8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Lei antifumo: autoritária ou pró-vida?

Entrou em vigor hoje a lei antifumo, 13.541/09, que proíbe o fumo em locais fechados de uso coletivo, públicos ou privados, sancionada pelo governador José Serra (PSDB), em todo o Estado de São Paulo. A legislação vale para o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, e os fumódromos não serão mais permitidos.
Fumantes chiaram, dizendo que a lei é autoritária, mas, como não dá pra colocar redoma em torno deles e impedir que sua fumacinha cancerígena atinja os não fumantes, sou totalmente favorável à nova lei e espero que venha de fato a ser cumprida.

Nem preciso saber que, das 8 doenças que mais matam pessoas no mundo, 6 estão relacionadas ao tabaco, para detestar cigarros e seus consumidores. Nem preciso saber que 100 milhões (isso mesmo) de pessoas morreram no século passado por causa do fumo, para detestar cigarros e seus consumidores. Nem preciso saber que 90% dos casos de câncer do pulmão, 75% dos problemas cardíacos e 25% das bronquites e enfisemas são causados pelo fumo, para detestar cigarros e seus consumidores.

Me basta sentir aquela fumacinha insuportável entrando pelas narinas, e meu nariz começar a ficar entupido, minha garganta e pulmões começarem a arder para eu detestar o cigarro e seus consumidores. Na prática os fumantes sempre obrigaram os não fumantes a suportar seu vício, segregando o espaço público com suas baforadas. E nunca tiveram respeito por fumódromos coisa nenhuma!

Daí que esse papo de dizer que lei antifumo é coisa de nazista é conversa mole para boi dormir. O higenismo dos nazistas era o aspecto não-doentio da doutrina exatamente. O espaço da gente termina onde começa o espaço do outro, mas a fumaça do cigarro não entende isso nem seus produtores. Então, é preciso mesmo obrigá-los a ser menos egoístas. Lei super bem vinda!!!

Mais informações: http://www.leiantifumo.sp.gov.br/

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Admirável mundo novo em meio à perigosa velharia ideológica e política

Não canso de me admirar dos avanços tecnológicos da humanidade. Em futuro próximo, os cientistas prometem até a imortalidade seja por meio da biotecnologia ou da nanotecnologia. Pesquisando o mecanismo de regeneração celular de certos tipos de águas-vivas, como a Turritopsis dohrnii, que rejuvenescem suas células indefinidamente, ou a integração de sistemas orgânicos com sistemas robóticos, os cientistas afirmam que, em 50 anos, como cyborgs ou águas-vivas humanas, não morreremos mais de velhice pelo menos. Pena que acho difícil estar por aqui para ver tal feito.

Mas nem é necessário ir tão além no futuro para ficar admirada com as inovações tecnológicas. Agora mesmo, cientistas australianos inventaram uma lente de contato que cura a cegueira de pessoas com problemas na córnea. Eles retiram 1 mm do limbo corneal ou conjuntiva do olho do paciente, regiões ricas em células-tronco que são colocadas numa lente de contato e mergulhadas em incubadora, por 10 dias, para que as células se multipliquem. Depois o paciente coloca a lente e, em duas semanas, as células-tronco se fundem com a córnea, substituindo as células anteriores danificadas. A lente então pode ser retirada. Em três meses, a visão dos cegos começa a retornar. Como as células-tronco são do próprio paciente, não sofrem rejeição pelo organismo. O criador da ténica, o oftalmologista Nick di Girolamo, da Universidade de New South Wales, testou sua invenção em três pacientes que recuperaram boa parte da visão. Segundo o cientista, o procedimento ainda está em fase de testes, mas, em breve, poderá ser utilizado em qualquer hospital.

Não é incrível? Pois, é! E eu poderia citar inúmeros outros exemplos desse admirável mundo novo tecnológico, porém não é o caso para essa breve postagem. Os exemplos acima estão aqui apenas como comparativos do contraste gritante entre a evolução tecnológica humana e a situação sócio-econômica-política-ideológica do mundo atual.

Após os auspiciosos anos 60, com todas suas revoluções culturais e políticas, após a derrocada dos regimes totalitários tanto de direita quanto de esquerda, na América Latina, na Europa, na Ásia, tudo enfim parecia se encaminhar para o tal mundo melhor de que tanto se fala, apesar ainda de tantos pesares. Mas, que nada! De um lado, o capitalismo se globalizou e, desregulado, incentivou um consumismo e um individualismo sem precedentes. De outro, na reviravolta conservadora, os fundamentalistas religiosos retornaram querendo novamente unir Igrejas e Estado. Ainda de outro, as viúvas da queda do muro de Berlim se reuniram na América Latina, no chamado Foro de São Paulo, não só para prantear seus mortos como também para organizar um vudu a fim de trazê-los de volta à vida.

O resultado é que temos hoje um planeta ameaçado pelo consumismo desenfreado capitalista; sociedades vivendo sob governos religiosos de cunho autoritário, com mentalidade e práticas medievais, e uma América Latina gravemente ameaçada de repetir as aventuras totalitárias da Europa dos tempos da Guerra Fria. Tudo isso sob o olhar complacente da chamada comunidade internacional que parece mais perdida que cego em tiroteio, para não fugir muito do eixo oftalmológico.

Como exemplos, no Irã, o descontentamento popular, com a reeleição, tida como fraudulenta, do presidente Mahmoud Ahmadinejad, foi reprimido à bala; na América Latrina, o caudilho Hugo Chávez avança na destruição da democracia venezuelana e arremete contra países vizinhos em conflitos com a Colômbia, por via direta, e com Honduras, através de seu esbirro Manuel Zelaya (parece um Odorico Paraguaçu de bigode) que, escorraçado em sua tentativa de implantar o modelito bolivariano no país, posa de vítima aos olhos do mundo, um mundo que, decididamente, parece estar precisando usar a lente de células-tronco do doutor Nick di Girolamo citado acima.

Ficando por aqui em nosso quintal latino-americano, hoje mesmo a imprensa nacional e internacional destaca as insofismáveis provas de que Hugo Chávez municiou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), os terroristas maoístas narcotraficantes, com munição pesada comprada da Suécia, e negocia até mísseis, rádios e fuzis com os facínoras. Isso sem falar também das negociações do caudilho com os aiatolás do Irã, em cooperações militares e nucleares somadas à importação de terroristas islâmicos para solo regional (como se não bastassem os da FARC).

E pior que isso só mesmo o governo brasileiro que, com vários de seus membros signatários do Foro de São Paulo, à parte os fisiologistas próprios e aliados, apóia “moral”, política e economicamente (com o dinheiro dos brasileiros) o caudilho Chávez e todos seus esbirros (Evo Morales, Raul Correa, Zelaya...) enquanto também luta encarnecidamente para se perpetuar no poder através dos bolsas-esmolas da vida e do solapamento da democracia por meio da corrupção generalizada e do aparelhamento do Estado. Mais: nem a cavalaria americana a gente está podendo chamar em nosso auxílio porque, agora capitaneada pelo presidente Barack Banana, anda a fazer média com ditadores, como se fosse possível fazer média com essa gente.

Que coisa, a humanidade não aprende! Todas as vezes que nações democráticas tentaram fazer média com tiranetes o resultado foi apenas e tão somente a expansão da tirania. Talvez ninguém mais lembre, porém melhor refrescar a memória: todo mundo bajulou Hitler antes de ele deflagrar abertamente a II Guerra Mundial. E ele foi dizendo ao que vinha bem antes de se mostrar em todo o seu tenebroso esplendor. Ocorreu o mesmo com tiranos mais recentes, com os mesmos tristes resultados. E de novo todo mundo fazendo vista grossa aos desmandos dos Hugos Chávez da vida? Parodiando o capitão Nascimento, isso vai dar merda!!!

Pois é! Enquanto cientistas apontam para um futuro em que a natureza nem terá mais o poder de nos matar, pois poderemos viver per seculum seculorum, os políticos ameaçam tirar das populações até o tempo natural de vida ou mantê-las na espécie de morte-em-vida que é a sobrevida sob regimes totalitários. Vamos acordar?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Coral Perpetum Jazzile da Eslovênia cria tempestade com o corpo

O coral Perpetuum Jazzile, da Eslovênia, foi fundado com o nome Gaudeamus Chamber Choir, em 1983, por Marko Tiran, tendo, desde 2001, como diretor artístico, o produtor musical, arranjador e vocalista Tomaž Kozlevčar. Nessa apresentação, no início, o coral reproduz o som de uma tempestade com as mãos e os pés. Vejam que incrível. A música se chama Africa, e o autor é o Toto. Abaixo a letra e depois o vídeo. Vi a indicação dessa perfomance no blog do Milton Jung.

I hear the drums echoing tonight
But she hears only whispers of some quiet conversation
She's coming in 12:30 flight
The moonlit wings reflect the stars that guide me towards salvation
I stopped an old man along the way,
Hoping to find some long forgotten words or ancinet melodies
He turned to me as if to say, Hurry boy, it's waiting there for you

CHORUS:
It's gonna take a lot to drag me away from you
There's nothing that a hundred men or more could ever do
I bless the rains down in Africa
Gonna take some time to do the things we never had

The wild dogs cry out in the night
As they grow restless longing for some solitary company
I know that I must do what's right
As sure as Kilimanjaro rises like Olympus above the Serangetti
I seek to cure what's deep inside, frightened of this thing that I've become

CHORUS
(Instrumental break)

Hurry boy, she's waiting there for you
It's gonna take a lot to drag me away from you
There's nothing that a hundred men or more could ever do
I bless the rains down in Africa, I passed some rains down in Africa
I bless the rains down in Africa, I passed some rains down in Africa
I bless the rains down in Africa
Gonna take some time to do the things we never had

domingo, 19 de julho de 2009

Histórias do Movimento Lésbico

Na caminhada lésbica de San Francisco, a comissão organizadora assim se define: somos dykes que se unem, a partir de diferentes backgrounds, pelo amor à comunidade dyke e à sua marcha. Nós somos femmes, butches, ou de outras identidades, somos negras, mestiças, judias e brancas, de diferentes idades e classes. Algumas de nós se identificam como queer ou genderqueer.

É isso: para todas as tribos lésbicas, um exemplo para nós, brasileiras, que estamos vendo nossas caminhadas sendo desvirtuadas por oportunistas (outros movimentos,que não o lésbico, partidos, o escambau).



domingo, 5 de julho de 2009

A questão político-partidária e o MHB/MLGBT

Integrantes do Somos-SP, GALF e SOS Mulher na sede do GALF-Outra Coisa (jun/83).
Acervo Rede de Informação Um Outro Olhar.


A questão político-partidária no MHB/MLGBT e suas consequências não saem de cena há tempos. O assunto é recorrente nas listas de discussão do movimento, e cada mensagem parece colocar mais lenha na fogueira.


A última acha foi colocada por um glpetista que se saiu com uma história de dividir o movimento em velho e novo, onde naturalmente ele e sua turma corresponderiam ao novo e as pessoas que discordam dele pertenceriam ao velho. Nessas, voltou-se a discutir os primórdios do movimento e a citada questão político-partidária que existiria desde sempre, o que não é verdade.

A verdade é que a questão político-partidária, na década de oitenta, foi relativa apenas ao evento do racha do Somos (17/05/1980), o primeiro grupo homossexual brasileiro, dividido pelo conflito entre partidários da Convergência Socialista e os fundadores da organização, de influência libertária, contracultural. Pelo conflito ter se dado no primeiro grupo homossexual do país (envolvendo muitos sentimentos e o fim de muitos sonhos), sua importância foi hiperdimensionada, projetando-se por toda a década de oitenta e criando uma certa mística em torno do que realmente não passou de um episódio isolado.

Isto se deve em grande parte ao fato de que foram sobretudo ou quase tão somente os ícones das distintas correntes conflituosas do Somos (James Green e João Silvério Trevisan) que posteriormente escreveram sobre o assunto em textos que foram replicados por seus simpatizantes contemporâneos. Cumpre, porém, lembrar que essas pessoas não estiverem presentes no restante da década de oitenta, na militância propriamente dita, não tendo vivido, portanto, seu desenvolvimento. Cumpre também, portanto, contextualizar a década de oitenta, inclusive para que o apontamento dos efeitos deletérios da política de grupos de esquerda tradicional no movimento de hoje não fique reduzida a uma espécie de nostalgia do paraíso perdido e não vire inclusive um tiro no pé.

A verdade é que a questão político-partidária teve seu nascimento, apogeu e decadência apenas nos 3 ou 4 primeiros anos do movimento inicial (1979-1982), saindo lentamente de cena já a partir de meados de 1982. As teses da Convergência Socialista que pregavam uma luta conjunta dos grupos homossexuais com outros movimentos sociais, o que na prática, sobretudo naquele período de formação, representava uma diluição da questão homossexual em outras bandeiras, não encontrou eco entre as organizações LGBT da época. A maioria se posicionou pela autonomia do movimento em relação aos partidos políticos e pela consciência de que a homossexualidade era política em si mesma, devendo os grupos se organizar em torno dessa consciência, o que não implicava descartar alianças.

A Convergência Socialista ficou isolada em si mesma e no Somos convergente, já que, nas entidades da esquerda tradicional da época, não havia espaço para a questão homossexual (ainda que adeptos da CS tenham formado um grupo de homossexuais para a construção do partido do trabalhadores)1, e, no movimento homossexual, ela não conseguiu fazer escola. Mesmo no Somos, já em meados de 1982, a questão político-partidária começa a dar lugar à outra questão que constituirá o tema de sua carta de encerramento: a questão da identidade homossexual.

Os integrantes do Somos nesse momento adotam o argentino Nestor Perlongher (autor de O Negócio do Michê, foto ao lado) como mentor, e Nestor, neobarroco tanto em literatura quanto em política, estava mais interessado em discutir o potencial revolucionário da sexualidade e dos desejos, fora de identidades sexuais fixas, do que em conversas sobre a classe trabalhadora e as revoluções socialistas.

Aliás, a questão da identidade homossexual2 é que de fato pode se configurar como a questão da década de oitenta, considerando que a década não terminou em 1983. Os últimos debates/embates entre os autonomistas Outra Coisa e Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) e o ex-convergente Somos (a CS deixa o Somos antes de seu fim) não se deram por questões político-partidárias mas sim em função do tema da identidade homossexual. Para os dois primeiros, a identidade homossexual ou lésbica era fundamental para a organização política, ainda que se reconhecesse as limitações e perigos dessa via. Para o Somos, a identidade homossexual passou a ser vista como restritiva da fluidez da sexualidade humana, e o Movimento Homossexual como essencialmente normatizador em sua busca de equiparação de direitos para um suposto povo homossexual que de fato não existia. Tanto o Somos enveredou por esse rumo que, em sua carta de despedida assinalava, como razão para seu fim, a impossibilidade de fomentar um projeto de inserir células desejantes revolucionárias (sic) nas estruturas do sistema.

A base para esse arrazoado repousava nos livros e textos de Gilles Deleuze, Michel Foucault e Félix Guattari, tendo inclusive este último, quando em visita ao Brasil, participado de debate, na sede conjunta do Outra Coisa com o GALF, sobre a questão da identidade e outros tópicos correlatos, temas muito em voga no período, para grande despeito do Somos e de integrantes do grupo feminista SOS Mulher, inconformados de ver tão prestigioso intelectual em espaço tão normatizador e identitário.

E a questão da não-afirmação de uma identidade homossexual, tendo virado uma espécie de discussão bizantina, vai se mesclar com a chegada da AIDS, de enorme impacto sobre os gays e a sexualidade em geral, para levar muita gente de volta ao armário. Tanto para os primeiros grupos de prevenção a AIDS quanto para o Movimento Feminista, ela dará uma base “teórica” para os processos de invisibilização respectivamente de homens e mulheres homossexuais em seus espaços. Afirmar uma identidade homossexual/lésbica era careta e divisionista; grupos específicos de gays e lésbicas idem. Mesmo ativistas que relativizavam toda essa história incorporaram a preocupação com as limitações da identidade homossexual e passaram a dizer que estavam homossexuais em vez de afirmar que eram homossexuais. O GALF, por exemplo, buscava evitar a utilização da palavra homossexual como substantivo. No Rio, o grupo Auê igualmente incorpora aspectos da discussão identitária, que também aparece no livro Jacarés e Lobisomens, de Leila Míccolis e Herbert Daniel. Outros, como o GGB e o Triângulo Rosa parecem ter passado ao largo da polêmica, se bem que não inconscientes do assunto.

Ainda que não tenha provocado a intensidade de conflitos da questão político-partidária, o tema da identidade vai permear as interações da década de oitenta (ou permanecer subjacente a ela), entre os sujeitos políticos de então, só diminuindo sua influência com o renascimento do MHB no início da década de noventa, sobretudo a partir de noventa e três, quando o número de grupos (re)começa a aumentar, e a afirmação da identidade homossexual, lésbica, e de outras homossexualidades retorna com força total da mesma forma que a questão político-partidária dá igualmente seus primeiros passos de volta à cena.

Na década de oitenta, contudo, como já dito, com exceção dos primeiros anos do movimento (até 1982), a questão político-partidária vai para os bastidores e lá permanece. Não lembro de nenhuma discussão dessa natureza, qualquer conflito, em torno do assunto, durante esse período. Mesmo na década de noventa, quando os primeiros ativistas ligados a instâncias partidárias, sobretudo ao PT, começam a formar núcleos de gays e lésbicas em seus partidos e agir no MLGBT, a questão político-partidária não assume de cara as luzes da ribalta. O que já se começa a perceber, a partir de 1993, é um incremento da postura fundamentalmente legalista e reformista, que já se evidenciava nos grupos da segunda metade dos anos oitenta, somados a um espírito cada vez mais competitivo, encontros cada vez mais nos moldes da política tradicional, cheios de plenárias e regimentos internos, e bem longe do sentido comunitário e solidário dos primeiros anos do MHB.

De qualquer forma, apenas depois de 1997, com o crescimento de grupos LGBT ligados a partidos políticos de esquerda, com destaque para o PT, é que a questão político-partidária retorna integralmente ao centro das polêmicas e problemas. E é com a ascensão do lulo-petismo à presidência do país, em 2003, que se inicia um processo claro de cooptação e aparelhamento do MLGBT, pelo glpetismo e outras agremiações da esquerda tradicional ressuscitada, ficando o movimento na dependência da agenda do partido, em vez de seguir sua própria agenda, ou como tributário das chamadas questões gerais pela melhoria de “n” setores oprimidos. Tal situação só passou a ser contestada, aliás, com mais veemência, nos últimos dois anos, e não é à toa que, entre seus contestadores, venham se destacando ativistas dos primórdios do movimento ou que nele permaneceram desde então.

De fato, tanto a questão da identidade quanto a político-partidária estiveram sempre presentes na história da organização homossexual no Brasil, parecendo apenas se revezar sob as luzes da ribalta, já que ambas não costumam compartilhar o palco. Quando uma aparece, a outra volta para os bastidores, embora de lá fique espiando o show. No momento, a questão identitária, embora apareça algumas vezes, especialmente pela via da teoria queer, ainda que não mais como instrumento de invisibilidade, não anda roubando a cena, mas continua bem viva em blogs, sites e grupos de estudo LGBT. Seja como for, não é ela a grande promotora dos conflitos atuais.

Hoje, a fonte das farpas e arpões que ativistas LGBT se jogam mutuamente é de fato de novo a questão político-partidária que se vê, aliás, presente em todos os movimentos sociais. Na década de oitenta, contudo, a história foi outra, e é importante contá-la. O movimento disse não à cooptação e sim a autonomia e pode voltar a dizê-lo.

1. OKITA, Hiro. Homossexualismo: da opressão à libertação. São Paulo, Proposta Editorial, 1981, p. 53
2. FRY, P. - Ser ou nao ser homossexual, eis a questao, In Folhetim, Suplemento Dominical da Folha de Sao Paulo, 10 de Janeiro, p. 3, 1982.
HEILBORN, Maria Luiza. “Ser ou Estar Homossexual: dilemas de construção da identidade social” In: PARKER, Richard e BARBOSA, Regina Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996, p. 136-145.
Martinho, Míriam. A Negação da Homossexualidade. In: Chanacomchana 2, São Paulo: GALF,1983, p. 2-3
Martinho, Míriam. Ser ou Estar Homossexual, eis a questão? In: Chanacomchana 5, São Paulo: GALF,1984, p. 3-5

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