8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Omitir sexo de criança em documentos não mudará sua forma de se apresentar no mundo

Omitir o sexo da criança não vai fazer qualquer diferença na forma como ela irá
 se apresentar em sociedade. Sua apresentação dependerá da educação que receberá.
Para nós que ainda não enlouquecemos com as insanidades dos adeptos da teoria de gênero, vamos lembrar que sexo é o que vem com o nosso corpo quando nascemos. Gênero é como nos ensinam a nos apresentarmos em sociedade. Sexo é obra da natureza. Gênero é fruto de educação. Nem sexo nem gênero são determinados ao nascer. Sexo é determinado quando da concepção, encontro do óvulo com o espermatozoide (lembram?) Gênero é adquirido por um longo processo de adestramento. Quando a gente nasce, o médico ou a parteira apenas comunica ou reitera aos pais da criança o sexo do bebê. Eles não dizem: "-Parabéns, vocês ganharam uma feminina ou um masculino". Eles dizem que os pais ou a mãe da criança ganharam uma bebê do sexo feminino (menina) ou um bebê do sexo masculino (menino).

Omitir o sexo da criança não vai fazer qualquer diferença na forma como ela se apresentará em sociedade. Sua apresentação dependerá da educação que receberá. Basta ver que o monte de malucos, girando em torno dessa patacoada de gênero, teve seu sexo bem definido na certidão de nascimento. Nem por isso deixam de viver hoje loucos no crack de gênero.

Agora, omitir o sexo das crianças e das pessoas em geral, negando a materialidade dos corpos, terá consequências (aliás, já está tendo) das mais funestas para toda a sociedade.


Bebê terá documento sem identificação de sexo para 'decidir gênero quando crescer'
Segundo imprensa canadense, este pode ser o primeiro caso do mundo de um cartão de saúde de um bebê sem uma definição de gênero.

Um bebê canadense de oito meses é provavelmente o primeiro caso no mundo de recém-nascido que recebeu um cartão de saúde sem um identificador de gênero.

Seu progenitor Kori Doty - uma pessoa transgênero não binária que não se identifica com pronomes nem no masculino nem no feminino - afirma que quer dar oportunidade ao filho de descobrir seu próprio gênero.

O cartão de saúde da criança terá um "U" no espaço reservado para "sexo", letra que simbolizará "indeterminado" ou "não atribuído".

Kori Doty agora está tentando omitir o gênero do filho também da certidão de nascimento.

Doty dey à luz Searyl Atli em novembro no Estado de Colúmbia Britânica. Doty, que se refere à criança com o pronome "they" (que pode ser traduzido como "eles" ou "elas" em português), em vez de "ele" ou "ela", argumenta que não é necessariamente pelo gênero determinado ao nascer que uma pessoa se identificará ao longo da vida.

El quer tirar a categoria sexo de todos o documentos oficiais de Searyl.
Eu estou criando Searyl de modo que até que elx tenha seu senso de si e capacidade de vocabulário para me dizer quem é, eu x reconheço como bebê e tento dar a elx todo o amor e apoio para ser a pessoa mais inteira que puder fora das restrições que vêm com o rótulo menino ou o rótulo menina", disse Doty à rede de TV CBC.
Kori Doty, que trabalha com educação comunitária e é parte da Coalizão de Identidade sem Gênero, disse que aqueles que se sentem diferentes da indicação de gênero feita no momento do nascimento enfrentam vários problemas ao tentar mudar seus documentos mais tarde na vida.
Quando eu nasci, médicos olharam para os meus genitais e fizeram suposições sobre quem eu seria, e essas suposições me seguiram e seguiram minha identificação ao longo da vida", afirma. "Essas suposições estavam erradas e eu acabei tendo que fazer vários ajustes desde então".
No caso de Searyl Atli, Doty diz que as autoridades se negaram a emitir a certidão de nascimento sem uma designação de gênero. O caso foi decidido judicialmente.

A advogada da família, barbara findlay, que prefere escrever seu nome sem maiúsculas, disse ao site Global News que "a designação de gênero nesta cultura é feita quando um(a) médico(a) abre as pernas e olha para os genitais de um bebê. Mas nós sabemos que a identidade de gênero do bebê só será desenvolvida alguns anos após o nascimento".

A imprensa canadense disse que o cartão de saúde do bebê pode ser o primeiro do mundo sem uma definição de gênero.

Fonte: G1, 04/07/2017

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Inocentada garota mexicana que matou seu estuprador


Uma garota de 15 anos consegue matar seu agressor e ainda é acusada de homicídio? Outra que também matou seu estuprador foi até presa. Depois, ainda há quem diga que não existe cultura do estupro. Nem patriarcado.

Adolescente mexicana é declarada inocente depois de matar estuprador
Procuradoria de Justiça da Cidade do México determinou que a jovem atuou em legítima defesa

Ela foi acusada de homicídio por matar o estuprador. O mesmo que a ameaçou de morte com uma faca em 1º de junho, perto da estação de Taxqueña, ao sul da Cidade do México. Na terça-feira, dia 27/06, quase um mês depois, a Procuradoria de Justiça da Cidade do México determinou que Itzel, de 15 anos, atuou em legítima defesa e a declarou inocente.
Como puderam investigar uma menina que só se defendeu de seu agressor?”, pergunta indignada a advogada da adolescente, Karla Micheel Salas. Foram 27 dias de calvário em que, segundo denuncia a advogada, a família recebeu ameaças por telefone e sofreu pressão constante das autoridades.
Supomos que alguém próximo ao agressor morto entrou em contato com a mãe. Por telefone disseram que sabiam onde mora. Além disso, agentes de investigação da Procuradoria começaram a ir aos trabalhos do pai e da mãe fazendo-se passar por clientes”, conta.
Itzel, que expôs no YouTube (ver vídeo abaixo) a injustiça que estava sofrendo, denunciou o pesadelo que viveu naquele dia depois de sair da escola. Seu agressor, um homem de 30 anos, a rendeu e abusou dela por duas horas em plena rua, enquanto “as pessoas e os carros passavam e ninguém fazia nada”, conta nesta gravação.
Tinha gente que olhava estranho, percebia que havia algo errado. Mas só olhavam. Eu estava com a faca no pescoço e ele me ameaçava para que não gritasse, que não fizesse nada”.
Entre lágrimas, relata como conseguiu tomar a faca do agressor enquanto ele repetia que ia sacar outra faca. Na luta, a arma “se enterrou”.
Empurrei-o com minhas pernas, tirei-o de cima de mim e ele me disse que o tinha furado no peito. Pedi socorro, mas ninguém deu atenção”.
O pesadelo continuou para a adolescente depois que ela conseguiu escapar, denuncia a advogada. “Os protocolos estabelecem que a vítima deve primeiro receber atendimento médico. Mas Itzel, que estava gravemente lesionada, em vez de ser levada a um hospital, foi conduzida ao Ministério Público. A família teve que comprar a pílula do dia seguinte e (as autoridades) não lhe deram imediatamente os antirretrovirais”, conta Salas.

Desde 1º de junho até esta terça-feira, Itzel vivia praticamente trancada em casa. Só saía para ir às consultas médicas e sempre acompanhada pelos pais. “Continuo me perguntando por que há uma investigação aberta por homicídio”, contava a adolescente antes de ser inocentada pela Procuradoria, que não quis dar declarações a este jornal.
Estão me culpando por algo que desconheço. Tudo que ouço são boatos de que podem vir atrás de mim e não entendo por quê”, dizia.
Nesta terça-feira o pesadelo começou a se desfazer e Itzel deixou de sentir que vivia perseguida. A pressão midiática e a enorme repercussão que seu testemunho teve nas redes sociais foram fundamentais para encerrar o caso, esclarece Salas.
Tivemos que recorrer à denúncia pública para expor essas irregularidades. Mas o que acontece com aquelas vítimas que não têm acesso aos meios de comunicação ou a advogados particulares?”, pergunta a advogada.
De fato, o caso de Itzel não é o único que indignou o México. Há mais de três anos, Yakiri Rubio passou três meses na prisão por matar seu estuprador. Acusada de homicídio aos 20 anos, a jovem só foi absolvida um ano e meio depois da agressão.
Não queremos só a minha filha livre, queremos estabelecer um precedente, para que isso não se repita”, dizia o pai em 2013, depois de Yakiri ser presa.

Fonte: El País, por Víctor Usón, 30/06/2017

segunda-feira, 19 de junho de 2017

As Amazonas, além do mito

Meiramgul, aos 9 anos (1995), descendente das amazonas
Fui assistir a Mulher Maravilha e me encantar com a beleza da atriz Gal Gadot que interpreta a heroína. Como toda história de heróis tirados de HQ, o filme tem seus altos e baixos, mas algumas cenas realmente memoráveis como a luta das amazonas contra os soldados alemães que invadem Temiscira, a fala da mãe de Diana de que a humanidade não a merecia, e a cena em que a heroína sai da trincheira para atacar os inimigos e abrir caminho para seus amigos aliados. Uau! Gal Gadot só precisaria adquirir um pouco de músculos para ficar uma amazona perfeita. No mais, veio pra ficar.


E vendo as amazonas da ficção, lembrei deste texto, sobre as amazonas de carne e osso, que escrevi há oito anos, e resolvi repostá-lo. Trata-se da saga da arqueóloga Jeaninne Davis-Kimball que resolveu rastrear a trajetória das Amazonas, descritas no relato História de Heródoto, até encontrar uma de suas descendentes, Meiramgul, então uma menina de 9 anos, nos rincões da Mongólia.

Pintura de amazona, em antigo vaso grego,
trajando armadura hoplita.
As Amazonas, além do mito

Registros de mulheres guerreiras na história da humanidade não são incomuns, mas sempre estiveram envoltos em muita conjectura. Para boa parte dos estudiosos, as Amazonas nunca passaram de lenda, excesso de imaginação, figuras da mitologia grega, como os centauros, os sátiros, a Medusa, a despeito de sua presença em vasos de cerâmica, esculturas, pinturas e outros artefatos. Entretanto, descobertas recentes de tumbas (em 1995), com restos mortais de mulheres acompanhados de armas, mudaram um pouco essa visão.

Atualmente arqueólogos e historiadores passaram a ver os relatos dos escritores e historiadores gregos Homero e Heródoto com um outro olhar, buscando resgatar das mitológicas filhas do deus Marte e da ninfa Harmonia, as guerreiras de carne e osso. Nessa nova perspectiva, as Amazonas aparecem como originárias da grande cordilheira do Cáucaso, próxima ao Mar Negro, região hoje ocupada pela Armênia, Azerbaijão, Geórgia e Rússia, onde viveram por volta de 5500 anos atrás. Seriam alouradas, de pele clara, altas, fortes e musculosas, subsistindo da caça e da pesca e se relacionando com homens de outros agrupamentos da mesma região apenas para fins reprodutivos.

Em 3500 a. C, teriam migrado para o Mar Mediterrâneo, povoando a ilha de Creta e formando a base da sociedade minóica, de características matriarcais, e estabelecido também outros reinos na Trácia (Grécia), na ilha de Lemnos (no Mar Egeu), no Cáucaso (junto ao Mar Negro), e em Temiscira, banhada pelo rio Termodonte (hoje rio Terme Çayi, na atual Turquia). Durante a idade do bronze (3000 a 700 a.C.) do mundo mediterrâneo, o amazonato também teria se espalhado pelo Egito, Líbia e Itália (na ilha da Sicília) e por outras regiões da Europa, África e Ásia. Vale lembrar que, igualmente no Brasil, o nome de nosso maior rio se deve ao fato de o conquistador espanhol Francisco Orellana ter avistado na região um bando de índias tapuias que identificou como amazonas.

Jeaninne Davis-Kimball
Entretanto, o que deu mais consistência a tese das Amazonas, como mais do que mito, foi o trabalho da arqueóloga Jeaninne Davis-Kimball que resolveu rastrear a trajetória das Amazonas, descritas no relato de Heródoto, em sua fuga após a derrota para uma expedição grega na cidade de Temiscira (atual Ünye, na região da Capadócia), junto à foz do rio Termodonte (atual Terme Çayi). Em seu clássico História, Heródoto afirma que os gregos venceram as amazonas, em data não definida, e levaram várias, como cativas, em barcos. Em alto-mar, contudo, as prisioneiras se rebelaram, mataram todos os gregos e, como não sabiam navegar, acabaram chegando meio à deriva na Cítia, na costa do Mar de Azov, atual Rússia. Os citas e as amazonas teriam se unido e emigrado para as estepes russas entre os rios Don e Volga, dando origem ao povo sauromata que, por sua vez, em 400 a. C. foi colonizado pelos sármatas, povo indo-europeu vindo da Ásia Central. Seguindo nesses processos de conquista e assimilação, os sármatas foram vencidos por góticos, hunos e por fim mongóis, com quem se miscigenaram.

Percorrendo a trajetória dos sármatas, a arqueóloga Jeannine Davis-Kimball encontrou na cidade de Pokrovka, fronteira da Rússia com o Cazaquistão, cerca de 150 túmulos desse povo, datados de 2500 anos atrás, dentre os quais 15% das covas eram de mulheres altas, muitas com pernas arqueadas, ferimentos de batalhas, e que estavam enterradas com flechas de bronze, espadas e adagas. Davis-Kimball e sua equipe procederam a uma análise do DNA dos ossos encontrados para identificar o sexo dos esqueletos, confirmando tratar-se de mulheres.

Amazons: The Quest for Warrior Women Trailer from Story House Productions on Vimeo.

Em seguida, a arqueóloga, consciente de que o último processo de miscigenação dos sármatas havia sido com mongóis, embrenhou-se pela Mongólia, indo de acampamento nômade em acampamento nômade, em busca de alguém que lembrasse a velha herança genética das mulheres guerreiras. Por fim, em uma das aldeias nômades, encontrou uma estranha menina de traços mongóis mas loura. Colheu amostra da saliva da garota e enviou-a ao laboratório para comparação com o DNA colhido dos ossos das guerreiras de Pokrovka. O resultado revelou que o DNA mitocondrial da menina, chamada Meiramgul, de 9 anos na época (1995), era o mesmo contido nos esqueletos datados de mais de 2 mil anos atrás.

Ficou provado assim que as Amazonas eram bem mais de carne e osso do que se supunha, tendo deixado descendência que chegou milagrosamente até os tempos atuais. Não se duvida que novas descobertas possam trazer outras provas da existência dessas guerreiras, ainda que não como as da mitologia, mas importantes por confirmar a realidade de mulheres que viveram fundamentalmente com mulheres ou construíram sociedades onde as mulheres não eram submissas aos homens. Mulheres que eram capazes de lutar e derrotar seus inimigos, que as temiam e as admiravam.

Por isso, as amazonas não podem deixar de constar de uma cronologia da história lésbica, sendo o amazonato o primeiro controle de natalidade que se conhece e que as lésbicas empregam até hoje. Não por menos também, a machadinha de dupla face, utilizada pelas amazonas, conhecida como labrys (imagem ao lado), é um dos símbolos da organização lésbica em todo o mundo atual. E numa hora de necessidade vale invocar os nomes de algumas rainhas amazonas para ganhar coragem: Myrine, Antíope, Pentesiléia, Hipólita, Maroula, Califia, Hipólita... As fotos são da menina Meiramgul, da Jeannine Davis-Kimball e novamente da menina. O desenho é de um labrys estilizado.

A saga de Jeaninne David-Kimball foi registrada no DVD The Secret of the Dead: Amazon Warrior Women (O Segredo dos Mortos: Amazonas, Mulheres Guerreiras) que pode ser adquirido pela loja da National Geographic ou pela Amazon.com. Também, na Amazon, acha-se o livro da arqueóloga  Jeaninne Davis-Kimball. O documentário já passou igualmente no canal da National Geographic legendado, valendo a pena uma pesquisa. 

Publicado originalmente em 16/06/2009

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Jornalista Míriam Leitão agredida por petistas em viagem de avião

Comento brevemente a agressão sofrida pela jornalista Miriam Leitão por petistas numa viagem de avião. Vamos deixar claro que quem se comporta assim nunca tem razão. Pessoas que fulanizam divergências políticas, xingam e atacam outras com todo o tipo de vitupério NUNCA TÊM RAZÃO. Quem tem argumentos não precisa disso, não é mesmo? Segue abaixo o artigo de Míriam sobre o imbróglio.

O ódio a bordo

Sofri um ataque de violência verbal por parte de delegados do PT dentro de um voo. Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo. Não eram jovens militantes, eram homens e mulheres representantes partidários. Alguns já em seus cinquenta anos. Fui ameaçada, tive meu nome achincalhado e fui acusada de ter defendido posições que não defendo.

Sábado, 3 de junho, o voo 6237 da Avianca, das19h05, de Brasília para o Santos Dumont, estava no horário. O Congresso do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e por isso eles estavam ainda vestidos com camisetas do encontro. Eu tinha ido a Brasília gravar o programa da Globonews.

Antes de chegar ao portão, fui comprar água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que embarcariam em outro voo.

Fui uma das primeiras a entrar no avião e me sentei na 15C. Logo depois eles entraram e começaram as hostilidades antes mesmo de sentarem. Por coincidência, estavam todos, talvez uns 20, em cadeiras próximas de mim. Alguns à minha frente, outros do lado, outros atrás. Alguns mais silenciosos me dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas.

— Terrorista, terrorista — gritaram alguns.

Pensei na ironia. Foi “terrorista” a palavra com que fui recebida em um quartel do Exército, aos 19 anos, durante minha prisão na ditadura. Tantas décadas depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim.

Uma comissária, a única mulher na tripulação, veio, abaixou-se e falou:

— O comandante te convida a sentar na frente.

— Diga ao comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar — respondi.

O avião já estava atrasado àquela altura. Os gritos, slogans, cantorias continuavam, diante de uma tripulação inerte, que nada fazia para restabelecer a ordem a bordo em respeito aos passageiros. Os petistas pareciam estar numa manifestação. Minutos depois, a aeromoça voltou:

— A Polícia Federal está mandando você ir para frente. Disse que se a senhora não for o avião não sai.

— Diga à Polícia Federal que enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada.

Não vi ninguém da Polícia Federal. Se esteve lá, ficou na porta do avião e não andou pelo corredor, não chegou até a minha cadeira.

Durante todo o voo, os delegados do PT me ofenderam, mostrando uma visão totalmente distorcida do meu trabalho. Certamente não o acompanham. Não sou inimiga do partido, não torci pela crise, alertei que ela ocorreria pelos erros que estavam sendo cometidos. Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações positivas e há vários registros disso.

Durante o voo foram muitas as ofensas, e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns, ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras grosserias. Ameaçaram atacar fisicamente a emissora, mostrando desconhecimento histórico mínimo: “quando eles mataram Getúlio o povo foi lá e quebrou a Globo”, berrou um deles. Ela foi fundada onze anos depois do suicídio de Vargas.

O piloto nada disse ou fez para restabelecer a paz a bordo. Nem mesmo um pedido de silêncio pelo serviço de som. Ele é a autoridade dentro do avião, mas não a exerceu. A viagem transcorreu em clima de comício, e, em meio a refrões, pousamos no Santos Dumont. A Avianca não me deu — nem aos demais passageiros — qualquer explicação sobre sua inusitada leniência e flagrante desrespeito às regras de segurança em voo. Alguns dos delegados do PT estavam bem exaltados. Quando me levantei, um deles, no corredor, me apontou o dedo xingando em altos brados. Passei entre eles no saguão do aeroporto debaixo do coro ofensivo.

Não acho que o PT é isso, mas repito que os protagonistas desse ataque de ódio eram profissionais do partido. Lula citou, mais de uma vez, meu nome em comícios ou reuniões partidárias. Como fez nesse último fim de semana. É um erro. Não devo ser alvo do partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei fazendo meu trabalho.

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

Fonte:  Blog da Míriam Leitão, 13/06/2017

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Casamento infantil: Mais de 30% das brasileiras casam antes dos 18 anos

Nacho Doce/Reuters - Brasil é quarto país no ranking global de casamento infantil
Brasil está no topo do ranking de casamento infantil na América Latina
Mais de 30% das brasileiras casam antes dos 18 anos.

Levantamento recente do Banco Mundial revela que o Brasil tem o maior número de casos de casamento infantil da América Latina e o quarto no mundo. No país, 36% da população feminina se casa antes dos 18 anos. As informações são da ONU News.

O estudo "Fechando a Brecha: Melhorando as Leis de Proteção à Mulher contra a Violência" lembra que a lei do Brasil estipula 18 anos como a idade legal para a união matrimonial e permite a anulação do casamento infantil. O problema é que há muitas brechas na legislação.

Consentimento

Se houver consentimento dos pais, por exemplo, as meninas podem se casar a partir dos 16 anos. A autora do estudo, Paula Tavares, fala sobre outras brechas na lei.
Um dispositivo ainda comum em todo o mundo é a permissão do casamento infantil – e em geral sem limite de idade – se a menina estiver grávida. Esse é o caso do Brasil".
Segundo ela, o país também não prevê punição para quem permite que uma menina se case fora dos casos previstos em lei, nem para os maridos nesses casos.
Na América Latina, 24 países preveem pena a quem autorize o casamento precoce, mas o Brasil não está entre eles," observou.
Segundo o documento do Banco Mundial, a cada ano, 15 milhões de meninas em todo o mundo se casam antes dos 18 anos. Em muitas culturas, o casamento precoce muitas vezes é visto como uma solução para a pobreza, por famílias que acreditam que assim terão uma boca a menos para alimentar. No Brasil, os principais motivos incluem gravidez na adolescência e desejo de segurança financeira.

Evasão escolar e renda menor

No entanto, o estudo destaca que o casamento infantil responde por 30% da evasão escolar feminina no ensino secundário a nível mundial e faz com que as meninas estejam sujeitas a ter menor renda quando adultas. Também as coloca em maior risco de sofrer violência doméstica, estupro marital e mortalidade materna e infantil.

Por outro lado, o documento ressalta que eliminar o matrimônio infantil traz ganhos econômicos. Por isso, as recomendações para o Brasil e a América Latina são eliminar as brechas na legislação e adotar punições para a união não prevista em lei.

Fonte: HuffPost, 13/03/2017

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