8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Petismo delirante insiste em reforma política e controle dos meios de comunicação

Dilma quer os movimentos sociais pelegos tomando às ruas para defender seu legado
Reproduzo abaixo o documento da Comissão Executiva Nacional do PT do dia 4 conclamando seus movimentos pelegos para defender o projeto de poder eterno do petismo via plebiscito, reforma política para financiar ainda mais a roubalheira do partido e a eterna história do controle da mídia. Enquanto isso a população de verdade continua homenageando a sigla por sua qualidades memoráveis. Ouçam o coro entoando "o PT roubou", na festa do Dia da Independência baiana, em vídeo ao fim do documento insano dos petralhas. Outros comentários ao longo do texto.

Nota da Comissão Executiva Nacional do PT


A Comissão Executiva Nacional do PT, reunida em 4 de julho de 2013 em Brasília/DF, para avaliar a situação política nacional e o resultado das manifestações populares e da juventude que ainda estão em curso em todo o país.

SAÚDA

· o caráter progressista que se consolidou no rumo das manifestações em curso, com suas reivindicações políticas, econômicas e sociais profundamente identificadas com a trajetória e programa do Partido dos Trabalhadores e das forças que se uniram para governar o Brasil sob a condução da Presidenta Dilma (foram e continuam sendo escorraçados nas ruas e não se emendam)

· a pronta disposição democrática da Presidenta Dilma, líder de uma das maiores democracias do planeta e a única, entre tantos Chefes de Estado que tiveram suas ruas tomadas por manifestantes populares e da juventude, a abrir o diálogo com estes e a responder de forma concreta aos seus justos clamores pelo aprofundamento das mudanças que o País vive nos últimos dez anos (chamou os movimentos sociais amestrados do petismo para "conversar" sobre como voltar a cooPTar as massas autônomas)

· a iniciativa política do Governo de construir, com os movimentos sociais, o Congresso Nacional, o Poder Judiciário e as forças políticas democráticas uma agenda de alto nível sobre o presente e o futuro do Brasil, consubstanciada nos Pactos anunciados pela Presidenta Dilma e numa agenda legislativa há muito reclamada pela Nação (com os movimentos sociais amestrados, base aliada alugada e juízes amigos do peito?)

· a tramitação de importantes legislações constantes desta agenda nacional, entre elas a PEC do Trabalho Escravo, a destinação de recursos dos royalties do petróleo e do Fundo do Pré-Sal para a educação e a saúde, a criação do REITUP para baratear os custos das tarifas de transporte coletivo, entre outras, e a retirada de cena de projetos reclamados pela população, como a chamada “cura gay”. (PEC do trabalho escravo não constava das manifestações; verbas do Pré-Sal foram cortadas por suas excrescências e a "cura gay" não foi arquivada, apenas tirada de pauta)

· a entrada em debate de importantes matérias como o Estatuto da Juventude, o PL 4.471 (autos de resistência) e a criminalização dos corruptores em projeto de lei apresentado pelo Presidente Lula, bem como a adoção de medidas que visam ressarcir os cofres públicos dos prejuízos por estes causados à sociedade, que esperamos sejam aprovados no curto prazo. O PT se posiciona ainda contra a PEC 215, que visa transferir do Executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas (criminalização dos corruPTores em projeto apresentado pelo maior corruPTo do país?; tirar do Executivo suas funções?).

· a construção de crescente unidade na esquerda política, partidária e social da necessidade urgente de aprovação de uma verdadeira Reforma Política com Participação Popular e de um Plebiscito Nacional sobre os eixos fundamentais dessa reforma, pela qual há anos o PT e os movimentos sociais lutam no Congresso Nacional. (novamente os movimentos sociais amestrados, braços do petismo, se unem a seus patrões para nos enfiar goela abaixo uma reforma de interesse do PT?)

MANIFESTA

· o compromisso com a agenda de reformas democráticas e populares que podem dar sustentação política, econômica e social às respostas que vêm sendo dadas aos justos reclamos da população no que diz respeito à qualidade dos serviços públicos e consolidação da inclusão social de amplas maiorias.

· entre estas, o compromisso com uma Reforma Tributária que busque nas grandes fortunas e rendas de uma minoria os recursos que permitam a diminuição da carga tributária sobre a produção, a renda e o trabalho das amplas maiorias do pais.

· a convicção de que os mecanismos constitucionais e legais existentes para uma Reforma Urbana podem e devem ser utilizados para que as atuais políticas públicas de moradia, saneamento básico e mobilidade urbana estejam integradas com a sustentabilidade e a melhoria da qualidade de vida das nossas cidades

· o chamamento à imediata aprovação do marco civil da Internet pelo Congresso, garantindo os direitos de 80 milhões de internautas brasileiros e ampliando as potencialidades de toda comunicação em rede, tão utilizadas nas recentes manifestações em todo o país.

· a luta pela regulamentação dos dispositivos constitucionais que normatizam as comunicações do Brasil, tal como proposto pelo Fórum Nacional da Democratização da Comunicação, cujo abaixo-assinado assumimos em fevereiro.

· a defesa da imediata Reforma Política, com efeitos imediatos já para as eleições de 2014 e com resultados duradouros e estruturais definidos em uma Assembléia Constituinte Exclusiva sobre o tema da Reforma Política cuja convocação propomos seja submetida à consulta popular em Plebiscito.

ORIENTA

· as bancadas do PT na Câmara e no Senado a trabalharem pela coesão da base aliada da Presidenta Dilma no Congresso para a convocação no mais curto prazo do Plebiscito Nacional pela Reforma Política, priorizando entre os quesitos a serem incluídos na consulta popular os eixos de nosso Projeto de Lei de Iniciativa Popular: financiamento público exclusivo de campanhas; sistema proporcional com voto em lista partidária pré-ordenada e paridade de gênero; a ampliação da participação popular e dos mecanismos de democracia participativa já existentes; e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para a Reforma Política.

CONCLAMA

· a militância do PT a continuar colhendo assinaturas para o nosso projeto de iniciativa popular, ombro a ombro com outras iniciativas da sociedade civil que caminham no mesmo sentido (como a Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma Política, o MCCE, a OAB, a CNBB, entre outras valorosas instituições), intensificando o ritmo da coleta de assinaturas para que incidam positivamente no debate no Congresso Nacional sobre o tema.

· a militância petista nos movimentos sociais a que assumam decididamente a participação nas manifestações de rua em todo o país, em particular no Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações convocada por ampla coalizão de centrais sindicais e movimentos populares para o próximo dia 11 de julho, em defesa da pauta da classe trabalhadora para o país e da Reforma Política com Participação Popular.

· os partidos democráticos e populares, centrais sindicais e movimentos sociais que vêm se articulando de forma importante ao longo das últimas semanas para colocar na rua a pauta das transformações sociais do país que sempre nos unificou a debater a reconstituição do Fórum Nacional de Lutas como espaço de diálogo permanente, construção de unidade e articulação de lutas sociais e institucionais.

· os filiados e filiadas ao Partido dos Trabalhadores em todo o Brasil para que intensifiquem os preparativos para um grande Processo de Eleições Diretas (PED) a ser realizado entre os meses de julho e novembro, com ampla mobilização e empenho no debate político dos temas de nosso V Congresso do PT, de modo a demonstrar a toda a sociedade brasileira que nossas bandeiras de democratização e participação popular em nosso projeto de Reforma podem e serão vividas nas relações internas do PT, construindo e fortalecendo nossa unidade de ação.

e CONVOCA

- Reunião do Diretório Nacional do PT para o dia 20 de Julho.

- Reforma Política com Participação Popular

- Plebiscito Já

- Eleições de 2014 regidas pelas novas regras da Reforma Política

- Todo apoio ao Dia Nacional de Luta com Greves e Mobilizações de 11 de Julho

Brasília, 04 de julho de 2013.
Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

Mais um exemplo de como o PT e seus movimentos amestrados representam o interesse popular. Nas ruas da Bahia, em comemoração ao 2 de julho (Dia da Independência local), o povo homenageou o PT cantando:  “Oooo, o PT roubou/ o PT roubou/ o PT rouboooouu-ouuuu”

sexta-feira, 5 de julho de 2013

José Mujica, o socialista honesto: "O capitalismo multiplicou o trabalho em todas as partes e mudou o mundo"

Pepe Mujica: "Somos todos Capitalistas"
O atual presidente do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano (Pepe Mujica), eleito em novembro de 2009, que já foi guerrilheiro tupamaro, tem surpreendido a todos com seu estilo despachado, inclusive em termos de vocabulário (usa muita gíria e fala enrolado como se estivesse meio borracho), e desapegado das benesses do poder (anda de fusca e dizem que doa parte de seu salário para ONG e institutos de caridade). O que não se sabia - pelo menos muitos de nós nessa nossa terra brasilis - é que Pepe também tinha caído na real e passado a ver o lado positivo do capitalismo que a maioria dos socialistas nega veementemente, sobretudo da boca para fora.

No vídeo abaixo, de novembro de 2010, Mujica reconhece a importância do tão mal falado capitalismo na produção dos pães que alimentam a sociedade e ironiza os colegas socialistas que não abdicam do mel e das comodidades do capitalismo, embora continuem se dizendo revolucionários. Para os ditos, como se pode ver pelo próprio título do vídeo, Mujica está senil. Para nós, que não vivemos de ideologia, está mais lúcido do que nunca.

Traduzi apenas o início da fala de Mujica que me pareceu mais pertinente e a editei ligeiramente para melhor compreensão.

O Mel do Capitalismo

Somos filhos do capitalismo. O capitalismo desatou no mundo uma coisa maravilhosa: domesticou a ciência e a inseriu no implemento da tecnologia. E multiplicou o trabalho em todas as partes e mudou o mundo. Entretanto, qual é o motor disso? O lucro. O que tem sido o motor do progresso também é o motor de nosso egoísmo. Não encontramos outro motor que impulsione a economia. E às vezes somos tão lerdos (?) que não nos damos conta de que temos que lidar com essa contradição em uma ponta e na outra.  E estamos em um fogo cruzado. 

Por quê? Porque se mato a necessidade do lucro, o investimento empresarial, não estou ferrando a empresa, estou matando o motor que permite multiplicar os pães na sociedade. Mas (o lucro) impõe insuportável injustiça à sociedade, e quero repartir (os pães). Há ironia de um lado e de outro. Falta à esquerda e ao mundo compreender isso. Porque somos todos capitalistas. Os supostos revolucionários não renunciam ao mel e as comodidades do capitalismo. Bela contradição a nossa!
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

As manifestações de rua já criaram suas trilhas sonoras. E isso diz muito sobre a validade delas!



As manifestações de rua já criaram suas trilhas sonoras. E isso diz muito sobre a validade delas! Já adentraram a cultura popular. A gente continua não sabendo no que elas vão dar, mas é certo que o gigante levantou do berço e, embora ainda meio sonâmbulo, contou os seus sonhos. Agora precisa ver o que nossos famigerados políticos vão fazer com esses sonhos. 

Como disse Cármen Lúcia, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao comentar sobre a inviabilidade do plebiscito proposto por Dilma Roussef: “Cuidado por onde andas, pois é sobre meus sonhos que caminhas". (Carlos Drummond de Andrade)

Destaco três das trilhas abaixo: Chega, Brasil em Cartaz, As coisas não caem do céu!

Seu Jorge: CHEGA (Não é pelos vinte centavos)

 Thiago Corrêa: Brasil em Cartaz

Detonautas: "Quem é Você"
                                         

Leoni: As coisas não caem do céu

 Gol da Vitória - Edu Krieger

 Viva A Revolução - Capital Inicial

terça-feira, 2 de julho de 2013

A prevalência das ideias socialistas até hoje se deve às injustiças e exclusões sociais várias que os socialistas sabem capitalizar

O Instituto Mises Brasil fez uma entrevista com o ogro conservador Olavo de Carvalho, sob pretexto de ouvir a opinião do autointitulado filósofo a respeito  da obra Ação Humana do economista Ludwig von Mises, que dá nome ao Instituto.  Mais uma oportunidade para OC desfiar sua teoria conspiratória da nova ordem mundial comunista, ainda que desta vez a ladainha tenha sido bem mais comedida que de costume. Respondi na caixa de comentários do site sobre o erro fundamental da discurseira do senhor em questão e transcrevo a resposta abaixo bem como o vídeo com a entrevista. Em um dado momento, o entrevistador pergunta a OC porque, apesar do fracasso histórico do socialismo, suas ideias continuam seduzindo tanta gente. E o "viajando" responde que é porque o socialismo não tem - em outras palavras - oposição em nível internacional, porque arromba porta aberta. Em outras palavras, o cara faz um diagnóstico da realidade completamente fora dela e tem gente que o leva a sério. Pior que tem! 

Comentário sobre a entrevista de Olavo de Carvalho ao Instituto Mises Brasil

Olavo de Carvalho!!?? Ai, ai! Quer dizer que “As ideias socialistas ainda seduzem tanta gente porque “o comunismo é o único movimento político que existe nos últimos 200 anos.”? Sério? Só existem oposições locais às ideias socialistas? Não existe internacional liberal? Resta saber então como ainda temos sociedades capitalistas (meia boca que sejam), de democracia liberal.

As ideias socialistas seduzem até hoje porque existem injustiças, discriminações, exclusões várias no mundo em que vivemos. Os socialistas (me refiro à esquerda autoritária) capitalizam a indignação proveniente desse quadro para seus propósitos, dando falsas soluções para os problemas sociais, já que só têm teoria de poder, não teoria de governo nem teoria econômica que funcionem. Mas os conservadores também não têm, já que "tradição" não move economia nem estrutura governos per se, por isso emprestam tudo do liberalismo, cortando-lhe as asas em troca. Conservadores apoiam Estado mínimo e outros princípios liberais muito mais porque veem o Estado como rival da família tradicional, centro do poder conservador, junto com a religião, do que pelos argumentos racionais que se costuma levantar contra os problemas derivados de um estado grande.  E são tão liberticidas quanto os socialistas, basta ver nessa entrevista a historinha do seu olavo de que se você quiser liberdade sexual terá como contrapartida de aceitar um governo tirânico. O que alhos têm a ver com bugalhos, não é?

Mas, então, se os socialistas podem ser considerados alienados por não aceitar que sua ideologia não deu certo em lugar nenhum do mundo, em qualquer momento, como não considerar alienada também gente que não reconhece a realidade profundamente injusta do mundo em que vivemos como o real combustível da permanência das ideias socialistas na atualidade, indo procurar respostas como quem busca pelos em casca de ovo e chifres em cabeça de cavalo?

Aliás, outra das razões para a prevalência das ideias socialistas deriva da incapacidade inclusive dos liberais de darem respostas aos anseios de justiça da maior parte da humanidade, negando sua validade, hostilizando os movimentos sociais, copiando o discurso neocon que reduz qualquer inconformismo com a sociedade em que vivemos à coisa de “preguiçoso, maconheiro, vagabundo, vândalo, niilista, psicopata, ateu...”? Enquanto a posição for essa, cega, surda, mas não muda infelizmente, não terão condições de reverter a prevalência da visão socialista na sociedade. Não terão nem merecem ter.  

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Fina Ironia: Direita X Esquerda - o retorno

Posto texto do Antônio Prata, reproduzido no blog do Augusto Nunes, porque criativo e engraçado, embora tenha dúvidas se a maioria entendeu (ou entenderá) a fina ironia do autor. Na mesma linha, contribuo: "A diferença entre a esquerda e a direita é que a esquerda pensa com o coração, mas o coração não tem cérebro, e a direita esqueceu o coração em algum lugar, mas nem se preocupa em saber onde."

Direita X Esquerda - o retorno 

ANTÔNIO PRATA

Depois que o muro de Berlim foi partido em cubinhos e vendido como souvenir, Che Guevara passou a usar o chapéu do Mickey Mouse e a Colgate uniu o mundo num único e branco sorriso, muita gente pensou que esquerda e direita tinham ficado para trás. Dizia-se que, dali em diante, os termos só seriam usados para indicar o caminho no trânsito e diferenciar os laterais no futebol. Afinal de contas, estávamos no fim da história e, como sabíamos desde criancinhas, todos viveriam felizes para sempre.

Mas o mundo gira, gira e – eis aí um grande problema de rodar em torno do próprio eixo – voltamos para o mesmo lugar. Se a história se repete como farsa ou como história mesmo, não faço a menor idéia, mas ouso dizer, parafraseando Nelson Rodrigues (que já foi de direita, mas o tempo e Ruy Castro liberaram para a esquerda), que hoje em dia não se chupa um Chicabom sem optar-se por um dos blocos.

Ah, como fomos tolos! Acreditar que aquela dicotomia ontológica resumia-se à discussão sobre quanto o Estado deveria intervir no mercado (ou quanto o Mercado deveria ser regulado pelo estado, o que vem a ser a mesma coisa, de maneira completamente diferente) é mais ou menos como pensar que a diferença entre homens e mulheres restringe-se ao cromossomo Y. Ou ao comprimento do cabelo.

Estado e Mercado são apenas a ponta de um iceberg, ou melhor, dois icebergs sociais, culturais, gastronômicos, gramaticais, musicais, lúdicos, léxicos, religiosos, higiênicos, esportivos, patafísicos, agronômicos, sexuais, penais, eletro-eletrônicos, existenciais, metafísicos, dietéticos, lógicos, astrológicos, pundonôricos, astronômicos, cosmogônicos – e paremos por aqui, porque a lista poderia levar o dia todo.

Justamente agora, quando esquerda e direita, pelo menos em suas ações, pareciam não divergir mais sobre as relações entre Estado e Mercado (ponhamos assim, os dois com maiúsculas, para não nos acusarem de nenhuma parcialidade), a discussão ressurge lá do mar profundo, com toda a força, como o tubarão de Spielberg.

Para que o pasmo leitor que, como eu, dá um boi para não entrar numa discussão, mas uma boiada para não sair, não termine seus dias sem uma única rês, resolvi enumerar algumas diferenças entre essas, digamos, maneiras de estar no mundo. Dessa forma saberemos, ao comentar numa mesa de bar, na casa da sogra ou na padaria da esquina, “dizem que o filme é chato” ou “como canta bem esse canário belga”, se estamos ou não pisando inadvertidamente numa dessas minas ideológicas, mandando os ânimos pelos ares e causando inestancáveis verborragias.

A lista é curta e provisória. Outras notas vão entrar, mas a base, por ora, é essa aí. Se a publico agora é por querer evitar, mesmo que parcialmente, que mais horas sejam ceifadas, no auge de suas juventudes, nas trincheiras da mútua incompreensão. Vamos lá.

A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal – e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem – e tende a melhorar.

A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.

Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.

Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! – grita a esquerda. Ressentida! – grita a direita.

A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à yoga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).

Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos – se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda).

Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da yoga (processo, holístico e yoga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Yoga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”).

Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso).

Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris). Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.

As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista).

Leão, urso, lobo: direita. Pinguim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa). Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdomem, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão).

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar). Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes). Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, catchupe é de direita – e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.

Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.

No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda. (mas talvez essa seja a visão de uma mulher – de esquerda).

Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (O trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).

“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.

Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do neutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.

To be continued (continua, para os de direita)

Under construction (em construção, para os de esquerda)

Fonte: (re)publicado no blog do Augusto Nunes em 29/06/2013 via blog do Antonio Prata

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