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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Cinco animais biologicamente imortais. E você achando que deus lhe fez a sua imagem e semelhança?

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Morra de inveja: a Turritopsis dohrnii volta ao seu primeiro
estágio de vida em qualquer fase de seu desenvolvimento,
escapando da morte e alcançando potencial imortalidade.
Já havia abordado o tema dos animais imortais em Admirável mundo novo em meio à perigosa velharia ideológica e política mas sempre é bom lembrar da existência dessas criaturas. De repente, ainda conseguem emular suas incríveis capacidades regenerativas enquanto estou viva. Me ofereço como cobaia para experimentos nesse sentido. Abaixo artigo sobre cinco animais imortais.

5 animais biologicamente imortais

A chegada de uma nova primavera não traz só flores. Nosso corpo é marcado pela passagem do tempo: lentamente, perdemos os melanócitos que dão cor aos cabelos e o colágeno da pele, a cartilagem dos ossos se enfraquece, nossas células e órgãos já não funcionam a todo vapor como na juventude e deixam de cumprir funções cruciais. E aí, já viu – não há caminho de volta. Apesar da data de expiração ser incerta, nosso corpo parece ter um prazo de validade. Ou melhor, é isso que acontece com a maioria das espécies do planeta, com exceção de um grupo especial: aquele formado por animais que possuem o que a ciência chama de “envelhecimento desprezível”.

Em bom português, isso significa que as células de alguns seres felizardos se mantêm em um ciclo de renovação constante, sem sofrerem com o declínio natural que nós humanos, por exemplo, experimentamos. Ou seja, para dar fim à existência destes animais, é preciso apelar para “morte matada” já que eles são (biologicamente, ao menos) imortais. Conheça 5 destes seres incríveis:

1. Hidras
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Os seres do gênero Hydra parecem ter tirado a sorte grande na loteria da vida. A maioria dos organismos animais sofre um processo de deterioração que aumenta a possibilidade de morte com o avançar da idade cronológica, chamado de senescência. As células que entram neste processo natural de envelhecimento perdem a capacidade de reprodução e regeneração. Mas isso não acontece com as hidras. Estudos apontam que estes seres são capazes contornar o envelhecimento renovando constantemente os tecidos de seu corpo. Ao que tudo indica, as hidras podem ter escapado da senescência e serem, potencialmente, imortais.

2. Rockfish (Sebates aleutianus)
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Eles não vivem para sempre – mas chegam perto. É também uma insignificante apresentação de senescência que garante a esse peixe do Pacífico enorme longevidade. Além de seu marcante tom vermelho, o rockfish tem outras características que o distinguem no reino animal – com uma reduzida taxa de envelhecimento, espécimes deste peixe podem chegar a viver 205 anos na natureza. Nada mal.

3. Tartarugas Blandingii (Emydoidea blandingii)
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Natural da América do Norte, esta tartaruga semi-aquática de queixo amarelo pode ultrapassar a marca de 80 anos. Oito décadas pode não ser sinônimo de “vida eterna”, mas é uma idade respeitável, ainda mais considerando uma particularidade destes seres: uma vez que atingem a vida adulta, as tartarugas Blandingii parecem não envelhecer. Além de terem baixa senescência,estudos indicam que os espécimes mais velhos curtem a vida adoidado e se reproduzem mais que os companheiros mais jovens.

4. Planárias
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As planárias são vermes planos que intrigam cientistas por sua alta capacidade regenerativa. Se cortados, transversal ou longitudinalmente, esses bichinhos feios são capazes de regenerar suas partes perdidas, originando vermes completos. Quero ver você fazer isso em casa. Este surpreendente super poder, aparentemente ilimitado, faz com que as planárias sejam consideradas praticamente imortais.

5. Água-viva imortal (Turritopsis dohrnii)
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“O que é imortal não morre no final” (LEAH, Sandy)

Esta espécie de água-viva é o “Benjamin Button” do oceano. Encontrado em 1988 pelo então estudante de biologia marinha Christian Sommer, este curioso ser exibiu um comportamento que intrigou o pesquisador alemão: a água-viva se recusava a morrer. Mais que isso, parecia estar seguindo o caminho inverso, tornando-se cada vez mais “jovem”, em uma regressão que a levou de volta à sua primeira fase de desenvolvimento. Pã. Chegando lá, começou um novo ciclo de vida. Duplo pã.

Foi apenas em 1996 que um estudo sobre a reveladora descoberta foi publicado – contrariando o que consideramos o ciclo natural da vida (que inclui a inevitável morte), a Turritopsis dohrnii é capaz de voltar ao seu primeiro estágio de vida em qualquer fase de seu desenvolvimento, escapando da morte e alcançando potencial imortalidade. Não bastasse isso, a espécie ainda é espertinha – pegando carona em cascos de navios, a Turritopsis hoje é encontrada não apenas na região do Mediterrâneo, mas também nas costas de Panamá, Espanha, Japão e Flórida, parecendo ser capaz de sobreviver e se proliferar em todos os oceanos do mundo. Limitações tecnológicas ainda impedem que pesquisadores determinem o que exatamente permite que o bichinho viva para sempre, mas é bom ficar atento: se descobrirem o segredo desta água-viva, isso pode também afetar nossa mortalidade. Quem viver, verá.

Fonte: Superinteressante, Jessica Soares 27 de novembro de 2013

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Polêmica sobre candidatura de Bolsonaro à presidência revela que à esquerda ou à direita poucos brasileiros entendem de democracia

Bolsonaro em entrevero  em frente ao antigo DOI-Codi, no Rio, com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Os dois quase trocam socos — algo usual em discussões de que participa o deputado do PP. Bolsonaro não tem equilíbrio nem preparo para aspirar à Presidência — e suas ideias são abomináveis (Foto: O Globo)
A última polêmica da Internet e das redes sociais girou em torno da possível candidatura do deputado Jair Bolsonaro à Presidência da República. A polêmica surgiu porque os colunistas da VEJA - que é tida como de direita - consideraram a candidatura um gracejo ou mesmo uma piada. Até Rodrigo Constantino, que (em suas fantasias de unir a "direita") já chegou a postar foto sentado com o Boçalnaro,  posicionou-se contrário à candidatura por considerar o deputado inadequado para o cargo de presidente.

Acontece que os bolsanaretes ficaram furiosos com os colunistas e invadiram as caixas de comentários dos ditos para fazer campanha pelo truculento ex-militar e xingar os blogueiros. Bolsonaro que faz qualquer coisa para aparecer na mídia e alavancar a infausta carreira está adorando todo o barraco, bem a seu estilo. 

Tudo isso só mostra que - à esquerda ou à direita - poucos entendem o significado da palavra democracia no Brasil. Uma olhada nos comentários sobre as postagens dos colunistas da VEJA a respeito da candidatura de Bolsonaro dá uma boa ideia do que falo.

Abaixo texto do Ricardo Setti sobre o assunto e vídeo onde o lastimável deputado define a sua antidemocrática concepção de democracia onde as minorias devem se curvar as maiorias. E ele não é uma piada? A democracia se define pelo exato oposto: é um sistema onde, apesar de definir cargos parlamentares com base no voto da maioria de eleitores, tem como característica o respeito às minorias sejam as eleitorais, sexuais, raciais ou religiosas.  

Bolsonaro candidato a presidente? É uma piada, mesmo. Piada.

Meu amigo Lauro Jardim publicou uma nota em seu Radar On Line que explodiu na web dizendo que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) havia decidido “fazer mais uma graça” e “anunciou oficialmente à cúpula do PP que está disponível para se candidatar a presidente da República”.

A nota provocou um aluvião de acessos e mais de 12 mil comentários — um número espantoso.

Pois eu acho que se trata mesmo apenas de uma “graça”, uma piada, uma brincadeira, a suposta candidatura do deputado a presidente.

Digo isto não porque abomino a maioria das ideias, as posturas, a atitude e o jeito de fazer política do deputado Bolsonaro.

Em primeiro lugar, é uma piada porque o PP é um partido de raposas, e não vai embarcar numa fria, em uma candidatura com chance zero de vingar.

Boa parte do PP pretende continuar mamando no governo e, apesar de se tratar de um partido supostamente conservador, quer continuar tecnicamente apoiando o governo lulopetista da presidente Dilma.

Outros setores querem marchar com o tucano Aécio Neves, que emplacou um governador em exercício do PP em Minas, tem boas relações com o comando do partido, apoia a senadora pepista Ana Amélia na corrida para o governo do Rio Grande do Sul e é primo e muito próximo de um dos cardeais do PP, o senador Francisco Dornelles (RJ).

Em segundo lugar, a candidatura de Bolsonaro é uma piada porque ele não tem equilíbrio, nem postura nem preparo para ser presidente (e não me venham com o argumento de que, se Lula foi presidente, vale tudo, de que, se Collor foi presidente, tudo pode, de que, se Dilma, de quem se dizia “preparadíssima”, chegou lá, tudo vale — não, não vale, porque quero o MELHOR para meu país. Nada de nivelar a exigência por baixo! Já sabemos o resultado disso). As ideias e atitudes do deputado estão longe daquilo que os brasileiros MERECEM ter no próximo ocupante do Palácio do Planalto.

Truculento e gritalhão, Bolsonaro já se envolveu em inúmeros entreveros repletos de insultos e próximos a briga de socos no Congresso. Ele zomba de quem defende direitos humanos, não hesitou em acarinhar publicamente, mais de uma vez, a ideia de golpes militares, defendeu a tortura em determinados casos — atropelando um dos valores mais sagrados da civilização ocidental a que ele supostamente pertence — e até chegou ao extremo grotesco de defender o “fuzilamento” de um presidente da República em exercício, no caso o presidente Fernando Henrique Cardoso. É homofóbico de carteirinha e orgulha-se deste e de outros preconceitos.

É um saudosista da ditadura e faz grossa demagogia dizendo-se, por ser ex-capitão do Exército, representante das Forças Armadas no Congresso.

NÃO, senhores: ele é delegado de 120.646 eleitores do Estado do Rio de Janeiro que o elegeram. Embora entre eles certamente se incluam militares da ativa e da reserva e pessoas de suas famílias, isso fica a anos-luz de se arrogar representante “das Forças Armadas”.

Suposto crítico contumaz da “velha política”, transformou-se por ironia em um ferrenho adepto do que condena e colocou a família para viver às custas da política: ele próprio está no sexto mandato de deputado federal, seu filho Flávio desempenha o terceiro mandato de deputado estadual, a ex-esposa Rogéria foi vereadora na Câmara Municipal do Rio e ele tem lá, hoje, outro filho, Carlos, já no segundo mandato.

Bolsonaro surgiu para a vida pública como um capitão da ativa do Exército que escreveu um artigo para a antiga seção “Ponto de Vista” de VEJA criticando a Força por diferentes razões, inclusive os baixos salários. Acabou sendo punido, ganhou as manchetes, foi para a reserva e pulou para a política, começando como vereador no Rio, embora seja paulista de Campinas.

Em seus 24 anos como deputado federal — consultem seu perfil oficial na Câmara dos Deputados e seu site na internet –, embora tenha apresentado montanhas de projetos e participado de incontáveis comissões, Bolsonaro não demonstrou qualquer preparo apreciável em gestão pública, em economia, em relações internacionais e em uma série de outros requisitos mínimos necessários a quem aspira ser presidente da República.

Seus cursos de saltos como pára-quedista, de mergulho treinado pelo Corpo de Bombeiros e sua passagem pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO) certamente são úteis e interessantes, mas muito pouco para quem quer dirigir uma das 10 maiores economias do planeta.

Não concordo com as ideias de Bolsonaro e repudio a frequência com que ele as defende de forma grosseira, agressiva e pouco democrática. Acho, porém, que ele representa um segmento da opinião pública e tem absolutamente o direito de expressar o que pensa, sempre que aja dentro da lei.

Está muito bem que seja deputado federal e que tente se reeleger. (Já não acho tão bem que queira a família toda vivendo de salários do Legislativo…)

Ser presidente da República, porém, definitivamente não é para seu bico.

Fonte: Coluna do Ricardo Setti, VEJA, 02/05/2014

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A direita brasileira é conservadora e mal resolvida, a despeito de um de seus ícones ser uma espécie de Dercy Gonçalves de suspensórios


No artigo abaixo, Helio Saboya Filho aponta corretamente que, se a dita direita brasileira acerta em enaltecer o papel dos indivíduos e propor a redução do Estado, erra ao fazer tempestade em copo d'água por conta de picuinhas ligadas às questões da moral e dos costumes (no exemplo do texto, trata-se do episódio da "filósofa" Valéria Popozuda). 

Embora chame o economista Rodrigo Constantino - porque são amigos - (um dos mais deslavados oportunistas que já vi no cenário público brasileiro), "de jovem culto, dinâmico, que vem alcançando merecido sucesso em palestras, livros e artigos", Saboya também acerta quando aponta o quanto já deu o "interminável choramingo contra a hegemonia da esquerda na política (na imprensa, como visto, não há), um “coitadismo” em causa própria que desautoriza o discurso da meritocracia." 

Acerta ainda quando chama Olavo de Carvalho, o pancadão ultraconservador, de espécie de Dercy Gonçalves de suspensórios, e quando afirma que, se a espécie dos esquerdopatas sobrevive, há também destropatas  ressentidos e autoritários a reprovar.

De fato, a direita brasileira - fundamentalmente conservadora - indo dos toscos espécimens como Bolsonaro, padres Ricardos e pastores evangélicos, até aos mais letradinhos como Pondé, Reinaldo Azevedo e Constantino, mistura questões de macropolítica (economia, democracia, direitos civis, saúde, educação, segurança, etc.) com questões de micropolítica (questões específicas como religião e temas de moral e costumes), fazendo o célebre samba do conservador doido e ridicularizando a si mesma.

Entre os esquerdopatas e esses destropatas, a diferença é simplesmente de quem está ou não está no poder. Para quem quer um Brasil moderno e inclusivo, nenhum deles têm qualquer serventia. De fato, só servem para se retroalimentar de ódio e ressentimento, num fla-flu interminável que não leva a futuro algum.

Vozes da direita

Eleições se ganham por mérito; não há cotas para excluídos

O enfant terrible da direita, o economista Rodrigo Constantino, é um jovem culto, dinâmico, que vem alcançando merecido sucesso em palestras, livros e artigos, superando Olavo de Carvalho, oráculo direitista cujos excessos o converteram em uma espécie de Dercy Gonçalves de suspensórios.

Constantino, Diogo Mainardi, Denis Rosenfield, Luiz Felipe Pondé, Guilherme Fiuza e Reinaldo Azevedo fazem um respeitável contraponto ao colunismo de esquerda formado por Verissimo, Vladimir Safatle, Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim, Luiz Nassif e Emir Sader. (Omissões nas escalações são debitadas à falta de espaço, que sobra para todos na grande imprensa e na internet).

Na essência, o primeiro time desses formadores de opinião advoga a liberdade individual e a redução do Estado, e o segundo um Estado intervencionista e provedor. Para Pondé, “o Brasil hoje é um país rasgado entre uma cultura liberal, centrada no indivíduo e na valorização da autonomia e autorresponsabilidade, e uma autoritária, centrada no ‘coletivo’ e no culto do ressentimento e da dependência”.

A dimensão paquidérmica da máquina oficial e seus escândalos fazem praticamente irretorquíveis os argumentos de uma direita que, mesmo com material tão fértil a ser explorado, desperdiça energia com questões completamente insignificantes, polemizando bobagens com verniz de erudição e entusiasmo de hora do recreio.

Há alguns dias, em uma escola de Taguatinga, a cantora Valesca Popozuda foi citada como “pensadora contemporânea” por um professor que pretendia chamar atenção para “a influência da mídia na formação desses valores”.

A direita fez um charivari digno de quem se viu diante de um traseiro bolivariano a serviço da doutrinação marxista. Ora, nos EUA, uma universidade da Carolina do Sul criou um curso cuja matéria é a Lady Gaga e outra, de Nova Jersey, um curso sobre a cantora Beyoncé. E daí?

Por outro lado, no recente caso Petrobras, ícones do empreendedorismo independente que concorreram com seus votos para aprovar a polêmica operação Pasadena não sofreram quaisquer críticas por aqueles que pregam a iniciativa privada como a solução de todos os males que afligem a humanidade. Um silêncio difícil de explicar.

Finalmente, não há mais lenço (nem saco) para o interminável choramingo contra a hegemonia da esquerda na política (na imprensa, como visto, não há), um “coitadismo” em causa própria que desautoriza o discurso da meritocracia. Eleições se ganham por mérito; não há cotas para excluídos. E o mais incensado liberal acidental, Demóstenes Torres, saiu do Senado por feitos de gravidade mensaleira.

Se sobrevive a espécie dos esquerdopatas, há também destropatas que, ressentidos e autoritários, festejam o golpe militar, tietam Bolsonaros e Felicianos, e se arrepiam ao ver uma foto do Che Guevara. Será que não basta ter o Lobão como muso e a Sheherazade como musa?

Fonte: O Globo, 24/04/2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ana Popovic, a branca da Sérvia que arrasa tocando e cantando o negro Blues

Nascido nos campos de algodão dos EUA, onde os negros escravos trabalhavam de sol a sol e cantavam para acompanhar seus fardos e seu fado, o blues traduzia o sofrimento de um povo cativo que sempre soube transformar a dor em poema. Tanto que "blue", além de azul, naturalmente, significa tristeza, melancolia, em inglês. Com o passar dos anos, porém, o blues, o estilo musical, transformou-se também em música dos corações partidos, e igualmente, da sensualidade, da ironia e da poesia.

Ramificou-se em vários tipos, partindo do original Delta blues (o blues de raiz do delta do Mississipi acústico) para o blues de Chicago (a fusão entre o blues acústico do Delta e a introdução da guitarra elétrica no blues) e o Texas Blues (um blues elétrico e rápido). E, dos EUA, sobretudo o blues eletrificado de Chicago e Detroit se espalhou  pelo mundo inteiro, não sem antes gerar outros filhos como o jazz e o rock (mistura do blues negro com o country branco).

Globalizado, o blues influenciou músicos em todo o mundo, dos ingleses Rolling Stones (um dos redescobridores desse estilo musical) e Eric Clapton, para falar nos mais conhecidos, até vejam só a última sensação do gênero, a guitarrista (sim, uma dama), uma senhora branca e sérvia (sic) que estará se apresentando agora em maio, nos dias 9, 10 e 11, no Samsung Galaxy Best of Blues Festival, no WTC Golden Hall, em São Paulo, ao lado de nomes como Jeff Beck, Buddy Guy, Joss Stone, Jonny Lang e Trombone Shorty. O nome dela é Ana Popovic e, além de cantar, no melhor estilo "negro", ainda arrasa na guitarra. (Ver aqui e aqui outra dama que arrasa nas cordas eletrificadas)

Abaixo, matéria sobre a Ana Popovic (cantando, me lembrou a Janis Joplin) e dois vídeos com ela mostrando porque o blues, nascido preto, pobre e cativo, brota, contudo, das vísceras de qualquer pessoa que tenha de fato um coração.

Guitarrista celebrada pelos mais renomados bluesmen, chega, enfim, Ana Popovic

Música é uma das atrações Samsung Galaxy Best of Blues Festival, que acontece em maio
Jotabê Medeiros 

A grande esperança do blues é mulher. E é bonita. E é branca. E é sérvia. Seu nome é Ana Popovic, e ela barbariza tanto com sua Fender Stratocaster 1964 quanto com seus vestidos curtíssimos e sua pose de modelo de propaganda de xampu.

Estrela do Samsung Galaxy Best of Blues Festival, no WTC Golden Hall, em São Paulo, nos dias 9, 10 e 11, ao lado de nomes como Jeff Beck, Buddy Guy, Joss Stone, Jonny Lang e Trombone Shorty, Ana é a loira eletrificada do novo blues. Pela primeira vez no Brasil para tocar (ela conta que já veio antes como turista para conhecer os carnavais de Salvador e Rio de Janeiro, e ficou três semanas), a guitarrista é a grande sensação dos festivais norte-americanos. Este ano, foi a única mulher convidada para a 8.ª edição do Experience Hendrix Tour – os outros eram Buddy Guy, Eric Johnson, Zakk Wilde, Bootsy Collins, Dweezil Zappa, David Hidalgo (dos Los Lobos), além do baixista Billy Cox (que tocou com Hendrix) e do baterista Chris Layton (que acompanhou Stevie Ray Vaughan).

Nos grandes festivais, ela lota as tendas – como sucedeu no ano passado no JazzFest de New Orleans. "Quando eu tinha dois anos, o blues me conquistou. Meu pai tinha uma grande coleção de discos e, desde que me lembro, sempre gostei do gênero. O blues é parte do que eu sou. Não sou americana, mantenho o meu toque europeu. E não uso botas nem chapéu, vou a discotecas dançar com meus amigos. Mas, tirando isso, todo o resto é o mesmo: eu toco a guitarra do blues, eu amo o mainstream do blues", disse a cantora ao Estado, anteontem, falando por telefone de sua casa, em Memphis, Tennessee.

Aos 37 anos, mãe de dois filhos, Ana Popovic contraria totalmente o estereótipo do blues sulista norte-americano, embora esteja totalmente ambientada ali. "Você não precisa ter nascido nos Estados Unidos para tocar blues. Há bluesmen em todo lugar, e fãs de blues em todo lugar. Eu cresci ouvindo Elmore James, Robert Johnson, Steve Ray Vaughan, Robert Cray, John Scoffield, Bukka White e também as bandas de rock, como Cream e Led Zeppelin. Claro, ouvi também o jazz europeu, Django Reinhardt e os outros. Mas, geralmente, eram artistas americanos, o Delta blues, o Texas blues, o rock sulista", ela lembra.

Ana é divertidíssima. Desafiada a relacionar todas as guitarras que tem, ela contabiliza seis ou sete instrumentos – a famosa Strato 1964, mais uma Telecaster 1971, mais uma peça vintage de 1957. "Não sou uma colecionadora de guitarras, tenho algumas boas para a estrada e outras para o estúdio. Sempre preferi sapatos", brinca.

Os guitarristas hendrixianos, entretanto, prestam muito mais atenção ao seu estilo do que aos seus sapatos. Vinte deles a "adotaram" na recente turnê Experience Hendrix, especialmente por conta de sua ousadia "old school" - expressa no álbum mais recente, Can You Stand the Heat?, produzido por Tony Coleman, baterista de B.B. King. "Fiz algo diferente porque eu gosto mais das canções meio desconhecidas de Hendrix, aquelas que não se tornaram hits. Sou um tipo meio lado B. Hendrix é um dos melhores ainda hoje. Adoro a energia dele, especialmente do seu trio", ela conta. Entre as canções que ela toca, estão House Burning Down, Belly Button Window e Can You See Me?

Ela nasceu em Belgrado e morou muitos anos em Amsterdã (onde sua família ainda tem residência), quando foi descoberta pelos americanos por conta do disco Comfort to the Soul, que lhe valeu uma indicação para o WC Handy Blues Awards como artista revelação. Agora, mudou-se de mala e cuia para o coração de Memphis.

"Eu vim a Memphis há dez anos, indicada por um selo para gravar um disco de blues (Comfort to the Soul). Conheci as pessoas na cidade, a gravação foi com uma banda fantástica. Os músicos daqui tocam divinamente. É um lugar bacana, o tempo é bom, minha banda vive por aqui. Eu já tinha vivido em New Orleans e Los Angeles, mas era muito conveniente fixar residência em Memphis". Para seu primeiro show na América Latina, ela promete uma fusão de blues, soul, funk e rock no festival, e quer muito conhecer os bluesmen brasileiros.

Samsung Galaxy Best of Blues 
WTC GOLDEN HALL. Avenida das Nações Unidas, 12.551. Dias 9 e 10, a partir das 19h. Dia 11, a partir das 18h30. DE R$ 150 a R$ 900. Classificação etária: 16 anos

Fonte: O Estado de S. Paulo, 25/04/2014

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