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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

terça-feira, 16 de julho de 2019

Cordell Jackson: pioneira do rock que lançou seu próprio selo musical em 1956

Cordell Jackson 1
No auge de sua carreira, Cordell apareceu no programa de David Letterman e da MTV, quando ficou conhecida como “vovó do rock and roll”. Moderna desde sempre, morava em uma casa amarela, dirigia um carro amarelo e abria sua casa para passeios todo verão. Ícone na cena musical de Memphis, ela tocava rock antes mesmo do nome ‘rock and roll’ ser criado.


Sua gravadora era a mais antiga em funcionamento em Memphis na época de sua morte em 2004. Uma senhorinha de vestido, cabelo arrumado e óculos, tocando guitarra com toda a confiança de ser uma mulher fazendo exatamente o que ela queria fazer.



Fonte: Hypennes, 2018. Cordell Jackson: a primeira mulher a produzir, promover e tocar em sua própria gravadora de rock and roll

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Jessica Jones 3: por que mulheres ambiciosas e poderosas têm que acabar presas ou mortas?

Trish Walker e Jessica Jones: fim do sisromance
Jessica Jones foi uma minissérie criada pela roteirista Melissa Anne Rosenberg e produzida através de uma parceria entre a Netflix e a editora Marvel Comics. Com o fim dessa parceria, a Netflix abandonou as séries de todos os super-heróis da Marvel: Punhos de Ferro, Luke Cage, Demolidor, o Justiceiro e, por fim, Jessica Jones, a última a cair (em junho agora). Dizem que pesou, para esse abandono, o anúncio de que a Disney encerraria seu acordo de licenciamento de conteúdo com a Netflix a fim de privilegiar sua própria plataforma de streaming. Como o contrato entre a Marvel e a Netflix estabelece que os personagens da parceria só podem reaparecer nas telas dois anos após o cancelamento das séries, se acontecer de voltarem, será em 2020 e 2021, pelo Disney + e/ou o Hulu. Esperamos que possamos rever alguns desses personagens novamente, em particular os de Jessica Jones.

Enquanto isso, vamos à analise da última e melhor temporada da melhor das séries da turma da Marvel-Netflix, lançada no último dia 14 de junho. Melhor temporada no que diz respeito aos aspectos distintivos da série, o clima neo-noir, cínico e pessimista, o trabalho detetivesco, misturado com thriller psicológico, e boas cenas de ação (onde brilha a personagem de Trish Walker, versão de tela da personagem das HQ, a Felina). Também permanece uma abordagem não maniqueísta da maioria dos personagens, como nas outras temporadas, que oscilam entre ações éticas e anti-éticas, legais e ilegais, e vários autoquestionamentos de ordem moral. O tratamento dos personagens homossexuais também acerta no ponto porque não é panfletário em momento algum. A homossexualidade é, como na realidade, um detalhe da vida desses personagens e não algo positivo ou negativo em si mesmo. Aparece até representante de outro grupo minoritário, uma trans, Gillian, como secretária de Jessica, que faz uma ponta nos primeiros episódios, mas se destaca por umas tiradas bem engraçadas.

Como nada é perfeito, do lado negativo, temos erros de continuidade de alguns eventos, mas que não chegam a comprometer o conjunto da obra. Agora, complicado mesmo foi o fim da relação não homossexual mas homoafetiva, o sisromance entre Jessica Jones e sua irmã adotiva e melhor amiga Patricia (Trish) Walker. Esse relacionamento foi o eixo principal da série, ela girou em torno dele, com as personagens fazendo declarações mútuas de amor eterno, lutando uma pela outra, salvando uma e a outra de situações de perigo (lembra a Xena e a Gabrielle). As mães das duas personagens tinham até ciume dessa relação. Os fãs inclusive shipparam as duas com o nome Trishica, embora na real elas nunca tenham se tornado amantes (talvez devessem). Amantes elas sempre foram de homens (alguns bem discutíveis) em relacionamentos casuais ou temporários. Uma amostra desse sisromance pode ser vista nos vídeos abaixo das duas temporadas anteriores:



(Alerta de spoilers generalizados da segunda e terceira temporadas a partir daqui)
Jessica Jones e a mãe Alisa Jones 
Pausa para relembrar a segunda temporada

Entretanto, a relação das duas já tinha ficado abalada ao final da segunda temporada quando Trish mata a mãe de Jessica. Explicando, a segunda temporada se centrou na busca de Trish pela origem dos superpoderes de Jessica, encampada depois pela própria Jessica. Dessa busca, dois resultados decorreram:  
Jessica descobre não só o responsável pela sua superforça, Dr. Karl Malus,  como também que sua mãe, Alisa Jones, não morrera e que tinha superpoderes como ela (na verdade, era mais forte e mais colérica do que a filha). Daí decorrem vários dilemas para Jessica, durante a temporada, que oscila mais de uma vez entre entregar a mãe para a polícia ou conviver com ela, como forma de recuperar o tempo que não tiveram juntas. Já no fim da temporada, ela decide fugir com a mãe, embora perseguida pela polícia, crente de que poderia controlar os surtos de fúria de Alisa;
Trish passa a usar o inalador de seu ex-namorado da primeira temporada, Wilson Simpson, que servia para aumentar o desempenho físico e mental dos combatentes. Simpson estava usando o inalador pra ter forças para lutar contra o "monstro", na verdade a mãe de Jessica, que queria matar Trish para evitar que seguisse com as investigações sobre a IGH, organização paramilitar que fazia experimentações em soldados e pacientes graves. Quando a droga acaba, Trish sai no encalço de Karl Malus para que a operasse também de modo a conseguir superpoderes e lutar contra os bad guys da vida. Malus concorda em realizar o procedimento e prepara uma droga que tinha como um de seus componentes uma vacina contra cinomose felina, indicando que um dos componentes de sua fórmula era DNA felino.
A cirurgia é interrompida por Jessica exatamente quando Trish começa a ter convulsões e a soltar sangue pela boca na mesa cirúrgica. Jessica diz a Malus que ele estava acabado,  levando-o a explodir seu laboratório, não sem antes Jessica carregar Trish para fora do local. Jessica leva Trish para o hospital onde ela tem uma quase morte, ou um renascimento, mas se recupera o suficiente para ir matar Alisa ao ser informada que Jessica estava sendo cúmplice da fuga da mãe e que a polícia poderia matar as duas.
Com medo de perder Jessica para a mãe ou para o tiroteio da polícia, Trish se dirige para o parque de diversões Playland, em Westchester, pois sabia que aquele lugar tinha um significado especial para as Jones. Enquanto Jessica e a mãe, que decidira se entregar para a polícia a fim de  poupar a filha, conversavam num dos bancos da roda-gigante, Trish atinge Alisa na cabeça com um tiro. Chocada, Jessica pula do banco da roda-gigante, avança sobre Trish, pega seu revólver e aponta para ela, mas acaba poupando-lhe a vida porque a irmã lhe diz ter atirado para salvá-la, pois a polícia pretendia matar as duas (mãe e filha). Posteriormente elas se encontram na porta do escritório/apartamento de Jessica, Trish se desculpa pelo tiro, mas Jessica diz que não poderia ter sido ela a tomar aquela decisão. Que agora olhava para Trish e não via sua irmã mas sim a pessoa que havia matado sua mãe.
Trish se retira, secando uma lágrima dos olhos, mas, quando uma mulher sai do elevador de costas e esbarra nela derrubando seu celular, ela o ampara com o dorso do pé e fica com a impressão que talvez a cirurgia de Malus não tivesse fracassado afinal.
Resumo da terceira temporada

Trish Walker é baseada na personagem Felina das HQ
Na terceira temporada, vamos ver a evolução da personagem de Trish Walker que de fato desenvolveu poderes em decorrência da cirurgia feita com Malus. Na continuidade da cena em que apoia o celular com o dorso do pé, ela sai do elevador para a rua e, embora seja noite, vê tudo claro (gatos enxergam no escuro, não?). Daí por diante vemos Trish passar um ano aperfeiçoando suas habilidades felinas e adquirindo força e habilidade suficientes para pular de qualquer altura e cair sempre em pé (como um gato) e dar surras memoráveis em qualquer marmanjo (a personagem é inspirada na Felina das histórias em quadrinhos). Fora arranhar também, como faz no rosto do vilão dessa temporada, o serial killer Gregory Sallinger . O que não consegue é reatar com Jessica, pelo menos nos primeiros episódios, o que a deixa triste por não poder compartilhar sua experiência de iniciante no combate aos bandidos de Nova York.



Jessica fica logo sabendo das novas habilidades da amiga, pois a mãe de Trish, Dorothy, contrata a detetive para que encontre a filha, desaparecida havia dois dias. Ao investigar o paradeiro de Trish, Jessica a encontra invadindo o apartamento de um sujeito que investigava e depois saindo do local pela janela. Quando se falam sobre a novidade, Trish diz a Jessica que, se respondesse seus e-mails e chamadas, teria sabido antes. As duas trocam ainda outras palavras amargas e ásperas antes de se separar.

Do lado de Jessica, fora ter arrumado uma secretária, para agendar sua crescente popularidade como detetive super-heroína, tudo continua o mesmo. Permanece enchendo a cara e pegando desconhecidos em bares para levar pra cama. Nesta temporada, este último mau hábito vai lhe custar um baço e um grande amor. Erik, o cara que Jessica pega num bar e leva pra casa é um chantagista de criminosos. Um desses criminosos não aceita a chantagem e decide matar seu chantageador, seguindo Erik até o apartamento de Jessica. Quando a ficada ia se desenrolar, a campainha toca duas vezes, Jessica vai atender e é esfaqueada no baço no lugar de Erik. 

Por ser especialmente forte, Jessica sobrevive à facada, mas mal se recupera e já quer descobrir quem tinha sido seu atacante. A princípio pensa que fora o cara que Trish estava espionando quando a procurou, depois se dá conta que de fato o alvo do ataque tinha sido o boy que levara pra casa. Pressiona-o, ele revela que chantageava criminosos, de fato gente que ele sentia que era má, pois tinha o poder de perceber o lado dark das pessoas. Jessica vai então investigar as pessoas que ele tinha chantageado e chega, enfim, ao apartamento do esfaqueador, Gregory Sallinger, um sujeito de múltiplas formações (advogado, engenheiro, psicólogo, químico) e serial killer.

Gregory Sallinger, o serial killer
Para enfrentá-lo, Jessica decide pedir ajuda à Trish, embora se convença de que não como parceira, mas sim como arma secreta. Obviamente, Trish aceita, e elas começam uma luta de gato e rato contra o criminoso, onde quem perde no final é a gata (em duplo sentido). Após Jessica provocar o assassino, humilhando-o em uma aula de luta greco-romana, Sallinger decide retaliar e tortura e mata a mãe de Trish. Entretanto, quando Trish vai a seu encalço e esta prestes a matá-lo, Jessica aparece para impedi-la com o papo furado de que, se matasse Sallinger, Trish viraria a vilã da história. Dessa infausta decisão, decorre uma verdadeira tragicomédia de erros que leva as duas supers a terem que infringir a lei e até matar pessoas para impedir que uma e a outra fossem presas. Entre muitas peripécias, consumida pela dor e pela raiva, Trish vai ficando cada vez mais violenta contra os vilões com quem se depara, inclusive espancando e matando alguns, culminando na merecida morte de Sallinger. Jessica conclui que a irmã estava fora de si e decide entregá-la à polícia, como já fizera com a mãe na temporada dois. Trish tenta fugir de Nova York, mas Jessica a intercepta e a envia para a terrível Balsa (The Raft), a prisão de segurança máxima dos supercriminosos.

Trish Walker e Daenarys Targaryen: se muito poderosas, melhor enlouquecê-las
Análise da terceira temporada
Trish, vilã ou vítima? Ou do por que mulheres ambiciosas e poderosas têm que acabar presas ou mortas?

Maratonei a terceira temporada de Jessica Jones e nos últimos episódios fiquei dividida entre torcer para Trish escapar e me identificar com as razões de Jessica para querer detê-la. Fiquei tentando racionalizar toda a situação, mas o fato é que meu coração não engoliu a história. A produtora Melissa Rosenberg disse que começara a terceira temporada prevendo ainda uma quarta, mas que, no meio da  produção, ficou sabendo que a Netflix estava cancelando as séries da Marvel e que Jessica Jones seguiria as demais. Então, procurou chegar, em suas palavras, a um final satisfatório, a uma conclusão que sentisse como certa. Tenho a impressão de que o final da série só foi satisfatório para ela, não para os fãs, boa parte enlutada não só com o fim da Trishica como com o destino de Trish.

Verdade que o destino de Trish não foi tão improvável quanto o de Daenarys Targaryen em Game of Thrones. No caso da mãe dos dragões, a mudança da personagem de mocinha para vilã foi  abrupta, contrariando tudo que havia demonstrado numa série de 8 temporadas. Os showrunners disseram que os fãs é que não conseguiram ver os indícios do lado sombrio de Daenarys apresentados ao longo dos anos, mas o fato é que só convenceram a poucos. Daenarys sempre fora seguramente ambiciosa  e implacável com os inimigos, mas, ao mesmo tempo, solidária e compassiva com os desvalidos e inocentes. Da noite para o dia, transformaram uma personagem que se destacara como abolicionista, acabando com a escravidão em toda uma região, numa genocida que, a bordo de seu dragão, queimou uma cidade inteira, população civil, crianças, um monte de gente inocente. Tudo porque, em função das seguidas perdas que tivera recentemente, perdera também o juízo e o caráter e mudara da água para o vinho. A verdade é que, para justificar seu assassinato, era necessário vilanizá-la ao extremo. O fim de GoT, aliás, foi patético e risível em muitos termos.

No caso de Trish, sua virada de mocinha para "malvadona" não foi tão inverossímil quanto a de Daenarys, mas também nada satisfatória. Trish já demonstrara, na segunda temporada, que, para conseguir seus objetivos, podia ser meio ardilosa e seguir a máxima de que os fins justificam os meios. Inclusive em relação a si própria, já que quase morre, ao se colocar como cobaia do Dr. Malus, a fim de adquirir superpoderes. Fora ter matado a mãe de Jessica, embora Alisa tivesse intenção de assassiná-la desde o começo da segunda temporada e tivesse quase chegado às vias de fato quando Trish estava no hospital, sendo impedida por pouco pela filha. Trish tinha razões concretas para matar Alisa, mas a disputa pelo afeto de Jessica foi a principal razão do tiro. De qualquer forma, há que se salientar que ambiguidade moral sempre foi a regra no caráter de todos os personagens da série.

No caso de Trish, talvez o que tenha lhe faltado foi um pouco do ceticismo de Jessica quanto ao ser humano, e ela visse as coisas realmente muito só na base do bem versus o mal, onde claro, ela sempre estava do lado do bem. Apesar dessa mentalidade um tanto maniqueísta, Trish simplesmente assumiu o figurino comum aos super-heróis de sair dando umas porradas nuns meliantes, deixando os finalmentes para a polícia e os juízes. Mesmo após a morte da mãe, a qual não pode dar resposta imediata, o que fraturou algo em seu âmago, ainda manteve sua ira, embora incontida, estritamente contra os bad guys. Nenhum inocente morreu por suas mãos. Daí a rotulação da personagem como vilã no final da série ter sido exagerada e sua punição tão desproporcional.

Trish Walker/Felina
Trish, uma luta pela autodeterminação entre uma mãe abusiva e uma irmã prepotente

Na verdade, após rever a série, cheguei à conclusão de que Trish esteve muito mais para vítima do que para vilã da história, o que pode soar controverso para algumas pessoas. Em duas frases emblemáticas de sua saga existencial, Trish diz ao Dr. Malus, quando ele a alerta  sobre os riscos de fazer a cirurgia para adquirir superpoderes:
 Você sabe o que é se sentir impotente?”  
- Todo o mundo sabe” - ele responde.
- Nem todo o mundo teve uma mãe abusiva e uma irmã superpoderosa. Só quero ajudar pessoas que não podem se ajudar.”
De fato, a mãe de Trish, Dorothy Walker, viu no talento e na beleza da filha a possibilidade de sair da pobreza, comercializando-a desde pequena, emplacando-a num bem-sucedido programa infantil de TV, que intitulou de "É Patsy", e cafetinando-a, ao chegar à adolescência, para conseguir pontas em filmes e alavancar sua carreira como cantora. A intensa pressão exercida pela mãe levou a garota às drogas e a clínicas de reabilitação, a estas com ajuda da irmã adotiva Jessica Jones. Posteriormente, adotou o nome de Trish Walker e se tornou âncora de um também famoso programa de rádio.

Por sua vez, Jessica foi adotada por Dorothy, depois do acidente que matou sua família, mais para ficar bem aos olhos do público do que por qualquer preocupação real com a adolescente. Mal sabia ela que essa adoção criaria uma forte relação de amizade entre sua filha e a adotada e a levaria a uma morte trágica ao fim da temporada três que, ironicamente, a redimiu um pouco diante dos telespectadores. Nas palavras da própria Jessica, Dorothy foi a primeira vilã que teve que combater, para proteger a irmã, numa série de outros vilões, com Trish sempre no papel de "donzela em perigo" a ser salva pela super-heroína.

Vale enfatizar que essa situação desagradava Trish que, mesmo sem poderes, tentava uma relação mais igualitária com Jessica, buscando participar de suas investigações desde a primeira temporada, tornando-se exímia lutadora de Krav Maga inclusive. Após a conquista de seus superpoderes, quando as duas reatam para combater o assassino em série Gregory Sallinger, como Jessica continuasse a tratá-la de forma vertical, Trish critica com todas as letras a forma de tratamento desigual que recebia. E, de fato, nessa terceira temporada é Trish que efetivamente salva Jessica de uma armadilha mortal, criada por Sallinger, num tanque, em uma ferrovia, onde o assassino guardava pedaços dos corpos de suas vítimas. A relação das duas distensiona um pouco depois deste evento, mas se percebe a dificuldade que Jessica tem de lidar com uma Trish quase tão poderosa quanto ela. Por ser mais experiente como detetive, Jessica impõe sua vontade no desenrolar do caso contra Sallinger e sobre as ações de Trish (como se fosse possível botar cabresto em gato), cometendo erros que iniciarão uma cadeia de eventos incontrolável.

Erik Gelden, o boy que Jessica pega no bar e lhe dá de presente um serial killer
Pra começar foi Jessica que colocou o serial killer no caminho de Trish e de sua mãe. Vejamos:
Primeiro, com seu péssimo hábito de levar homens desconhecidos pra casa, trouxe um chantagista de criminosos, Erik, pra namorar, e o bandido que ele chanteagava pra soleira de sua porta. E o bandido era um serial killer.
Segundo, chama Trish, por quem ainda tinha sérias mágoas, para usá-la como sua arma secreta contra Sallinger porque ele era superqualificado, e ela não dava conta dele sozinha. Vale ressaltar que Trish teria ficado apenas como mais uma heroína de Hell's Kitchen, pegando alguns bandidos pra entregar à polícia, se não fosse esse infausto convite. 
Terceiro, após salvar Erik, junto com Trish, que fora sequestrado por Sallinger, Jessica tenta convencer o boy a testemunhar contra o assassino. Como Erik também era chantagista, Jessica diz que conseguiria que ele ficasse preso por um ano, no máximo, se testemunhasse. O cara diz que não poderia testemunhar porque, com seu poder de detectar os maus, o que lhe causava  intensas dores de cabeça, iria morrer de dor rodeado de criminosos na cadeia. Trish sensatamente pondera que ele ficaria na solitária e poderia partir para a condicional, em pouco tempo, mas o mané não aceita, e Jessica o paternaliza.  Trish diz então que ela não viesse mais lhe dar sermões sobre o que estava em jogo naquela situação. E o serial killer sai da cadeia.


Quarto, após descobrir o corpo da primeira vítima de Sallinger, em sua terra natal, Jessica o reencontra num centro comunitário, de volta a Nova York, onde ensinava luta greco-romana. Jessica luta com ele e o humilha, ainda por cima  perguntando se tinha sido com golpes como aquele, utilizados contra ela, que ele tinha assassinado Nathan Silva, sua primeira vítima. Sallinger naturalmente resolve retaliar a arrogância de Jessica logo depois, enviando-lhe falsas dicas de mulheres que supostamente iria matar (parecidas com ela) como manobra diversionista. Enquanto ela e Trish buscam os supostos alvos, Sallinger  engana a polícia que guardava seu apartamento e sai para matar a mãe de Trish, também mãe adotiva de Jessica. Jessica depois lamenta a insensatez de ter se vangloriado para cima de um assassino em série, mas já era tarde.

Quinto, quando Trish vai visitar a mãe e a encontra morta, toda esfaqueada, com sinais de tortura, naturalmente fica transtornada e parte para matar Sallinger. Invade seu apartamento, tira a máscara, pra que ele visse quem iria matá-lo, inicia uma luta com ele, rasga-lhe o rosto com as unhas, mas, quando estava prestes a dar o golpe final, Jessica aparece pra impedi-la com a ladainha moralista e absurda de que se o matasse ela se tornaria vilã como ele. Não convence e tem que nocautear Trish para poder tirá-la da cena, pois já se podia ouvir a polícia chegando.
Obviamente, se Trish havia chegado até ali, Sallinger tinha visto seu rosto, e, como Jessica sabia, o apartamento tinha câmeras, o mais lógico era tê-la deixado terminar o serviço. Àquelas alturas do campeonato, com a mãe de Trish, o cara já tinha matado nove pessoas (as vítimas conhecidas ao menos), escapado da cadeia e enganado os policiais que o guardavam para ir matar Dorothy. Ao deixar Trish matá-lo, Jessica impediria que ele a identificasse, daria um fecho emocional para a filha chocada e enlutada, e eliminaria um assassino perigoso das ruas. Depois, era voltar ao apartamento para procurar as câmaras escondidas e destruir imagens onde Trish pudesse estar (aliás, ela faz isso no penúltimo episódio). Mas era preciso garantir a sobrevida do vilão até o fim da série e cozinhar a filha de uma de suas vítimas em banho maria, não é mesmo?


Efeito bola de neve


A partir deste ponto a trama adquire efeito bola de neve, com os erros de Jessica se avolumando a cada momento. Com Sallinger vivo,  ainda no hospital, ele vai chantagear Jessica, com a imagem de Trish tentando matá-lo (as câmaras do apartamento flagaram a luta), dizendo que manteria a identidade da Felina em segredo se Jessica o livrasse da cadeia eliminando as provas de seu crime no corpo de Nathan Silva (lembrando ter sido a gênia Jessica que lhe falara sobre essa vítima). Jessica vai então destruir as provas no necrotério da polícia, ao qual tem acesso via um policial corrupto vítima das chantagens de Erik. Depois conta à Trish, escondida num quarto de hotel, o que fizera, e a gata entra em desespero, dizendo:
Você acabou de destruir minha única vitória numa longa e dolorosa lista de perdas".
Jessica responde que teve que decidir entre destruir Sallinger ou salvá-la e que decidiu salvá-la como fazia todo o dia. Se assim fosse, não teria impedido que Trish matasse o desgraçado, não é mesmo?. Ela, Jessica, não tinha matado Kilgrave, o supervilão da primeira temporada? A verdade é que Jessica, heroína à revelia para quase tudo, parecia ter fixação em bancar a heroína da irmã, sempre colocada no papel da donzela em perigo, como já comentado, e de hipossuficiente. Numa situação dessa magnitude, para o bem ou para o mal, quem tinha que tomar decisões era Trish, que estava inclusive conformada em ir para cadeia desde que Sallinger fosse preso. O paternalismo muitas vezes se disfarça de bondade quando, na verdade, visa dominar e desempoderar.

O paternalismo muitas vezes se disfarça de bondade mas visa desempoderar

⤶ Ponto de inflexão do roteiro (resumo dos episódios finais)

A partir daqui, a história tem seu ponto de inflexão, enquanto o efeito bola de neve só aumenta, porque Trish, embora mantenha as aparências com Jessica nos preparativos para o funeral da mãe, vai seguir seu próprio caminho, sua própria forma de lidar com a dor da perda de Dorothy naquelas trágicas circunstâncias. A Felina passa a se sobrepor à Trish radialista, âncora de shows. De cara, vai visitar Sallinger, no hospital, pra dizer que ele tinha feito acordo com Jessica e não com ela e que não viveria pra sempre cercado de guardas. Sallinger revida falando da foto que tirou da mãe de Trish sob tortura deixada num álbum de fotos no apartamento da vítima. Trish resgata a foto só pra agravar sua ferida emocional e decide que precisa partir pra cima dos vilões da cidade, como forma de purgar seu sofrimento e pagar sua dívida com a mãe.

Procura Erik para tal, já que o chantagista conhecia muitos vilões e queria melhorar sua imagem com ela, pois não quisera denunciar o serial killer por seu sequestro. De quebra, estava ameaçado pelo policial Nussbaumer que permitira o acesso de Jessica ao necrotério da polícia, então viu na proposta de Trish uma boa forma de se livrar do incômodo. A ideia era apenas  Trish obrigar o corrupto a confessar seus crimes, através de algumas porradas, enquanto Erik o filmava. Foi o que aconteceu como também, acidentalmente, a morte do policial, causada por Trish quando lhe dá um pontapé nas costas, ele bate a cabeça na parede e morre. A Felina pega o distintivo do policial e eles fogem.

Na continuidade do efeito bola de neve, Jessica vai ser acusada pela morte do policial, pois tinha sido vista discutindo com ele quando fora chantageá-lo para conseguir acesso ao necrotério da polícia. Enquanto Jessica é presa, Erik e Trish decidem atacar outro vilão e ligá-lo ao caso do policial de modo a inocentar Jessica. O escolhido foi o empreiteiro Jace Montero que já promovera incêndios criminosos, com dezenas de vítimas, em prédios que depois adquirira. Trish invade seu escritório, no trailer em uma das obras que realiza, acusa-o dos vários crimes cometidos, ele a ataca com um cano, ela revida e acaba por matá-lo de pancada, vendo, em seu rosto, o rosto de Sallinger, como já acontecera quando batera no policial corrupto. A diferença é que a morte do policial fora acidental, aqui a morte do empreiteiro se deu porque Trish perdeu o senso de medida. De qualquer forma, deixa o distintivo do policial no colo de Montero e foge com Erik. Jessica é liberada da cadeia porque, quando o empreiteiro fora morto, estava presa, o distintivo do policial estava junto ao corpo, e a justiceira mascarada tinha sido vista nas redondezas do crime.



Como a bola de neve não para de crescer, a advogada Jeri Hogarth, que descobrira a identidade da justiceira mascarada, vai até o apartamento de Trish chantageá-la em troca de um favorzinho, dar um jeito em Demetri Patseras, sócio da fundação de uma amante de Jeri, Kith Lyonne, que o sujeito ameaçava com um processo. Trish se vê obrigada a engolir esse sapo, embora alerte Hogarth de que ela costumava realmente ir atrás dos vilões e das vilãs.

Por outro lado, Jessica volta para a casa e encontra Erik que lhe conta sobre o acontecido com Trish e de que ela já estava atrás de outro vilão. Não precisou muito para Jessica deduzir que Trish ia atrás de Sallinger no hospital e que precisava colocar o assassino na cadeia de qualquer forma, novamente para salvar a irmã. Jessica chega ao hospital a tempo de evitar a morte de  Sallinger, com Trish em seus calcanhares, depois vai com ele para seu apartamento (dele), onde destrói uma das câmaras que flagara a Felina em ação. Sob suas ordens, Erik e Malcom, com uma arma de choque, conseguem desacordar Trish, que espiava Sallinger no teto de um prédio em frente ao do criminos  e a levam para seu apartamento, onde fica acorrentada a uma coluna.

Nesse ínterim, Jessica arma para Sallinger, em seu escritório, levando-o a crer que a havia dopado e dominado, permitindo que ele inicie seu ritual de tortura, levando-o a confessar seus crimes, tudo para registro da câmara de Erik. Em seguida, o derruba e o imobiliza. Depois, vai com Erik para o apartamento do serial, faz uma limpa geral, incluindo as câmeras e o servidor onde poderiam estar imagens de Trish. Segue, então até Trish, informa que Sallinger havia sido preso pra sempre, que o segredo dela estava a salvo e que ela poderia voltar à rotina normal, apesar dos tantos pesares.

Embora ainda irada, Trish parece se conformar com a solução até que, de volta ao seu novo programa sobre roupas, uma colega de trabalho a abraça, diz o quanto sentia o que tinha acontecido e de como estava furiosa, apesar de Sallinger ter sido preso. Lamenta não haver pena de morte em Nova York, que Sallinger usaria o sistema a seu favor  porque era esperto (advogado) e indaga por que o serial killer não tinha sido morto num tiroteio. Foi como tentar apagar incêndio com gasolina. Trish vai atrás de Sallinger outra vez e, numa das melhores cenas da série, mata-o quando  era levado para julgamento. (Vale lembrar que Sallinger era defendido por Jeri Hogarth que costumava, no mínimo, aliviar para seus clientes).



Resumo do último episódio

Após a morte de Sallinger, Jessica fica dividida sobre o que fazer, embora as pressões para que entregue Trish à polícia venham de todos os lados. E a série está tão determinada a mandar Trish para a temida prisão de segurança máxima dos supercriminosos, a Balsa, onde se ficava na solitária em tempo integral, que apela até para uma visita de Luke Cage a Jessica para convencê-la a tomar essa decisão absurda. Ex-ficante de Jessica na primeira temporada, Cage que virara dono do Harlem's Paradise no final de sua série, clube onde também celebrava com contraventores, tinha mandado seu meio-irmão, bandidão de primeira categoria, para a Balsa e veio aconselhar Jessica a fazer o mesmo com Trish. Tinha sido duro, blá-blá-blá, mas necessário.

Apesar do ridículo da coisa, pois Trish tinha virado justiceira de vilões e não vilã, parece que convence Jessica (nada como um homem pra lhe dizer o que fazer) que começa a buscar Trish, encontra-a em seu apartamento, pede que ela se entregue, o que ela não aceita naturalmente. Engana Jessica e foge pela janela do banheiro. Se esconde em um dos edifícios de Jace Montero, liga para Jeri Hogarth sobre o acordo que tinham combinado e o favor que ela lhe pedira. Jeri, interessada em impressionar a amante,  dá-lhe o endereço de Demetri Patseras dizendo que ele era um monstro e não apenas um sonegador de impostos e um incômodo, e Trish vai atrás dele, espancando-o para que confesse seus crimes reais e imaginários. A filha do cara aparece, ele pede pra Trish não feri-la, ela diz que jamais o faria e foge.

Jessica convence Jeri Hogarth a ser isca para pegar Trish. Hogarth dá entrevista na TV dizendo que seu escritório tinha descoberto a identidade da justiceira e que sua prisão era iminente. Hogarth espera por Trish, mas quem aparece primeiro é sua amante, Kith Lyonne, que lhe diz que deveria estar horrorizada com a situação de Demetri Patseras, em situação crítica no hospital, mas de fato se sentia aliviada porque ele retirara o processo contra ela. Nessa hora, Trish aparece, diz "de nada", e se encaminha na direção de Hogarth, apontando que elas tinham um acordo que ela descumprira. Jessica aparece e joga Trish para o alto enquanto pede para Hogarth ligar para a polícia. Trish consegue escapar de Jessica e faz a amante de Hogarth de refém. Hogarth pega uma arma e aponta para Trish, dizendo para soltar sua namorada, que sairia dali como sua refém e conseguiria tirá-la do país. Até atira na perna de Jessica, de raspão, para possibilitar a fuga de Trish. Jessica joga a identidade de Trish na Internet. Hogarth consegue que Trish seja transportada num caixão, equipado com oxigênio para poder sobreviver a viagem, no avião de  um sujeito que exportava caixões para zonas de guerra. Jessica consegue localizar o aeroporto, mas quando está para abrir a tampa do caixão, Trish a empurra e foge para uma passagem do hangar, quebra a luz do corredor, pois enxergava no escuro, e golpeia Jessica que, no entanto, consegue jogá-la para fora desse espaço e parte para cima dela. Trish diz o óbvio:
Por que não me deixa simplesmente partir?
Jessica começa com uma baboseira sobre ter pensado que Trish havia assumido a persona atual - uma justiceira? - pelo que Sallinger tinha feito com ela, como efeito colateral de seus poderes, mas que de fato o que havia se tornado sempre tinha estado presente, que tinha visto esse seu lado quando matara sua mãe, que fora Dorothy que tinha incutido nela aquela determinação moralmente superior e hipócrita. Que ela pensava estar vingando sua mãe, mas que de fato havia se tornado como ela (Dorothy havia sido justiceira?). Jessica encurrala Trish que reage com uma faca, mas acaba derrotada por Jessica. Numa outra cena, Trish, já na cadeia, ouve as acusações contra ela e se assume como  a vilã que nunca foi. Jessica e ela ainda trocam um olhar quando Trish é levada para a Balsa (eu levantaria o dedo do meio pra ela). Depois, Jessica aparentemente larga tudo e se encaminha para pegar um trem a fim de sair de Nova York, mas acaba mudando de ideia.

A Justiceira (poster)
Justiceiros não são heróis nem vilões e de como as aparências enganam

Jessica Jones foi vendida como série feminista por ter uma protagonista, pelos temas apresentados e sobretudo pela relação de amizade entre Jessica e Trish (um sisromance), eixo principal das duas primeiras temporadas. Mas terminou como o oposto de tudo isso, numa relação tóxica entre as amigas que acabou encarcerando exatamente a personagem que lutava pela autodeterminação - nada mais feminista - que sempre lhe fora negada. Terminou também pintando como mocinha a responsável por toda a situação que levou à ruína da amiga enquanto hipocritamente dizia salvá-la.

Em múltiplos sentidos, o correto seria Jessica ter deixado Trish ir embora, por tudo que haviam sido uma para a outra, por ter sido ela Jesssica a colocar o assassino em série na vida de Trish, por Trish ter salvado sua vida da armadilha letal que lhe armara Sallinger, por ter sido sua arrogância (a de Jessica) a levá-lo a assassinar Dorothy, por não ter forçado Erik a depor contra o criminoso, e por ter impedido que Trish matasse o sujeito como devido com a desculpa esfarrapada de que, se o fizesse, ela viraria vilã. Logo ela Jessica que matara não só o vilão da primeira temporada, como outras duas pessoas, incluindo uma mulher inocente (sob comando de Kilgrave), mas continuara do lado dos mocinhos. Logo ela que até fugira com a mãe, imensamente mais perigosa do que Trish, só porque queria recuperar o tempo que não tinham tido juntas.

Quando Jessica encontrou a mãe, Alisa, na segunda temporada, esta já contabilizava seis mortes nas costas, algumas acidentais, outras premeditadas, incluindo mortes de inocentes. Alisa não matava os vilões da vida, matava qualquer um que estivesse em seu caminho, e não tinha maiores problemas em matar. Com sua força descomunal, bem maior do que a de Jessica, era candidata perfeita a passar o resto de seus dias na Balsa. Entretanto, Jessica, mesmo quando a coloca na cadeia pela primeira vez, barganha para que fosse mantida numa prisão comum, apesar dos riscos, e não levada para a Balsa. Assim poderia visitá-la. Quando a mãe foge da cadeia e a rapta, decide, contra a lei e a ordem,  não só ajudá-la a fugir como resolve fugir junto com ela, uma temeridade já que não poderia estar com Alisa em tempo integral, e ela poderia surtar a qualquer momento e matar mais um monte de gente.

Então por que não deixar Trish simplesmente partir, ela que nunca havia matado ninguém inocente, só vilões, e que não era tão poderosa e perigosa que precisasse ser enviada para a Balsa? Por que não deixar que os próprios erros de Trish a condenassem no decorrer de sua vida que não seria, aliás, nada fácil mesmo escapando? Conviver com Trish, na mesma cidade, sabendo que ela continuaria sua saga justiceira contra os criminosos ficaria realmente impossível para Jessica porque a colocaria como cúmplice da Felina, já que sabia de sua real identidade. Dar-lhe a alternativa de se evadir para evitar a prisão, contudo, permitiria que Jessica lavasse as mãos sobre seu destino. Entretanto, ao que tudo indica, Jessica não suportava mesmo era a independência que Trish resolvera ter dela - causada inclusive por Jessica ter vetado o agenciamento da amiga na punição do assassino de sua mãe. Quando Trish procura Erik pela primeira vez pra obter o perfil de criminosos a quem trazer à justiça, essa necessidade de independência já estava lançada. Ele lhe sugere o policial corrupto Nussbaumer a ser abordado, mas diz que vai junto com ela porque, se algo lhe acontecesse, Jessica lhe arrebentaria a cara. Trish responde que Jessica não era sua mãe e que precisava fazer algo bom que se contrapusesse a toda a atrocidade vivida e só ela pudesse fazer.

Em um dos entreveros que as duas têm, já no último episódio da terceira temporada, Trish diz a Jessica que ela, Trish, não era mais seu problema, e Jessica responde que ela sempre seria seu problema. Pareceu papo de homem que não suporta o fim da relação e decide matar a mulher. Por que Trish seria sempre seu problema? Por que Jessica se considerava responsável pelos atos de Trish (?), e ela poderia futuramente matar alguém inocente? Mas como Jessica não teve o mesmo raciocínio em relação a mamãezinha que já havia matado vários inocentes? O supervilão Kilgrave acabou sendo um problema de Jessica realmente porque ela se tornou a única a ter imunidade contra seu poder mental e, portanto, a única capaz de detê-lo. No caso de Alisa, segundo a própria, Jessica era a única que conseguia acalmá-la, durante os surtos de raiva, e trazê-la de volta à realidade, impedindo-a de detonar deus e todo o mundo. Mas, no caso de Trish, por que ela haveria de ser seu eterno problema? Erik e Malcom tinham conseguido se aproximar de Trish sorrateiramente e derrubá-la com uma simples arma de choque. Imagine se policiais treinados não teriam condições de detê-la numa armadilha? Então, Jessica afirma que Trish sempre seria seu problema porque só ela Jessica se via como sua solução? A eterna salvadora de uma suposta donzela que agora não se via mais em perigo, que não se sentia mais impotente, que agora se sabia forte e autossuficiente?

Trish Walker
Trish não era mais problema de Jessica, era problema dela própria. Formatada pela mãe para ser uma celebridade, padrão de beleza (loura, olhos verdes, bonita, gostosa, malhada), situação financeira confortável, inúmeros fãs, queria, no entanto, algo mais significativo do que viver sob os holofotes do mundo midiático. Queria ter superpoderes para lutar contra os bandidos da vida e ajudar quem como ela sabia o que era se sentir impotente. Arriscou a própria vida para conseguir esses superpoderes. Conseguiu, mas deveria ter trilhado carreira solo, aprendendo com os erros e acertos, ou ir pedir assessoria a outros heróis do mundo da Marvel de sua cidade, que inclusive conhecera nos Defensores, como o Demolidor ou a namorada do chatíssimo Punho de Ferro, Colleen Wing, que ganhara também punho próprio e podia lhe ensinar kung fu (pra matar com menos sangue ao menos😉) e controle mental. Só especulando aqui.



Mas não, tinha que reatar o eterno caso mal resolvido com a irmã/amiga (sei) com quem sempre quis parceria, mais ainda depois da aquisição dos superpoderes. Deu no que deu. A morte brutal de sua mãe, a qual não pode dar resposta imediata porque Jessica decidiu por ela o que fazer, a transtornou (a quem não transtornaria?), transformando-a progressivamente de aprendiz de heroína em aprendiz de justiceira implacável, a exemplo de seu colega também da Marvel, Frank Castle, o Justiceiro (The Punisher). Como Trish que perdeu a mãe para um sádico, Castle, um soldado altamente treinado, teve toda sua família morta por uma trama mafiosa e, a partir daí, fora matar quem matara sua mulher e filhos, passou a matar todo o bandido que encontrava pela frente. A diferença com Trish é que Castle, à parte o número de mortes obviamente, no caso dele incontáveis, depois de aparição e prisão na série Demolidor, ganhou mais duas temporadas de série própria para sair detonando a sempre renovada bandidagem. Vemos que, mesmo no universo dos "vigilantes" da ficção, ainda não há igualdade entre mulheres e homens.




Outra diferença entre a aprendiz de justiceira Trish e Castle, essa fundamental, é que Castle é um homem independente, apesar de atormentado pela morte da família, que não tem caso mal resolvido com ninguém, dependência emocional de ninguém, não sente necessidade de provar nada a ninguém e não aceita que lhe imponham a pecha de vilão, embora possa ser rotulado como anti-herói. Daí ter escapado da prisão, ganhado nova identidade enquanto Trish pode ter sido enterrada viva por aquela que sempre disse querer lhe salvar e que, no fim, apenas lhe impôs de novo sua visão. Trish deixou de ser heroína, porque passou a fazer justiça com as próprias mãos, mas não caiu na categoria de vilã e sim de vigilante (na acepção inglesa da palavra). Heróis trabalham com as autoridades no combate ao crime. Os justiceiros combatem o crime por conta própria, usando de métodos às vezes tão brutais quanto os dos bandidos. Uma conversa entre o Demolidor (Matt Murdock) e o Justiceiro (Frank Castle) exemplifica as duas maneiras de pensar. Sendo o Demolidor o típico herói que trabalha contra o crime, mas não executa os bandidos,  dá sermão em Castle sobre as vidas que  tirava, impedindo-as de ser redimidas, e ele retruca: "Você se acha herói porque põe os bandidos na cadeia que daqui a pouco a 'justiça' coloca de volta nas ruas. Eu os ponho no chão, e eles nunca mais levantam". Não faltou, aliás, quem visse no antagonismo forçado que se estabelece entre Trish e Jessica uma versão fajuta do antagonismo entre o Demolidor e o Justiceiro.
Justiceiro e Demolidor: duas visões sobre como tratar os vilões

O fato é que a fronteira entre o bem e o mal, a justiça e a vingança, o justo e o injusto, a condenação pelo Estado (nem sempre justa) ou pelo indivíduo, não é tão nítida como pode parecer. Se os justiceiros se equilibram na corda bamba esticada sobre essa fronteira, os heróis não raro são forçados a romper esse maniqueísmo também. Os exemplos de heróis que mataram bandidos encheriam as páginas de um livro volumoso. Matar um bandido extremamente perigoso não faz de ninguém necessariamente um vilão ou uma vilã. Jessica teve que matar Kilgrave e não virou vilã por isso (matou outras duas pessoas também, incluindo uma mulher inocente à revelia). Trish poderia ter matado Sallinger e não teria se tornado vilã por isso.  Jessica condenou Trish por ter matado a mãe dela, Alisa, sob o argumento de que não cabia a Trish ter tomado uma decisão daquelas, não podia ter sido ela a fazê-lo. Jessica estava certa, mas esqueceu de seu próprio argumento quando decidiu, por Trish, o que fazer naquela situação limite que envolveu a trágica morte de Dorothy.

Dorothy Walker
No fim das contas, a relação de sororidade entre as irmãs adotivas, tão decantada como feminista, revelou-se um engodo, e a abusiva mãe de Trish, Dorothy, acabou, no fim das contas, se saindo melhor na fita da série do que Jessica. Se Trish não tivesse atendido ao chamado de Jessica para enfrentar o serial killer e sua mãe viesse a saber de seus superpoderes, como aliás ocorreu numa das poucas cenas divertidas da terceira temporada (ver vídeo abaixo), iria com certeza tentar capitalizar o novo talento da filha (já estava querendo), mas ambas estariam vivas e bem, com Trish apenas tentando estabelecer limites para a sua "velha". Aliás, num aparte, a terceira temporada ameniza um pouco a imagem  da tão complicada mãe de Trish, descrita de forma bem negativa, principalmente na primeira temporada. Durante seu velório, que estava lotado de gente (e até mesmo antes dele), várias pessoas se dirigiram a Trish e até a Jessica pra falar o quanto Dorothy havia lhes ajudado em suas carreiras, com dicas certeiras de que como crescer no show business. Apesar de seus defeitos, Dorothy era uma alavancadora de talentos, talentos que considerava um dom a não ser desperdiçado, e perseguidora incansável desse ideal.



Enfim, sou consequencialista, e meço a validade das ideias, posicionamentos e ações dos outros (e as minhas também) por suas consequências. Foi o que procurei demonstrar aqui para questionar a protagonista da série como a mocinha que fez o maior dos sacrifícios ao enviar a irmã "amada" pra a cadeia em prol do bem maior. Como visto, quais foram as consequências dos posicionamentos de Jessica nessa terceira temporada? Todas negativas. Quando conseguiu arrumar um pouco a casa, já era tarde. Seu pior erro, repetindo mais uma vez, foi ter impedido Trish de fazer justiça contra o serial killer, logo após a morte de Dorothy, sob a desculpa de que, se o fizesse, ela se tornaria   vilã também. As consequências dessa decisão resultaram no pretendido? Pelo contrário, não? Se Trish não virou vilã propriamente dita, deixou de ser heroína. Se Trish tivesse matado Sallinger, provavelmente teria pagado a dívida com sua mãe e, apesar de todo o trauma e luto, serenaria a alma, em vez de ficar vendo a cara do assassino no rosto de cada homem que golpeou posteriormente. E todos os eventos decorrentes dessa decisão errada de Jessica não teriam adquirido o efeito de bola de neve de erros que culminaram na perdição de Trish.

Não, eu não estou passando pano para as escolhas da própria Trish, que haveriam de lhe pesar algum dia de qualquer forma, mas apenas perguntando quem não ficaria transtornada ao encontrar a mãe morta sob tortura? Quem não ficaria transtornada em não poder justiçar o assassino sádico de sua mãe, tendo poderes para fazê-lo, porque uma outra pessoa decidiu por você que essa não seria sua melhor escolha? Essa inação questionava a  própria visão de Trish sobre o que era ser uma heroína. Ela se viu de novo às voltas com a impotência da qual tanto lutara para escapar. De fato, Trish precisava era ter  passado por uma terapia das bravas, terapia do luto, a fim de conseguir se reequilibrar. Merecia também uma chance de se redimir e de se recuperar, pois ainda tinha condições para tal, o que lhe foi negado ao ser mandada para um buraco no fim do mundo.

Desde o lançamento de Jessica Jones, sempre tive sentimentos ambíguos em relação à protagonista. Enquanto todo o mundo incensava a primeira temporada, eu mal consegui terminá-la, pelo saco de encarar aquela heroína sempre de porre, depressiva e promíscua. Fora o vilão, Kilgrave, tão vilão de história em quadrinhos que é como se não tivessem se dado ao trabalho de traduzi-lo para a tela. Só faltou a pele roxa como nas HQ. De positivo, só vi mesmo a presença de Trish, tão solar e oposta a de Jessica, e de sua relação amorosa com a irmã adotiva. E, claro, a morte do vilão no último episódio. Depois vi Jessica, no combo de super-heróis Os Defensores, e a achei bem menos chata e até engraçada em alguns momentos, o que me fez assistir a segunda temporada de sua série própria, muito mais interessante do que a primeira, como escrevi aqui.

Nesta terceira temporada, como comentei, oscilei entre tentar entender a decisão de Jessica de prender Trish, que numa primeira audiência me pareceu até aceitável, e em detestá-la, numa leitura mais aprofundada depois, por não assumir a responsabilidade que teve no tormento e queda da amiga e, por isso mesmo, não ter lhe dado a chance de escapar e, quem sabe, até de se reencontrar posteriormente. Se Trish chegou a matar a mãe de Jessica para não perdê-la, Jessica "matou" Trish por não aceitar sua autonomia fosse qual fosse. Se Trish resolvera bancar polícia, juíza e executora dos vilões da cidade, a santarrona  da Jessica fez o mesmo com a irmã. A ideia de que a prendeu porque tinha se tornado uma vilã violenta e incontrolável não cola de fato, como pode parecer à primeira vista (vide o tratamento diferenciado que deu para a mãe de fato violenta e incontrolável). Com quem não era vilão, Trish agia normalmente. O buraco dessa história é bem mais embaixo, mais complexo, como procurei descrever aqui. Passa por ressentimentos, invejas mútuas, rejeições e pela dinâmica de uma relação que se apresentava como de sororidade mas que escondia dependência, dominação e desempoderamento.

O que me consola é saber que Trish pelo menos venceu Jessica em sua própria série, pois, na terceira temporada, passou de coadjuvante a coprotagonista, sendo dela as melhores cenas de ação, de luta, de violência, de sofrimento, de dor. Pra mim, Jessica virou a coadjuvante. A atriz australiana Rachel Taylor, que representa Trish Walker, deu show de interpretação na pele dessa personagem tão determinada, contraditória (forte e frágil, justa e cruel) e intensa que merece voltar à vida das telas como heroína redimida ou justiceira mesmo (sim, mulheres também podem ser justiceiras). E os produtores de séries precisam parar de pirar, prender ou matar as mulheres ambiciosas e poderosas, que eles ou elas mesmos criam, a fim de impactar suas temporadas finais, sacrificando o desenvolvimento das personagens e da própria história. Já está começando a dar na vista e cansar a paciência e a audiência. Melhor, de vez em quando, fazer um final pelo menos meio feliz para elas e para nós.

N.E. Os spoilers deste texto se centram nas trajetórias das protagonistas da série, Trish e Jessica, e seus desenvolvimentos. Outros personagens da série também têm suas tramas paralelas que valem a audiência, com grandes performances como a da atriz Carrie-Ann Moss (Jeri Hogarth).

Elenco: Kristen Ritter (Jessica Jones), Rachel Taylor (Trish Walker), Eka Darville (Malcom Ducasse), Benjamin Wlaker (Erik Gelden), Sarita Chourdhry (Kith Lyonne), Jeremy Bobb (Gregory Sallinger), Carrie-Ann Moss (Jeri Hogarth), Rebecca de Mornay (Dorothy Walker), Aneesh Sheth (Gillian), Tiffany J. Mack (Zaya Okonjo)


Love can kill
Lennon Stella

I wasn't thinking when I told you to stay
It was just too hard to push you away
You don't know that you're in over your head
I'm afraid I'll pull you over the edge

I need you to go, don't fight me
Even though I wanna hold on tightly
Let me go
But you won't let me go

Too much love can kill
Get swallowed by the weight
No matter how you feel
My love, you are not safe
I need you

It's hard for me to say what needs to be said
Hurts to say it over, over again
Consequence of loving me can be cruel
You're gonna suffer now whatever you do

I need you to go, don't fight me
Even though I wanna hold on tightly
Let me go
But you won't let me go

Too much love can kill
Get swallowed by the weight
No matter how you feel
My love, you are not safe
I need you

terça-feira, 18 de junho de 2019

Advogado de defesa de réus da Lava Jato sai em apoio à operação


Perplexa como o autor do texto abaixo quanto à inacreditável inversão de valores que estamos observando após mais uma armação ilimitada da corruptocracia brasileira contra a Lava Jato. Trata-se de uma campanha para desacreditar o ex-juiz Sérgio Moro e a operação que trouxe esperança aos brasileiros de estabelecer alguma moralidade no trato da coisa pública em nosso país. Contaminada por essa infame distorção, vemos uma parte da população brasileira querendo que o juiz se dê mal e o ladrão se dê bem.

Felizmente, alguns juristas e advogados começam a falar com mais veemência contra essa situação surreal que estamos vivendo novamente. É o caso do advogado Luís Carlos Dias Torres que defendeu réus em processos movidos no âmbito da operação Lava Jato. Embora advogado de réus acusados pela operação, o advogado empresta sua voz para defender a idoneidade do juiz e da operação e aponta a sinistra inversão de valores que se produziu no país por agentes contrários aos reais interesses da nação.

Destaco (o resto do texto vem depois):

"A inversão de valores que estamos vivendo é de deixar qualquer pessoa de bem completamente estarrecida. As pessoas que trabalham para fazer com que os criminosos paguem por seus crimes, são condenadas. Enquanto isso, o sigilo (da fonte) vale para proteger a identidade de criminosos audazes, mas o sigilo (das comunicações) pode ser atropelado se for para expor autoridades altamente respeitadas ao juízo (leigo) da opinião pública. É isso mesmo ou eu perdi alguma parte dessa história?!?

O que mais me deixa espantado nisso tudo é que a imprensa supostamente séria presta mais atenção no conteúdo das mensagens trocadas – que revelam nada mais do que a praxe forense de sempre – do que no crime praticado contra importantes autoridades da República.

No fim, realmente tem muita coisa surpreendente nesse episódio todo. A única coisa que não causa surpresa alguma é o teor das mensagens trocadas entre a força-tarefa da Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro."


Brasil: futebol, carnaval, samba e inversão de valores
Luís Carlos Dias Torres*

Tenho acompanhado essa polêmica toda a respeito das mensagens trocadas entre a força-tarefa da Lava Jato com o então juiz e atual ministro da Justiça, Dr. Sérgio Moro. Estou absolutamente surpreso! Porém, a última coisa que me surpreende é o teor das mensagens trocadas entre o MPF e o juiz da causa.

Quem advoga na área criminal está mais do que acostumado com essa proximidade entre o juiz e o promotor. Ela é até natural. Afinal, ambos trabalham juntos, fazem audiências todos os dias, durante tardes inteiras. Tanto juiz como promotor são funcionários públicos. Normalmente são pessoas que optaram por essas carreiras com ideais de contribuir para um país e um mundo mais justo; que, em muitas vezes, se traduz em punir os culpados.

Aliás, isso não é de hoje. Desde muito existe esse tipo de entendimento entre o acusador e o julgador. Só que antes, ela acontecia presencialmente, na sala de audiências, no gabinete do juiz, no cafezinho do Fórum, etc. Hoje em dia, com os avanços da tecnologia, ela ocorre pelos aplicativos de mensagem.

O problema maior se dá quando essa proximidade e essa identidade de ideias e ideais contamina a imparcialidade do juiz. Novamente: quem advoga na área criminal está muito habituado a esse tipo de situação, onde a imparcialidade do juiz está totalmente comprometida por essa proximidade com o órgão da acusação, que é tão parte quanto a defesa no processo criminal.

Não é o caso do juiz Sérgio Moro. Tive a oportunidade de atuar em vários casos da chamada Operação Lava Jato, de casos relativamente comuns até casos mais sensíveis, como o do triplex e o do sítio de Atibaia.

Nosso primeiro cliente era uma pessoa ligada a uma das figuras centrais dessa história – o doleiro Alberto Youssef, velho conhecido da Justiça Criminal do Paraná.

O Ministério Público Federal denunciou e, nas alegações finais, pediu a condenação do nosso cliente. O Dr. Sérgio Moro, de forma independente e imparcial, absolveu nosso cliente.

Depois, representamos um importante executivo da OAS em vários processos.

No caso do triplex, mesmo sem acordo de colaboração firmado com o MPF, o Dr. Sérgio moro reconheceu a contribuição de nosso cliente para o esclarecimento da verdade e aplicou os benefícios da colaboração. O MPF teve de recorrer da decisão.

Mais para frente, foi a vez do processo que versava sobre as obras do Cenpes no RJ. Novamente, o Dr. Sérgio Moro, contrariando os pleitos da acusação, reduziu a pena de nosso cliente ante a sua contribuição para o esclarecimento da verdade, mesmo sem um acordo de colaboração firmado com o MPF. Novamente o MPF teve que recorrer dessa decisão.

Mudou o juiz, mas não mudou a independência e imparcialidade do Juízo da 13.ª Vara Federal de Curitiba. No caso do sítio de Atibaia, a Dra. Gabriela Hardt, inobstante o pedido de condenação formulado pelo MPF, absolveu nosso cliente de uma das acusações e extinguiu o processo em relação à outra acusação. Novamente o MPF recorreu da decisão. Lamentavelmente, vi pouca ou quase nenhuma repercussão dessa decisão na imprensa…

Assim, pelo menos na minha experiência, nunca houve comprometimento da imparcialidade do juiz nos casos da Lava Jato em que atuei. E toda vez que procurei o Dr. Sérgio Moro para despachar, sempre fui recebido com atenção e respeito. Nunca precisei do Telegram do juiz Sérgio Moro para poder falar com ele.

O que ficou muito evidente para mim na conduta do Dr. Sérgio Moro foi sua obsessão pela apuração da verdade. E, afinal de contas, é para isso que serve o processo penal.

Todo processualista sabe que a verdade real está acima da verdade formal. E foi por fazer essa leitura do juiz que definimos que a melhor tática de defesa seria contribuir para o esclarecimento da verdade, que, diga-se de passagem, veio à tona por muitos e muitos outros elementos de prova, tais como perícias, testemunhos, documentos, informações decorrentes de quebra de sigilo telemático, telefônico e bancário, etc.

Nessa história toda, me causa grande perplexidade ver que algum hacker tem a coragem e a petulância de invadir a privacidade do ministro da Justiça e de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e que essa questão fique em segundo plano! Isso é gravíssimo! Autoridades da maior importância tiveram seus telefones invadidos e as pessoas parecem não se aperceber da seriedade disso. Trata-se de crime grave e a identificação e punição dos envolvidos deveria estar em primeiro lugar na ordem do dia.

Hoje, um site qualquer que tenha ligação com o mundo do crime – e hackers são criminosos, não nos esqueçamos disso – dá voz irrestrita àqueles que têm a audácia de hackear os celulares do ministro da Justiça e de procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato.

Quem passou essas informações para o jornalista? Como ele teve acesso a elas? Se o jornalista for perguntado, certamente vai e deve alegar que tem direito ao sigilo da fonte.

A inversão de valores que estamos vivendo é de deixar qualquer pessoa de bem completamente estarrecida. As pessoas que trabalham para fazer com que os criminosos paguem por seus crimes, são condenadas. Enquanto isso, o sigilo (da fonte) vale para proteger a identidade de criminosos audazes, mas o sigilo (das comunicações) pode ser atropelado se for para expor autoridades altamente respeitadas ao juízo (leigo) da opinião pública. É isso mesmo ou eu perdi alguma parte dessa história?!?

O que mais me deixa espantado nisso tudo é que a imprensa supostamente séria presta mais atenção no conteúdo das mensagens trocadas – que revelam nada mais do que a praxe forense de sempre – do que no crime praticado contra importantes autoridades da República.

No fim, realmente tem muita coisa surpreendente nesse episódio todo. A única coisa que não causa surpresa alguma é o teor das mensagens trocadas entre a força-tarefa da Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro.

*Luís Carlos Dias Torres é advogado do Torres Falavigna Advogados

Fonte: Estadão, 15/06/2019

terça-feira, 11 de junho de 2019

História do Futebol Feminino: superando pobreza, preconceito e descrença

Imagem: Ney Montes/Arquivo Pessoal

Copa de Futebol Feminino: trajetória de pobreza, preconceito e descrença


Mulheres chegaram a ser proibidas de jogar futebol no Brasil de 1941 a 1979.

Quando a seleção brasileira feminina de futebol estreou no dia 9 pelo mundial da categoria, com vitória sobre a Jamaica por 3 a 0, entrou em campo com ela a sombra das pioneiras do esporte no país, que enfrentaram pobreza, descrença, machismo, ofensas e altas doses de amadorismo para pavimentar a estrada que Formiga e Marta podem trilhar hoje em terras francesas.

Mulheres que foram tachadas de criminosas a atrações circenses exclusivamente pelo desejo de algo tão simples quanto jogar bola.
Memória é o que você escolhe esquecer, não necessariamente o que você enaltece e quer guardar. Por isso, desde 2015, com a explosão do feminismo no mundo, a gente passou a olhar para essa história de outra forma", diz Daniela Alfonsi, antropóloga e diretora do Museu do Futebol, em São Paulo, que inaugurou em maio a exposição CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol, que reúne material precioso dos primeiros anos e da evolução do esporte no país.
Há registros da prática do esporte entre mulheres desde o começo do século passado, mas foi na década de 1940 que a prática começou a se popularizar entre elas. Tanto que começou a incomodar.
E, neste crescendo, dentro de um ano é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçadores de 2.200 futuras mães", escreveu o senhor José Fuzeira em carta endereçada ao então presidente Getúlio Vargas e publicada no jornal Diário da Noite em 7 de maio de 1940.
Num tempo de eugenia e preconceito, ninguém estranhou, em abril do ano seguinte, o Artigo 54 do Decreto-Lei 3.199, que determinava que "às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza". Da mesma forma como também não pareceu estranho a ninguém o fato de ele nunca ter sido efetivamente cumprido.

As senhoras boleiras de Araguari
Imagem: Eduardo Merege/Museu do Futebol.
Parte fundamental dessa resistência teve como sede uma cidade mineira quase na fronteira com Goiás. Foi em Araguari que as mulheres futebolistas brilharam em 1958.

Com a intenção de ajudar financeiramente o Grupo Escolar Visconde de Ouro Preto, que passava por dificuldades, o fundador do Araguari Futebol Clube, Ney Montes, convocou pelo rádio meninas interessadas em montar um time de futebol local.

Entre as aprovadas estava Nádima Nascimento, então com 18 anos.
A mulher era educada para ser dona de casa e criar filhos, não tinha outra opção", lembra a hoje costureira, aos 78 anos.
O objetivo original de Ney Montes foi atingido logo no primeiro jogo
Já na estreia, a renda foi espetacular, encheu de gente para nos ver, e começaram a aparecer convites para jogar em cidades vizinhas", lembra a capitã Zalfa Nader, hoje com 73 anos. Nádima nunca esqueceu dois momentos tensos da trajetória. "Em Goiânia, as pessoas ameaçaram invadir o campo e, em Varginha, o avião, daqueles pequenos, deu uma pane."
Zalfa prefere lembrar do jogo em Belo Horizonte, quando as equipes se apresentaram com as camisas do Atlético e do América da capital.
Quando o Atlético fez gol, as pessoas jogaram chapéus e paletós no campo, de alegria."
O grupo das subversivas senhoras boleiras de Araguari durou cerca de um ano: no fim de 1959, tiveram convite para exibir seus talentos no México mas, por pressões afins, a lei foi cumprida e os times, proibidos.

A proibição acabou oficialmente em 1979, mas a regulamentação do futebol feminino no Brasil só chegou em março de 1983. Entre as regras, jogos de 70 minutos, sem cobrança de ingressos e a inacreditável determinação de que as jogadoras não poderiam trocar de camisa com as adversárias depois da partida.

Essa regra nasceu no ano anterior, quando, em uma uma preliminar feminina no Morumbi antes de São Paulo e Corinthians, a atriz e produtora Ruth Escobar trocou de camisa com outra jogadora.

Também em 1982 entrou em campo o que seria o maior escrete da primeira fase da história do futebol feminino brasileiro. Das areias de Copacabana, a fundação do time do Esporte Clube Radar, fundado em 1981, trazia uma figura fundamental para a primeira década do esporte, o advogado Eurico Lyra Filho.

Apaixonado pelo futebol feminino, Lyra ajudou a regulamentá-lo e, ao mesmo tempo, formou um time imbatível.

O Radar ganhou todas as seis edições da Taça Brasil, primeiro campeonato nacional da categoria, e outros seis campeonatos cariocas.

Mas Eurico era um reflexo do amadorismo da época. Todos os feitos do Radar foram conquistados sem que o dinheiro dos patrocinadores chegasse às jogadoras. Ele tinha fama de dar assistência, se preocupar, ajudar as famílias. Dinheiro, que era bom, nada.
Ele ajudava muito as meninas, mas, ao mesmo tempo, era uma prática comum na época elas jogarem por uma caixa de cerveja", lembra Suzana Cavalheiro, ex-lateral-direita.
Não existia para nós a perspectiva de ganhar um salário para jogar futebol naquela época", resume a ex-jogadora do Juventus, que recusou o convite do Radar para terminar a faculdade de Educação Física em São Paulo.
Às jogadoras sempre foi atribuído um discurso de 'paixão pelo futebol', que contribuiu para manter a falta de profissionalização e de uma devida valorização monetária", pontua Cláudia Kessler, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutora em Antropologia Social.
Quando elas recebiam algo, eram lanches, passagens ou alguma quantia mínima, chamada de 'ajuda de custo'", completa.
Pela paz nos estádios

Imagem: Ney Montes/Arquivo Pessoal 
O Radar entrou para a história pela bola e pelas confusões. Só em 1983, primeiro ano da regulamentação, foram duas.

Em julho, na decisão da Taça Brasil, ganhava de cinco a zero no time do Goiás. A três minutos do fim do jogo, um grupo expressivo de jogadoras do time goiano não concordou com uma marcação e agrediu o árbitro, que expulsou o time inteiro.

Três meses mais tarde, a equipe de Copacabana decidiu o primeiro Campeonato Carioca feminino contra o Bangu. Depois de uma vitória pela contagem mínima para cada lado, a decisão foi para um terceiro jogo no estádio Moça Bonita, casa do Bangu.

O Radar abriu a contagem logo no começo, mas, aos 35 minutos do segundo tempo, só o juiz Ricardo Durães não viu a bola bater na mão da zagueira do time de Copacabana dentro da área.

As jogadoras do Bangu partiram para cima dele. Alguns torcedores invadiram o campo e fizeram o mesmo. O falecido patrono do time (e banqueiro do jogo do bicho) Castor de Andrade também correu para cima do árbitro. Sem função originalmente na briga, as jogadoras do Radar partiram para cima das adversárias.
O Castor de Andrade liberou os seguranças para espancarem o árbitro. Tinha tanto leão-de-chácara naquele dia que os jornais da época brincaram que o estádio do Bangu ia passar a se chamar Coliseu ou Simba Safári", conta Carlos Molinari, jornalista e historiador do Bangu.
No fim, o Radar venceu por um a zero, o jogo não terminou, todas as jogadoras do Bangu, que ajudaram a surrar o árbitro, foram suspensas e o time se desfez", conclui.
Logo, aquele que foi o primeiro escrete feminino do suburbano carioca a disputar um campeonato oficial foi também seu último. Se não durou muito, o time do Bangu rendeu um mito do esporte: Maria Lucia Lima, a Fia.

Queridinha de Castor de Andrade, que dizem ter ficado impressionado ao vê-la jogar, só não conseguiu uma coisa dele, como revelou em entrevista para o jornal O Globo este ano: jogar descalça, já que não havia chuteira feminina e ela não se adaptava ao calçado tipo Kichute usado pelo time feminino. Com o fim do time do Bangu, Fia foi para o Vasco e esteve nos grupos da seleção em 1988 e 1991.

A primeira seleção do Brasil
Imagem: Museu do Futebol/Coleção Suzana Cavalheiro
Muito por pressão de Eurico Lyra, a primeira seleção brasileira de futebol feminino foi formada para disputar um torneio experimental na China, em 1988, que serviu de teste para a organização do primeiro mundial da categoria, três anos mais tarde, no mesmo país.

Com doze países na disputa, o Brasil voltou com um honroso terceiro lugar e a certeza de que o amadorismo, no futebol feminino, era mesmo regra.

A campeã foi a Noruega, de quem o nosso selecionado ganhou na fase de grupos e para quem perdeu na semifinal. Se, dentro de campo, o futebol era algo equivalente, fora as coisas não poderiam ser mais diferentes.
As norueguesas tinham um kit de primeiros socorros que era fantástico, a gente não tinha nem um comprimido para cuidar do fígado", lembra Suzana Cavalheiro.
As dificuldades apareceram na preparação, no Rio. "A gente comia numa instalação militar, e a comida era insuficiente em termos de nutrientes para atletas", recorda Suzana, que fez parte do grupo.
A gente treinava em dois períodos e ainda lavava a própria roupa, porque cada uma só tinha dois jogos de uniforme."
O uniforme, por sinal era (e foi durante décadas) o que sobrava do material masculino. Quando foi marcada uma apresentação da seleção feminina no Maracanã antes de um Fla-Flu, em 1988, a vaidade falou mais alto.
Eles deram um agasalho com uma boca de sino deste tamanho, horrível, a gente não queria entrar com aquilo. Aí a Cebola ensinou um pontinho simples e todo mundo fez", conta Suzana.
Não à toa, uma das peças em exposição no Museu do Futebol é a camisa da seleção que Marcia Honório usou em 1988, ao lado de outros três uniformes, entre eles o do Mundial de 2019 - o primeiro a ser vendido no varejo e a ser feito sob medida para elas, por incrível que pareça.

'Remember the time'

'A gente treinava em dois períodos e ainda lavava a própria roupa,
porque cada uma só tinha dois jogos de uniforme', recorda Suzana
 Imagem: Museu do Futebol / Coleção Suzana Cavalheiro
Nos anos 90, o Radar havia encerrado as atividades. Ainda assim, a vida das mulheres que jogavam futebol melhorou um pouco. Mas só um pouco.
Como havia poucas equipes femininas, eu comecei jogando com os meninos. Só aos 14 anos que fui fazer uma avaliação no Saad, que foi o que me direcionou para o que me tornei hoje", lembra Emily Lima, ex-jogadora e atual treinadora das Sereias da Vila, time de futebol feminino do Santos, que começou a carreira quando o esporte já tinha uma década de regulamentação no país.
O Saad era um clube originário de São Caetano (SP) que montou seu time de futebol feminino em 1985 e teve destaque na categoria.
Houve dificuldades, claro, mas só fui viver uma situação negativa que me marcou de fato na seleção, quando tive resultados que não eram tão ruins quanto os de hoje e fui mandada embora por ser mulher", diz a primeira (e única) mulher a dirigir o time nacional feminino, que permaneceu dez meses no cargo, entre 2016 e 2017.
Como jogadora, ela saiu do Saad para o São Paulo em 1997, onde encontrou uma estrutura que já apontava novos caminhos.
No São Paulo a gente tinha uma casa como alojamento, um centro de treinamento só para a gente, eu nunca tinha vivido aquilo como atleta", conta a treinadora, que lembra, entre outras, de Sissi como uma das jogadoras que a inspiraram no começo da carreira.
Ela poderia ter sido melhor do mundo, com toda certeza."
Parece exagero, mas só parece. Sissi foi a primeira camisa 10 da seleção feminina, de fato e de direito. Ela já estava naquele time de 1988, mas brilhou mesmo na década seguinte.

A menina do interior da Bahia, que arrancava a cabeça das bonecas para usar como bola, fez um dos gols mais bonitos da história dos mundiais, em 1999 nos Estados Unidos. Bonito e útil: foi o "gol de ouro" contra a Nigéria que levou o Brasil às semifinais da competição, da qual o país sairia com o bronze e ela, como uma das artilheiras.
Depois da Era Telê (Santana), o São Paulo estava vivendo uma seca de títulos quando, em 1997, montou uma equipe feminina e contratou a Sissi", recorda Arnaldo Ribeiro, chefe de redação dos canais ESPN.
Como o time masculino passou a colecionar vexames, era comum a torcida gritar 'Sissi, Sissi' durante os jogos, pedindo a camisa 10 para o lugar de Souza, Dodô e companhia", conta o jornalista.
Aquele momento ainda apresentou ao país o talento de Mariléia dos Santos, a mulher que fez mais gols que Pelé (1.574) e brilhou sob a alcunha de um apelido dado pelo falecido locutor (e entusiasta do futebol feminino) Luciano do Valle: Michael Jackson. A nossa "rainha do pop" brilhou no Saad e no Torino, da Itália.
Marcar a Michael Jackson era triste, em meio metro ela fazia miséria", lembra Suzana Cavalheiro.
Michael estava no grupo que disputou as primeiras Olimpíadas da modalidade, em 1996, e viveu uma situação bizarra.
Uma coisa que me chamou a atenção na pesquisa para a exposição foi o fato de que a CBF mandou a seleção feminina para Atenas com as passagens de volta compradas para o fim da primeira fase", conta Daniela Alfonsi.
As meninas seguiram na competição, chegaram até as semifinais e o prêmio delas foi poder voltar no avião exclusivo do time masculino."
Ou seja, as coisas haviam melhorado, mas só um pouco.

Abrindo novos caminhos
Uniforme atual da seleção feminina
Aos 52 anos, Sisleide do Amor Lima, a Sissi, hoje trabalha como técnica de um time de base nos Estados Unidos. Ela integrou o time profissional do Vasco e chegou a enfrentar uma certa Marta quando jogava contra meninas das categorias de base. Aquela mesma que esquentou o banco do cruz-maltino para Fia, a jogadora que encantou Castor de Andrade.

Michael Jackson, quando parou de jogar, foi coordenar o futebol feminino no Ministério dos Esportes, hoje rebaixado a secretaria, para ajudar a pavimentar o caminho das meninas que cresceram já inspiradas pelo protagonismo de Marta.

Ao entrar em campo na França este mês, no mundial da categoria, a jogadora eleita seis vezes a melhor do mundo, que levou o futebol feminino brasileiro a um outro patamar quando apareceu, em 2000, vai carregar o peso do legado das ex-colegas, que abriram o caminho com muito sacrifício.
Em grande medida, as adversidades vividas por essas jogadoras foram tanto de ordem material como cultural. Algumas deixaram de estudar para se dedicar ao futebol e agora estão no mercado informal de trabalho, com vidas precárias", avalia Cláudia Kessler.
Nas crises, a gente se sobressai. No meio de tantas dificuldades, aquelas meninas tinham mais bola", compara Lu Castro, jornalista especializada em futebol de mulheres.
Além disso, estamos há treze anos falando de Marta. Precisamos colocar outros nomes na boca do povo, enaltecer as jogadoras que estão chegando, fazer com que outras se sobressaiam como ela", ressalta.
De qualquer forma, o futebol praticado pelas mulheres caminhou para que hoje possa oferecer uma outra visão de país. Ou seja, a saga das pioneiras valeu a pena.
A ideia de que o time masculino brasileiro representa a nação surge com o primeiro título sul-americano, em 1919. Há uma construção de que a seleção brasileira é o país e ela está toda baseada no futebol masculino", analisa Daniela Alfonsi.
A seleção feminina talvez abra a possibilidade de olhar para um outro país, que não é o que a gente está acostumado a ver, do oba-oba, dos noventa milhões em ação, mas que também é o Brasil."
Fonte: UOO, 07/06/2019

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