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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A importância de David Bowie

David Bowie
Ao contrário do que pensam os conservadores que, além da estreiteza moral e sexual, pouco entendem de estética, o período que vai dos anos 50 até os anos 80 do século XX não só nada tem a ver com a mediocridade cultural dos dias de hoje como foi o seu exato oposto. De fato, esse período se configurou como um dos mais criativos do século passado, promovendo transformações culturais e na área de costumes que mudaram a face das sociedades ocidentais. 

Só para lembrar uma de suas "revoluções", é o período que vê nascer o rock, filho do blues e da música negra americana em geral (o rhythm & blues, gospel, jazz) com a música country e o folk. E entre seus vários artistas excepcionais, o inglês David Bowie é um dos que merece destaque pela qualidade de sua produção. 

No vídeo abaixo, o jornalista Sérgio Martins fala um pouco da carreira do cantor e compositor e faz sugestões de álbuns para que os mais jovens possam conhecer melhor sua brilhante trajetória. No site do artista, em inglês, pode-se acessar também sua extensa biografia.

Reproduzo ainda o mais recente lançamento de Bowie Where are you now? e Heroes, uma das músicas dele que mais gosto. Apreciem sem moderação! 
 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

BNDES, o Banco da Mãe Joana: Oi recebe R$ 5,4 bilhões de financiamento

Pelo FIM do Banco dos Ricos
O BNDES aprovou financiamento de R$ 5,4 bilhões para a Oi (ex-Telemar). Trata-se do maior valor já destinado a uma empresa de telecomunicações desde a privatização do setor, em 1998. Segundo o BNDES, a Oi vai usar os recursos para fazer seus investimentos até 2014. O projeto inclui a expansão e melhoria da capacidade instalada das redes de acesso de dados (banda larga), fixa e móvel, além da infraestrutura de TV por assinatura. No total, o BNDES vai financiar 34% do investimento total do projeto da Oi até 2014, de R$ 15,9 bilhões.

A Oi já havia recebido do BNDES R$ 4,4 bilhões no fim de 2009 — até então o maior volume já destinado pelo Banco a uma empresa de telecom.

Segundo o BNDES, o financiamento, anunciado hoje, prevê a aquisição de R$ 1,4 bilhão em equipamentos nacionais, dos quais 55% (R$ 675 milhões) de fornecedores que investem em inovação no país.

Na planta fixa, os investimentos serão voltados para permitir a transmissão de dados, voz e mídia. Na rede móvel, o objetivo é melhorar a qualidade em áreas já atendidas e aumentar a cobertura do serviço de internet móvel 3G para novos municípios, além da implantação da tecnologia 4G nas principais cidades do Brasil.

Fonte: O Globo

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Desmistificando: Princípios Básicos do Liberalismo e da Democracia Liberal



Das três visões de mundo, a saber, socialismo, liberalismo e conservadorismo, que até hoje conformam nossas sociedades em geral, a visão liberal se constitui na mais aproveitável, por ter  produzido mais benefícios do que malefícios para a humanidade. A despeito de contradições e limitações inerentes à doutrina, suas ideias principais, fundadas na razão humana e não em misticismos políticos ou religiosos, têm sido base para a riqueza das nações e a construção de sociedades mais igualitárias. Apesar de pensadas, a princípio, por e para um seleto grupo de iguais, acabaram se tornando instrumento de luta de todos. 

Não creio na economia de mercado ou na democracia liberal como panaceias para todos os males, mas as reconheço como os melhores sistemas econômico e político que a humanidade já criou. Fora delas, a "alternativa" tem sido a escassez e as crises permanentes das economias estatizadas e a barbárie autoritária de algum tipo, seja política ou religiosa, de esquerda ou de direita. Como instrumento de análise e administração da política institucional, da relação do estado com os indivíduos e a economia, as ideias liberais permanecem de grande utilidade.

Mostram-se limitadas, contudo, ao analisar as relações de poder existentes na sociedade em geral. Isto porque desconsideram os condicionantes sociais que modelam a trajetória dos indivíduos, às vezes de forma inexorável, e veem as escolhas das pessoas como livres de coação (a não ser a estatal). Em razão  disso, comum ocorrerem, nas análises liberais, falsas simetrias entre situações até diametralmente opostas que se tornam reduzidas a meras opções individuais. Sem falar no mau hábito de dar explicações unicamente econômicas para fenômenos complexos.

De qualquer forma, entre prós e contras, vale a pena conhecer a doutrina em suas linhas gerais, considerando sua enorme influência na história humana dos últimos dois séculos principalmente. Para tal, segue abaixo a transcrição do texto Princípios Básicos do Liberalismo e da Democracia Liberal, da Fundação Friedrich-Naumann-Stiftung. Ver também Desmistificando: O que é o liberalismo? que acrescenta mais perspectivas sobre o assunto.

Princípios Básicos do Liberalismo e da Democracia Liberal

O Liberalismo, como o próprio nome diz, é a crença fundamental num ideal político em que os indivíduos são livres para concretizar seus objetivos à sua própria maneira, desde que eles não infrinjam a liberdade dos outros.

É uma corrente política que abrange diversas ideologias históricas e presentes que proclamam como sendo o único objetivo do governo a preservação da liberdade individual. Tipicamente, o liberalismo favorece também o direito à discordância dos credos ortodoxos e das autoridades estabelecidas em termos políticos ou religiosos. Neste aspecto, o oposto do conservadorismo.

A palavra liberal deriva do latim "liber" (livre) e os liberais, de todas as correntes, tendem a ver a si mesmos como amigos da liberdade, particularmente a liberdade relativa às amarras da tradição.

Mas quais são exatamente os princípios básicos do liberalismo e democracia liberal?

Direitos Humanos - o comprometimento com os direitos humanos está acima de tudo. Entre os direitos humanos fundamentais estão o direito à dignidade humana, à vida, o direito à liberdade física, de religião, de credo, de expressão.

Igualdade - Todos os liberais concordarão em que igualdade significa que não pode haver discriminação. Os liberais defendem direitos iguais para todos, ou seja, que todos tenham as mesmas oportunidades. Para isso, enfatizam a melhoria da educação. Em resumo, os liberais acreditam na igualdade perante a lei e na igualdade de oportunidades.

Estado de Direito - O respeito aos Direitos Humanos está ligado ao respeito ao Estado de Direito. O Estado de Direito é um conjunto de salvaguardas contra o tratamento arbitrário e tirânico das autoridades. Por exemplo, num tribunal, o juiz deve ser imparcial e não pode simultaneamente exercer a função de promotor público (não pode ser ao mesmo tempo jogador e árbitro). Todas as pessoas, incluindo o governo, devem ser iguais perante a lei – independentemente de quem quer que seja. Qualquer pessoa acusada de um crime deve ser informada exatamente sobre qual acusação  pesa sobre ela de modo que possa  se defender. Todas as pessoas são inocentes até prova em contrário. Os juízes devem ser independentes, isto é, o governo ou qualquer outra instância não devem tentar impor-lhes suas opiniões por pressões ou ameaças. As decisões dos tribunais devem ser consistentes, isto é, casos similares devem ter desfechos similares. Em resumo, deve haver justeza na forma e na maneira como as pessoas são tratadas pelas autoridades.

A isto se soma a crença dos liberais de que o governo e o Estado deve funcionar de acordo com a lei e de que certos princípios fundamentais não podem ser mudados, mesmo se o governo assim o quiser (por exemplo, o direito à dignidade humana). Tais princípios fundamentais estão muitas vezes, mas não sempre, consagrados na constituição do país.

Liberdade Individual

A base para essas crenças liberais é a importância que os liberais atribuem ao indivíduo e aos seus direitos e responsabilidades. Os liberais acreditam que as pessoas devem tomar decisões livremente, sem receber imposições. Devem ser livres para seguir a vida que acharem por bem desde que não limitem a liberdade de outros. Em outras palavras, sua liberdade termina onde começa a liberdade do seu próximo.

Esta crença na liberdade individual é subjacente a todos os outros princípios já listados. Além disso, o liberalismo exige a tolerância a opiniões diferentes e sobretudo a opiniões que sejam diferentes das suas. Um escritor famoso uma vez disse: “Não concordo com aquilo que você diz, mas irei defender até a morte o seu direito de dizê-lo (Voltaire).”

Propriedade privada e mercado livre

Os liberais adotam a ideia de liberdade e direitos individuais também em âmbito econômico. Historicamente falando, o conceito de direitos de propriedade foi a verdadeira base da liberdade individual e dos direitos individuais. Em primeiro lugar está o princípio de que as pessoas têm direito à propriedade: roupas, livros, mobiliário, terras, casas, carros, e mesmo ideias ou a propriedade intelectual.

Também os proprietários têm o direito de vender suas propriedades livremente. Todas as pessoas têm o direito à atividade econômica: o Estado não deve me dizer qual  trabalho devo fazer, que profissão devo aprender ou quando abrir ou fechar uma empresa.  Os liberais acreditam que o Estado deve interferir na atividade econômica o menos possível. A experiência em nível mundial apóia a ideia liberal de que somente a concorrência assegura bom serviço e bons preços.

Democracia liberal

Estritamente falando, a democracia não é um dos objetivos principais do liberalismo, mas o sistema no qual esses valores podem realmente existir. Ou mais precisamente: os liberais acreditam que a democracia liberal é necessária, e não a "democracia de partido único" ou a "democracia popular".

Adicionalmente, na tradição liberal, a compaixão é um valor liberal. Muitos liberais creem que esse e outros valores seguem-se à crença em direitos humanos fundamentais e na liberdade individual. Diferentemente de alguns outros sistemas de crenças políticas, o liberalismo não pretende ser científico nem medir a pureza ideológica de seus seguidores. O liberalismo é uma crença muito dinâmica, adaptável e pragmática que oferece soluções para os problemas de hoje. A democracia liberal é a melhor garantia descoberta contra o abuso de poder e a corrupção que o acompanha.

Uma outra parte importante da democracia liberal é a chamada “separação de poderes”: a divisão em órgãos diferenciados com o poder de fazer leis (o parlamento), com o poder de implementar essas leis (o governo ou executivo), e com o poder de julgar disputas e desacordos que possam surgir dessas leis (Judiciário).  Liberais acreditam que estes poderes não devem estar nas mesmas mãos para evitar o  abuso do poder e a corrupção. Ao se manter separados estes poderes, todos estes órgãos (o parlamento, o executivo e os tribunais) se fiscalizam e se equilibram mutuamente.

Publicado originalmente, neste blog, em 11/02/2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Da série desmonte petista: Bagunça geral na política econômica

por Rolf Kuntz 
Outro dia brinquei no Facebook que socialismo era um bom nome para uma empresa de demolição. Fiz um comercial para essa empresa: "Precisando destruir um país rapidamente? Ligue Demolição Socialismos.  Mais de um século de experiência. Serviço garantido".

Só varia mesmo a rapidez do desmonte de acordo com o grau do socialismo empregado. No tradicional, a destruição é rápida e completa. No moderno, uma mistura insólita de socialismo com capitalismo, o chamado capitalismo de estado, ou de compadres e comadres, a destruição é gradual mas certa. 

É o que vem acontecendo no Brasil desde a chegada do PT ao poder: uma destruição progressiva de ordem moral, intelectual, social e, agora finalmente, econômica. O governo Dilma está destruindo os pilares do Plano Real, que endireitaram o país economicamente, e o resultado já se faz valer. E isso com a conivência, por omissão, dos pais do Real, os tucanos, que não abrem o bico sequer para piar quanto mais para vociferar contra o assassinato lento de seu filho.
No Estadão de hoje, o jornalista Rolf Kuntz, sintetiza a nau sem rumo em que se converteu a economia brasileira sob a liderança de dona Dilma Lula Roussef. Transcrevo abaixo e dou destaque para o seguinte parágrafo:  

Destaque: Sem distinguir objetivos de curto e de longo prazos, desafios conjunturais e problemas estruturais, o governo colheu inflação elevada, estagnação econômica e contas públicas mais frágeis. Ao mesmo tempo, bagunçou a política econômica e seus instrumentos. O BC deixou de combater a inflação, a política de juros foi decidida no Palácio do Planalto, deficiências estruturais foram tratadas como problemas de conjuntura e os preços foram contidos por meio de intervenções tópicas.

Bagunça geral na política econômica


Não dá para separar. O estrago na Petrobrás, a inflação disparada, a indústria emperrada e a maquiagem das contas públicas são sintomas do mesmo problema. O governo conseguiu bagunçar tanto a economia quanto a caixa de ferramentas da política econômica. O estrago da caixa é o mais grave. Gasta-se muito tempo discutindo se a presidente Dilma Rousseff e sua troupe de trapalhões ainda levam a sério os três princípios adotados no fim dos anos 90 - meta de inflação, meta de superávit primário e câmbio flutuante. Não se vai muito longe com esse requisitório. O governo pode responder positivamente a todas as perguntas, com as ressalvas de sempre. Tem de haver certa margem de erro para a inflação, o resultado fiscal é sujeito a imprevistos e nenhum regime cambial é estritamente isento de intervenções. Tudo isso parece razoável, mas a conversa oficial é uma embromação. É possível embromar, nesse caso, porque as questões realmente importantes são outras, a começar pela importância atribuída, de fato, às condições básicas de estabilidade. Esse teste permitiria comparar o governo brasileiro com os de outros países latino-americanos. A semelhança mais notável seria, certamente, com a administração da presidente Cristina Kirchner, sobrando uma diferença muito mais de grau que de vocação.

Se o governo brasileiro se importasse realmente com a inflação, a meta seria muito mais baixa, como em outras economias, tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento. Desde 2005 houve mudanças no Brasil e no cenário externo, mas a meta de 4,5% foi mantida, sem nenhum benefício para o País. A tolerância à alta de preços jamais proporcionou à economia brasileira maior eficiência, dinamismo ou competitividade.

Além disso, as autoridades têm agido como se o alvo real fosse qualquer ponto na margem de variação. As ações são conduzidas como se um resultado final de 6,5% fosse perfeitamente aceitável. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, chegou a classificar como desconfortável o número acumulado até janeiro - 6,15% em 12 meses. Reiterou, no entanto, a disposição de apostar numa acomodação dos preços no segundo semestre. Mero sangue-frio?

A tolerância à inflação permitiu, no ano passado, conciliar a redução de juros desejada pela presidente Dilma Rousseff e a manutenção de uma política fiscal frouxa. Uma gestão mais séria das contas públicas deveria compensar o relaxamento da política monetária a partir dos meses finais de 2011, segundo explicaram, há cerca de um ano e meio, os dirigentes do BC. Essa condição jamais se realizou. O recurso a artifícios para maquiar as contas públicas no fim de 2012 foi um desdobramentos dessa história. Mas esse é apenas o dado mais pitoresco.

O resultado concreto foi uma economia brasileira um tanto mais torta. O combate à inflação por meio da política monetária foi suspenso, enquanto a expansão do crédito continuou alimentando a demanda, principalmente de consumo. Essa demanda foi alimentada também por incentivos fiscais concedidos a alguns setores pelo Executivo. Esses incentivos serviram ainda para a redução temporária de alguns preços, com efeito benéfico de curtíssimo prazo nos indicadores de inflação. O desajuste entre a demanda e a capacidade de oferta da indústria nacional criou um vazamento nas contas externas. Sem o aumento da importação, o efeito inflacionário teria sido maior. A produção industrial encolheu porque as fábricas foram incapazes de competir, e o investimento diminuiu.

Sem distinguir objetivos de curto e de longo prazos, desafios conjunturais e problemas estruturais, o governo colheu inflação elevada, estagnação econômica e contas públicas mais frágeis. Ao mesmo tempo, bagunçou a política econômica e seus instrumentos. O BC deixou de combater a inflação, a política de juros foi decidida no Palácio do Planalto, deficiências estruturais foram tratadas como problemas de conjuntura e os preços foram contidos por meio de intervenções tópicas. A redução do imposto sobre os automóveis e outros bens duráveis e a contenção das tarifas de combustíveis entram nesse capítulo. A insistência da presidente em reduzir as contas de energia elétrica, a partir de agora, é uma continuação dessa trapalhada. É uma imprudência tratar o preço final da eletricidade como questão isolada, sem levar em conta os programas de investimento e os vários componentes de custos, incluída a tributação em todos os níveis.

Os danos impostos à Petrobrás são em parte explicáveis por essa confusão de objetivos e políticas, tão característica do governo atual. Mas decorrem também da subordinação da estatal aos interesses político-partidários do Palácio do Planalto, da peculiar diplomacia terceiro-mundista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da conversão da empresa em instrumento de política industrial. Em vez de cuidar de seus objetivos empresariais e especialmente do enorme desafio da exploração do pré-sal, a companhia foi forçada a atender a uma porção de outras solicitações. Os resultados são indisfarçáveis.

Mas o governo parece impermeável à maior parte dessas lições. O Ministério da Fazenda dispõe-se a adotar novos artifícios para encenar o cumprimento da meta fiscal. Tudo se passa, de fato, como se o resultado real das contas públicas fosse muito menos importante que a sua representação contábil. Sem medidas típicas de política monetária, o BC tem atuado no mercado cambial para desvalorizar o dólar, em mais uma tentativa de influenciar indiretamente a inflação. A conta será parcialmente paga, é claro, pelos setores prejudicados pela valorização do real. De vez em quando, num surto de lucidez, o governo leva em conta as consequências mais amplas de suas decisões. Exemplo disso é a disposição de rever os termos das novas concessões no setor de transportes. Mas surtos desse tipo têm sido raros e brevíssimos e a confusão do voluntarismo volta a se impor.

Fonte: O Estado de S.Paulo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Desmistificando: O que é o liberalismo?

O liberalismo se apóia em dois aspectos vitais que dão forma a seu perfil:
 a tolerância e a confiança na força da razão
Das três visões de mundo, a saber, socialismo, liberalismo e conservadorismo, que até hoje conformam nossas sociedades em geral, a visão liberal se constitui na mais aproveitável, por ter  produzido mais benefícios do que malefícios para a humanidade. A despeito de contradições e limitações inerentes à doutrina, suas ideias principais, fundadas na razão humana e não em misticismos políticos ou religiosos, têm sido base para a riqueza das nações e a construção de sociedades mais igualitárias. Apesar de pensadas, a princípio, por e para um seleto grupo de iguais, acabaram se tornando instrumento de luta de todos. 

Não creio na economia de mercado ou na democracia liberal como panaceias para todos os males, mas as reconheço como os melhores sistemas econômico e político que a humanidade já criou. Fora delas, a "alternativa" tem sido a escassez e as crises permanentes das economias estatizadas e a barbárie autoritária de algum tipo, seja política ou religiosa, de esquerda ou de direita. Como instrumento de análise e administração da política institucional, da relação do estado com os indivíduos e a economia, as ideias liberais permanecem de grande utilidade.

Mostram-se limitadas, contudo, ao analisar as relações de poder existentes na sociedade em geral. Isto porque desconsideram os condicionantes sociais que modelam a trajetória dos indivíduos, às vezes de forma inexorável, e veem as escolhas das pessoas como livres de coação (a não ser a estatal). Em razão  disso, comum ocorrerem, nas análises liberais, falsas simetrias entre situações até diametralmente opostas que se tornam reduzidas a meras opções individuais. Sem falar no mau hábito de dar explicações unicamente econômicas para fenômenos complexos.

De qualquer forma, entre prós e contras, vale a pena conhecer a doutrina em suas linhas gerais, considerando sua enorme influência na história humana dos últimos dois séculos principalmente. Para tal, segue abaixo a transcrição do texto, em forma de entrevista, do professor universitário, jornalista e autor de vários ensaios e livros, o cubano * Carlos Alberto Montaner, publicado no volume 794 da série Topicos de Actualidad, editada pelo Centro de Estudios Economico-Sociales (CEES) da Guatemala e traduzido pelo Instituto Ordem Livre.

Acrescento também vídeo com a palestra do doutor em Economia e em Ciências de Administração Alberto Benegas Lynch sobre o tema. Sua fala discorre sobretudo a respeito da situação decorrente do estatismo em toda a América Latina e as questões sociais. Ver ainda Desmistificando: Princípios Básicos do Liberalismo e da Democracia Liberal


O que é o liberalismo?
O liberalismo é um modo de entender a natureza humana e uma proposta destinada a possibilitar que todos alcancem o mais alto nível de prosperidade de acordo com seu potencial (em razão de seus valores, atividades e conhecimentos), com o maior grau de liberdade possível, em uma sociedade que reduza ao mínimo os inevitáveis conflitos sociais. Ao mesmo tempo, o liberalismo se apóia em dois aspectos vitais que dão forma a seu perfil: a tolerância e a confiança na força da razão.

Em quais ideias se baseia o liberalismo?

O liberalismo se baseia em quatro simples premissas básicas:

– Os liberais acreditam que o Estado foi criado para servir ao indivíduo, e não o contrário. Os liberais consideram o exercício da liberdade individual como algo intrinsecamente bom, como uma condição insubstituível para alcançar níveis ótimos de progresso. Dentre outras, a liberdade de possuir bens (o direito à propriedade privada) parece-lhes fundamental, já que sem ela o indivíduo se encontra permanentemente à mercê do Estado.

– Portanto, os liberais também acreditam na responsabilidade individual. Não pode haver liberdade sem responsabilidade. Os indivíduos são (ou deveriam ser) responsáveis por seus atos, tendo o dever de considerar as conseqüências de suas decisões e os direitos dos demais indivíduos.

– Justamente para regular os direitos e deveres do indivíduo em relação a terceiros, os liberais acreditam no Estado de direito. Isto é, creem em uma sociedade governada por leis neutras, que não favoreçam pessoas, partido ou grupo algum, e que evitem de modo enérgico os privilégios.

– Os liberais também acreditam que a sociedade deve controlar rigorosamente as atividades dos governos e o funcionamento das instituições do Estado.

O liberalismo é uma ideologia?

Não. Os liberais têm certas idéias – ratificadas pela experiência – sobre como e por que alguns povos alcançam maior grau de eficiência e desenvolvimento, ou a melhor harmonia social, mas a essência desse modo de encarar a política e a economia repousa no fato de não planejar de antemão a trajetória da sociedade, mas em liberar as forças criativas dos grupos e dos indivíduos para que estes decidam espontaneamente o curso da história. Os liberais não têm um plano que determine o destino da sociedade, e até lhes parece perigoso que outros tenham tais planos e se arroguem o direito de decidir o caminho que todos devemos seguir.

Quais são as idéias econômicas em que se baseiam os liberais?

A idéia mais marcante é a que defende o livre mercado, em lugar da planificação estatal. Já na década de 20 o filósofo liberal austríaco Ludwig von Mises demonstrou que, nas sociedades complexas, não seria possível planejar de modo centralizado o desenvolvimento, já que o cálculo econômico seria impossível. Mises afirmou com muita precisão (contrariando as correntes socialistas e populistas da época) que qualquer tentativa de fixar artificialmente a quantidade de bens e serviços a serem produzidos, assim como os preços correspondentes, conduziria ao desabastecimento e à pobreza.

Von Mises demonstrou que o mercado (a livre concorrência nas atividades econômicas por parte de milhões de pessoas que tomam constantemente milhões de decisões voltadas à satisfação de suas necessidades da melhor maneira possível) gerava uma ordem natural espontânea infinitamente mais harmoniosa e criadora de riquezas que a ordem artificial daqueles que pretendiam planificar e dirigir a atividades econômica. Obviamente, daí se depreende que os liberais, em linhas gerais, não acreditam em controle de preços e salários, nem em subsídios que privilegiam uma atividade em detrimento das demais.

O mercado, em sua livre concorrência, não conduziria à pobreza de uns em benefício de outros?

Absolutamente não. Quando as pessoas, atuando dentro das regras do jogo, buscam seu próprio bem-estar costumam beneficiar a coletividade. Outro grande filósofo liberal, Joseph Schumpeter, também austríaco, estabeleceu que não há estímulo mais positivo para a economia do que a atividade incessante dos empresários e industriais que seguem o impulso de suas próprias urgência psicológicas e emocionais. Os benefícios coletivos que derivam da ambição pessoal superam em muito o fato, também indubitável, de que surgem diferenças no grau de acúmulo de riquezas entre os diferentes membros de uma comunidade. Porém, quem melhor resumiu tal situação foi um dos líderes chineses da era pós-maoísta ao reconhecer, melancolicamente, que “ao impedir que uns poucos chineses andassem de Rolls Royce, condenamos centenas de milhões de pessoas a utilizar bicicletas para sempre”.

Se o papel do Estado não é planejar a economia nem construir uma sociedade igualitária, qual seria sua principal função de acordo com os liberais?

Essencialmente, a principal função do Estado deve ser a de manter a ordem e garantir que as leis sejam cumpridas. A igualdade que os liberais almejam não é a utopia de que todos obtenham os mesmos resultados, e sim a de que todos tenham as mesmas possibilidades de lutar para conseguir os melhores resultados. Nesse sentido, uma boa educação e uma boa saúde devem ser os pontos de partida para uma vida melhor.


Como deve ser o Estado idealizado pelos liberais?

Assim como os liberais têm suas próprias idéias sobre a economia, também possuem sua visão particular do Estado: os liberais são inequivocamente democratas, acreditando no governo eleito pela maioria dentro de parâmetros jurídicos que respeitem os direitos inalienáveis das minorias. Tal democracia, para que faça jus ao nome, deve ser multipartidária e organizar-se de acordo com o princípio da divisão de poderes.

Embora esta não seja uma condição indispensável, os liberais preferem o sistema parlamentar de governo porque este reflete melhor a diversidade da sociedade e é mais flexível no que se refere à possibilidade de mudanças de governo quando a opinião publica assim o exigir.

Por outro lado, o liberalismo contemporâneo tem gerado fecundas reflexões sobre como devem ser as constituições. Friedrich von Hayek, Prêmio Nobel de economia, produziu obras muito esclarecedoras a esse respeito. Mais recentemente, Ronald Coase, também agraciado com o Prêmio Nobel (1991), tratou em seus trabalhos da relação entre a lei, a propriedade intelectual e o desenvolvimento econômico.

Essa é a idéia sucinta de Estado liberal; mas como os liberais vêem o governo, ou seja, aquele grupo de pessoas selecionadas para administrar o Estado?

Os liberais acreditam que o governo deve ser reduzido, porque a experiência lhes ensinou que as burocracias estatais tendem a crescer parasitariamente, ou passam a abusar dos poderes que lhes são conferidos e empregam mal os recursos da sociedade.

Porém, o fato de que o governo tenha tamanho reduzido não quer dizer que ele deva ser débil. Pelo contrário, deve ser forte para fazer cumprir a lei, manter a paz e a concórdia entre os cidadãos e proteger a nação de ameaças externas.

Um governo com essas características não estaria abdicando da função que lhe foi atribuída, de redistribuir as riquezas, eliminar as injustiças e de ser o motor da economia?

Os liberais consideram que, na prática, infelizmente os governos não costumam representar os interesses de toda a sociedade, e sim que se habituam a privilegiar seus eleitores ou determinados grupos de pressão. Os liberais, de certa forma, suspeitam das intenções da classe política e não têm muitas ilusões a respeito da eficiência dos governos. Por isso o liberalismo sempre se coloca na posição de crítico permanente das funções dos servidores públicos, razão pela qual vê com grande ceticismo essa função do governo de redistribuidor da renda, eliminador de injustiças ou “motor da economia”.

Outro grande pensador liberal, James Buchanan, Prêmio Nobel de economia e membro da escola da Public Choice (Escolha Pública), originária de sua cátedra na Universidade de Virgínia, EUA, desenvolveu esse tema mais profundamente. Resumindo suas idéias sobre o assunto, qualquer decisão do governo acarreta um custo perfeitamente quantificável, e os cidadãos têm o dever e o direito de exigir que os gastos públicos revertam em benefício da sociedade como um todo, e não dos interesses dos políticos.

Isso quer dizer que os liberais não atribuem ao governo a responsabilidade de lutar pela justiça social?

Os liberais preferem que essa responsabilidade repouse nos ombros da sociedade civil e se canalize por intermédio da iniciativa privada, e não por meio de governos perdulários e incompetentes, que não sofrem as conseqüências da freqüente irresponsabilidade dos burocratas ou de políticos eleitos menos cuidadosos.

Finalmente, não há nenhuma razão especial que justifique que os governos se dediquem obrigatoriamente a tarefas como transportar pessoas pelas estradas, limpar as ruas ou vacinar contra o tifo. Tais atividades devem ser bem executadas e ao menor custo possível, mas seguramente esse tipo de trabalho é feito com muito mais eficiência pelo setor privado. Quando os liberais defendem a primazia da propriedade não o fazem por ambição, mas pela convicção de que é infinitamente melhor para os indivíduos e para o conjunto da sociedade.

Em inglês a palavra liberal tem aparentemente um significado diverso do que aqui se descreve. Em que se diferencia o liberalismo norte-americano daquilo que na Europa ou na América Latina se chama de liberalismo?

O idioma inglês se apropriou da palavra liberal do espanhol e lhe deu um significado diferente. Em linhas gerais, pode-se dizer que em matéria de economia o liberalismo europeu ou latino-americano é muito diferente do liberalismo norte-americano. Isto é, o liberal norte-americano costuma tirar a responsabilidade dos indivíduos e passá-la ao Estado. Daí o conceito de estado de bem-estar social ou “welfare state”, que redistribui por meio de pressões fiscais as riquezas geradas pela sociedade. Para os liberais latino-americanos e europeus, como se viu antes, esta não é uma função primordial do Estado, pois o que se consegue por essa via não é um maior grau de justiça social, mas apenas níveis geralmente insuportáveis de corrupção, ineficiência e mau uso de verbas públicas, o que acaba por empobrecer o conjunto da população.

De qualquer forma, o pensamento dos liberais europeus e latino-americanos coincide com o dos liberais norte-americanos em matéria jurídica e em certos temas sociais. Para os liberais norte-americanos, europeus e latino-americanos o respeito das garantias individuais e a defesa do constitucionalismo são conquistas irrenunciáveis da humanidade.

Qual a diferença entre o liberalismo e a social-democracia?

A social-democracia realça a busca de uma sociedade igualitária, e costuma identificar os interesses do Estado com os dos setores proletários ou assalariados. O liberalismo, por seu turno, não é classista e sobrepõe a seus objetivos e valores a busca da liberdade individual.

Em que se diferenciam os liberais dos conservadores?

Embora haja uma certa coincidência entre liberais e conservadores no que se refere à análise econômica, as duas correntes se separam no campo das liberdades individuais. Para os conservadores o mais importante é a ordem; já os liberais estão dispostos a conviver com aquilo de que não gostam e são sempre capazes de tolerar respeitosamente os comportamentos sociais que se afastam dos padrões das maiorias. Para os liberais, a tolerância é a chave da convivência, e a persuasão é o elemento básico para o estabelecimento das hierarquias. Essa visão nem sempre prevalece entre os conservadores.

Em que se diferenciam os liberais dos democrata-cristãos?

Mesmo quando a democracia cristã moderna não é confessional, uma certa concepção transcendental dos seres humanos aparece entre suas premissas básicas. Os liberais, por sua vez, são totalmente laicos e não julgam as crenças religiosas das pessoas. Pode-se perfeitamente ser liberal e crente, liberal e agnóstico ou liberal e ateu. A religião simplesmente não pertence ao mundo das preocupações liberais (ao menos em nossos dias), embora seja essencial para o liberal respeitar profundamente esse aspecto da natureza humana. Por outro lado, os liberais não compartilham com a democracia cristã (ou, pelo menos, com algumas das tendências que se abrigam sob esse nome) um certo dirigismo econômico que normalmente é chamado de social-cristianismo.

* Carlos Alberto Montaner nasceu em Havana, Cuba, em 1943. É professor universitário, jornalista e autor de vários ensaios e obras como: Informe Secreto sobre la Revolución Cubana (1975), 200 Años de Gringos (1976), El Ojo del Ciclón (1979), Cuba, Claves para una Consciencia en Crisis (1984), Para un Continente Imaginario (1986). Escreve uma coluna semanal reproduzida em dezenas de jornais dos EUA, da América Latina e da Espanha.

Alberto Benegas Lynch é doutor em Economia e em Ciências de Administração. Preside a Seção de Ciências Econômicas da Academia Nacional de Ciências  Argentina e vice-presidente-investigador senior da Fundação Friedrich A. von Hayek. Escreveu onze livros e ensina desde os 35 anos em universidades de Argentina e do exterior. É professor visitante da Universidad Francisco Marroquín e membro da Mont Pelerin Society.


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