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A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Simone de Beauvoir explica "porque era feminista" em rara entrevista televisiva (1975)


Simone de Beauvoir Explains “Why I’m a Feminist” in a Rare TV Interview (1975)


In Simone de Beauvoir’s 1945 novel The Blood of Others, the narrator, Jean Blomart, reports on his childhood friend Marcel’s reaction to the word “revolution”:

It was senseless to try to change anything in the world or in life; things were bad enough even if one did not meddle with them. Everything that her heart and her mind condemned she rabidly defended—my father, marriage, capitalism. Because the wrong lay not in the institutions, but in the depths of our being. We must huddle in a corner and make ourselves as small as possible. Better to accept everything than to make an abortive effort, doomed in advance to failure.

Marcel’s fearful fatalism represents everything De Beauvoir condemned in her writing, most notably her groundbreaking 1949 study, The Second Sex, often credited as the foundational text of second-wave feminism. De Beauvoir rejected the idea that women’s historical subjection was in any way natural—“in the depths of our being.” Instead, her analysis faulted the very institutions Marcel defends: patriarchy, marriage, capitalist exploitation.

In the 1975 interview above with French journalist Jean-Louis Servan-Schreiber—“Why I’m a Feminist”—De Beauvoir picks up the ideas of The Second Sex, which Servan-Schreiber calls as important an “ideological reference” for feminists as Marx’s Capital is for communists. He asks De Beauvior about one of her most quoted lines: “One is not born a woman, one becomes one.” Her reply shows how far in advance she was of post-modern anti-essentialism, and how much of a debt later feminist thinkers owe to her ideas:

Yes, that formula is the basis of all my theories…. Its meaning is very simple, that being a woman is not a natural fact. It’s the result of a certain history. There is no biological or psychological destiny that defines a woman as such…. Baby girls are manufactured to become women.”

Without denying the fact of biological difference, De Beauvoir debunks the notion that sex differences are sufficient to justify gender-based hierarchies of status and social power. Women’s second-class status, she argues, results from a long historical process; even if institutions no longer intentionally deprive women of power, they still intend to hold on to the power men have historically accrued.

Almost forty years after this interview—over sixty since The Second Sex—the debates De Beauvoir helped initiate rage on, with no sign of abating anytime soon. Although Servan-Schreiber calls feminism a “rising force” that promises “profound changes,” one wonders whether De Beauvoir, who died in 1986, would be dismayed by the plight of women in much of the world today. But then again, unlike her character Marcel, De Beauvoir was a fighter, not likely to “huddle in a corner” and give in. Servan-Schreiber states above that De Beauvoir “has always refused, until this year, to appear on TV,” but he is mistaken. In 1967, she appeared with her partner Jean-Paul Sartre on a French-Canadian program called Dossiers.

Fonte: Open Culture, 23 de maio de 2013

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Excesso de Estado e de burocracia e poucos incentivos fiscais atrapalham a filantropia no Brasil

Stephen Schwarzman com Peter Salovey, o milionário doou US$ 150 milhões à universidade (Foto: Divulgação)
GENEROSIDADE: O milionário Stephen Schwarzman (à esq.) com
Peter Salovey, diretor de Yale. Ele doou US$ 150 milhões à universidade 
Para responder a pergunta de porque os milionários brasileiros não apoiam museus, universidades e outras instituições públicas, Fernando Schüler, em seu artigo abaixo, aponta, como causas, o excesso de Estado e de burocracia e pouco incentivo fiscal. Destaco:
De minha parte, desconfio da tese do caráter cultural. Ela é abstrata demais, difícil de mensurar e, pior, tende a levar à acomodação. Prefiro concentrar o foco na variável sobre a qual – ao menos em boa medida – temos controle. E essa variável é institucional. Minha tese é: o modelo institucional e de incentivos que adotamos simplesmente não favorece o desenvolvimento da filantropia. Ele incentiva que as pessoas esperem que o Estado resolva seus problemas. E é o que elas fazem, em geral. 
 Os Estados Unidos nem sequer têm um Ministério da Cultura. As doações e os incentivos são diretos, sem burocraciaPor isso, funciona.
 Por que os milionários brasileiros não doam suas fortunas a universidades?

Nos Estados Unidos, ricos ajudam museus e instituições de ensino superior. No Brasil, a burocracia atrapalha quem quer fazer o bem

Stephen Schwarzman costumava fazer suas refeições no Commons, quando estudante em Yale, em meados dos anos 1960. Sujeito tímido, vindo de escola pública, sentia-se bem naquele edifício de estilo neoclássico, situado no coração da universidade. Formado em 1969, Schwarzman percorreu passo a passo o sonho americano. Nos anos 1980, criou o grupo Blackstone, hoje um dos maiores fundos de investimento dos Estados Unidos. Consta como o 122º sujeito mais rico do planeta, na lista da Forbes. No último dia 11 de maio, anunciou uma doação de US$ 150 milhões para a conversão do velho Commons em um moderno centro de artes.

O centro levará o nome de Schwarzman. Há quem veja nisso um simples desejo de “imortalidade através do dinheiro”, como li em uma crítica. Pouco importa. Talvez alguém tenha pensado o mesmo quando Lenand Stanford criou a universidade que levaria seu nome, na década de 1880, na Califórnia. Ou quando resolveram dar o nome de Solomon Guggenheim, logo após sua morte, ao museu projetado por Frank Lloyd Wright, no coração de Manhattan. Quem sabe teria sido melhor, para os Estados Unidos, imitar o exemplo brasileiro. Por aqui, pouca gente tenta perpetuar o próprio nome, doando para universidades e museus. Talvez por isso lê-se, por estes dias, o anúncio de fechamento da Casa Daros, primoroso espaço de artes, no Rio de Janeiro, por falta de recursos.

O Guggenheim, em Nova York (Foto: Sean Pavone Photo/Getty Images)

O Guggenheim, em Nova York (Foto: Sean Pavone Photo/Getty Images)

Casa Daros, no Rio de Janeiro  (Foto: Monica Imbuzeiro/Ag. O Globo)

A tradição da filantropia americana vem de longe. É possível pensar que Andrew Carnegie seja seu maior ícone e, de certo modo, definidor conceitual. Imigrante pobre, Carnegie fez fortuna na siderurgia americana, na segunda metade do século XIX. Em 1901, aos 66 anos, vendeu suas indústrias ao banqueiro J.P. Morgan e tornou-se o maior filantropo americano. Uma de suas tantas proezas, não certamente a maior, foi construir mais de 3 mil bibliotecas, nos Estados Unidos. Em 1889, escreveu o artigo “The Gospel of Weath”, defendendo que os ricos deveriam viver com comedimento e tirar da cabeça a ideia de legar sua fortuna aos filhos. Melhor seria doar o dinheiro para alguma causa, ou várias delas, a sua escolha, ainda em vida. O Estado poderia dar um empurrãozinho, aumentando o imposto sobre a herança, mas deveria evitar a tributação das grandes fortunas. O melhor resultado, para todos, seria obtido se os próprios ricos distribuíssem sua riqueza, com cuidado e responsabilidade. Recentemente, foi o argumento usado por Bill Gates, o maior filantropo de nossa era, em oposição a Thomas Piketty e sua obsessão em tributar os mais ricos.

Gates não fala da boca para fora, nem é uma voz isolada. Em 2009, ele lançou, junto comWarren Buffett, o mais impressionante movimento de incentivo à filantropia já visto:The Giving Pledge. A campanha tem, até o momento, 128 signatários. Para participar, basta ser um bilionário e assinar uma carta prometendo doar, em vida, mais da metade de sua fortuna a projetos humanitários. Para boa parte dessas pessoas, doar 50% é pouco. Larry Elisson, criador da Oracle, comprometeu-se em doar 95% de sua fortuna, hoje avaliada em US$ 56 bilhões. Buffett foi além: vai doar 99%. Como bem observou o filósofo alemão Peter Sloterdijk, parece que, ao contrário do que acreditávamos no século XX, não são os pobres, mas os ricos que mudarão o mundo. Sloterdijt, por óbvio, não conhece bem o Brasil.

Nos Estados Unidos, o valor das doações individuais à filantropia chega a US$ 330 bilhões por ano. No Brasil, os números são imprecisos, mas estima-se que o montante não passa de US$ 6 bilhões por ano. Apenas 3% do financiamento a nossas ONGs vem de doações individuais, contra mais de 70%, no caso americano. Há, segundo a tradicional lista da revista Forbes, 54 bilionários no Brasil. Nenhum aderiu, até o momento, ao movimento da Giving Pledge. Consta que Jorge Paulo Lemann, o número 1 da lista, foi convidado. Não duvido que dia desses anuncie sua adesão. Seria um exemplo para o país.

Explicações não faltam para essa disparidade. Há quem goste de debitar o fenômeno na conta de nossa “formação cultural”. Por essa tese, estaríamos atados a nossas raízes ibéricas, sempre esperando pelos favores do Estado, indispostos a buscar formas de cooperação entre os cidadãos para construir escolas, museus e bibliotecas ou simplesmente para consertar os brinquedos e plantar flores na praça do bairro.

É possível que haja alguma verdade nisso. O rei Dom João III, lá por volta de 1530, dividiu o país em capitanias hereditárias e as dividiu entre fidalgos e amigos da corte portuguesa. Fazer o quê? Enquanto isso, os peregrinos do Mayflower desembarcaram nas costas da Nova Inglaterra, movidos pela fé e pelo amor ao trabalho, para construir um novo país. Uma bela história, sem dúvida. Muito parecida com a de meus antepassados alemães, que desembarcaram em 1824 nas margens do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Há muitas histórias, há muitos tipos de formação cultural, no Brasil, assim como nos Estados Unidos. Não é difícil escolher uma delas para justificar qualquer coisa.

De minha parte, desconfio da tese do caráter cultural. Ela é abstrata demais, difícil de mensurar e, pior, tende a levar à acomodação. Prefiro concentrar o foco na variável sobre a qual – ao menos em boa medida – temos controle. E essa variável é institucional. Minha tese é: o modelo institucional e de incentivos que adotamos simplesmente não favorece o desenvolvimento da filantropia. Ele incentiva que as pessoas esperem que o Estado resolva seus problemas. E é o que elas fazem, em geral.

Vamos a um exemplo: nossos sistemas de incentivo fiscal a doações. Nos Estados Unidos, se alguém quiser doar algum recurso para o MoMA (o Museu de Arte Moderna, em Nova York), poderá abater até 30% de seu rendimento tributável. Para algumas instituições, esse percentual sobe a 50%. No Brasil, seu abatimento é limitado a 6% do Imposto de Renda, se o contribuinte fizer a declaração completa.

O pior, no entanto, acontece do outro lado do balcão. Para receber a doação, o museu brasileiro deverá ter um projeto previamente aprovado pelo Ministério da Cultura, em Brasília. Serão meses em uma via crucis, listando minuciosamente o gasto futuro com o projeto, e depois mais alguns meses para a prestação de contas detalhada do que foi gasto com sua execução. Fico imaginando o que o MoMA faria se, para receber doações, tivesse de enviar previamente um projeto para ser analisado em Washington, linha a linha, por um grupo de funcionários públicos. Os Estados Unidos nem sequer têm um Ministério da Cultura. As doações e os incentivos são diretos, sem burocracia. Por isso, funciona.

Vamos a outro exemplo: os americanos adotam como principal estratégia de financiamento de suas instituições – sejam museus, universidades ou orquestras sinfônicas – os chamados “fundos de endowment”. A ideia é bem simples: uma poupança de longuíssimo prazo, destinada a crescer, ano a ano, da qual a instituição retira parte dos rendimentos para seu custeio. Simplesmente nenhuma grande instituição universitária ou cultural americana vive sem seu endowment. Há 75 universidades com fundos de mais de US$ 1 bilhão. O maior de todos, de Harvard, tem US$ 36 bilhões em caixa.

Pois bem, vamos imaginar que um milionário acordasse, dia desses, decidido a doar uma boa quantia para algum endowment no Brasil. Ele gosta de artes visuais e quer doar a um museu. Em primeiro lugar, ele não teria nenhum incentivo fiscal para fazer isso. O Ministério da Cultura simplesmente proíbe que um museu brasileiro apresente um projeto para receber doações para endowments. Em segundo lugar, não haveria nenhum endowment para ser apoiado. Nos Estados Unidos, ele encontraria milhares, e bastaria escolher algum, na internet. Em Pindorama, nenhum. As leis não favorecem, os incentivos inexistem, as instituições não estão organizadas para receber as doações. E a culpa segue por conta de nossa “formação cultural”.

Outra razão diz respeito ao modelo de gestão de nossas instituições. O Brasil teima, em pleno século XXI, a manter uma malha obsoleta de universidades estatais. Elas consomem perto de 30% dos recursos do Ministério da Educação, mas nenhuma se encontra entre as 200 melhores do mundo, no último levantamento da revista Times Higher Education. Enquanto isso, os Estados Unidos dispõem de 48 das 100 melhores universidades globais. Princeton, Yale, Columbia, MIT seguem, em regra, o mesmo padrão: instituições privadas, sem fins lucrativos, com largos endowments, cobrando mensalidades e oferecendo um amplo sistema de bolsas por mérito (em âmbito global), e ancoradas em uma rede de alumni e parcerias públicas e privadas. Não é diferente do que ocorre com museus e instituições culturais.

O ponto é que o Brasil pode mudar. Há exemplos de líderes empresariais que fazem sua parte. Há o caso exemplar do banqueiro Walter Moreira Salles, fundador do Instituto Unibanco, voltado à educação, e do Instituto Moreira Salles, voltado à cultura. Há a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, há o Museu Iberê Camargo, criado por Jorge Gerdau, e há a Fundação Roberto Marinho, à frente do maior projeto cultural do Brasil, nos dias de hoje, que é o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Há uma imensa generosidade e espírito público, no país, ainda bloqueados pelo anacronismo dos modelos de gestão pública que adotamos. Instituições, mais do que a história. Incentivos, mais do que uma suposta genética cultural. Essa deve ser nossa aposta.

Fonte: Época, 07/06/2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

PT experimentando do próprio veneno é algo gostoso de ver

Bate-boca em faculdade católica por causa do petista Gilberto Carvalho
Gilberto Carvalho foi participar de uma mesa redonda na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, na terça-feira (2) sobre o tema “O compromisso do cristão na sociedade: para construir o mundo novo”, uma realização do grupo “Fé e Política”, que afirma – sob a “inspiração” da Campanha da Fraternidade deste ano – a intenção de “promover o diálogo e a reflexão, envolvendo cristãos engajados na sociedade”. 

Entretanto, como vem se tornando rotina para petistas, não conseguiu ter sossego no evento que foi tomado por católicos contrários à visão cristã do petista. Foi vaiado, panelaçado, constrangido, etcetera, por manifestantes irados com sua presença na citada faculdade. Pessoalmente, nem sabia que Gilberto Carvalho tinha sido seminarista e, pra mim, eles que são cristãos que se entendam, mas registro a manifestação porque dá bem a ideia do desmonte desse partideco fascistoide que tanto mal fez ao Brasil. E porque acho justíssimo os escrachos que a população vem submetendo os petistas onde vão, de restaurantes a palestras. É o mínimo mesmo que eles merecem, já que pela via institucional está parecendo difícil vir alguma justiça contra esses bandidos. 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Na polêmica questão da redução penal, a proposta do senador Aloysio Nunes pode ser uma alternativa aos radicalismos


Punição mais rigorosa para a múltipla reincidência

por Aloysio Nunes Ferreira
No último dia 31, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que vai colocar na pauta de votação da Casa, ainda neste mês, a proposta de emenda constitucional que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. A decisão do deputado traz novamente à tona um debate necessário: a estratégia de punição para delitos cometidos por jovens na idade entre 16 e 18 anos deve se restringir apenas às medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)?

Esse caso reforça a necessidade de uma legislação atenta ao cenário atual. Sou autor da PEC 33/2012, que permite a redução da maioridade em casos específicos. Desde fevereiro de 2014, a proposta está pronta para deliberação em plenário do Senado e aguarda para ser colocada na ordem do dia.

Nos termos da minha proposta, é mantida a responsabilidade penal aos 18 anos como regra geral. Em casos excepcionais, entretanto, torna o adolescente maior de 16 anos passível de ser julgado como adulto, sendo-lhe aplicada a lei penal em vez da ECA.

São os casos para os quais a própria Constituição reclama uma punição particularmente rigorosa: os crimes chamados hediondos. E também quando o adolescente apresenta um histórico de múltipla reincidência em crimes de violência contra a pessoa.

No último dia 31, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que vai colocar na pauta de votação da Casa, ainda neste mês, a proposta de emenda constitucional que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. A decisão do deputado traz novamente à tona um debate necessário: a estratégia de punição para delitos cometidos por jovens na idade entre 16 e 18 anos deve se restringir apenas às medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)?

Esse caso reforça a necessidade de uma legislação atenta ao cenário atual. Sou autor da PEC 33/2012, que permite a redução da maioridade em casos específicos. Desde fevereiro de 2014, a proposta está pronta para deliberação em plenário do Senado e aguarda para ser colocada na ordem do dia.

Nos termos da minha proposta, é mantida a responsabilidade penal aos 18 anos como regra geral. Em casos excepcionais, entretanto, torna o adolescente maior de 16 anos passível de ser julgado como adulto, sendo-lhe aplicada a lei penal em vez da ECA.

São os casos para os quais a própria Constituição reclama uma punição particularmente rigorosa: os crimes chamados hediondos. E também quando o adolescente apresenta um histórico de múltipla reincidência em crimes de violência contra a pessoa.

Estando diante de fatos como esses, o promotor que atua na apuração do ato infracional irá requerer ao juiz do feito, de vara especializada, a instauração de um procedimento prévio ao julgamento. O objetivo é apurar a capacidade do adolescente infrator de compreender o caráter ilícito do seu ato. Caso a condução desse procedimento gere uma resposta positiva, o juiz aplica a lei penal, e, havendo condenação à pena privativa de liberdade, ela será cumprida em estabelecimento especializado.

Por que 16 anos? Porque o Direito brasileiro já reconhece que o adolescente tem condições de assumir responsabilidades jurídicas muito relevantes: se deseja votar, tem o testemunho válido em juízo e, possuindo renda própria, pode emancipar-se sem o consentimento dos pais.

* Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) é senador

Fonte: Extra, 03/06/2015

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Com tantas correntes feministas, um Partido Feminista Democrático é viável?

O que o feminismo ensina à política

A democracia brasileira não está consolidada, ao contrário, ela parece ameaçada. Os prejuízos da ditadura militar ainda se fazem sentir nas marcas autoritárias visíveis no parlamento atual, assim como nas esferas micrológicas da vida cotidiana, bem como em todas as instituições. Camadas da sociedade vivem amedrontadas, outras tantas pagam todos os preços sociais da humilhação e da exploração. A violência partilhada por todos e, e em seu profundo lastro político-econômico, provocada por poucos, parece insuperável tanto ao nível simbólico quanto material e físico.

Apesar da precariedade concreta de nossa democracia, o desejo que a mantém viva – e que impulsiona várias de suas realizações na contramão do autoritarismo como tendência dominante – é sinal de que podemos avançar. Numa aliança entre trabalho e conhecimento, dizer que um outro mundo é possível é bem mais do que utopia abstrata. A criação de um novo partido político na cena brasileira atual é efeito do profundo desejo de democracia que anima nossos pensamentos e ações na intenção de uma sociedade justa, aquela em que a igualdade de direitos se torna concreta para todos os excluídos enquanto, ao mesmo tempo, são respeitadas suas singularidades.

Metade da humanidade (no sentido de conjunto concreto de seres humanos e não no sentido de uma ideia abstrata) é composta de mulheres que, ao mesmo tempo, foram excluídas de direitos historicamente. Na política, na economia, na educação, na saúde, nas ciências e nas artes, a participação das mulheres foi proibida ou controlada, tendo como cenário o vasto espectro da dominação masculina. As mulheres deveriam ficar em casa alienadas da esfera pública. A posição subalterna de tantas pessoas imposta pela dominação masculina não trouxe nada de bom a ninguém.

As mulheres atravessaram a história como sujeitos de reivindicações. Aviltadas, violentadas, impedidas de participar da vida pública, as mulheres lutaram pelo direito à educação, ao trabalho, ao voto. Lutam ainda hoje por direitos que vão da representação política à equiparação salarial, da liberdade relativa ao próprio corpo ao direito à singularidade.

A essa luta que tem início com as mulheres, luta experimentada em todas as culturas, deu-se o nome de feminismo. Esse nome ainda assusta algumas pessoas que não percebem que a luta feminista poderia não ter nome algum e que, mesmo assim, continuaria produzindo os melhores frutos que a árvore da emancipação poderia dar. O feminismo é luta por emancipação sem violência.

Como método de transformação política, o feminismo tem muito a nos ensinar.

As mulheres foram desconsideradas em muitos âmbitos das atividades humanas. No entanto, hoje, quando ocupam os espaços do trabalho e do conhecimento, sabemos que sua força é desejada enquanto, ao mesmo tempo, não é reconhecida. Sabemos que grande parte das famílias em todas as classes sociais é sustentada por mulheres. Em palavras muito simples, podemos dizer que as mulheres são a mais profunda força de sustentação social. Nas mais diversas crises, as mulheres estão sempre prontas e disponíveis para todos os tipos de esforços na proteção das bases da sociedade.

Apesar de não serem reconhecidas como deveriam, e de não terem direitos necessários garantidos, as mulheres seguem como uma espécie de força que se recria em silêncio. Ora, por que não dar a elas o poder? Por que não poderiam representar ai mesmas na esfera pública, sobretudo, no governo?

A criação de um Partido Feminista Democrático é capaz de contemplar todos os sujeitos silenciados para que tragam sua contribuição à construção de um outro poder. Um poder compreensivo e participativo. Um poder voltado ao diálogo. Um poder crítico do próprio poder. Um poder capaz de criar democracia contra toda forma de opressão, mas também contra toda forma de engodo e cegueira social. Um poder emancipatório que possa integrar a todos de maneira lúcida contra jogos de dominação e exploração e, assim, extirpá-los.

O partido feminista é um partido que contempla as mulheres e todos os que se reconhecem como mulheres, mas também de todos os que lutam a partir da ético-política feminista. É, sobretudo, um partido de singularidades que pretende a produção do comum como esfera da partilha democrática do poder.

O partido feminista é o lugar da prática lúcida e aberta a todas as pessoas independentemente de suas raças, crenças, sexualidades e classes sociais que busca, por diversos caminhos, mudanças na ordem das mentalidades e das práticas sociais injustas. A criação do partido é um passo decisivo nessa transformação que se torna a cada dia mais urgente.

A aposta é na criação de um poder livre de ressentimento. Aposta na amizade filosófica entre mulheres e todos aqueles que desejam um mundo ecológica e socialmente viável para todos os seres que existem. Na base, o feminismo é ético-política ecologista. Visa um mundo melhor em que cada pessoa como ser social responda pela humanidade concreta.

Fonte:  Blog da Márcia Tiburi,  10/05/2015

Marcia Tiburi é doutora em Filosofia e seus principais temas de pesquisa são ética, estética, filosofia do conhecimento e feminismo. É autora de diversos livros, artigos, colaboradora de jornais e revistas especializadas. É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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