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quinta-feira, 2 de maio de 2019

Taís Araújo vai interpretar a cientista Joana D'arc Félix de Souza e sua bela história de superação

Taís Araújo interpretará Joana D'arc Félix de Souza nos cinemas — Foto: João Miguel Júnior/TV Globo/Arquivo; Etec/Divulgação

Cientista de Franca que superou infância pobre e preconceito terá história contada nos cinemas

Filme sobre a vida de Joana D'arc Félix de Souza será protagonizado por Taís Araújo. Professora que aprendeu a ler sozinha tornou-se PhD na Universidade Harvard e acumula 82 premiações.

Filha de empregada doméstica e de um profissional de curtume, Joana D’arc Félix de Souza superou muitas dificuldades e preconceitoaté se tornar PhD em química pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, além de uma cientista mundialmente premiada.

Aprovada em três universidades aos 14 anos, Joana aprendeu a ler sozinha e dormiu com fome muitas noites, porque o dinheiro para estudar longe de casa era pouco. Durante o intercâmbio, ouviu comentários racistas de colegas, mas se mantinha firme aos objetivos.

Agora, a história de vida e de superação de Joana será representada nos cinemas. O papel principal será da atriz Taís Araújo. A cinebiografia ainda não começou a ser gravada e também não há previsão para lançamento, mas a produção será da Globo Filmes.
Foi uma surpresa muito grande. Até então, parece que a gente não valoriza oque é feito. Aí, caiu a ficha: ‘nossa, estou fazendo trabalhados interessantes em prol da sociedade, do meio ambiente, da saúde humana’. É possível vencer na vida através da educação”, diz Joana.
A professora conta que recebeu a proposta de ter a vida contada em um filme depois de conquistar o título “Personalidade 2017” do Prêmio Faz Diferença, uma iniciativa do Jornal O Globo em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Quando subi ao palco para falar um pouco sobre a minha história, foi o que ensibilizou”, relembra. “É um filme brasileiro voltado para a educação. Somente através dela é possível alcançar uma transformação social efetiva e estou contente por isso”, diz.
Os produtores do filme já estiveram na escola técnica onde Joana leciona, em Franca (SP), para acompanhar a rotina da professora. Diretor do colégio, Cláudio Ribeiro Sandoval diz que se surpreende com a capacidade da cientista de envolver e incentivar os estudantes.
Ela traz ao longo da história de vida um exemplo. Isso faz com que o aluno consiga se refletir naquilo que ela viveu. Ela é muito humana e simples no que faz. É uma alegria muito grande porque é uma oportunidade de mostrar ao Brasil inteiro quem é a Joana D’arc”, afirma.
PhD na Universidade Harvard, Joana D'arc Félix de Souza leciona em escola técnica em Franca, SP — Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

Estudo e superação

Joana nasceu em Franca no seio de uma família com poucos recursos financeiros. Sem condições manter a caçula em uma creche, a mãe optou por levá-la para o trabalho. Aos 4 anos de idade, a menina passava o dia quietinha, lendo os jornais da casa.

Sem dinheiro e sem saber como viveria longe da família, já que precisaria estudar em uma universidade pública fora da cidade, Joana ouviu os conselhos do pai e se dedicou a longas jornadas de estudo com o material emprestado do filho da professora.

O trabalho do pai no curtume, local onde o couro cru é quimicamente tratado para ser usado na produção de sapatos e bolsas, foi responsável pela escolha da graduação. Aos 14 anos, a jovem foi aprovada em três universidades: Unicamp, USP e Unesp. Optou por Campinas (SP).
Foi uma luta enorme. Ainda estavam construindo as moradias, tivemos que pagar para morar em um pensionato. O dinheiro era contado. Meu pai começou a trabalhar à noite para pagar as despesas. O pãozinho que vinha no bandejão era o meu jantar”, relembra.

A professora Joana D'arc Félix de Souza ao lados dos pais na formatura em Campinas, SP — Foto: Arquivo Pessoal

Joana passou 10 anos na Unicamp, da graduação ao doutorado. As publicações científicas levaram ao convite para cursar o pós-doutorado nos Estados Unidos. Mas, antes de chegar à Harvard, a professora passou pela Universidade Clemson, na Carolina do Sul.
Foi um ano muito difícil, foram muitas agressões verbais por causa da minha cor. Estava no estado mais racista dos Estados Unidos. Havia frases do tipo ‘negra, volte ao seu país porque você está tomando o espaço de um branco’. Eu tinha medo, mas aguentei firme e forte”, conta.
A professora voltou ao Brasil em 2002, após duas perdas avassaladoras. Primeiro, a irmã. Um mês e três dias depois, o pai também morreu. Como a mãe estava doente e o cunhado passou a morar com ela, Joana decidiu regressar a Franca e ajudar a cuidar dos sobrinhos.

O ponto final à vida nos Estados Unidos revelou à Joana uma nova oportunidade: a carreira de docente na Escola Técnica Estadual (Etec), onde leciona até os dias de hoje. Foi nesse colégio que a cientista desenvolveu projetos de pesquisa que lhe renderam prêmios e patentes.

A cientista Joana D'Arc Félix em palestra na Campus Party 2019 — Foto: Fábio Tito/G1
Eu vi que é possível desenvolver pesquisa de ponta sem estar dentro de uma grande universidade. É possível desenvolver patentes de projetos inovadores sem estar nesse meio. É possível fazer pesquisa na educação básica, na escola técnica, basta querer”, afirma.
Hoje, aos 55 anos, Joana já registrou 15 patentes nacionais e internacionais, junto aos alunos, a partir de pesquisas envolvendo, principalmente, reaproveitamento de couro e utilização de pele suína em transplantes realizados em seres humanos.

Esse último estudo, aliás, rendeu à Joana o mais importante entre os 82 prêmios que coleciona: o Kurt Politizer de Tecnologia, concedido em 2014 pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abquim).
Todos nós somos capazes. Tem que querer, tem que ter objetivos, tem que traçar metas para vencer na vida”, afirma a pesquisadora. “Independente da cor da pele, temos que ser fortes, resistentes, enfrentar os problemas de cabeça erguida e sem vitimismo”, completa.
A professora Joana D'arc Félix de Souza ao lado dos alunos na escola em Franca, SP — Foto: Valdinei Malaguti/EPTV

Fonte: G1 Ribeirão Preto e Franca, 22/04/2019 

terça-feira, 30 de abril de 2019

Aborto seletivo e infanticídio de meninas provocam déficit de 23 milhões de mulheres no mundo



23 milhões de mulheres

Após pico de nascimento de meninos, proporção entre sexos volta a se estabilizar

Faz muito tempo que sabemos que nascem mais homens que mulheres no mundo. Grosso modo, para cada 1.000 mulheres nascem 1.050 homens. Ou seja, há 5% mais recém-nascidos do sexo masculino. Não se sabe a causa dessa diferença, mas que ela existe ninguém duvida. Outro fato conhecido é que em muitos países e culturas as famílias preferem filhos homens. As razões são muitas: em alguns lugares casar a filha exige o pagamento de dote, em outros lugares se acredita que os filhos do sexo masculino são melhores em sustentar os idosos. 

O interessante é que transformar esse desejo em realidade levou ao aparecimento de crenças e mitos, mas nenhum deles funciona. Pernas para cima, relação sexual no início ou fim do ciclo fértil e outras simpatias parecem não alterar a proporção.

Esse fato só mudou quando surgiram métodos capazes de determinar o sexo antes do nascimento. Primeiro o ultrassom, agora os testes sanguíneos. Assim, a partir da década de 1970, os pais começaram a saber o sexo do filho(a) antes do nascimento e essa informação, juntamente com a possibilidade de fazer um aborto legal ou ilegal, permitiu aos pais controlarem o sexo dos seus filhos. É bem conhecido que na China a restrição ao número de filhos e a valorização do filho macho levaram ao aparecimento do fenômeno do aborto seletivo de meninas. Apesar de comprovado, a extensão da prática e a consequência para o balanço dos sexos ainda eram pouco conhecidas. Mas isso mudou com um estudo publicado nesta semana.

Um grupo de quatro cientistas levantou nos registros de nascimento em 200 países quantos meninos e meninas nasceram a cada ano entre 1950 e 2017. Para cada país, eles determinaram o número de meninos e meninas nascidas por ano. Os dados entre 1950 e 1970 foram usados para determinar a razão entre meninos e meninas em cada país antes do ultrassom.

O número é um pouco diferente em diferentes regiões do globo. Para cada 1.000 meninas nasciam 1.031 meninos na África subsaariana, 1.063 no sudeste asiático e 1.067 na Oceania. Em todos os casos, o número é constante durante os 20 anos. Mas a partir de 1970, na Índia e na China e depois em outros países, o número de crianças do sexo masculinos cresce rapidamente. Em alguns países, chega a 1.200 meninos para cada 1.000 meninas. No total, foram identificados 12 países: Índia, Albânia, Montenegro, Tunísia, Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Vietnã, China, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan. No Brasil, a relação não se alterou entre 1950 e 2017.

Porém, o mais interessante é que o pico dessa seleção por meninos ocorreu por volta de 10 ou 20 anos após seu início e depois começou a retroceder. Houve essa redução em 11 dos 12 países, sendo que em 6 o nível normalizou.

Esse pico de nascimento de meninos, que se deve ao aborto seletivo de meninas, criou um déficit de meninas no mundo. Se esse aumento não tivesse ocorrido, o mundo teria hoje 23 milhões de mulheres a mais. O número é grande - 23 milhões de pessoas é aproximadamente a população de São Paulo -, mas é pequeno se pensarmos que existem por volta de 4 bilhões de mulheres no mundo. Mas os cientistas ficaram intrigados com o fato de essa aberração já ter desaparecido em muitos países e estar regredindo em quase todos. Afinal, os exames para determinar o sexo antes do nascimento estão cada vez mais disponíveis, o aborto, cada vez mais acessível, e a preferência por meninos não parece ter desaparecido.

Uma possível explicação saltou aos olhos quando os cientistas observaram que o número de filhos caiu rapidamente, saindo de seis ou sete filhos por casal em 1950 para números próximos a dois em 2017. É exatamente durante essa queda que o excesso de meninos aumenta. E quando as famílias se estabilizam em dois filhos o fenômeno desaparece.

Uma possível interpretação é que, durante os anos em que as sociedades estavam diminuindo os números de filhos por casal, os casais não se conformavam em só ter e abortavam a segunda menina na esperança de ter um menino. Quando dois filhos passaram a ser a norma, parece que o fenômeno desapareceu. Se é essa a verdadeira explicação, não sabemos: podem ter havido mudanças no nível educacional ou nos costumes, mas é certo que esses 23 milhões de meninas desaparecidas estão voltando a nascer. Uma boa notícia.

Mais informações: systematic assessment of the sex ratio at birth for all countries and estimation of national imbalances and regional reference levels. proc. nat. acad. sci (usa) 2019

Fonte: O Estado de S.Paulo, por Fernando Reinach, 27/04/2019


quinta-feira, 25 de abril de 2019

A divisão de cores de meninos e de meninas é uma invenção histórica e não algo natural

Wendy e Peter Pan vestidos de azul e rosa — Foto: Reprodução
Rosa nem sempre foi 'cor de menina' - nem o azul, 'de menino'

Pesquisadora americana explica que a divisão de gênero das cores é uma construção social. 'Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso'.
A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina."
O parágrafo acima foi publicado há cem anos, em 1918, por uma revista de moda infantil americana, a Earnshaw, voltada para profissionais da área. Foi encontrado por Jo Paoletti, professora emérita de Estudos Americanos na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America (Rosa e Azul: Distinguindo Meninos de Meninas nos Estados Unidos).
(Encontrar essa frase) virou minhas suposições de cabeça para baixo", lembra a pesquisadora, em conversa com a BBC News Brasil. Afinal, o rosa nem sempre havia sido uma cor de menina, nem o azul cor de menino.
A ideia de que há algo natural e permanente sobre o uso de rosa para as meninas e azul para garotos é historicamente errada", diz Paoletti.
Assim, também é errada a ideia de que se você não tratar as crianças segundo um estereótipo de gênero elas vão crescer confusas, serão pervertidas, vão se tornar homossexuais, transgênero. Não há nenhuma evidência disso. Não é dos estereótipos de gênero que nasce a identidade homossexual ou trans."
O uso de rosa ou azul mobilizou as redes sociais brasileiras em janeiro deste ano, chegando ao topo de assuntos mais comentados no Twitter. O motivo foi a divulgação de um vídeo de Damares Alves, a primeira ministra a ocupar a pasta de Mulher, Família e Direitos Humanos - criada por Jair Bolsonaro, em substituição ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos do governo de Dilma Rousseff.
Atenção, atenção! É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa!", fala Damares Alves no vídeo. A frase foi acompanhada em coro por apoiadores. Em seguida, todos pularam em comemoração - inclusive a ministra, nitidamente empolgada.
O contexto da frase é a intenção do novo governo de combater a chamada "ideologia de gênero". O termo, que não é reconhecido por estudiosos, foi popularizado por segmentos contrários à ideia de que gênero é uma construção social e, portanto, não está restrito ao sexo biológico de uma pessoa.
Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores", disse a ministra, após a reação das redes sociais, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Vestidos brancos para bebês e azul feminino em alusão à Virgem Maria

A divisão de cores de meninos e de meninas é uma construção social recente, explica Paoletti.
Cem anos atrás, os bebês usavam vestidos brancos, independentemente do sexo da criança. Essas roupas brancas eram mais fáceis de serem mantidas limpas, porque podiam ser fervidas", diz ela. Além disso, era mais fácil trocar a fralda de um bebê de vestido do que com calças.
Quando as cores foram introduzidas no vestuário infantil, tinham tons pasteis, mas não importava se era rosa ou azul. Geralmente, eram escolhidas de acordo com o tipo físico da criança. Era muito comum ver bebês de olhos azuis vestindo azul. E bebês de olhos castanhos vestindo rosa. As pessoas achavam que combinava mais", continua Paoletti.
O uso das cores também variava de acordo com a região, explica a pesquisadora.
Em alguns países católicos, era comum encontrar o uso de azul para meninas, porque o azul era associado à Virgem Maria. Em outros locais católicos, como França e Bélgica, o primeiro filho costumava ser dedicado à Virgem Maria e vestido de azul, fosse menino ou menina."
Mais recentemente, o uso de rosa para meninas e azul para meninos se tornou padronizado em todo o Ocidente. Como isso ocorreu? Uma das explicações é que o padrão teria sido criado pela indústria da moda americana e se espalhado para outros países.

O professor de psicologia da Universidade do Novo México, Marco Del Giudice, analisou as ocorrências de rosa e azul para meninos e meninas em uma base de dados de milhões de livros, publicados a partir de 1880. Segundo ele, as referências a "rosa para meninas" começaram a ser mais abundantes a partir do final da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940.

Além disso, outros simbolismos de gênero entraram na moda infantil, como laços e corações para meninas, aviões e bolas para meninos.

Antes, o que definia a moda infantil era a praticidade, a conveniência. Agora, as pessoas estão mais interessadas em garantir que seu filho pareça com o estereótipo de um menino", diz Paoletti.

Meninas preferem rosa? Ciência diz que não

Um estudo de 2011 publicado pela Sociedade de Psicologia Britânica analisou a preferência de cor de bebês e crianças com idades entre 7 meses e 5 anos. Cada criança recebeu um par de objetos, um com a cor rosa e o outro com uma segunda cor. Os pesquisadores, então, observaram qual era a preferência ou rejeição pelos objetos rosas.

O resultado foi que, com até um ano de idade, meninas e meninos escolheram objetos cor-de-rosa de forma semelhante. Ou seja, não havia uma preferência de um sexo ou do outro pela cor.

Já aos dois anos, as meninas passaram a preferir o rosa um pouco mais frequentemente que os meninos. E, a partir de dois anos e meio, a preferência por rosa despontou nas meninas, ao mesmo tempo que a rejeição ao rosa prevaleceu entre meninos.

Segundo as pesquisadoras, a preferência pelo rosa nessa idade pode ser explicada pela identificação de gênero que é dada pelos adultos e acaba absorvida pelas crianças.
As descobertas vão na contramão da sugestão de que as preferências de cor podem ter uma base biológica. Alguns pesquisadores propuseram que há mais vantagem evolutiva para mulheres que são atraídas por cores de frutas, como o rosa. Mas, se as mulheres tivessem uma predisposição biológica ao rosa, então isso seria evidente independentemente da aquisição de conceitos de gênero".

Fonte: BBC, 04/01/2019

Rosa para meninas e azul para meninos: a divisão nem sempre foi essa
 Foto: shutterstock.com/Natalya Lys
Entenda: como o rosa se tornou 'cor de menina' e o azul, 'de menino'
Registros históricos mostram que a afirmação da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, parte de uma construção social; no início do século passado, a escolha dos tons era outra

RIO — O azul não foi sempre considerado uma "cor de menino"; nem o rosa, "de menina". De fato, até o início do século passado, era o contrário. O rosa era a cor masculina por sua semelhança ao vermelho e ao sangue, passando a ideia de "força". O azul, por sua vez, tinha como mensagem a "delicadeza".

Autora do livro "Pink and Blue: Telling the Girls from The Boys in America" (em tradução livre, "Rosa e Azul: diferenciando meninas de meninos dos EUA"), a historiadora Jo B. Paoletti afirma que, até a Primeira Guerra Mundial, prevaleciam os tons pastel.
 "A partir daí, o rosa passou a ser uma cor associada à masculinidade, era um vermelho aguado", escreve ela em seu site. "Em 1914, o'Sunday Sentinel', um jornal americano, aconselhou as mães a "usarem rosa para o menino e azul para a menina, se a pessoa fosse uma seguidora de convenções".
Em 1927, a revista americana Time questionou lojistas sobre que cor eles associavam a cada sexo, mas não houve consenso sobre o resultado.

Segundo Paoletti, a mudança para rosa para meninas e azul para meninos aconteceu somente após a Segunda Guerra Mundial.
                                                                            
Além disso, em meados da década de 1980, a ultrassonografia passou a apontar o sexo do bebê, fazendo com que os pais começassem a montar o enxoval das crianças comprando as roupas de acordo com a cor que associavam a meninos e meninas. Até então, usava-se principalmente o branco. Foi nesse momento que o mercado, de modo definitivo, selou a "divisão" entre essas cores.

Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Bila Sorj considera que, mesmo com a transição das cores, a ideia transmitida pelo mercado permaneceu a mesma.
A cor é arbitrária, porque ainda considera-se, desde o início da História do consumo, que as meninas devem ser associadas à delicadeza e fragilidade, e os meninos, à força e a atividades vibrantes.

Para a jornalista Daniela Tófoli, autora do livro Pré-adolescente: um guia para entender o seu filho, a polarização entre azul e rosa está cada vez mais questionada.

Muitos pais estão optando por não saber o sexo dos bebês e preparam enxovais com cores como laranja e roxo — conta. — Também vejo crianças que não se encaixam neste modelo de mercado. Minha filha tem 9 anos e sua cor preferida sempre foi azul. É a cor que ela escolheu para a parede de seu quarto. Tivemos dificuldades em encontrar uma mochila azul sem temas masculinos. Por que a princesa tem que ser rosa ou lilás? E por que os pais devem se sentir incomodados se veem seus filhos estão com brinquedos rosas?
Fonte: O Globo, por Renato Grandelle, 03/01/2019 

terça-feira, 23 de abril de 2019

72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil são assinados por mulheres



Mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil

O Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres.

O Brasil é o país íbero-americano com a maior porcentagem de artigos científicos assinados por mulheres seja como autora principal ou como co-autora, de acordo com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). Entre 2014 e 2017, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres.

Atrás do Brasil, aparecem a Argentina, Guatemala e Portugal com participação de mulheres em 67%, 66% e 64% dos artigos publicados, respectivamente. No extremo oposto estão El Salvador, Nicarágua e Chile, com mulheres participando em menos de 48% dos artigos publicados por cada país.

Além desses países, a OEI analisou a produção científica da Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Espanha, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Os dados fazem parte do estudo As desigualdades entre os sexos na produção científica ibero-americana, do Observatório Ibero-americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade (OCTS), instituição da OEI.

A pesquisa analisou os artigos publicados na chamada Web of Science, em português, web da ciência, que é um banco de dados que reúne mais de 20 mil periódicos internacionais.
O Brasil está melhor do que o restante dos países. Acho que é algo que não podemos nos dar por satisfeitos porque temos desafios, mas indica que o Brasil caminha na direção positiva de mais oportunidades, de igualdade de gênero entre homens e mulheres”, diz o diretor da OEI no Brasil, Raphael Callou.

Menos pesquisadoras publicam

Apesar de assinar a maior parte dos artigos, quando levado em conta o número de mulheres pesquisadoras que publicaram no período analisado, ele é menor que o dos homens. No Brasil, elas representam 49% dos autores, de acordo com os dados de 2017. A porcentagem se manteve praticamente constante em relação a 2014, quando elas eram 50%.

Com base nos números de 2017, o Paraguai ocupa o topo do ranking, com 60% das autoras mulheres. Na outra ponta, está o Chile, com 37%.

As diferenças aparecem também entre áreas de pesquisa. No Brasil, entre as áreas analisadas, medicina é a que conta com a maior parte das autoras mulheres, elas são 56% entre aqueles que publicaram entre 2014 e 2017. As engenharias estão na base, com a menor representatividade, 32%.

Essa realidade faz parte do cotidiano da professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Cristina Tavares.
Nas salas de aula, as meninas são cerca de 5% dos estudantes. No departamento temos em torno de 90 professores e somos cinco professoras”, diz. “Quando você vai a congressos, são pouquíssimas engenheiras. Você vê só ternos. Se você tem 100 trabalhos sendo expostos, tem geralmente três ou quatro pesquisadoras”, acrescenta.
Maria Cristina comemora a posição de destaque das mulheres no número de assinaturas de publicações: |
Publicações hoje em dia são tudo no mundo acadêmico. As próprias universidades prezam por expor o resultado das pesquisa. Para eu conseguir mais bolsas para os meus estudantes, preciso estar com um bom nível de publicação e não é número pelo número, é número que significa que meu trabalho está sendo bom”, diz.
A professora faz, no entanto, uma ressalva sobre a baixa presença de pesquisadoras na área que atua: 
O país perde quando não trabalha essa diversidade e todos esses olhares”.

Maioria entre estudantes, minoria entre professores

Publicar sempre foi difícil, sempre é um processo. Há casos clássicos, bem icônicos de como esse estereótipo sexual está arraigado. Quando se lê um artigo de autor chinês, polonês ucraniano, que tem um nome diferente, dificilmente vem imagem de que seja uma mulher, porque na nossa cabeça, a gente entende que esse lugares difíceis são ocupados por homens”, diz a bióloga da Universidade de Brasília (UnB) Bárbara Paes.

Apaixonada por ciência, a pesquisadora integra a equipe do Dragões de Garagem, criado para divulgar, de forma simples e atrativa, descobertas científicas e questionamentos sobre o fazer ciência no país.
Existe uma resistência da própria academia de reconhecer que existe um problema”, diz.
De acordo com o Censo da Educação Superior de 2016, última edição do levantamento, as mulheres representam 57,2% dos estudantes matriculados em cursos de graduação.

Elas são também maioria entre bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), representam 60% do total de beneficiários na pós-graduação e nos programas de formação de professores.

Entre os professores contratados, no entanto, o cenário muda, os homens são maioria. Dos 384.094 docentes da educação superior em exercício, 45,5% são mulheres.

Fonte: Agência Brasil, Por Mariana Tokarnia, 23/03/2019 

terça-feira, 16 de abril de 2019

Danos à reputação deve ser reparados com indenização não cadeia



Brasil: Pena de Prisão Contra Comediante Inibe a Liberdade de Expressão Brasil deveria descriminalizar os delitos contra a honra

A condenação à prisão de um comediante por ofender uma deputada pode ferir a liberdade de expressão, disse hoje a Human Rights Watch.

Em 10 de abril, uma juiza federal sentenciou Danilo Gentili, um comediante conservador, a 6 meses e 28 dias de prisão em regime semiaberto por um vídeo postado por ele nas redes sociais, há três anos. No vídeo, ele rasga a notificação que recebeu da Câmara dos Deputados pedindo-lhe para deletar tweets ofensivos sobre a deputada do Partido dos Trabalhadores (PT) Maria do Rosário, coloca os pedaços rasgados na cueca, os tira e os envia de volta, fazendo comentários obscenos contra ela.

“Ninguém deveria ser preso por ter dito algo ofensivo, independentemente de quão repugnantes sejam suas declarações e atitudes”, disse Maria Laura Canineu, diretora do escritório da Human Rights Watch no Brasil. “Ao invés disso, aqueles que desejarem procurar a justiça por danos a sua reputação, deveriam fazê-lo por meio de uma reparação de caráter civil”.

O juiz federal considerou que o vídeo inclui “conteúdo altamente ofensivo e reprovável, deixando muito clara a sua intenção de ofender” a parlamentar. Gentili permanece livre enquanto recorre à sentença.

Leis que estabelecem sanções penais contra a injúria, a difamação e a calúnia são incompatíveis com a obrigação internacional de proteger a liberdade de expressão, disse a Human Rights Watch.

O Código Penal brasileiro inclui o crime de injúria, que penaliza ofensas à “dignidade ou decoro” de uma pessoa; o crime de difamação, definido como um ato ofensivo à reputação de uma pessoa; e o crime de calúnia, definido como imputar falsamente a alguém a prática de um crime. Gentili foi condenado por injúria.

O Brasil deveria suprimir esses três crimes do seu código penal. A pessoa que se considerar ofendida deveria buscar indenização por meio de processos civis, e ninguém deveria ser preso pelo que diz.

O relator especial da ONU sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião declarou em 2000 que a prisão nunca deveria ser aplicada como punição por difamação e recomendou que os Estados revogassem suas leis penais de difamação e se baseassem nas normas sobre difamação dos códigos civis. O relator especial enfatizou que os Estados devem tomar cuidado especial para garantir que as leis de difamação, civis ou criminais, “reflitam o princípio de que as figuras públicas são obrigadas a tolerar um grau maior de crítica do que os cidadãos privados”.

Fonte: Humans Rights Watch, 13/04/2019

Os Princípios sobre Liberdade de Expressão, adotados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 2000, afirmam que a proteção da reputação dos funcionários públicos deve ser garantida apenas por sanções civis, e não criminais.

N.E. E, depois dessa história lastimável da condenação à prisão do Danilo Gentili por dizer escrotices, surgiu a história mais escabrosa ainda da censura à revista virtual Crusoé, de parte do Ministro Alexandre de Moraes conluiado com o ministro Dias Toffoli. Também com base na história da ofensa, desta vez feita ao STF, Alexandre de Moraes censurou matéria da revista que falava do possível envolvimento de Tofolli em mais um dos propinodutos da Odebrecht. Fora a censura à matéria, os redatores foram multados em R$100.000,00 por supostamente não terem acatado a ordem do ministro de imediato. Além disso, Alexandre de Moraes mandou fazer busca e apreensão na casa de pessoas que supostamente ofenderam o STF. Trata-se de de um absurdo autoritário incompatível com o estado democrático de direito. Agora, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge mandou arquivar o inquérito arbitrário, aberto pelos Ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, e todas suas consequências. Por último, Alexandre de Moraes indeferiu "integralmente" o arquivamento de Dodge em um despacho de hoje à tarde. E o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que ele e outros senadores vão pedir o impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e do ministro Alexandre de Moraes. Uma zona que mostra claramente como o fantasma do autoritarismo volta ao Brasil, sob a desculpa do ofendidismo. A manutenção da liberdade de expressão é fundamental para a democracia. Temos que garanti-la a qualquer preço.

Atualização: Alexandre de Moraes recua e derruba censura a revista e site 

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