8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Mulheres Inspiradoras da área de Tecnologia da Informação

Conheça mulheres inspiradoras da área de TI

Os cursos de tecnologia da informação e computação apresentam um aumento crescente no número de alunos e egressos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Computação (SBC), em 2014 quase 40 mil pessoas se formaram nos cursos de informática no país. Embora o percentual de mulheres nesses cursos esteja crescendo nos últimos anos, elas representam apenas 6 mil (cerca de 16%) do total de alunos.

O mesmo ocorre no mercado de trabalho: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2016, dos mais de 580 mil profissionais de TI no Brasil, apenas 20% são do sexo feminino.

Em um mundo em que homens dominam as áreas de exatas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática, a presença de mulheres ainda pode causar um certo “espanto” das pessoas.

A seguir, um resumo das histórias de mulheres internacionalmente conhecidas por fazer a diferença na área da tecnologia.

Andressa Martins, Narrira Lemos e Luciana Silva
Fundadoras da ONG Mulheres na Tecnologia, organização brasileira sem fins lucrativos com objetivo de aumentar a participação das mulheres na área de Tecnologia da informação. O grupo realiza encontros nacionais sobre o reconhecimento do potencial da mulher na área de TI.
Camila Achutti
A paulistana, única mulher na sua turma de Ciência de Computação da USP, criou o blog Mulheres na Computação. O blog virou referência para dezenas de mulheres. Camila participou de um estágio na sede do Google, na Califórnia, e hoje é diretora do Technovation Challenge Brasil, um programa de incentivo à participação das mulheres na área de TI .
Inovadora no campo da computação compartilhada (baseada em rede) que se tornou a base para a Internet. Seus pais a viam como um “fracasso” e na faculdade sofreu preconceito por querer ter aulas de Química.

Kim Wilkens
Fundadora da Tech-Girls, uma organização sem fins lucrativos que incentiva o interesse das mulheres em campos STEM. Apaixonada por transformar usuários em criadores de tecnologia, colaboradores e ativistas, é presença garantida no Mozfest, evento organizado pela Mozilla na promoção da livre circulação de conhecimento.

Janet Shufor Fofang
Janet ensina engenharia elétrica há mais de 15 anos na Faculdade D’enseignement Technique Industriel et Commercial. Criou uma escola privada K-12, um modelo educacional que oferece educação de qualidade via uso da tecnologia. Em 2007, fundou a Girls in Tech (GIT), uma organização global sem fins lucrativos focada no envolvimento, educação e capacitação de mulheres em tecnologia.

Kiran Mazumdar Shaw
Kiran Mazumdar-Shaw é uma empresária indiana Diretora geral e Presidente da Biocon, a maior empresa de Biotecnologia da Índia. A Fundação Biocon é uma organização filantrópica que realiza programas ambientais e de saúde, cujo objetivo é ajudar os mais vulneráveis da sociedade. Em 2007, Shaw criou um centro de tratamento do câncer em Bangalore.

Sisi Wei
Pesquisadora e desenvolvedora de jogos para jornalismo, atua como jornalista investigativa, designer e desenvolvedora da ProPublica, onde cria histórias interativas. Wei trabalhou como professora adjunta na New York University, The New School e CUNY, e também é co-fundadora da “Code with me”, uma oficina sem fins lucrativos que ensina jornalistas a codificar.

Tara Chklovski
Em 2006, Tara fundou a Iridescent para criar uma educação poderosa em tecnologia, engenharia e ciência a fim de capacitar jovens subrepresentados. A organização cresceu para se tornar uma comunidade de mais de 7000 mentores e mais de 90.000 participantes em todo o mundo através de seus programas emblemáticos Technovation e Curiosity Machine. A Forbes destacou Tara em 2016 como “a pioneira na capacitação de meninas para a tecnologia do futuro”, e ela foi destaque no documentário Codegirl.

Presença Feminina
Nos dias atuais, a presença das mulheres na área de TI têm aumentado à medida que, cada vez mais cedo, as crianças estão em contato com a tecnologia e a Internet.

O Internet Health Report, iniciativa da Mozilla que tem por objetivo inspirar ações mundiais para uma internet mais saudável, traz a história de Lauren de apenas 11 anos, que lançou sua própria empresa de robótica, e Latasia de 12 anos, que construiu uma página na internet com objetivo de reduzir a violência contra as mulheres indígenas no Canadá.

Ambas são alunas da Ladies Learning Code, uma organização canadense que encoraja a presença feminina no campo da Internet.


terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A origem das ideias do bolsonarismo



As ideias esdrúxulas do bolsonarismo vêm em boa parte do astrólogo-filósofo Olavo de Carvalho que, por sua vez, bebeu na fonte do conservador americano chamado William S. Lind. No documentário chamado The History of Political Correctness (a história do politicamente correto), de 1999 (ver abaixo), Lind apresentou suas teses do "marxismo cultural", a suposta luta da esquerda no campo da cultura para se apropriar das escolas, universidades, editoras, da imprensa e das artes via movimentos sociais, professores, jornalistas e outros agentes esquerdistas. O objetivo dessa articulação toda seria destruir a civilização ocidental, judaico-cristã e a família tradicional.

Na imaginação direitista, o centro irradiador dessa nova forma de tomada de poder teria sido a Escola de Frankfurt, instituto de pesquisa, criado na Alemanha em 1923, por intelectuais neomarxistas, cujo pensamento se baseava na união do materialismo marxista com a psicanálise. Os estudos desses filósofos ficaram conhecidos como Teoria Crítica, teoria que buscava analisar as condições sociopolíticas e econômicas, reinantes em seu tempo, visando aplicá-la à transformação da realidade. Com a ascensão do nazismo, alguns membros da Escola, que eram judeus, como Adorno, Horkheimer, Marcuse e outros, fugiram para os Estados Unidos,  de onde teriam continuado seu trabalho de perverter não só a sociedade americana mas o mundo todo (na teoria conspiratória, claro).

De fato, existe uma tradição de esquerda que critica os valores da sociedade capitalista e defende a disputa das instituições culturais com a direita. Antonio Gramsci, comunista italiano, foi um dos notórios defensores da conquista da hegemonia cultural de esquerda que realmente prevalece na intelectualidade, no meio artístico e na imprensa do Brasil e do mundo ocidental no todo. Igualmente Herbert Marcuse, da Escola de Frankfurt, foi um dos grandes mentores da contracultura (e da libertação sexual) dos anos 60/70, que, por sua vez, gerou os chamados modernos movimentos sociais como o negro, feminista, gay e ambientalista.


Os ativistas destes movimentos, aliás, na teoria do marxismo cultural, seriam agentes destacados da desconstrução da família nuclear patriarcal e da invenção da tal ideologia de gênero, onde crianças poderiam definir seu sexo/gênero à revelia da natureza. Colaboram para essa mistificação, o fato do atual movimento de travestis, transsexuais e transgêneros, um agregado do movimento de gays e lésbicas, ir sim por essa linha com a chamada identidade de gênero. Aliás, há muito mais em comum entre a ideologia de gênero e a identidade de gênero do que sonham as vãs filosofias.

Agora, com base nesses dados dispersos, os bolsominions, olavetes et caterva fizeram e fazem o samba do conservador doido misturando personagens e eventos desconexos no tempo e no espaço para fomentar a teoria conspiratória do marxismo cultural mundial que existiria na imprensa, em Hollywood ou na Globo, financiado pelo bilionário George Soros (sic). 

Por mais desconjuntada que seja essa teoria, ela pegou no Brasil, culminando com a chegada de Bolsonaro ao poder, e no mundo. Combater o suposto marxismo cultural, em suas respectivas áreas, está na boca dos ministros da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (indicados por Olavo de Carvalho) e da Ministra Damares Alves, Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos que não para de dizer bobagens reacionárias. Pelo mundo, outras lideranças conservadoras, em países como a Hungria, a Itália e a Polônia, também embarcaram na teoria conspiratória do marxismo cultural, a ponto da universidade criada na Hungria por George Soros, suposto financiador do marxismo cultural internacional, estar sendo expulsa do país pelo presidente Viktor Orbán.

Na verdade, a teoria conspiratória do marxismo cultural é como uma monumental fofoca, assentada em dados reais mas distorcida no resultado pelas misturas díspares das quais se constitui (na base do "quem conta um conto aumenta um ponto"), e que cresceu para se transformar em simples paranoia e mistificação. Serve mais aos eternos propósitos conservadores de evitar mudanças, ou desfazê-las, a qualquer preço e, sobretudo, de evitar a igualdade de oportunidades perante às leis e perante à vida para todas e todos.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Impor modelos rígidos de mulher e homem afeta as escolhas das profissões de meninas e meninos

Os estereótipos de gênero afetam o que as meninas e os meninos escolhem como profissão no futuro
Impor clichês de gênero na sociedade limita o desenvolvimento das habilidades e capacidades. Das garotas que chegam à universidade, só um terço opta por ciências

Elas querem ser atrizes, estilistas ou professoras quando crescerem. Embora haja exceções, perguntadas sobre o que gostariam de ser quando forem adultas, a maioria das meninas escolhe profissões estereotipadas. Mas, e se elas fossem meninos? Foi isso que a ONG Liga da Educação perguntou a um grupo de crianças em Fuenlabrada, Madri. Muitas mudaram sua resposta inicial, como você pode ver no vídeo experimental de sua campanha contra a violência de gênero. Astronauta, policial, médica ... seriam suas opções de vida se tivessem nascido homem. "Os meninos gostam mais da lua", explica uma das entrevistadas.

Os meninos não estão isentos de estereótipos de gênero. Eles imaginam um futuro como jogadores de futebol, bombeiros ou construtores, mas, se fossem meninas, gostariam de ser cabeleireiros de cachorros, professores ou atrizes. "O fato de estarem escolhendo profissões feminilizadas (elas) e masculinizadas (eles) nada mais é do que um reflexo da cultura na qual vivem imersos em uma desigualdade tradicional e estrutural entre homens e mulheres", diz. Rosa Martínez, secretária de Infância da Liga de Educação. E isso, continua ela, "limita o desenvolvimento de suas habilidades e capacidades".
A primeira coisa a fazer é tomar consciência da realidade em que nos encontramos e romper a miragem de igualdade em que vivemos imersos", sugere Martínez. Só então a transformação pode acontecer, diz. "Na Liga da Educação acreditamos que o feminismo ainda é uma questão em falta nas escolas e, com campanhas como essa, pretendemos que isso mude", acrescenta Ana Rodríguez Penín, diretora de Igualdade da ONG.
Por isso, elas acreditam que um dos principais campos de batalha é a escola. Essa é a mesma opinião de Paulo Speller, secretário Geral da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI).
É necessária uma educação em que tudo seja o mesmo para meninos e meninas", disse ele durante seu pronunciamento em um debate sobre meninas e mulheres na ciência nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento, em Bruxelas, em 6 de junho.

A consolidação dos estereótipos no futuro

Apenas 30% das universitárias escolhem carreiras relacionadas à ciência, tecnologia ou matemática (denominadas STEM, por sua sigla em inglês), segundo dados da Unesco. O peso dos estereótipos forjados desde a infância se reflete no que se busca quando adulto. Não só na vida profissional, mas, também, na pessoal. "A escolha da profissão é apenas uma amostra de como os papéis de gênero influenciam o desenvolvimento cognitivo ou afetivo", diz Martinez.

Em relação à primeira, a baixa proporção de mulheres em carreiras STEM é significativa. Mas, como corrobora o experimento da Liga da Educação, a escolha de profissões tradicionalmente atribuídas a um ou outro gênero se estende a outros campos. Assim, o estudo Goleando Sem a Bola, Praticamente Bonecas,realizado pela Federação de Mulheres Progressistas em 2012 – no qual a campanha da ONG se baseia –, mostrou que 50% dos 153 adolescentes entrevistados mudaram a opção de profissão quando lhes perguntaram o que fariam se fossem do sexo oposto. Especialmente elas.
Em relação às escolhas de carreira, ambos os sexos demonstram valores semelhantes em profissões como medicina, educação e veterinária, mas se observam diferenças na opção por trabalhos tradicionalmente atribuídos a um ou outro sexo. Por exemplo, engenharia, jogador de futebol ou policial apontados em maior medida pelos meninos, enquanto as que estão mais ligadas ao mundo da beleza ou do cuidado com os outros, como aeromoça ou professora de jardim de infância, são preferencialmente marcadas por meninas", diz o relatório.
Os especialistas concordam em que a educação no ensino básico é essencial para reverter essa situação de desigualdade. Isso é enfatizado na Liga da Educação, na OEI e também na Fundação Descobrir.
Temos que começar desde o início, desde o ensino fundamental. E temos que aproveitar o movimento feminista agora", disse Carmen Segura, chefe de Ciência nesta organização, em sua fala nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento, em Bruxelas, no mesmo debate sobre as mulheres em STEM do qual Speller participou.
Nesse sentido, Martinez (da Liga de Educação) dá ênfase especial ao chamado currículo oculto nas escolas.
Todos nós sabemos que os alunos aprendem muitas coisas vistas e ouvidas, mas, acima de tudo, aprendem o que lhes é transmitido", explica ela. Por exemplo, quando tratados de forma diferente por um professor (mais autoritário) e uma professora (mais maternal)" estão recebendo uma mensagem que reproduz e consolida o papel feminino relacionado com o cuidado e o papel masculino, com poder e liderança ", observa.
Não se deve esquecer ainda aspectos como a ambientação das salas de aula ou a configuração de elementos de jogo nos espaços ao ar livre das escolas (pátios), as ilustrações de livros didáticos, o tipo de atividade proposta para abordar a aprendizagem ou personalidades que aparecem como protagonistas nas diferentes áreas do conhecimento transmitido, enfatiza a especialista.

Dito e feito, a Fundação Búlgara de Pesquisa e Tecnologia para Educação de Gênero implementou um projeto na Bulgária, Grécia, Romênia e Croácia para que haja mulheres em todas as disciplinas obrigatórias.
Os estereótipos estão nos livros didáticos. Quando você lê, parece que todos os avanços e invenções foram obra dos homens, de tal modo que os alunos acreditam que eles, os homens, criaram tudo e são capazes de qualquer coisa. E as meninas acabam acreditando que não valem nada", critica Jivka Marinova, diretora da organização, em sua intervenção nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento.
Por isso, reuniram um grupo de especialistas cuja missão era encontrar mulheres de referência que pudessem ser mostradas como exemplos em diferentes assuntos.
No começo nos disseram que não era possível, que não havia mulheres", confessa. Mas havia. "Para cada assunto, temos quatro", diz, com orgulho.
Assim, estudantes de escolas dentro de seu programa sabem hoje que a britânica Hertha Marks Ayrton é a cientista que inventou o arco elétrico.
Não se trata de mudar a história, mas de contar bem", resume ela. Seu projeto mostra que isso é possível.
Fonte: El País, 04/01/2019


terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Januhairy: mulheres de carne, osso e pelos

Laura Jackson, de 21 anos, iniciou o movimento Januhairy

Januhairy: Campanha pede que mulheres não se depilem em janeiro por uma boa causa

Movimento lançado por estudante da Inglaterra quer arrecadar mil libras para instituição de caridade. Termo é uma junção das palavras 'january' (janeiro) e 'hairy' (peludo) .

Se você pesquisar pela hashtag #januhairy nas redes sociais, vai encontrar fotos de mulheres orgulhosas de suas axilas ou pernas peludas. O termo é uma junção das palavras january (janeiro) e hairy (peludo) e dá nome a uma campanha por aceitação do corpo feminino.
É uma experiência para as mulheres se unirem e encorajarem umas às outras. A aceitação de pelos corporais em mulheres infelizmente ainda é uma situação difícil”, diz o texto de lançamento da campanha.
Mas o movimento não se trata apenas de fotos e curtidas. O objetivo é arrecadar mil libras para a instituição de caridade Body Gossip. Em poucos dias, foram arrecadadas 330 libras.

A instituição realiza trabalhos de educação e artes para desenvolver uma imagem positiva sobre todos os tipos de corpo.
É evidente que a imagem corporal tem um grande impacto em todos nós, isso é especialmente desafiador em ambientes escolares”, explica a campanha.
O movimento surgiu na Inglaterra, com a estudante Laura Jackson, de 21 anos. Mas já chegou a vários países, como EUA, Alemanha, Canadá e Espanha.
Campanha Januhairy pede aceitação dos pelos femininos — Foto: Reprodução/Facebook/Januhairy
A campanha recebeu depoimentos de dezenas de meninas ao redor do mundo que já sofreram bullying por este motivo.
Meus pelos crescem muito rápido e riem de mim por isso desde meus 12 anos. Quero provar que não devemos ter vergonha disso”, diz uma das apoiadoras.
Nas redes, muitas mulheres expressaram apoio à campanha, mas algumas revelaram que não têm coragem de andar peludas por aí.

Em entrevista à BBC, Laura Jackson afirmou estar feliz com o resultado positivo, mas confessa que recebeu críticas de pessoas próximas. “Embora eu me sentisse livre e mais confiante em mim mesma, algumas pessoas ao meu redor não entenderam nem concordaram com o porquê de eu não me depilar”, disse a estudante.
Esta não é uma campanha raivosa contra pessoas que não veem os pelos como algo normal. Eu só quero que as mulheres se sintam mais confortáveis em seus corpos maravilhosamente únicos.”
Fonte: G1, 04/01/2019 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Socorro, seu Descartes, os contra-iluministas estão de volta


Estava lendo um texto sobre direita x esquerda de uma professora de filosofia (Direita ou gorgonzola,  Bruna Frascolla) onde a dita discorre sobre as semelhanças do populismo autoritário de esquerda e de direita em suas viagens alucinógenas.

Apesar do excesso de citações e ironias um pouco forçadas, estava até gostando do texto, principalmente quando a moça aponta, como eu mesma já pontuei, que ambas as visões atuais de esquerda e de direita são contra-iluministas, contra o racionalismo e a perspectiva científica de analisar o mundo. Não haveria "ideologia de gênero" sem a concomitante "identidade de gênero", né mesmo?

O "Penso, logo existo" do Descartes, em sua busca da verdade através da experimentação e dos fatos, foi substituído pelo "Sinto, logo existo" que hoje une esquerda e direita num romântico casamento de irracionalidade e bizarrices várias. Se eu sinto que sou um cachorro, uma gata, um dragão, um elfo ou um homem (eu que sou mulher), é o que vale. Se a maioria das pessoas não compra minha autopercepção, elas é que estão erradas. Se acho que a Terra é plana, que toda vacina faz mal, que existe mamadeira de piroca e restos de feto em garrafa de Pepsi, o que importa é que os meus frágeis argumentos e sentimentos não podem ser feridos e aferidos pela malvada realidade objetiva. Inclusive quero usar o poder de Estado para obrigar todo o mundo a concordar comigo, sob pena de cadeia e fogueira em praça pública para os novos hereges da Liberdade de Pensamento.


Então, retomando, estava até concordando com a fulana, quando ela me solta uma história de que "o patriarcado das feministas é tão ridículo quanto o globalismo", colocando ambos os termos no terreno da fantasia. Minha mãe, a mulher escreve textão e invoca Descartes num apelo de volta à racionalidade e à analise dos fatos, em vez do embalo alucinógeno das ideologias, e me sai com uma dessas?

Porque, pelamor, negar a existência do patriarcado é simplesmente como negar a existência do sol, a lei da gravidade ou as mudanças climáticas. Com exceção de alguns grupos étnicos, perdidos nos rincões do planeta, que vivem ainda em sociedades matriarcais, o patriarcado é hegemônico no mundo. Ninguém precisa ler livro feminista para sacar isso. É só abrir os olhos e ver. Quem controla o poder de Estado, com seu braços legislativo, executivo e judiciário, sem falar no braço armado? Os homens. Quem controla o poder econômico e financeiro, as grandes corporações que hoje dominam tudo? Os homens. Quem controla a ciência e a tecnologia? Os homens. Quem controla os meios de comunicação, as artes e a cultura em geral? Os homens. Isso sem falar que, em muitos países, as mulheres ainda sequer têm os direitos mais básicos de cidadania, são verdadeiras escravas. Então, como assim o patriarcado das feministas (das feministas?) é ridículo? O caso da filósofa (deve ser uma liberaleca, pelo visto) é o do peixe que não vê a água porque nela vive imerso.

Conclusão, a situação que vivemos hoje é dramática porque mesmos os liberais (os principais herdeiros do Iluminismo), que pensam pairar acima da psicodelia argumentativa da esquerda e da direita, vivem cuspindo no prato que Descartes lhes ofereceu. Também desprezam os fatos, acreditam na pseudociência da psicobiologia evolutiva (sic), em determinismo biológico, numa suposta naturalidade dos estereótipos de gênero, em identidade de gênero e, agora, ficamos sabendo, também que o patriarcado não existe (li ainda uma outra igualmente afirmando que a heterossexualidade obrigatória é invenção de feminista radical). Valei-nos nossa senhora das desamparadas da idade da razão, que esse mundo virou um hospício!!

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