causa. Isso faz que a iluminação em rosa assuma importante papel, pois tornou-se uma leitura visual, compreendida em qualquer lugar no mundo.

No dia 02 de outubro de 2002, houve participação brasileira na campanha do Outubro Rosa, com a iluminação em rosa do monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista (mais conhecido como o Obelisco do Ibirapuera), situado em São Paulo-SP quando da comemoração dos 70 Anos do Encerramento da Revolução Constitucionalista. Desde então, outras iniciativas do gênero se sucederam com o envolvimento de governos, organizações não-governamentais, empresas e da sociedade civil nas mais variadas iniciativas de prevenção ao câncer de mama.

Como não poderia deixar de ser, neste ano de 2019, não faltam iniciativas para a campanha do Outubro Rosa. Seguem mais informações. 


Outubro Rosa: Sesc realiza mutirão da mamografia em todo o Brasil 

Outubro Rosa 2019: mensagens e notícias importantes sobre o câncer de mama

Campanha 'Outubro Rosa' alerta sobre a importância do diagnóstico precoce

Tipos de câncer | INCA - Instituto Nacional de Câncer

Com informações de outubrorosa.org

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