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Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

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Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Como o "neurossexismo" está impedindo o progresso da igualdade de gênero - e da própria ciência

As mulheres são criativas e os homens são lógicos - um equívoco comum.
O comportamento diferenciado de mulheres e homens é obviamente resultante da educação radicalmente diferente que meninas e meninos recebem desde o berço. Entretanto, muitos querem tapar esse sol com a peneira furada do determinismo biológico, ou seja, os comportamentos de homens e mulheres seriam diferentes por razões de ordem inata, fruto de cérebros femininos e masculinos e diferenças químicas e hormonais.

Não é de hoje que religiosos e cientistas apelam para uma suposta natureza feminina a fim de tentar impedir as mulheres de desenvolverem seus potenciais individuais. No momento,  o instrumento da moda para tal finalidade é a neurociência e seus scanners cerebrais. Estes vêm sendo usados para tentar dar status de cientificidade aos velhos estereótipos de gênero e garantir "a crença de que, por mais inconveniente que seja a “verdade”, mulheres e homens são imutavelmente diferentes."

Para contestar essas crenças tão arraigadas, traduzi o texto abaixo da Gina Rippon que é professora de Neuroimagem Cognitiva da Aston University. Ela desconstrói os argumentos biologicistas, utilizados na área de neurociências, para assegurar que cientistas, a mídia e o público em geral se tornem conscientes das falácias que produzem. O link para o texto original se encontra ao final da tradução.

Míriam Martinho, 12/03/2017


Meninas e meninos são educados de forma radicalmente distinta, mas a pseudociência
vai procurar respostas para o comportamento diferenciado de mulheres e homens em
supostas químicas cerebrais e hormônios diferentes.


Gina Rippon
Como o "neurossexismo" está impedindo o progresso da igualdade de gênero - e da própria ciência

À procura de provas de que mulheres e homens aprendem, falam, resolvem problemas ou leem mapas de forma diferente, algumas pessoas pensam ter encontrado nos scanners cerebrais a resposta definitiva para sua busca. É fácil entender o porquê. Eles produzem mapas codificados, coloridos e brilhantes destacando diferenças entre os sexos em várias áreas cerebrais, o que potencializa o argumento de quem advoga escolas separadas para garotas e garotos ou treinamento diferenciado por sexo para militares das forças armadas.

Seu poder, aliás, está atrelado ao permanente debate sobre as diferenças comportamentais entre mulheres e homens. De marqueteiros e políticos a grupos de pressão, muitas pessoas fazem referências entusiásticas à "neurociência de ponta" em suas suposições a respeito de diferenças sexuais.

A ideia de que o cérebro é responsável por diferenças ou desequilíbrios de sexo/gênero nos acompanha há bastante tempo. No século dezoito, cientistas descobriram que os cérebros das mulheres pesam em média cerca de 142 gramas menos do que os dos homens - descoberta que foi imediatamente interpretada como sinal de inferioridade feminina. Desde então, os cérebros das mulheres têm sido pesados, medidos e considerados insuficientes. Tal perspectiva se deve à crença no "determinismo biológico": a ideia de que as diferenças biológicas refletem a ordem natural das coisas com a qual não devemos nos intrometer para não colocar a sociedade em risco.

Infelizmente, essa visão persiste ainda hoje sob o nome de neurossexismo. Neurossexismo é a prática de alegar a existência de diferenças fixas entre os cérebros femininos e masculinos, o que supostamente explicaria a inferioridade ou a inaptidão das mulheres para certos papéis. Ao apontar atividades sexo-dependentes em certas regiões do cérebro - como as associadas à empatia, ao aprendizado de idiomas ou ao processamento espacial - os estudos neurossexistas têm possibilitado o florescimento de uma lista especializada de diferenças comportamentais entre os sexos. Ela inclui coisas como "homens serem mais lógicos do que mulheres" e "mulheres serem melhores no aprendizado de idiomas e no cuidado dos outros em geral (criação de filhos, etc.)".


Um espectro de diferenças sexuais

Mulheres são de Vênus e homens de Marte,
uma crença de longa data a ser repensada 
Hoje as técnicas de imagem do cérebro oferecem um perfil cada vez mais detalhado da atividade cerebral, possibilitando o acesso dos pesquisadores a enormes conjuntos de dados.  Há pouco tempo também se descobriu que nossos cérebros podem realmente ser moldados por diferentes experiências, incluindo aquelas associadas com ser mulher ou homem. Esta descoberta inclusive ilustra bem o problema da abordagem determinista biológica. Igualmente mostra que, ao se comparar características cerebrais, é imprescindível contabilizar variáveis como educação e o status socioeconômico das pessoas.

Psicólogos também começaram a apontar recentemente que muitos dos traços psicológicos considerados como ou femininos ou masculinos existem de fato em um espectro. Um estudo atual revisitou um número desses traços comportamentais e revelou que eles não se enquadram em apenas duas categorias binárias não-coincidentes e ordenadas. Mesmo as supostas habilidades superiores dos homens em cognição espacial – uma convenção bem estabelecida – vêm diminuindo com o tempo, até mesmo desaparecendo. Em certas culturas, a situação é realmente oposta à que conhecemos.

E não para por aí. O próprio conceito de cérebro “feminino” e “masculino” se mostrou falho. Um estudo recente apontou que cada cérebro é realmente um mosaico de padrões diferentes, alguns mais comumente encontrados em cérebros de homens e outros nos de mulheres. Mas nenhum desses padrões pode ser realmente descrito como totalmente masculino ou feminino.

Apesar disso, os velhos e disparatados argumentos neurológicos persistem. As pessoas parecem amar histórias de diferenças sexuais, particularmente as que podem ser ilustradas com imagens cerebrais. Livros de autoajuda, comerciais, artigos de jornal e a mídia social se amarram nessas histórias – mesmo naquelas que são contestáveis à primeira vista.

Tal neurociência populista se baseia em geral numa ideia falsa do que a imagem dos cérebros de fato mostra. Ela tende a se apresentar como uma espécie de “cinema verdade”, oferecendo acesso instantâneo, em tempo real, a funções e estruturas do cérebro claramente definidas. Entretanto, os mapas cerebrais são de fato produtos finais de uma longa cadeia de manipulação de imagens e complexo processamento estatístico, especialmente projetado para destacar diferenças. Eles não nos dizem o que o cérebro de uma pessoa fará em qualquer situação.

Estereótipos de gênero
Lidando com o neurolixo

Embora seja fácil culpar a mídia ou a indústria do marketing por esse populismo pseudocientífico, o fato é que essa espécie de neurolixo é muitas vezes sustentada pela própria indústria das imagens cerebrais. Pesquisadores muitas vezes erram, por descuido, ao não reconhecer o papel de variáveis ​​mais amplas na concepção de um estudo ou na seleção de participantes. Termos como “fundamental” ou ‘”profundo” são comuns em resumos de estudos sobre diferenças sexuais, mesmo quando uma inspeção mais detalhada das tabelas de dados revela somente minúsculos efeitos diferentes ou resultados estatisticamente insignificantes.

Também há exemplos de pesquisadores interpretando achados em termos de obsoletas diferenças estereotípicas. Por exemplo, eles assumem a superioridade espacial masculina ou a maior proficiência linguística das mulheres antes mesmo da fase de escaneamento. Além disso ser uma prática científica questionável, tais estudos alimentam o neurolixo em circulação e mantém a crença de que, por mais inconveniente que seja a “verdade”, mulheres e homens são imutavelmente diferentes.

Desafiar o neurossexismo não é negar a existência de diferenças sexuais, embora não faltem acusações nesse sentido. Por exemplo, pesquisas em saúde mental apresentaram importantes diferenças entre os sexos na incidência de condições tais como depressão, déficit de atenção e autismo. Reconhecer tais diferenças possibilita a descoberta de tratamentos apropriados para essas doenças.

Por outro lado, como conhecemos agora o quanto é falho o conceito de cérebro “feminino” e “masculino” e inadequada aquela lista especializada de diferenças psicológicas baseadas em sexo, nós precisamos parar de enfatizar a categoria binária do sexo biológico como fonte de nossas investigações. Pode levar tempo desconstruir crenças tão arraigadas, mas já é um bom começo assegurar que cientistas, a mídia e o público em geral se tornem conscientes do problema.


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Leni Riefenstahl, a cineasta genial que revolucionou a arte cinematográfica documentando o nazismo

Leni Riefenstahl, a genial cineasta que documentou o nazismo
Há tempos, em uma lista de discussão, criticava-se o autor de novelas Aguinaldo Silva por seu personagem Crô, o estereótipo do gay com seus tiques e trejeitos femininos. Criticava-se Aguinaldo porque o personagem Crô, da novela Fina Estampa, prestaria um desserviço à causa homossexual encarnando uma caricatura dos homens gays e, além de tudo, um capacho. Segundo os críticos de Aguinaldo, principalmente por este ser também homossexual e ter editado o Lampião da Esquina (primeira publicação LGBT de distribuição nacional), seus personagens deveriam representar uma imagem positiva dos homens homossexuais, de acordo com os parâmetros de positividade da militância. Agora, o personagem virou filme, e as críticas continuam bem ácidas.

A discussão levou ao recorrente debate sobre a necessidade ou não do engajamento da arte em lutas políticas, debate que desde fins do séc. XVIII não sai de pauta. Fazendo um aparte, pessoalmente, rejeito  a obrigação de qualquer finalidade moral ou social para a arte, considerando-a válida apenas como expressão estética. Sou da turma da arte pela arte.

Por outro lado, meio imbrincada ao debate sobre arte engajada ou não geralmente surge a discussão sobre o quanto a obra de um artista pode ser avaliada por sua vida pessoal e suas posições políticas. De fato, ética e estética nem sempre andam juntas, a História registrando a obra de artistas que foram inovadores em estética mas bem discutíveis em ética. Muitos artistas geniais mostraram triste apreço por ideias e práticas autoritárias, sexistas, racistas, antissemitas além de por comportamentos delinquentes. 

Então, distinguir a obra de seu autor, embora imprescindível, nem sempre é tarefa fácil. Principalmente para nós, simples distinto público, é dureza mesmo separar o joio do trigo. Penso na objeção emocional que passei a ter quanto à obra de Chico Buarque de Holanda depois de saber de seu apreço pela ditadura cubana. Logo ele que, no período da ditadura militar, posava de paladino da democracia com suas musiquinhas de protesto!? Hoje, sem grandes problemas digestivos, só consigo escutar sua obra lírica.

De qualquer forma, Chico Buarque nunca foi um artista excepcional. Pelo contrário, sua obra sempre foi convencional em termos de estética, sem nada de muito inovador, apesar de ter composições realmente bonitas. Mas e quando se trata de um artista, no caso de uma artista genial, inovadora em sua arte como poucos, mas cuja obra retratou exatamente um dos fenômenos políticos mais lastimáveis da história humana?

Refiro-me a cineasta alemã Leni Riefenstahl que revolucionou a arte cinematográfica tendo como tema nada menos do que o nazismo. Em suas obra-primas, O Triunfo da Vontade e Olympia, Leni filmou respectivamente um encontro do partido nazista, em 1934, e as Olimpíadas, na Alemanha de Hitler, em 1936. Inovou tanto que, segundo Vicente Amorim, cineasta brasileiro (de Um Homem Bom, 2008), falando sobre Olympia:
É a glorificação da perfeição física que até hoje se irradia na propaganda, no design moderno, nos editoriais de moda. Se retirarmos a influência de Leni, provavelmente ainda estaríamos no século 19, do ponto de vista visual.
Verdade. O que salta aos olhos ao ver os dois documentários de Leni é sua atualidade. Parece que estamos assistindo a peças produzidas por algum artista de hoje. Tantos anos passados e as imagens ainda impactam e emocionam por sua beleza. Se a cineasta teve ou não um maior engajamento com o nazismo ou se simplesmente se aproveitou do culto nazista à beleza para produzir uma verdadeira elegia à forma humana, ao corpo humano, continua uma questão em aberto. Uma coisa, contudo, é certa: ela foi uma artista excepcional, uma mulher polêmica e notável.

Seguem texto de 2009 da revista Aventuras na História, sobre a Leni Riefenstahl, dois vídeos com suas obras O Triunfo da Vontade e Olympia. Seguem ainda odocumentário sobre ela: The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl (A maravilhosa vida horrível de Leni Riefenstahl). À parte a questão estética, são todos documentos históricos imperdíveis. 


A cineasta de Hitler
Leni Riefenstahl inventou técnicas cinematográficas e produziu imagens com efeitos espetaculares. Além de talentosa, era linda. Nada disso bastou para libertá-la da sombra nazista

No dia 1º de agosto de 1936, eram abertos na Alemanha os XI Jogos Olímpicos da história moderna. Pela primeira vez, a recém-inaugurada televisão transmitia para aparelhos instalados em prédios públicos de Berlim a espetacular cerimônia. Fascinado, o povo alemão viu e ouviu, ao vivo, um orgulhoso Adolf Hitler recebendo do grego Sypiridon Louis (campeão da maratona de Atenas, em 1896) um ramo de oliveira colhido nos montes de Olímpia, ao som de 100 mil vozes bradando "Heil, Hitler! Heil, Fuerher!" Todas as cenas da cerimônia foram registradas em 400 quilômetros de filme pela cineasta alemã Leni Riefenstahl.

A cobertura do evento foi uma encomenda do Comitê Olímpico Internacional, mas teve, claro, a mão de Adolf Hitler, presidente do país-sede dos jogos. Foi dele a palavra final sobre quem seria a responsável pelas imagens que terminaram se tornando um poderoso instrumento de propaganda a favor do regime nazista. Numa época de tecnologias cinematográficas incipientes, Leni soube tirar proveito da megaestrutura colocada à sua disposição. Ela inventou novas formas de olhar pela câmera, revolucionando as imagens de um jeito  que até hoje marcam o que assistimos na televisão ou no fotojornalismo esportivo.

Os contornos épicos dados ao evento não se limitaram à abertura dos jogos. Seis meses antes, Leni já estava dirigindo os técnicos que cobririam as provas realizadas na piscina. Como a tecnologia ainda não permitia captar imagens ao nível da água, Leni teve a ideia de construir plataformas especiais nas bordas para os operadores de câmera, que também eram posicionados com o atleta nos saltos de trampolim e dentro da água.

Nas provas de corrida, ela também inovou ao mandar cavar buracos e instalar trilhos para poder captar imagens à altura do chão. E equipou de câmeras corredores que acompanharam os atletas. Os planos ousados - focados no esforço e tensão dos competidores - e a fotografia única de Leni geraram imagens consideradas por especialistas uma aula de estética e de hipervalorização do corpo, com efeitos obtidos a partir de closes muito próximos ou de enquadramentos de baixo para cima, que davam aos atletas aspecto de estátuas gregas.
"É a glorificação da perfeição física que até hoje se irradia na propaganda, no design moderno, nos editoriais de moda. Se retirarmos a influência de Leni, provavelmente ainda estaríamos no século 19, do ponto de vista visual", diz Vicente Amorim, cineasta brasileiro que, em 2008, dirigiu o longa-metragem Um Homem Bom.
Triunfo da propaganda

A aproximação de Leni com Hitler aconteceu em 1932, quando ela dirigiu seu primeiro filme, A Luz Azul, juntamente com o húngaro Bela Balázs, um dos críticos mais influentes nos anos 30 e 40. Abordava a história de uma jovem montanhesa, representada pela própria diretora, em busca de uma pedra que projetava luminosidade singular. Antes disso, ela havia atuado como atriz em seis películas do alemão Arnold Fanck, especialista em filmes de montanha, que impressionaram muito a artista. Rodados em penhascos e em meio a avalanches, há quem diga que veio daí "o culto à monumentalidade" de Leni.

Mas foi Balázs quem apresentou a ela O Couraçado Potemkin, obra-prima do russo Sergei Eisenstein, famoso por suas teses sobre a montagem dialética, que dizem que as sensações de um filme podem ser construídas. Conversando sobre essas teorias com Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, Leni caiu rapidamente no gosto do chanceler da Alemanha, que, dizem as más línguas, sempre teve uma quedinha por ela - questionada, a diretora afirmou que, para Hitler, fez apenas documentários.

E que documentários. Depois do inexpressivo Vitória da Fé, de 1933, sobre o quinto congresso do partido nazista, ela foi convencida por Hitler a produzir um longa-metragem sobre o sexto congresso. Foi sua obra-prima e sua condenação. O encontro partidário, marcado para setembro de 1934, em Nuremberg, transformou-se no filme O Triunfo da Vontade, extraordinária peça de propaganda. A logística de produção foi apoteótica para a época: mais de 100 técnicos e 30 câmeras. Segundo a própria Leni, no documentário The Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstahl ("A maravilhosa vida horrível de Leni Riefenstahl"), de Ray Müller, feito em 1993, Hitler queria "um filme feito por um artista, e não por um diretor de partido".

Para sua realização, ela desenvolveu truques e artifícios até então inéditos. Por exemplo, um elevador construído e encaixado entre os mastros das enormes bandeiras do partido permitiu mover a câmera da esquerda para a direita e de cima para baixo, e fazer longos travellings (quando a câmera se desloca de forma contínua). Outro recurso, diz André Piero Gatti, pesquisador do Centro Cultural São Paulo e professor de História do Cinema na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), foram "câmeras muito próximas (close-ups) que tornaram agigantados objetos simples e contribuíram para a distorção da escala, para a captação em imagens de uma espécie de místico poder absoluto, escondendo atrás de uma beleza plástica a podridão de um regime".

Para o filósofo Paul Virilio, no livro Guerra e Cinema, "o evento foi organizado de maneira espetacular, não somente do ponto de vista de uma reunião popular, mas de modo a fornecer material para um filme de propaganda". Tudo foi determinado em função da câmera: os rostos voltados para o mesmo lugar, os braços levantados em cumprimento nazista, as ruas apinhadas de gente, que se fundem em um grande corpo, o conceito-chave da unidade alemã.


Dois anos depois é que veio o documentário Olympia, que fez dos jogos uma celebração do corpo e do Terceiro Reich. Leni era linda, talentosa e mulher, numa área dominada por homens. Mas foi a cineasta de Hitler. E a vinculação ao nazismo a perseguiu para sempre. Até a morte, aos 101 anos, em 2003, ela afirmou desconhecer os crimes cometidos por seus patrocinadores.

No fim da Segunda Guerra, a cineasta foi presa por quatro anos. Solta, tentou filmar, mas foi hostilizada pela opinião pública. Trabalhou então como fotógrafa. Nos anos 70, lançou dois livros sobre os nubas, tribo do Sudão com quem passou seis meses nos anos 60, fotografando obsessivamente. Esse material forma o que os críticos consideram seu mais importante ensaio. Cobriu os Jogos Olímpicos de Munique (1972) para a revista Time e fotografou celebridades, como Mick Jagger. Nos anos 80, mergulhou no silêncio da fotografia submarina, que resultou no filme Impressões Subaquáticas (2002).


Receita para fazer voar
Muitas câmeras para seguir o mergulho

Em 1932, houve uma tentativa de filmar os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Mas eram poucas câmeras e para poucas modalidades. Em 1936, nos jogos de Berlim, Leni Riefenstahl produz um documentário com uma superestrutura de produção. A imagem dos mergulhadores no ar virou um marco para a foto esportiva. Operadores trocavam lentes embaixo da água para acompanhar a parte final dos saltos, criando uma sequência sem pausas, do início ao fim das provas. Hans Ertl, fotógrafo-chefe, criou uma câmera subaquática e uma plataforma de apoio para filmar ao nível da superfície. Leni subverteu o ponto de vista clássico "de plateia", em troca de ângulos inesperados.

Do trampolim

Saltos filmados em plongée (de cima para baixo) e de baixo para cima, do trampolim, dão impressão de voo. De uma plataforma ao nível da água, a câmera pega a hora do mergulho.

Do céu

Um dirigível levava uma câmera automática, com objetivas de até 600 mm, o limite máximo da época. O resultado eram panorâmicas aéreas do evento e do mergulho.

Dentro d'água

Equipamentos à prova d'água filmam o fim do mergulho. Diferentes lentes captam detalhes do músculo, da respiração e da expressão dos atletas.

Saiba mais

LIVRO

Leni - The Life and Work of Leni Riefensthal, Steven Bach, Knopf, 2007

Biografia que explora as fronteiras éticas entre arte, beleza e verdade, muito crítica às escolhas feitas pela cineasta.

SITES
Fotos, informações sobre a artista, críticas e dados técnicos.

Fonte: Aventuras na História, Bruno Vieira Feijó | 20/07/2009


Publicado originalmente em 11/12/13

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Universidade de Cambridge lança "Write and Improve", corretor online gratuito de textos em inglês

Cambridge lança ferramenta online e gratuita que corrige seus textos em inglês na hora

Que tal escrever um texto em inglês e contar com a equipe da Universidade de Cambridge para corrigi-lo? Agora isso é possível, já que o departamento sem fins lucrativos da instituição, Cambridge English Language Assessment, criou a ferramenta Write and Improve, que corrige em tempo real e de forma gratuita as redações de seus usuários.

Através da ferramenta, que está dividida por níveis (iniciante, intermediário e avançado), pode-se escrever emails sobre a vida cotidiana, textos de apresentação, redações direcionadas para solucionar problemas como extravio de bagagem e até cartas de apresentação para empregos.

Funciona assim: você envia a redação e em segundos o Write and Improve a analisa e a devolve em uma tela ao lado, com comentários sobre gramática, vocabulário e feedbacks do que pode ser melhorado. Pode-se então refazer o texto, levando em conta as considerações da equipe do Cambridge para submetê-lo novamente a correção.

O Write&Improve conta ainda com um gráfico que mostra o progresso do usuário e o seu nível de evolução, levando em conta quantas vezes a redação foi re-escrita. Quando ele sobe de nível, é presenteado com selos comemorativos, que podem ser partilhados com outros usuários da plataforma.

Fonte:  Nômades Digitais,  02/04/17, Foto: Wiki Commons

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Em quadrinhos, a vida de Olympe de Gouges, uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres

Abaixo texto sobre o lançamento da versão, em quadrinhos, de Olympe de Gouges, uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres já na época da Revolução Francesa. Para se ver como aquela história de que o feminismo é fruto do marxismo cultural da Escola de Frankfurt é pura vigarice de conservador.

Apesar do inacreditável preço de R$88,00 (acho que foi para combinar com as 488 páginas do livro), sobrando alguma grana, vale comprar a HQ. Sabidamente, as HQ são bem mais acessíveis do que os textos corridos.

Vida de Pioneira Feminista lançada em quadrinhos no Brasil

Fiquei sabendo hoje que a editora Record lançou no Brasil uma biografia em quadrinhos da (proto)feminista Olympe de Gouges. Para quem não a conhece, trata-se de uma jornalista e autora de peças de teatro francesa que militou na Revolução e, com o passar do tempo, sentiu-se decepcionada com os rumos da mesma, especialmente em relação aos direitos das mulheres. Assim como Abgail Adams, que pleiteou direitos iguais para as mulheres e acesso ao voto durante a Revolução Americana, Gouges o fez na França. Só que a futura primeira-dama norte americana usou cartas privadas ao marido, enquanto Gouges publicou, em 1791, um manifesto “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã” como reação a nova constituição que negava direitos iguais às mulheres. Lembro de ter lido parte do texto anos atrás e um dos argumentos da autora era particularmente agudo, se as mulheres podem ser condenadas a todas as penas, prisão ou morte, da mesma forma que os homens, deveriam poder gozar dos direitos que seus compatriotas tinham.

O (bom) governo revolucionário, especialmente quando caiu nas mãos dos jacobinos, começou a cercear a participação política feminina, algo muito presente no início da Revolução. Além disso, houve a perseguição sistemática dos inimigos da Revolução e, conseqüência direta de um governo autoritário, do partido. No auge do chamado Terror, era muito fácil ir parar na guilhotina, Gouges, que se tornará crítica aguda dos rumos da revolução, iria ser condenada mais cedo, ou mais tarde. Denunciada, guiou os sujeitos que foram prendê-la até seus escritos. Presa e acusada, acabou assumindo sua própria defesa e, algo muito comum, terminou condenada e executada em 3 de novembro de 1793. 


Enfim, o quadrinho publicado aqui no Brasil é francês, uma bande-desinée, portanto, é de autoria de José-Louis Bocquet e Catel Muller e foi publicada em 2012 (*a nota da Record diz que a BD foi premiada em Angoulême em 2008, mas nos sites franceses a data de lançamento é 2012, não sei se procede*). A edição da Record tem 488 páginas e um preço que eu até agora não consegui compreender, R$88. Não fosse isso, eu compraria sem piscar. De qualquer forma, é mais um material importante, porque mostra aquilo que muitos livros de História e professores da disciplina omitem ou não tem conhecimento, a participação ativa das mulheres nas grandes revoluções, sua ação política e produção intelectual. Espero poder comprar este volume em breve.

Ah, sim! Para uma visão mais acadêmica da ação de Olympe de Gouges recomendo o livro de Joan W. Scott, uma das maiores teóricas e historiadoras feministas, A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem. Acredito que esteja esgotado, mas deve ter para baixar por aí.

Fonte: Blog Shoujo Café, 25/04/2014

Publicado originalmente em 06/05/2014

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