8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Aos 110 anos do nascimento de Hannah Arendt, a importância de sua reflexão para o entendimento e análise do mundo atual.

14/10/1906 (Hanôver, Alemanha) - 04/12/1975 (Nova Iorque, EUA)
Muita honra pertencer ao seleto grupo onde estrela Hannah Arendt. Como ela disse em 1972 (e eu poderia dizer hoje):
A esquerda pensa que sou conservadora; os conservadores, que sou de esquerda; e eu não me incomodo, pois entendo que as questões substantivas do século não serão iluminadas por esses rótulos”. Nas suas palavras: “I somehow don’t fit”. Ela não se enquadrava nos rótulos e estava à vontade com o que denominou a tradição subterrânea do pária consciente que elaborou, refletindo, por exemplo, sobre Heine, Bernard Lazare e Kafka.
As questões substantivas deste século XXI também não serão iluminadas por esses rótulos. E eu também nunca me encaixei em rótulo algum. Sempre fui uma pária bem consciente! 



Hannah Arendt, 110 anos

O tempo confirmou como são fecundas as trilhas abertas pela reflexão arendtiana

Celso Lafer

Decorridos 110 anos do nascimento de Hannah Arendt, existe generalizado consenso, nos mais diversificados quadrantes culturais, sobre a importância e o significado da sua reflexão para o entendimento e análise do mundo atual. Por isso se pode dizer que ela adquiriu o status de um clássico, cuja obra nunca termina de dizer aquilo que tem para dizer, para recorrer à formulação de Italo Calvino. Daí o número crescente de livros dedicados à sua obra que adensam anualmente, a partir de distintas perspectivas, a bibliografia arendtiana.

Em 1965, quando tive o privilégio de ser seu aluno na Universidade Cornell, não existia tal consenso. Ela era então personalidade intelectual conhecida, mas controvertida.

Seu grande livro de 1951, Origens do Totalitarismo (ver abaixo), tornou-a figura pública de destaque intelectual. Nessa obra, identificou no totalitarismo um inédito regime político, voltado para a dominação total, distinto das conhecidas figuras do despotismo, da tirania e da ditadura. Destacou a sua especificidade, apontando que se caracteriza pela ubiquidade do medo, instrumentado na organização burocrática de massas e sustentado pelo emprego do terror e da ideologia. Apontou igualmente que a operação dos campos de concentração, direcionada para o indizível da descartabilidade do ser humano, inerente à dominação totalitária, não obedecia a critérios de utilidade econômica e política, escapando assim do âmbito da tradicional categoria da razão de Estado, na qual a relação entre meios e fins é inerente à justificação do não cumprimento de princípios éticos.

Origens do Totalitarismo surgiu na guerra fria. Foi recepcionado com ressalvas e suspeitas pela esquerda, em especial a comunista, pois identificava não apenas no nazismo, mas também no stalinismo, uma modalidade de regime totalitário, assinalador das rupturas configuradoras da era dos extremos, a marca histórica do século 20.


Eichmann em Jerusalém (1963, 1964) gerou explícitas e mais acesas controvérsias, entre outras razões, pelo impactante conceito da banalidade do mal, explicativo da personalidade de Eichmann, que perpetrou sem parar para pensar o que significa o mal ativo de tornar seres humanos supérfluos. Como Arendt esclareceu, em carta a Scholem, só o bem é profundo. O mal que qualificou como banal não é radical, é extremo. Não tem profundidade nem dimensão demoníaca, mas pode proliferar e devastar o mundo inteiro precisamente porque se espalha como um fungo sobre a superfície da Terra, desafiando, pelas suas características, o pensamento e a compreensão.

Arendt, como se vê pela menção a esses dois livros, não era facilmente identificável no âmbito das disciplinas acadêmicas – Filosofia, Teoria Política, História – nem se enquadrava nos cânones políticos usuais: esquerda/direita, liberal/conservador. Como disse em 1972: “A esquerda pensa que sou conservadora; os conservadores, que sou de esquerda; e eu não me incomodo, pois entendo que as questões substantivas do século não serão iluminadas por esses rótulos”. Nas suas palavras: “I somehow don’t fit”. Ela não se enquadrava nos rótulos e estava à vontade com o que denominou a tradição subterrânea do pária consciente que elaborou, refletindo, por exemplo, sobre Heine, Bernard Lazare e Kafka.

Para ela, “o importante é compreender”, e para compreender o mundo do século 20, com suas rupturas e descontinuidades que se prolongam no século 21, é necessário pensar pela própria cabeça e disseminar, à maneira de Lessing, os fermentos do conhecimento provenientes desse empenho. Isso requer levar em conta a baliza da experiência, tendo em vista a fragmentação dos “universais” provenientes do hiato entre passado e futuro, que pôs em questão a pertinência da tradição do pensamento. Nessa moldura, elaborou os exercícios de pensamento político que singularizam os ensaios de Entre o Passado e o Futuro, seu primeiro livro publicado no Brasil.


Não por acaso, o tema do juízo, o entender o concreto de uma situação sem o apoio de regras gerais, permeia a sua reflexão. A esse tema ela não deu tratamento mais circunstanciado. Faleceu tendo discutido o pensar e o querer, sem iniciar a sua análise do julgar, que integraria A Vida do Espírito. Das indicações de suas aulas se verifica que, inspirada pela leitura da Crítica do Juízo, de Kant, no juízo reflexivo e raciocinante encontrou o seu caminho, pois esse tipo de juízo lida com o problema de como avaliar um particular, buscando o seu significado mais amplo, sem o lastro do determinante de prévias normas gerais. Daí a maneira como enfrentou o desafio de pensar “sem o apoio do corrimão” de conceitos gerais esgarçados pelas realidades contemporâneas. Seus alunos, entre eles Elisabeth Young-Bruehl, sua biógrafa, e Jerome Kohn, organizador de vários de seus livros póstumos e hoje seu testamenteiro literário, foram sensíveis ao deslumbrante e duradouro impacto dos fermenta cognitionis arendtianos. Ambos seguiram em 1968, em Nova York, na New School, a retomada do curso dado em Cornell em 1965, em que fui seu aluno, sobre “Experiências políticas do século 20”.

No curso construiu com uma multiplicidade de leituras (de textos históricos, políticos, romances, poesias) a narrativa da biografia imaginária de alguém que nasceu na última década do século 19, não estava à margem da História, mas não foi um ator protagônico, e reagiu à variedade de eventos que incidiram na sua vida e cujo destino, como tantos no século 20, foi conformado pela dinâmica da política. O curso, para os que o seguiram, nunca termina de dizer o que tem para dizer sobre a atualidade de Hannah Arendt.

O tempo confirmou de maneira generalizada como são fecundas as trilhas abertas pela reflexão de Arendt. Por isso se converteu num clássico, que preenche os requisitos desse atributo na formulação de Bobbio: 1) sua obra é uma interpretação esclarecedora do século 20; 2) instiga constantes e contínuas leituras e releituras; e 3) seus conceitos e formulações são heurísticos e reveladores para entender o mundo em que estamos.

Fonte: O Estado de S.Paulo, por Celso Lafer, 20/11/2016

Livros da filósofa em PDF

A Condição Humana

Origens do Totalitarismo 


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

União suprapartiária para melar a Lava Jato

Josias de Souza relata as artimanhas de nossos políticos para melar a Lava Jato. Em resposta, hoje a Câmara foi invadida por um grupo dos chamados "intervencionistas" que lá foram protestar contra os ardis de suas excrescências para se manter impunes. Ainda que esse tipo de manifestação não seja aceitável, quanto mais misturada a apelos por generais e ocupações de prédios públicos, é fato que a população está saturada de nossos políticos e da crise econômica por eles produzida. No Rio falido, também servidores públicos, às voltas com salários atrasados, entraram em choque com a PM. O país continua em crise mesmo após o impeachment da Dilma, e a coisa tende a piorar.
No Brasil, nos casos que dependem do Supremo Tribunal Federal, não houve nenhuma condenação. Há na Suprema Corte 42 investigações relacionadas à Lava Jato. Incluem a impressionante soma de 110 investigados. Há na lista 29 deputados federais e 13 senadores. Nenhum foi condenado. A maioria não foi nem denunciada pela Procuradoria-Geral da República. A delação da Odebrecht engordará os escaninhos do Supremo. Os políticos estão cada vez mais distantes do ideal de representantes da sociedade. As pessoas já não enxergam coisas nossas na política. É tudo uma imensa Cosa Nostra.
Cerco de políticos à Lava Jato é suprapartidário

Acompanhar a atividade política no Brasil tornou-se um desafio. Sabe-se que há políticos piores e melhores. Entretanto, é mais difícil discernir uns dos outros. Os gatunos ficaram ainda mais pardos depois que a política virou apenas mais um departamento da Construtora Odebrecht —o ‘Departamento de Negócios Estruturados’, eufemismo para setor de propinas. A conspiração legislativa contra a Lava Jato, que era envergonhada, desinibiu-se. Cresce na proporção direta do avanço dos depoimentos resultantes do acordo de delação premiada dos executivos da maior construtora do país.

O cerco à investigação é suprapartidário. Envolve também o governo. Michel Temer faz juras de amor à força-tarefa de Curitiba. Mas o Planalto comporta-se como uma espécie de São Jorge que sai para salvar a donzela e acaba casando com o dragão. O esforço para “estancar a sangria” faz lembrar a sucessão de investidas de políticos italianos contra a Operação Mãos Limpas, que foi deflagrada em 1992 e desnudou as relações orgânicas e promíscuas do sistema político da Itália com empresas e o crime organizado.

No Congresso brasileiro, trama-se aprovar uma anistia para todos os políticos que receberam dinheiro ilegalmente via caixa dois. Participam da articulação os principais partidos. Entre eles, por exemplo, PMDB, PT, PSDB, DEM, PP e PR. A ideia é enganchar a emenda da anistia na proposta de criminalização do caixa dois que integra o pacote de medidas anticorrupção embrulhado pelos procuradores da Lava Jato. Alega-se que o uso de caixa clandestino é disseminado na política. Sustenta-se, de resto, que não se pode criminalizar a todos indistintamente.

Num célebre discurso feito em 3 de março de 1992 no Parlamento italiano, o ex-primeiro-ministro da Itália Bettino Craxi, um dos principais investigados da Operação Mãos Limpas, disse o seguinte: “…Infelizmente, é usualmente difícil identificar, prevenir e remover áreas de infecção na vida dos partidos… Mais: abaixo da cobertura do financiamento irregular dos partidos, casos de corrupção e extorsão floresceram e tornaram-se interligados.”

Abusando do cinismo, Bettino Craxi prosseguiu: “O que é necessário dizer e que, de todo modo, todo mundo sabe, é que a maior parte do financiamento da política é irregular ou ilegal. Os partidos e aqueles que dependem da máquina partidária […] têm recorrido a recursos adicionais irregulares. Se a maior parte disso deve ser considerada pura e simplesmente criminosa, então a maior parte do sistema político é um sistema criminoso. Eu não acredito que exista alguém nessa Casa e que seja responsável por uma grande organização que possa ficar em pé e negar o que eu digo. Cedo ou tarde os fatos farão dele um mentiroso.”

Em março de 1993, por iniciativa do governo do então primeiro-ministro Giuliano Amato, foi ao Parlamento da Itália uma proposta de descriminalização das doações ilegais de dinheiro para os partidos políticos. A desfaçatez provocou uma reação liderada por estudantes. Orgazinizaram-se passeatas. Escolas paralisaram suas atividades. E a proposta não passou. A anistia tramada no Brasil para as doações subterrâneas não é senão uma provocação às ruas, que reaprenderam a roncar na jornada de junho de 2013.

Líder do governo Temer na Câmara, o deputado André Moura (PSC-SE) empinou na semana passada proposta de modificação das regras dos acordos de leniência, como são chamadas as delações de empresas. A proposta alivia a punição de empresas, livra seus executivos de condenações penais e retira da mesa de negociações o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União. Um acinte.

Acompanhado do ex-deputado Sandro Mabel, hoje assessor do Planalto, André Moura exibiu o texto ao ministro Torquato Jardim (Transparência), que levou o pé atrás. Havia na Câmara um pedido para que a encrenca tramitasse em regime de urgência. Súbito, esse requerimento foi retirado de pauta pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). E Moura tentou sair de fininho, negando ser o autor do projeto. O fantasma continua, porém, pairando sobre o plenário da Câmara.

Simultaneamente, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, voltou a retirar da gaveta o projeto que altera a Lei de Abuso de Autoridade. Relator da proposta, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), novo líder de Temer no Senado, bateu em retirada. Mas Renan prometeu indicar um novo relator até quarta-feira. A banda muda do Senado adere silenciosamente à iniciativa.

O juiz Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato enxergaram na iniciativa de Renan uma tentativa de intimidação. Multiinvestigado, Renan não se deu por achado. Disse que convidará Moro e o procurador Deltan Dellagnol, coordenador da Lava Jato, para debater o projeto no Senado.

Na Itália, os botes tramados contra os investigadores foram ainda menos sutis. Em julho de 1994, por exemplo, projeto de iniciativa do governo do então primeiro-ministro Silvio Berlusconi sugeria simplesmente que fosse abolida a possibilidade de prisão antes do julgamento para determinados crimes. Entre eles os crimes de corrupção ativa e passiva. O time de procuradores da Mãos Limpas ameaçou com a renúncia coletiva. As ruas reagiram. Houve mobilizações populares defronte dos tribunais. E a proposta foi rejeitada.

Onze anos antes de autorizar a deflagração da Lava Jato, hoje a maior operação de combate à corrupção da história brasileira, o juiz Sergio Moro escreveu, em 2004, um artigo sobre a Operação Mãos Limpas. Foi desse artigo, disponível aqui, que o repórter retirou as informações reproduzidas acima sobre a operação italiana. No seu texto, Moro soou premonitório. Foi como se adivinhasse o que estava por vir.
É ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades governamentais ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações. Um Judiciário independente, tanto de pressões externas como internas, é condição necessária para suportar ações judiciais da espécie. Entretanto, a opinião pública, como ilustra o exemplo italiano, é também essencial para o êxito da ação judicial.”

A Mãos Limpas fisgou 6.069 pessoas. Entre elas 872 empresários, 1.978 agentes públicos e 438 parlamentares. Expediram-se 2.993 mandados de prisão.
As investigações judiciais dos crimes contra a administração pública espalharam-se como fogo selvagem, desnudando inclusive a compra e venda de votos e as relações orgânicas entre certos políticos e o crime organizado'', escreveu Moro no artigo de 2004. Ao final, algo como 40% dos investigados não foram punidos. Leis foram alteradas. E os crimes prescreveram.
No Brasil, nos casos que dependem do Supremo Tribunal Federal, não houve nenhuma condenação. Há na Suprema Corte 42 investigações relacionadas à Lava Jato. Incluem a impressionante soma de 110 investigados. Há na lista 29 deputados federais e 13 senadores. Nenhum foi condenado. A maioria não foi nem denunciada pela Procuradoria-Geral da República. A delação da Odebrecht engordará os escaninhos do Supremo. Os políticos estão cada vez mais distantes do ideal de representantes da sociedade. As pessoas já não enxergam coisas nossas na política. É tudo uma imensa Cosa Nostra.

Fonte: Blog do Josias, 13/11/2016

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Contrariando as previsões e o bom senso, o magnata da vulgaridade ganha a Presidência da República dos EUA

Contrariando todas as previsões e o bom senso, Donald Trump ganhou no colégio eleitoral americano, embora Hillary Clinton até agora venha vencendo no voto popular. Como o processo eleitoral americano é exótico, para dizer o mínimo, quem levou a presidência foi o magnata do absurdo. 

O mundo está em choque com a notícia. Só quem comemora é a extrema-direita. Na prática,  para os americanos, a vitória de Trump representa, nas palavras do jornalista David Remnick, do The New Yorker: "...uma Suprema Corte mais reacionária (Trump deve indicar alguém à sua semelhança), um Congresso mais abertamente direitista e um Presidente que demonstrou repetidamente desprezo pelas mulheres e minorias, as liberdades civis e os fatos científicos, sem falar pela simples decência." Trump será um enorme teste para a conhecida estabilidade da democracia americana, para a solidez de suas instituições. 

Em relação ao mundo, Trump representa uma economia americana mais fechada, protecionista, dificultando o comércio internacional com os EUA. Significa igualmente portas fechadas para os imigrantes em geral, especialmente mexicanos. Do ponto de vista da geopolítica, todos temem o que ele possa aprontar, considerando sua índole belicosa e suas ideias extravagantes. De novo, espera-se que a tão decantada estabilidade da democracia americana consiga segurar esse rojão. Serão anos de muitas incertezas e vulgaridades na Casa Branca.

Para o jornalista Luis Prados do El Pais, os eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas como deram as costas ao melhor da América.
O suicídio da democracia
Eleitorado de Trump deu as costas à tradição política que tornou a América grande

A eleição de Donald Trump como 45º presidente dos EUA é uma anomalia na tradição política deste país desde a sua fundação. Ao longo da campanha, o candidato republicano não só desafiou a correção política, tornando aceitáveis todos os seus insultos às mulheres, aos negros, aos mexicanos e aos muçulmanos, como também chegou a desafiar a própria base da democracia, ao anunciar que só aceitaria o resultado se ganhasse. A vitória de Trump coloca em risco uma Constituição que inclusive resistiu a quatro anos de Guerra Civil e que foi concebida pelos Pais Fundadores, há mais de dois séculos, para evitar que a jovem república pudesse algum dia ser sequestrada por um autocrata ou um demagogo. O impossível há apenas alguns meses se tornou provável em questão de semanas, e uma realidade na noite desta terça-feira. Os milhões de norte-americanos eleitores de Trump não só escolheram um futuro de incertezas. Deram as costas ao melhor da América.

Vale a pena, nesta madrugada amarga para os Estados Unidos e para o mundo, recordar a esses eleitores as palavras daqueles presidentes que realmente tornaram a América grande:

George Washington (1732-1799)

“O Governo não é uma razão, tampouco eloquência, é força. Funciona como o fogo; é um serviçal perigoso e um senhor terrível; em hipótese alguma se deve permitir que mãos irresponsáveis o controlem.”

John Adams (1735-1825)

“Lembrem-se, a democracia não dura muito. Logo se desgasta, se esgota e assassina-se a si mesma. Nunca existiu uma democracia que não cometesse suicídio.”

Thomas Jefferson (1743-1828)

“Sustentamos como evidentes estas verdades: que todos os homem são criados iguais; que são dotados por seu criador de certos direitos inalienáveis; que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”

“Quando os governos temem as pessoas, há liberdade. Quando as pessoas temem o Governo, há tirania.”

James Madison (1751-1836)

“Os casos nos quais a liberdade das pessoas é limitada por meio do assédio gradual e secreto por parte de quem está no poder são muito mais numerosos que os produzidos por usurpações repentinas.”

Abraham Lincoln (1809-1865)

“É possível enganar a todos por algum tempo. É possível enganar a alguns o tempo todo. Mas não é possível enganar a todos o tempo todo.”

Woodrow Wilson (1856-1924)

“A América não foi criada para gerar riquezas, e sim para tornar realidade uma visão, para tornar realidade um ideal, para defender e manter a liberdade dos homens.”

Franklin D. Roosevelt (1882-1945)

“Não temos nada a temer a não ser o próprio medo.”

“Os homens não são prisioneiros do destino, são prisioneiros apenas das suas próprias mentes.”

“Um radical é alguém com os pés fortemente plantados no ar”.

John F. Kennedy (1917-1963)

“Deve ser possível, num curto prazo, que todo norte-americano possa desfrutar dos privilégios de ser norte-americano sem importar sua raça ou cor.”

“Agora que a América é a potência mais poderosa do mundo, o grande problema consiste na maneira de conservar sua força e ao mesmo tempo suas tradições de liberdade individual. Este é o grande problema do nosso futuro.”

Fonte: El País, 09/11/2016


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Estudo descarta haver diferenças significativas entre os cérebros de mulheres e homens

A palavra gênero entrou para o vocabulário popular pela via torta da falácia da "ideologia de gênero", um espantalho conservador para assustar os pais das crianças contra a educação sexual nas escolas pois esta visaria transformar seus filhos em homossexuais. Se fosse para levar a sério essa mistificação, deveríamos apontar para os verdadeiros pais da ideologia de gênero, de fato, os próprios conservadores. Por que o que é gênero? Gênero é o padrão de comportamento inculcado na cabeça das pessoas, desde a tenra idade, pelo que se chama educação diferenciada, ou seja, o adestramento diferente que é dado a meninas e meninos para se encaixarem no que se convencionou chamar de feminino e masculino (papéis de gênero). De fato, masculino e feminino são apenas características humanas que foram arbitrariamente separadas entre os sexos para fins de dominação e exploração dos homens sobre as mulheres e/ou para garantir privilégios aos homens em detrimentos das mulheres.  E não adianta querer tapar o sol com a peneira, porque é sim para issoque serve a educação de gênero. Mesmo no Ocidente, com todos os avanços promovidos pelo feminismo, meninas continuam sendo adestradas para crescerem e virarem empregadas de cama e mesa de qualquer boçal da vida, e os meninos, adestrados para serem  parasitas que acham essa exploração algo natural.

A eficácia desse modelo de educação diferenciada (a verdadeira ideologia de gênero) repousa exatamente em sua capacidade de fazer aquilo que é cultural passar por natural. Na fórmula conservadora patriarcal (com perdão da redundância), o sexo biológico (fêmea, macho, intersexual), fruto da natureza, tem uma (falsa) relação intrínseca com o gênero (fruto da cultura porque produto de educação). Assim, define-se gênero como natural objetivando torná-lo inquestionável já que algo tido como natural, inerente ao ser, é considerado imutável, por isso, inquestionável. E, para garantir essa inquestionabilidade, vale tudo, desde falar em essência feminina, masculina, psiquê feminina, masculina, cérebros femininos e masculinos, apelar para deus, a ordem divina, qualquer coisa que garanta a fanfic do gênero natural. Somente a partir de meados do século passado,  a falácia do gênero natural passou a ser questionada por muitas e muitos educadores, psicólogos, cientistas sociais, feministas, antropólogos, estudiosos de gênero e inclusive neurocientistas.

Entretanto, a ideia do determinismo biológico como explicação para diferenças comportamentais permanece forte em corações e mentes, talvez porque dê sensação de segurança a  muitos. Recentemente, ao repassar o artigo  que transcrevo abaixo, em um grupo de discussão do Facebook, me apareceu um sujeito tentando desqualificar a notícia porque para ele todo o comportamento humano tem base biológica e, portanto, diferenças comportamentais entre os sexos também teriam explicação natural. Quando eu o refutei dizendo que os seres humanos são fundamentalmente seres culturais e que, portanto, o peso da cultura superava o das condições inatas, o cara veio me pedir fontes sobre essa declaração (sic). Talvez ele precise de fontes sobre essa declaração porque o número de orangotangos produzindo sinfonias, macacas realizando feitos científicos, cachorros erguendo prédios, gatos promovendo religiões é estonteante, não é mesmo?


Piadas à parte, acho que o cara nem sabe a definição de cultura. Lembrando, "cultura é o conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, repassados de geração a geração através da vida em sociedade. Inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes. Cultura é o que forma os indivíduos." Obviamente, mulheres e homens são diferentes em termos anatômicos, fisiológicos e genéticos, mas o que essas diferenças implicam em termos de comportamento ninguém sabe de fato. E não se sabe porque o papel da cultura na formação das pessoas é imenso, sobretudo devido à educação diferenciada de meninas e menino, mulheres e homens. Na pesquisa comentada abaixo, com base em estudo do final do ano passado, neurologistas da Universidade de Tel Aviv afirmam que o diformismo sexual, ou seja, as diferenças entre a anatomia feminina e masculina, em especial nos genitais, não se repete no que diz respeito ao cérebro, sede da mente das pessoas. Por isso, entre outras coisas, o mais sensato é só procurar explicações naturalistas para as diferenças comportamentais entre mulheres e homens quando todas as outras tentativas de explicação pela via cultural falharem. Geralmente, elas não falham.

Não existe cérebro masculino ou feminino
Estudo descarta que haja diferenças anatômicas significativas por razão de sexo

Por Miguel Ángel Criado

Um estudo com centenas de imagens de cérebros de homens e mulheres não encontrou provas de que exista um cérebro masculino e outro feminino. Embora haja algumas diferenças anatômicas em determinadas áreas em função do sexo, estas não permitem dividir os humanos em duas categorias. Na verdade, o cérebro de cada um é um mosaico com elementos tanto femininos quanto masculinos.

Ideias como a da inteligência emocional e best-sellers recentes como O Cérebro Feminino ou, no século passado, a saga Os Homens São de Marte, as Mulheres São de Vênus, alimentaram a tese do dimorfismo sexual do cérebro. Se há diferenças entre homens e mulheres em outras partes da sua anatomia, em especial os genitais, por que não haveria no cérebro? E, se existe no que é físico, ou seja, no cérebro, também deve existir no que é essencial, a mente.

Entretanto, não há provas de que, do ponto de vista da matéria cinzenta, da matéria branca, das conexões neuronais e da espessura do córtex cerebral, o cérebro de uma mulher e de um homem sejam diferentes pelo simples fato de seu sexo ser distinto. As provas, aliás, apontam para o contrário. Em um dos maiores estudos já feitos, um grupo de pesquisadores israelenses, alemães e suíços comparou a anatomia de 1.400 cérebros de homens e mulheres para concluir que, mais do que duas categorias, o que existe é um mosaico cerebral.
Na genitália, há diferenças segundo o sexo que vão se somando até criar dois tipos, as genitálias masculinas e as genitálias femininas”, diz Daphna Joel, pesquisadora da Universidade de Tel Aviv e principal autora do estudo “Cerca de 99% das pessoas têm genitálias masculinas ou femininas, e só algumas poucas têm órgãos genitais cuja forma está entre as formas masculina e feminina, ou têm alguns órgãos com a forma masculina e outros com a feminina. São os que chamamos intersexuais”, acrescenta.


Entretanto, o hermafroditismo cerebral é a norma, e os cérebros 100% masculinos ou femininos são a exceção. 

Na verdade, o que existem são muitos tipos de cérebros”, afirma Joel. “Além disso, o tipo de cérebro que só apresenta características mais prevalentes nos homens do que nas mulheres é muito raro, tão raro como o tipo de cérebro com um perfil em que predomine entre as mulheres”, acrescenta.
Para sustentar essas afirmações, Joel e seus colegas recolheram imagens do cérebro de voluntários de vários projetos científicos. Além da heterogeneidade da amostra (um total de 1.400 pessoas), sua pesquisa recém-publicada na PNAS dispõe de uma força adicional. As imagens neurológicas foram obtidas com tecnologias e métodos diversificados, para evitar distorções. Enquanto algumas determinam melhor a espessura do córtex cerebral, outras registram a estrutura e dimensões das diferentes áreas do cérebro.

Um dos estudos, por exemplo, baseou-se em imagens do cérebro de quase 300 pessoas (169 mulheres e 112 homens). Usando a técnica conhecida como morfometria baseada no voxel (VBM, na sigla em inglês), foi possível determinar o volume de matéria cinzenta de 116 áreas do cérebro.
Não há nenhuma região em nossas amostras que revele uma clara distinção entre uma forma masculina e uma forma feminina, ou seja, que se apresente de forma evidente apenas nos homens ou apenas nas mulheres”, destaca Joel. “Na realidade, há um alto grau de superposição entre mulheres e homens em todas as regiões estudadas”, acrescenta. Ainda assim, apontaram as 10 zonas que apresentaram maior contraste em função do gênero. Foi o caso dos dois lados do giro frontal superior, do núcleo caudado e dos dois hemisférios do hipocampo, todos com uma diferenciação inferior ao nível estatisticamente significativo.
Com essas 10 áreas foi possível criar uma espécie de contínuo do extremo masculino ao extremo feminino. O cérebro de apenas 1% dos homens e 10% das mulheres caía em cada extremo, e um terço das pessoas tinha cérebros anatomicamente intermediários. Os exames foram repetidos com outras amostras de pessoas e tecnologias, como a de imagem por tensores de difusão, com a qual se pode estabelecer a conectividade entre as diferentes zonas cerebrais. Em todas elas, os resultados foram similares.
A maioria dos humanos tem cérebros compostos por mosaicos de características que os tornam únicos, algumas são mais comuns entre as mulheres em comparação aos homens, e outras são mais comuns nos homens em relação às mulheres, e há ainda outras que são comuns a homens e mulheres”, comenta a pesquisadora israelense.
As teorias sobre a diferenciação sexual no cérebro ganharam força em meados do século passado. Mas, como comenta o pesquisador Xurxo Mariño, da Neurocom e da Universidade de Coruña, “esses trabalhos se centraram na sexualidade, em especial no estudo da emergência da homossexualidade”. Alguns se empenharam em encontrar anomalias anatômicas que a explicassem, e encontraram algumas, como o menor tamanho de uma estrutura cerebral chamada estria terminal nas mulheres e também nos homens transexuais. Mas boa parte daquela ciência partia da ideologia.

Os estudos na época se baseavam em questionários, não em observações diretas do cérebro e suas diferenças anatômicas. Isso é algo que só a moderna tecnologia de imagens neurológicas está permitindo. Ainda assim, recorda Mariño, “já em 1948 houve quem falasse mais de um contínuo cerebral do que de categorias dicotômicas”. Foi o biólogo Alfred Kinsey quem, com sua escala sobre a orientação sexual, antecipou-se ao estudo atual.

Fonte: El País, Neurociência, 1/12/2015

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Fernando Holiday, de token black a ponta de lança do reacionarismo

Eleito vereador no último pleito, Fernando Holiday, do Movimento Brasil "Livre" (MBL), um dos grupos que organizou as manifestações pelo impeachment de Dilma afirmou, em sua página do facebook: 
Meu primeiro pronunciamento feito aqui na minha página pós-eleição, além de divulgar os gastos finais de campanha, foi apoiar a medida do prefeito eleito João Doria de EXTINGUIR a secretaria de Igualdade Racial e LGBT. Precisamos diminuir o tamanho da máquina da prefeitura! Sou e serei a favor de qualquer redução de gastos ou estruturas burocráticas." 
Bem, Doria voltou atrás em sua fala sobre extinguir secretarias (não sei como ficará a situação agora) e, no caso da LGBT, nem poderia extingui-la porque sequer existe. Ao que tudo indica, Holiday não está a par desses detalhes, mais preocupado em jogar para sua plateia de reaças empedernidos.

Entretanto sua fala provocou engulhos em muitos, inclusive em mim. Me fez lembrar direto o personagem do filme Django Livre (de Quentin Tarantino), Stephen, interpretado magistralmente por Samuel Lee Jackson, o negro liberto que trabalha para o escravocrata Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), em sua plantation, e é mais vil com os outros negros do que o próprio patrão. Claro que vão dizer que estou exagerando na analogia, pois não há como comparar as imbecilidades ditas por Holiday, num regime democrata, com as falas e ações escrotas de um agente do sistema escravagista. No entanto, o desprezo que o personagem de Jackson provoca nos espectadores do filme, em mim também naturalmente, não é muito diferente do que senti ao ler a fala de Holiday. Guardadas às devidas proporções, a motivação de ambos é sim a mesma. Adiante.


Naturalmente,  a performance de Holiday vem rendendo assunto nas redes sociais e já virou tema de postagens em blogs e sites tanto ditos de direita quanto de esquerda. No site Diário do Centro do Mundo, de esquerda, Marcos Sacramento escreveu texto intitulado Quantos mandatos Fernando Holiday do MBL cumprirá até tornar-se negro?, criticando Holiday, entre outras coisas, por ser contra cotas e por querer extinguir a secretaria de promoção da igualdade racial de São Paulo. O título e o texto são bem equivocados pois querem fazer crer que se uma pessoa negra não for favorável a cotas raciais ela não seria negra de fato. Ser negro então deixa de ser uma condição inata para se tornar um modelo específico de militância!? Eu, hein!

Do outro lado, blogueiros e colunistas de direita saíram em defesa do Stephen tupiniquim afirmando coisas do tipo: "A esquerda não consegue entender a existência de Holiday porque acredita ter o monopólio da defesa dos negros, pobres e “oprimidos” em geral. (Leandro Narloch)."  Ou "O negro, o gay, a mulher, nada disso importa. Não como indivíduo, ao menos. Só começam a importar quando servem de mascote para a esquerda, para sua agenda totalitária estatizante. E isso só acontece quando aceitam o papel de vítimas, de coitadinhos, clamando por intervenção estatal(Rodrigo Constantino)." Festival de clichezinhos direitosos repetidos ad nauseum.

Mas quem disse que o problema de Holiday  é não se encaixar nos parâmetros de esquerda que a militância seja negra ou LGBT define como corretos? Vamos lembrar que uma parcela do movimento negro sempre foi contra cotas raciais. Ativistas históricos do movimento foram contra a implementação das cotas. A autora deste texto foi e continua sendo contra cotas raciais. Acho um grande equívoco. Agora, porque sou contra a ala racialista que tem preponderado no Movimento Negro nos últimos anos, eu vou atacar o movimento negro em si mesmo, sair por aí dizendo que a luta contra o racismo é desnecessária, coisa de vitimistas, porque somos todos apenas "indivíduos"!!?? Querer extinguir secretarias que lidam com essa questão específica sob a desculpa esfarrapada de reduzir gastos ou estruturas burocráticas? Até parece que não existem outras instâncias governamentais bem mais supérfluas onde promover cortes, não é verdade? Essa gente subestima tanto assim a inteligência alheia?

O mesmo em relação ao movimento LGBT, feminista, qualquer outro. Minhas críticas ao movimento LGBT, do qual sou uma das fundadoras, são inúmeras, sobretudo pelo aparelhamento petista que sofreu nos últimos anos. Daí eu atacar o movimento em si mesmo, desqualificando toda uma história de lutas, na base da enorme falácia de que somos apenas "indivíduos" e não tem sentido a gente lutar em coletivos!!?? Esse papo furadésimo de contra "coletivismos" pra lá e pra cá que se ouve frequentemente no meio liberaleco-conservador!? Vale destacar que as únicas pessoas realmente julgadas como indivíduos neste mundo são os donos do poder, ou seja, os homens brancos, héteros, burgueses e cristãos (com algumas variações aí), os estereótipos do privilégio. O restante da humanidade é julgada por fazer parte de algum coletivo em primeiro lugar e não como indivíduo. E obviamente não foram as esquerdas que coletivizaram as pessoas e sim os próprios conservadores com seus preconceitos, discriminações e seu mundo de excludências. As esquerdas, quando muito, manipulam os coletivizados para seus propósitos.

Enfim, repetindo, o problema do Holiday não é ele não se encaixar nos parâmetros que a militância de esquerda criou para lidar com as questões relativas aos direitos humanos. O problema com Holiday é ele se encaixar nos parâmetros que a direita criou para combater os direitos humanos. Holiday poderia ser crítico dos movimentos sociais e buscar inclusive trazer novas propostas para os mesmos de uma perspectiva diferente da atual. Poderia promover até quem sabe uma benéfica renovação dessas expressões políticas através do diálogo crítico.  Mas o que ele quer é jogar para a plateia conservadora que o elegeu e que, como todo mundo sabe, é contrária aos direitos humanos. Holiday é mais do que um token black.* É um ponta de lança do reacionarismo que usa de sua negritude e suposta homossexualidade como fator divisionista das lutas por direitos humanos a fim de revertê-las e até mesmo impedi-las. Trata-se de um oportunista que surfou na onda antipetista e nas manifestações do impeachment de Dilma para se eleger encenando uma mistura de alborghetti, datena e ratinho com falsa indignação. Quer se dar bem na vida a qualquer preço. A História registra várias figuras como ele ao longo dos séculos. Os cristãos o celebram no sábado de Aleluia.


* Token Black é o nome que se dá ao membro de uma minoria historicamente discriminada inserido em qualquer ambiente adverso a sua especificidade apenas para que se crie a impressão de tolerância e ausência de preconceitos. 

Token Black é o nome do personagem da animação South Park exatamente por ser a única criança negra do desenho. 


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Alberta Hunter, grande dama do blues, canta The Love I have for you (O amor que tenho por você)

Alberta Hunter
Grande dama do blues e do jazz, Alberta Hunter  nasceu em Memphis, Tennessee, no dia primeiro de abril de 1895 e veio a falecer em Nova York no dia 17 de outubro de 1984, aos 89 anos. Foi cantora,  compositora, atriz e, curiosamente, também enfermeira. Iniciou sua carreira musical por volta de 1920,  tornando-se uma cantora de grande sucesso, aclamada pela crítica e pelo público, por seu talento e apresentações bem humoradas.

No início da década de 50, retirou-se dos palcos, tornando-se enfermeira em Nova York. Retornou apenas em 1977, novamente com grande sucesso. Mais informações sobre a diva no site Red Hot Jazz bem como no Clube de Jazz. No primeiro, inclusive, é possível baixar o áudio de alguma das músicas da cantora do início de sua carreira.

Resolvi lembrá-la porque me peguei cantando uma de suas músicas, The love I have for you, que faz parte da trilha sonora da minha vida. Abaixo segue a letra e o vídeo com a música bem como também a canção My Man Is Such A Handy Man, onde ela capricha no bom humor. Assisti na TV a gravação de algumas de suas apresentações, e pude constatar porque, ainda em vida, já havia se tornado uma lenda do blues. 

The Love I Have for You
Alberta Hunter

The love I have for you
makes my burdens light.
The love I have for you
makes my blue days bright.
Asleep or awake dear
your face I see,
your sunshine and smile is a guide for me.

The love I have for you
is within my heart.
The love I have for you
is a thing set apart.
You can search the universe,
but my dear if you do,
you’ll never find a love like the love I have for you.

I never fret a worry.
At no time am I blue.
I spend my days rejoicing
because of the love that I have for you.

You can search this universe
but my dear if you do
you’ll never find a love like the love I have for you.



Publicado originalmente em 15/01/2014

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

As Divas da década de 40: Tributo a Lauren Bacall!

Lauren Bacall (16/09/1924-12/08/2014)
Johnny Mercer (cujo centenário se completou em 18 de novembro) escreveu letras para alguns dos maiores compositores americanos, como, por exemplo, Henry Mancini em Moon River e Days of wine and roses, e  David Raksin em Laura (postei a música abaixo com Carly Simon). Clique aqui para saber mais sobre esse letrista.

De fato, Laura é música tema do filme Laura de 1944, um filme noir com Gene Tierney, Dana Andrews, Vincent Price, Clifton Webb e Judith Anderson. Como bom film noir, tem uma história detetivesca no enredo, romance e  um visual enevoado, como num sonho, somado aos contrastantes preto-e-branco. É super-elegante e traz a beleza etérea da pivô de toda a história, Laura, interpretada pela atriz Gene Tierney.

Ao ouvir a música e lembrar do filme e da atriz Gene Tierney, lembrei também de outra diva hollywoodiana dos anos 40, Lauren Bacall, que recebu o Oscar honorário, em 14/11/09, pelo conjunto de sua carreira.  Reunindo todas essas lembranças, ponderei sobre o registro de beleza das divas da década de 40, do cinema americano e internacional, e fiquei aqui divagando sobre aquela aura de magia que rodeava essas mulheres. Dizem que essa aura se deve ao trabalho de alguns fotógrafos geniais, mas acho que vai além disso. Essas mulheres tinham uma mistura de beleza, sensualidade e elegância que simplesmente foi para o brejo. Hoje também existem mulheres belíssimas passeando pelas telas de cinema, passarelas da moda, etc., mas aquele clima de mistério, beleza, sensualidade e elegância não é mais encontrado.

Sempre me amarrei nessas divas da década de 40, especialmente em Lauren Bacall. Confesso que o marido dela, Humphrey Boggart, foi a pessoa que mais invejei no mundo..rsss Que linda, nooossa! Também acho que a beleza da diva era algo não só exterior tanto que envelheceu, nunca fez plástica (como Liz Taylor), por exemplo, e permaneceu bonita até idade avançada, uma velha bonita e elegante.

Por fim, acho que deveriam solicitar  uma célula qualquer dela, preservar como patrimônio da humanidade, clonar, cultivar e depois distribuir aos fãs e aos carentes de beleza, para amenizar ao menos este mundo tão feio. Uma laurenzinha para mim, por favor!!

Abaixo, além da música Laura, lindíssima também, um vídeo com imagens de Lauren Bacall e outro com a famosa cena onde ela manda Humphrey Bogart assobiar, com aquela voz caliente. Aliás, o Oscar que recebeu foi merecido. À parte a beleza, ela também foi boa atriz.





Publicado originalmente em 22/11/09, republicado em 13/08/13 e 18/01/2015 e reeditado em 16/09/2016

terça-feira, 6 de setembro de 2016

PT quer semear caos no país para voltar ao poder

Enquanto tentam nos convencer de que estamos às vésperas de um novo 1964,
petistas almejam nos levar para 1984
Petistas não se conformam com a demissão de Dilma do cargo de Presidente da República e ameaçam semear o caos no país para tentar provocar uma ruptura institucional que os devolva ao poder. Várias manifestações tipo "Fora Temer", com atos de vandalismo em variados graus, vêm ocorrendo na esteira do impeachment meia-sola de Dilma. Abaixo reproduzo texto e vídeo de O Antagonista informando sobre os objetivos da greve dos bancários que hoje se inicia:
Marcelo Rodrigues, presidente da CUT-RJ, revela que a greve geral dos bancários, convocada a partir de hoje, tem como verdadeiro objetivo incendiar o país contra Michel Temer.

Eu tenho o maior orgulho de estar na assembleia que vai dizer que nós vamos mudar o rumo desse país. E que esses golpistas de m... vão ser relegados ao lixo da história."
A greve é por tempo indeterminado. Vamos para luta, convocando mais do que bancários e bancárias, todos os trabalhadores, a vir para rua para dizer 'Fora, Temer'."

Assim como os antagonistas, considero essas declarações abuso do direito de greve que merecem uma reação enérgica. Também como nos dois editoriais do Estadão abaixo penso que as autoridades precisam ter a coragem de adotar medidas duras para impedir essa escalada de violência petista alimentada pelo ressentimento e pelo revanchismo que pode colocar em risco, real e imediato, as liberdades fundamentais dos cidadãos.


A tentação totalitária do PT
A crise que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff parece ter estimulado o PT a adotar estratégias típicas de movimentos totalitários

A crise que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff parece ter estimulado o PT a adotar estratégias típicas de movimentos totalitários. Numa delas, a realidade percebida pelos sentidos é rejeitada in limine (inteiramente), pois é considerada como uma mentira construída pelos inimigos do povo para realizar seu perverso projeto de dominação. Em seu lugar, o PT oferece a “verdadeira” realidade, aquela que se constitui do que não é perceptível, do que está escondido, do que não se dá a conhecer senão por meio da revelação dos que passaram pelo adequado treinamento ideológico. A ideologia petista dá a seus simpatizantes o conforto de substituir o mundo real, com suas contradições e seus acidentes, por um mundo em que tudo faz “sentido”, graças ao discurso que lhe empresta coerência, mesmo que nada disso tenha a mais remota conexão com a realidade.

É com esse viés que os petistas, derrotados pela Constituição e pela democracia, querem fazer acreditar que o País viveu um “golpe”, com a destituição da presidente Dilma Rousseff, e que agora está em curso um processo que culminará em breve num “estado de exceção”, semelhante ao da ditadura militar.

De acordo com essa estratégia, é preciso apostar na confusão moral. A manutenção da ordem, dever da polícia, é tratada como repressão arbitrária – e qualquer ato da polícia nesse terreno, mesmo que no estrito cumprimento do seu dever, é logo apropriado e divulgado de forma estridente pela máquina de propaganda partidária com o objetivo de construir a realidade que lhe interessa.

Assim, uma manifestante que teve ferimentos num olho em razão de estilhaços de uma bomba de gás lacrimogêneo atirada pela polícia, no último dia 31 de agosto, foi imediatamente convertida em mártir petista. Sua vida deixou de lhe pertencer. Ela passou a servir como ilustração do “golpe de Estado dado no País”, como afirmou Dilma em seu perfil no Twitter. A moça foi “vítima da violência policial que tenta reprimir manifestações democráticas”, disse Dilma, sem se ater ao fato de que a bomba que feriu a jovem foi atirada para dispersar vândalos e baderneiros, que não estavam fazendo nenhuma “manifestação democrática” e tinham de ser contidos, como manda a lei.

Mas Dilma não tem nenhum interesse no mundo real. Seguindo a delirante cartilha de seu partido, ela colhe acontecimentos aqui e ali conforme estes se encaixem na tese lulopetista de que está em andamento uma grande conspiração para estabelecer uma ditadura no Brasil, como a de 1964. “As pessoas vão para as ruas e vem a repressão. Cegam uma menina. Depois, matam alguém, como foi com o estudante Edson Luís”, disse Dilma em entrevista a jornalistas estrangeiros, fazendo absurdo paralelo do caso atual com o do assassinato de Edson Luís em março de 1968 pelas forças do regime militar. Mas ela foi adiante: “O terrorismo de Estado é gravíssimo. O poder dele para reprimir é muito forte. Assim começam as ditaduras”.

É com essa lógica rasteira que os petistas pretendem convencer os brasileiros de que estamos às portas de um regime de exceção. O objetivo é criar uma atmosfera favorável à defesa de soluções que, a título de preservar a democracia, representariam na verdade uma ruptura, ou seja, um golpe, cujo objetivo é restituir o poder aos que, em respeito à Constituição, dele foram apeados. É o caso da proposta de antecipação das eleições presidenciais, que o PT agora encampou sob o título “Diretas Já” – alusão malandra ao nome do movimento que há mais de 30 anos ajudou a enterrar a ditadura militar.

A resolução do PT que anunciou a tal “Diretas Já” nem se dá ao trabalho de dizer como essas eleições seriam realizadas, já que contrariam a Constituição. Mas o pensamento petista prescinde da razão – esta, aliás, é sua inimiga mortal e deve ser combatida com todas as forças e por todos os meios. Assim, sempre que alguém renuncia à capacidade de pensar e abraça a lógica oferecida pela doutrina petista, o exército de liberticidas se adensa, e o cerco pernicioso à democracia se fecha um pouco mais.

Fonte: Estado de SP, 02/09/2016


A baderna como legado

Dilma Rousseff é, finalmente, carta fora do baralho, apesar da trama, urdida por Renan Calheiros com apoio dos petistas e a benevolência de Ricardo Lewandowski, para lhe garantir a manutenção dos direitos políticos
Se “a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer” – como prometeu em seu discurso de despedida a ex-presidente Dilma Rousseff – inclui insuflar irresponsavelmente a escalada da violência nas ruas, como tem acontecido em São Paulo e outras capitais do País, a própria banida e as chamadas “forças progressistas” que se alinharam contra o impeachment terão de assumir que a barbárie é um meio plenamente justificado para defender “os interesses populares”. Esse, na verdade, é o argumento daqueles que pregam a adoção de regimes de força ou o emprego de meios do terror para dobrar a sociedade a seus desejos – ou “sonhos”, como gostam de dizer.

O que está acontecendo nas ruas – mas também em repartições públicas e universidades – é extremamente preocupante. Em primeiro lugar, porque pode ser o prenúncio de uma grave disruptura política e social cuja simples possibilidade é preciso exorcizar. Em segundo lugar, porque ocorre no momento em que a pacificação nacional é indispensável para que toda a energia do governo e da sociedade se concentre no enorme desafio da reconstrução nacional.

A ex-presidente já se havia dedicado, com sua incompetência, arrogância e sectarismo, a levar o País à beira do abismo. Alardeando sua condição de “mulher honesta”, ela se beneficiou sem hesitação do ambiente de corrupção generalizada que sempre esteve ao seu redor tanto para se reeleger como, no primeiro mandato, para manter uma base parlamentar que coonestou todas as barbaridades da “nova matriz econômica”. Agora, ela própria dá um passo adiante, incitando os brasileiros à divisão, por todos os meios. Despenca no abismo que ela própria abriu a seus pés, mas quer ser seguida pela Nação.

Dilma Rousseff é, finalmente, carta fora do baralho, apesar da trama, urdida por Renan Calheiros com apoio dos petistas e a benevolência de Ricardo Lewandowski, para lhe garantir a manutenção dos direitos políticos. Ela muito dificilmente conseguirá ter voz ativa em qualquer articulação política de oposição ao governo. Mas os insensatos frequentemente sofrem a tentação do abismo e, infelizmente, não perdem a capacidade de convencimento e arregimentação de quem pensa – ou pensa que pensa – como eles. O discurso de despedida da ex-presidente, por exemplo, é um claro estímulo à extrapolação dos limites legais para as manifestações de protesto contra o governo.

Cabe às autoridades constituídas reprimir a baderna e impedir que a desordem se torne rotina. É preciso saber distinguir o legítimo e democrático direito a manifestação no espaço público da baderna que atenta contra o direito da população de viver seu cotidiano em paz. No primeiro caso, o poder público tem o dever de oferecer aos cidadãos a garantia de se manifestar pacificamente. No segundo, tem a obrigação de impedir a ameaça potencial ou a ação daqueles que infringem a lei. A baderna nas ruas, longe de ser uma forma legítima e democrática de manifestação popular, é um grave atentado ao direito fundamental que os cidadãos, o povo, têm de viver em paz.

Agrava a configuração criminosa das manifestações de crescente violência nas ruas o fato de que, como se tem visto em São Paulo, os confrontos com a polícia são deliberadamente provocados pelos próprios baderneiros, que têm sistematicamente descumprido os acordos previamente estabelecidos com a polícia a respeito de percursos a serem cumpridos, exigência óbvia de qualquer esquema de segurança pública.

O que se viu na quarta-feira nas ruas de São Paulo e ontem em pleno recinto do Senado Federal – onde baderneiros interromperam os trabalhos de uma comissão presidida pelo senador Cristovam Buarque – são exemplos de que os movimentos “populares” estão a transgredir de forma abusiva os limites estabelecidos pela lei. Pois não há “direito” que justifique a violência nas ruas ou a ela sobreviva.

Se as autoridades responsáveis – de modo especial o governador paulista, sempre hesitante nesse assunto – não tiverem a coragem de adotar medidas duras, mas necessárias para impedi-la, essa escalada da violência alimentada pelo ressentimento e pelo revanchismo colocará em risco, real e imediato, as liberdades fundamentais dos cidadãos.

Fonte: Estado de SP, 02/09/2016

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Hallelujah, de Leonard Cohen, com k.d.lang

Hallelujah - Aleluia - escrita pelo cantor e compositor canadense Leonard Cohen, em 1984, é considerada uma das maiores canções de todos os tempos, tendo sido gravada por inúmeros artistas desde seu surgimento.

Apesar do título, do jeito de hino religioso e das citações bíblicas, a letra fala mesmo é das vicissitudes da vida, de sexo e desencontros amorosos, de uma visão desalentada da existência que põe em dúvida se mesmo a arte pode nos salvar.

Nas citações bíblicas, o autor diz que soube que o Rei David encontrara um acorde especial para louvar a Deus, mas a mulher a quem fala não liga para música: "But you don't really care for music, Do you?" Relata ainda que a mulher (Betsabá) que seduz e desencaminha David, tira-lhe a força (corta-lhe o cabelo, referência à Sansão) através do sexo: "she cut your hair and from your lips she drew the halleujah (ela cortou seu cabelo e de seus lábios extraiu a aleluia - do orgasmo)".


No restante da canção, o autor continua vendo o amor como uma batalha de onde ele sai cativo e ferido "I saw your flag on the marble arch/love is not a victory march, it's a cold and it's a broken Hallelujah (Vi sua bandeira no monumento de mármore/o amor não é uma marcha vitoriosa, é uma aleluia fria e sofrida). Maybe there's a God above/And all I ever learned from love/Was how to shoot at someone who outdrew you/It's not a cry you can hear at night/It's not somebody who's seen the light/it's a cold and it's a broken Hallelujah (Talvez haja um Deus lá em cima/E tudo que eu sempre aprendi com o amor/foi como atirar contra alguém que já havia sacado primeiro/Não é uma súplica que você escuta à noite/Não é alguém que viu a luz/É uma aleluia fria e sofrida)".

Leonard Cohen escreveu duas versões de Hallelujah, tirando da segunda versão, de 1994, seu caráter mais espiritual (redentor) e enfatizando a evocação sexual, porém, de qualquer forma, manteve a mescla de religioso e profano da música, o contraste entre a melancólica descrição da vida, exposta na letra, e a qualidade de transcendência, contida nas Aleluias crescentes, que configuram sua beleza indiscutível.

Segundo consta, em artigo de Neil McCormik (junho/2008), para o Telegraph online, Coen declarou sobre sua famosa canção, no maior estilo Zen:
É isso aí. Não há saída para essa confusão. O único momento em que você consegue viver no meio desses conflitos absolutamente irreconciliáveis da vida é quando finalmente aceita tudo e diz ‘Olhe, eu não entendo nada disso, mas... Aleluia!'"
Gosto de todas as versões que diferentes artistas já deram a essa música, mas preferi postar esta da k.d.lang, que também consta de seu álbum Hymns of the 49th Parallel (2004), porque é uma das mais bonitas interpretações de Hallelujah. O próprio Leonard Cohen afirmou, em entrevista, ter ficado comovido com a performance de k.d.lang na ocasião registrada no vídeo abaixo (ele estava na plateia). Segundo o compositor, Lang levou a música a seu definitivo e bem-aventurado estado de perfeição.
 

Vale ainda salientar que há vários versos, escritos por Cohen, para essa mesma melodia, sendo a letra abaixo apenas uma das variantes conhecidas. E que muita gente canta esses versos em ordem diferente da apresentada na versão de k.d. lang ou mesmo inventa versos para Hallelujah.                            


Hallelujah – Leonard Cohen


I've heard there was a secret chord
that David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, Do you?
It goes like this, the fourth, the fifth
The minor Fall, The major lift,
The baffled king composing, hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty in the moonlight overthrew you
She tied you to a kitchen chair, she broke your throne
she cut your hair and from your lips she drew the halleujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Maybe I've been here before
I know this room, I've walked this floor
I used to live alone before I knew you
I've seen your flag on the marble arch
love is not a victory march
it's a cold and it's a broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

There was a time you let me know
What's real and going on below
but now you never show it to me, do you?
And remember when I moved in you
the holy dove was moving too
And every breath we drew was Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

Maybe there's a God above
And all I ever learned from love
Was how to shoot at someone who outdrew you
It's not a cry you can hear at night
It's not somebody who's seen the light
it's a cold and it's a broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah…

Publicado originalmente em 08/04/2009

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Mérito da jogadora Marta se mede por ser craque em campo e contra as desigualdades que enfrenta na vida

Análise estritamente economicista trata diferenças salariais entre o sexos sem considerar as origens históricas e sociológicas da desigualdade e de sua relação com o contexto sócio-cultural existente
Bem, acho as ideias liberais das mais aproveitáveis no que tange à administração do estado, da economia, etc. Melhor um estado pequeno realmente, menos impostos, menos burrocracia, mais liberdade econômica, mais liberdade para as pessoas empreenderem e tentarem determinar seus caminhos.

Por outro lado, liberais falham miseravelmente por não fazer análise estrutural (histórica, sociológica) dos fenômenos sociais, por não reconhecer todos os outros fatores de ordem sócio-cultural que inclusive interferem nos caminhos da própria economia, sem falar na trajetória das pessoas. Exemplo: bom público consumidor LGBT sempre existiu, mas ninguém investia nele porque a marginalidade da condição social das pessoas homossexuais impedia. Até hoje, empresas que investem nesse público ainda têm que enfrentar a objeção conservadora ao fazê-lo. Mas, graças à luta internacional por direitos LGBT, a inserção desse segmento populacional vem num crescendo na sociedade em geral, e as empresas pararam de temer a reação conservadora porque agora os benefícios parecem ser maiores do que os custos. Foi a mudança sócio-cultural que determinou a mudança econômica e não o contrário.

Mas, para muitos liberais, tudo continua explicável somente via papinho economicista e na base de uma suposta liberdade de escolha (como se nossas escolhas não estivessem também sujeitas aos condicionantes estruturais) que só existiria de fato se vivêssemos numa bolha isolada da realidade social ou numa realidade social diferente da atual. Diferente porque haveria igualdade de largada, começando por substituir a educação diferenciada dada às crianças que privilegia meninos em detrimento de meninas. 

Então, cai-se num mundo meio de faz de conta onde não viveríamos numa sociedade patriarcal que determina diferentes oportunidades para homens e mulheres desde o berço até o túmulo. Poderia citar inúmeros exemplos para ilustrar meu ponto de vista, mas, focando a questão salarial, em geral, a razão para as disparidades econômicas nos salários entre homens e mulheres tem como cerne o sexismo mesmo. As questões mercadológicas envolvidas no assunto são reflexo dessa raiz e não explicação para o problema, ainda que tenham resposta para uma parte dele.

Charlize Theron bateu o pé por salário igual e levou
Exemplo: as estrelas de Hollywood sempre levaram tanta gente às bilheterias de cinema quanto os astros, sempre geraram tanta grana ou mais para os empresários do ramo quanto os astros e nem por isso ganhavam o mesmo que eles. Só recentemente as divas de Hollywood resolveram peitar o sexismo cinematográfico e exigir o mesmo salário que o dos astros. Aí de repente, vejam só, o dinheiro apareceu. Obviamente quem faz análises exclusivamente economicistas de problemas complexos de ordem sócio-cultural jamais vai produzir soluções adequadas para os mesmos.

Na imagem do início deste post, vemos bem esse caso. Uma análise estritamente economicista que desconsidera vários outros fatores de ordem sócio-cultural para explicação dessa disparidade salarial entre Marta e Neymar E ainda substituem gol por mérito. E depois se queixam quando as esquerdas consideram a meritocracia uma falácia. Como contestá-las nesse caso?

sábado, 6 de agosto de 2016

Aniversário de Adoniran Barbosa, o poeta do Bexiga!


Filho de imigrantes italianos, o jovem João Rubinato foi office-boy, carregador, faxineiro, encanador, pintor de paredes, garçom e caixeiro em loja de tecidos antes de se tornar o sambista nacionalmente conhecido como Adoniran Barbosa. João Rubinato tirou o nome Adoniran Barbosa da junção do nome de um amigo, chamado Adoniran Alves, com o sobrenome do compositor e cantor de sambas de breque Luís Barbosa (1910/1938).

Apaixonado pelo samba carioca que ouvia no rádio, iniciou a carreira artística, em 1934, vencendo um concurso de música de Carnaval, realizado pela prefeitura de São Paulo, com a marcha Dona Boa, e nunca mais parou. Com a persona artística de Adoniran Barbosa, desenvolveu um estilo próprio de samba, utilizando o dialeto dos paulistanos descendentes de italianos, que ocupavam os cortiços da região central da cidade, mesclado com muito humor. Trabalhou também no rádio e no cinema, mas foi realmente a música que o consagrou.

Hoje, Adoniran Barbosa faria 110 anos, se estivesse aqui presente em carne e osso. Já que isso não é mais possível que esteja em espírito com sua música tão especial, seu samba italianado que é a cara de São Paulo.
 
Abaixo, alguns de seus clássicos, como Saudosa Maloca, as Mariposa, Trem das Onze, Iracema (com a imensa Elis Regina que também faz sua versão de Saudosa Maloca), Samba no Bexiga e Bom dia, Tristeza, esta última uma curiosidade, já que se trata de uma música de fossa (como se dizia na época) cantada por outra ilustre finada, a gata nada mansa Maysa. Na verdade, Adoniran musicou uma letra que lhe foi passada por Vinícius de Morais, o que mostra também o ecletismo do poeta do Bexiga.

Meu humilde tributo ao grande João Rubinato Adoniran Barbosa e sua música maravilhosa que sempre me divertiu e emocionou.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Maioria de projetos baseados no ‘Escola sem Partido’ é de autoria de políticos ligados a igrejas



Maioria de autores de projetos baseados no ‘Escola sem Partido’ é ligada a igrejas

A maioria dos parlamentares que propuseram projetos baseados no Escola sem Partido em legislativos estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado é ligada a alguma religião. Dos 14 projetos em tramitação, somente três foram apresentados por deputados não identificados como evangélicos ou católicos. A constatação reforça a preocupação sobre a ingerência de igrejas no espaço escolar, relatada por professores, estudantes e especialistas em educação críticos à proposta.

O professor Luiz Antônio Cunha, doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, já havia alertado que a proposta é parte do avanço da regulação do ensino religioso em escolas públicas. “Esse projeto pretende calar professores, mas não só isso. É uma perna de um projeto mais amplo. Não basta calar, é preciso colocar algo no lugar. Quem mais que está agindo para educar dentro da escola pública, nessa perspectiva que evite a crítica de fato? São aqueles grupos que pretendem desenvolver o ensino religioso”, afirmou o professor.

O Escola sem Partido alega combater a “doutrinação ideológica dos estudantes” e defende o veto a qualquer aula, conteúdo ou atividade que afronte as convicções religiosas ou morais dos pais e dos alunos. O projeto foi idealizado em 2004, pelo procurador paulista Miguel Nagib, após um professor de sua filha comparar o revolucionário argentino Che Guevara com o santo católico São Francisco de Assis, em virtude de ambos abandonarem a riqueza pela causa em que acreditavam.

Na Câmara, há três projetos tramitando baseados na proposta Escola sem Partido. O Projeto de Lei (PL)7180/2014, do deputado Erivelton Santana (PSC/BA), o PL 867/2015, do Izalci Lucas (PSDB-DF) e o PL 1411/2015, de Rogério Marinho (PSDB/RN), este sendo o único não ligado a alguma igreja. No Senado, o pastor evangélico Magno Malta (PR-ES) é autor de texto semelhante, apresentado como PLS 193/2016.

O Senado abriu uma consulta pública sobre o projeto de Malta, que às 8h55 desta quarta (20) contava com 106.068 votos favoráveis e 127.811 contrários. A consulta não tem poder decisório, mas serve de argumento sobre a avaliação da população sobre o tema.

Nos legislativos estaduais já são 12 propostas apresentadas. Uma já foi aprovada – em Alagoas – e uma arquivada – no Espírito Santo. A primeira foi apresentada pelo deputado Ricardo Nezinho (PMDB), ligado à igreja Batista. O projeto foi vetado pelo governador Renan Filho, mas o veto foi derrubado na Assembleia Legislativa. O outro, registrado como PL 121/2016, foi proposto pelo médico Hudson Leal (PTN).

Em São Paulo, há dois projetos tramitando na Assembleia Legislativa. Um do empresário Luiz Fernando Machado (PSDB), que recebeu o número de PL 1301/2015. E o PL 960/2014, de autoria do evangélico José Bittencourt (PSD). As propostas tramitam em conjunto e já foram aprovadas pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Os demais projetos com seus respectivos autores seguem listados a seguir
UFProponenteConfissão
SPLuiz Fernando Machado (PSDB) PL 1301/2015
José Bittencourt (PSD)
PL 960/2014
Evangélico
RSMarcel van Hattem (PP)
PL 190/2015
Cristão Luterano
PRGilson de Souza (PSC) e outros 11
PL 748/2015
Evangélico
ALRicardo Nezinho (PMDB)
projeto aprovado
Batista
RJFlávio Bolsonaro (PSC)
PL 2974/2014
Evangélico
DFSandra Faraj (SD)
PL 1/2015
Evangélica
Rodrigo Delmasso (PTN)
PL 53/2015
Projeto de Emenda à Lei Orgânica (Pelo) 38/2016
Evangélico
ESHudson Leal (PTN)
PL 121/2016 (Arquivado)
GOLuiz Carlos do Carmo (PMDB) PL 2.861/14Evangélico
AMPlatiny Soares (DEM)
PL 102/2016
CEDra. Silvana (PMDB)
PL 273/2015
Evangélica
PEPastor Cleiton Collins (PP)
PL 823/2016
Evangélico
MTDilmar Dal Bosco (DEM)
PL 403/2015
Católico

O fato de tantos projetos sobre o tema terem sido apresentados por parlamentares ligados a alguma igreja cristã reforça o temor de que o Escola sem Partido seja uma “Lei da Mordaça”.
É um retrocesso absoluto. Não se pode tratar de questões de gênero ou da evolução humana, por exemplo. Na prática, não se pode debater assunto nenhum. Porque tudo vai contrariar crenças. O projeto determina que você deve respeitar os valores de cada aluno. Isso é obrigação da escola, mas ela precisa promover o debate de forma a que nossas crianças cresçam respeitando as diferenças e diversidade que temos no mundo”, avaliou a diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa.
O professor de Ética e Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro avaliou que a proposta tem uma confusão, pois ao mesmo tempo que defende o combate à “doutrinação esquerdista”, criminaliza aquele professor que disser coisas que contradigam a religião da família do aluno.
A escola não tem incumbência de doutrinar a pessoa nem de respeitar a doutrinação religiosa da família. A escola educa. E para educar ela tem de transmitir conhecimento que tem base científica”, afirmou.
O ensino religioso está previsto na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB). O Decreto Federal 7.107, de 2010, determina o ensino religioso “católico e de outras confissões religiosas” como”disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. E o Projeto de Lei 309, de 2011, do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), eleva a matéria a “disciplina obrigatória nos currículos escolares do ensino fundamental” e regulamenta o exercício da docência deste conteúdo. A proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) o propõe como conteúdo dos nove anos do ensino fundamental.

Na semana passada foi lançada uma Frente Nacional contra o Projeto Escola sem Partido, com o objetivo de esclarecer a população sobre o tema, participar de audiências e debates sobre a proposta e pressionar por seu arquivamento em todas as casas legislativas onde estiver em tramitação. No Facebook, a página Professores contra o Escola sem Partido divulga debates e denuncia o surgimento ou aprovação de propostas relacionadas com o projeto.

Fonte:  Sul21, por Rodrigo Gomes, 20/07/2016

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