8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

quarta-feira, 30 de julho de 2014

PT arreganha a fuça autoritária contra os analistas de mercado que alertam para a erosão da economia brasileira sob o governo Dilma


É conhecida a frase de Abraham Lincoln "Pode-se enganar a alguns o tempo todo e a todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos o tem­po todo." Entretanto, o PT parece não conhecê-la. Acha que pode continuar enganando a todos, embora a realidade o desminta cada vez mais. Como só retórica não segura sobretudo a economia, a desastrosa condução da mesma pelo governo Dilma está levando o país para um poço sem fundo. 

E os analistas de mercado, sejam os ligados a instituições financeiras ou a empresas independentes, vem alertando o público sobre a situação econômica que tende a se deteriorar mais ainda no caso da reeleição de Dilma. Inconformados com a possibilidade de ter de largar o osso e não mais poder parasitar no país, os petistas reagem a esses alertas arreganhando os dentes autoritários contra os economistas. 

Primeiro, pediram a cabeça de analistas do Banco Santander que enviaram comunicado a um grupo de clientes, apontando risco de piora da situação econômica caso a presidente Dilma Rousseff venha a ser reeleita. Pior foi o banco aceitar a ameaça, pedir desculpas públicas e ainda dizer que vai demitir essas e aqueles entre seus profissionais. Depois, conseguiram que a Justiça Eleitoral determine ao Google retirar do ar todas as peças publicitárias da empresa de análise de ações Empiricus Research por estarem fazendo suposto "terrorismo econômico" no mercado financeiro, sobretudo em razão do vídeo "O Fim do Brasil".

Em resposta, um dos sócios da Empiricus, Felipe Miranda, afirmou que:
A tese sobre o Fim do Brasil não é pessimista. Ela é realista, feita por um apaixonado pelo seu país, que não pode furtar-se à sua vocação de dar as melhores recomendações de investimento a seus clientes. Trata-se de uma abordagem construtiva, que mostra como preparar-se para a crise que, no meu entendimento, está se formando. Se, na opinião da coligação de Dilma, não há crise nesses placares 7x1, eu respeito. O padrão Empiricus é outro". 
Afirmou ainda que não vai se intimidar com as tentativas do PT de censurar a realidade:
O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento”.
De fato, não é hora de ninguém se intimidar. Pelo contrário, é hora de renovar o ânimo para combater essa coisa maléfica chamada PT, incrustada no tecido social do país, divulgando o máximo possível informações que mostram por a+b as razões para se evitar a reeleição de Dilma. Nesse sentido, seguem dois artigos sobre o assunto, um do Merval Pereira; outro da Dora Kramer e, por último, um do próprio Felipe Miranda com link para o vídeo O Fim do Brasil que, apesar do economês, merece ser visto. Espero que a visão catastrófica do futuro do país, apresentada pela Empiricus, esteja errada. Não resta dúvida, contudo, que a situação econômica, já complicada, tende a se agravar, caso Dilma se reeleja, pois, além de incompetente, a fulana é corrupta e autoritária. Então, todo cuidado é pouco com suas finanças.

O Estado e o capitalismo
por Merval Pereira

Concordo com a presidente Dilma, que classificou ontem o que está acontecendo no mercado financeiro de “inadmissível” e “lamentável”, mas tenho a visão oposta à dela: o que é inaceitável é um governo, qualquer governo, interferir em uma empresa privada impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país. Sobretudo uma instituição financeira, que tem a obrigação de orientar clientes para que invistam seu dinheiro da maneira mais rentável ou segura possível.

Numa democracia capitalista como a nossa, que ainda não é um “capitalismo de Estado” como o chinês — embora muitos dos que estão no governo sonhem com esse dia —, acusar um banco ou uma financeira de “terrorismo eleitoral”, por fazerem uma ligação óbvia entre a reeleição da presidente Dilma e dificuldades na economia, é, isso sim, exercer uma pressão indevida sobre instituições privadas.

Daqui a pouco vão impedir o Banco Central de divulgar a pesquisa Focus, que reúne os grandes bancos na previsão de crescimento da economia, pois a cada dia a média das análises indica sua redução, agora abaixo de 1% este ano.

Outro dia, escrevi uma coluna sobre a influência da economia nos resultados eleitorais, e o incômodo que a alta cúpula petista sentia ao ver análises sobre a correspondência entre os resultados das pesquisas eleitorais e os movimentos da Bolsa de Valores: quando Dilma cai, a Bolsa sobe.

Essa constatação, fácil de fazer e presente em todo o noticiário político do país nos últimos dias, ganhou ares de conspiração contra a candidatura governista e gerou intervenções de maneiras variadas do setor público no privado.

O Banco Santander foi forçado a pedir desculpas pela análise enviada a investidores sugerindo que prestassem atenção às pesquisas eleitorais, pois, se a presidente Dilma estancasse a queda de sua popularidade ou a recuperasse, os efeitos imediatos seriam a queda da Bolsa e a desvalorização cambial. E vice-versa.

O presidente do PT, Rui Falcão, já havia demonstrado que o partido governista não se contenta com um pedido de desculpas formal, como classificou a presidente Dilma: “A informação que deram é que estão demitindo todo o setor que foi responsável pela produção do texto. Inclusive gente de cima. E estão procurando uma maneira de resgatar o que fizeram”.

Ontem, na sabatina do UOL, a presidente Dilma disse, em tom ameaçador, que terá “uma conversa” com o CEO do Banco Santander.

Mas não foi apenas o Banco Santander que sofreu esse assédio moral por parte do governo. Também a consultoria de investimentos Empiricus Research foi acusada pelo PT de campanha eleitoral em favor do candidato oposicionista Aécio Neves, tendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acatado o pedido para que fossem retirados do Google Ads anúncios bem-humorados do tipo “Como se proteger de Dilma” e “E se Aécio ganhar”. 

Justamente é este o ponto. A cada demonstração de autoritarismo e intervencionismo governamental, mais o mercado financeiro rejeita uma reeleição da presidente Dilma, prepara-se para enfrentá-la ou comemora a possibilidade de que não se realize.

Isso acontece simplesmente porque o mercado é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública.

Atitudes como as que vêm se sucedendo, na tentativa de controlar o pensamento e a ação de investidores, só reforçam a ideia de que este é um governo que não tem a cultura da iniciativa privada, e não lida bem com pensamentos divergentes, vendo em qualquer crítica ou mesmo análise uma conspiração de inimigos que devem ser derrotados.

Um dos sócios da consultoria Empiricus Research, Felipe Miranda, afirmou em entrevistas que não se intimidará, e fez uma constatação óbvia. “O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento”.

Fonte: Blog do Noblat, 29/07/2014

Desculpas por nada
por Dora Kramer

Francamente, não deu para entender a razão da polêmica em torno da análise do Banco Santander, enviada a um grupo seleto de clientes, apontando risco de piora da situação econômica caso a presidente Dilma Rousseff venha a ser reeleita.

O incompreensível nesse episódio não foi a reação do PT. Ofendido, o partido falou em entrar na Justiça (contra o quê?) e aludiu logo ao já batido "terrorismo eleitoral". Isso sempre acontece: qualquer coisa diferente de elogios é vista sob o prisma da ilegalidade e da conspiração.

Esquisito mesmo foi o banco considerar que devia "esclarecimentos" e desculpas às autoridades em geral, à presidente Dilma em particular, por uma análise de conjuntura que nem novidade é. Faz constatações que estão todos os dias nos jornais e estão no radar de praticamente todos os agentes políticos e econômicos.

Se essas previsões são acertadas ou não, são outros quinhentos. Fato é que o desenho de cenários é algo absolutamente normal. O traçado sempre será mais favorável ou desfavorável a alguém.

Se formos ver as coisas por essa ótica, ficam em princípio interditadas quaisquer formas de manifestações porque todas significariam pernicioso engajamento, interferência na decisão do voto. O presidente do Santander houve por bem se manifestar isentando a instituição pela elaboração do informe, acrescentando que os responsáveis serão todos demitidos. Acrescentou que considera o Brasil um "país importantíssimo".

E o que um cenário de risco com base em dados sobre a condução que esse ou aquele governo dá à política econômica tem a ver com a percepção sobre as potencialidades do País e a capacidade de outras forças que não aquelas momentaneamente no poder têm de geri-lo?

Os analistas do banco traçaram um cenário - trabalho para o qual se imagina que devam ter sido contratados - e serão demitidos por isso. Por quê? Porque o governo não gostou.

E se a situação fosse oposta: se o informe dissesse aos clientes que o risco de deterioração na economia estivesse justamente na possibilidade de vitória de algum dos candidatos da oposição?

Dificilmente essa ou qualquer outra instituição ver-se-ia obrigada a pedir desculpas aos oposicionistas que, porventura, se sentissem prejudicados. O gesto de retratação decorre da força de intimidação do governo.

Isso, sim, é uma vantagem e não o contrário, como quis fazer crer o presidente do PT, Rui Falcão. Para ele o que houve é proibido. "Não se pode fazer manifestação em uma empresa que por qualquer razão interfira na decisão do voto", disse. Por essa lógica as consultorias não poderiam se manifestar, as pesquisas de opinião não deveriam ser publicadas, muito menos interpretadas pelos especialistas, veículos de comunicação estariam proibidos de explicitar suas posições e o governo estaria impedido de usar suas prerrogativas para se dedicar em tempo integral a procurar interferir na decisão do voto.

Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2014

O Fim do Brasil
por Felipe Miranda

“Difícil mesmo entender porque os bons morrem tão jovens. Desde criança enfrento essa questão com perplexidade. Hoje, finalmente, resolvi propor algo a respeito: que tal se invertêssemos a ordem dos clichês e fizéssemos com que os vasos ruins quebrassem logo?

Infelizmente, a vida vai nos desafiando a ver pessoas, empresas e coisas indo embora cedo. Nada de novo nisso.

A novidade é que, agora, países resolveram entrar para a lista dos que sucumbem prematuramente. O Brasil, tal qual nós conhecemos, morreu, antes de entrar na fase adulta, aos 20 anos de idade. Aquele país lindo, democrático, representação do futuro está em seu leito de morte.

Explico a metáfora. A história do Brasil, da forma como observamos hoje, começa em julho de 1994, com o Plano Real, cujos resultados imediatos foram o resgate da confiança na moeda e, por conseguinte, o controle da inflação. Antes disso, era Pré-História.

Não há como se pensar num país civilizado onde a inflação bate 80% ao mês. Se o poder de compra do salário cai pela metade num único mês, como ter um orçamento familiar equilibrado? Não pode haver um padrão de consumo consistente e saudável se sua única opção é correr para o supermercado tão logo receba seu salário.

E se não há consumo num quadro assim, tampouco pode haver investimento. Nenhum empresário vai tomar a decisão de investir e ampliar sua capacidade produtiva se não existe confiança na moeda e monta-se um novo plano econômico por ano, cada um mudando completamente as regras do jogo.

Sem consumo e investimento, nenhuma Economia resiste. Por isso, pode-se dizer que nasce um novo Brasil a partir do Plano Real, com controle da inflação e estabilidade da economia.

Em pouco tempo, mais precisamente aos cinco anos de idade, o Plano atinge a maturidade. Implementa-se o famoso tripé macroeconômico, com sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal. Trata-se do alicerce da política econômica de 1999 até 2008, alinhado à ortodoxia e às melhoras práticas em nível global.

A coisa muda completamente a partir daí. Em resposta à crise financeira de 2008, o Governo brasileiro adota a chamada “nova matriz econômica”, heterodoxa e desalinhada ao tripé anterior.

A nova política econômica é caracterizada por perseguição de uma taxa de juro baixa, busca de uma taxa de câmbio competitiva e aumento dos gastos públicos. Ou seja, ferimos por completo a tríade anterior.

Ao reduzir de forma acelerada o juro, basicamente abandonamos a rigidez no sistema de metas de inflação. A variação do IPCA – índice oficial de inflação – bateu 6,52% nos 12 meses encerrados em junho. Ou seja, superamos o teto da meta, cujo centro é 4,50% ao ano, com dois pontos percentuais de banda, para cima ou para baixo. A inflação está de volta – e deve subir ainda mais.

E sem querer usar o instrumento da taxa de juro para combater a inflação, o Banco Central passou a usar o câmbio para o controle de preços. Amputamos a segunda perna do tripé: o câmbio perde seu caráter estritamente flutuante a partir da enormidade das intervenções do BC.

E tornamo-nos paraplégicos quando da perda da terceira perna. O elevado gasto do Governo simplesmente destruiu a austeridade fiscal. As metas de superávit primário têm sido sistematicamente descumpridas - obs.: o serão novamente em 2014 – e o Governo central apresentou em maio o pior resultado da história para suas contas.

Assim, se, metaforicamente, nasce um novo País em 1994, consolidado em 1999 com o tripé macroeconômico, exatos 20 anos depois esse Brasil morre. O crescimento econômico do Governo Dilma é o menor desde a Era Collor e a inflação foge do controle – já estaria beirando os 10% ao ano não fosse pelo controle de preços de gasolina e energia.

Em resumo, estamos prestes a voltar a condições anteriores a 1994.

Seria o Fim do Brasil?

As consequências já começam a ser sentidas e há muito mais por vir. Você precisa estar preparado para a piora das condições econômicas e financeiras, sob o risco de ter seu patrimônio ferido.

O endereço www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil traz todos os argumentos dessa tese e mostra exatamente os passos para proteger sua poupança e até mesmo crescer seu patrimônio nesse quadro.

Se você tem alguma preocupação sobre o futuro da economia brasileira ou sobre sua situação financeira, o material é obrigatório.

O endereço acima dá acesso a um conteúdo polêmico e revelador, totalmente gratuito. Leia e decida você mesmo.

Alerta: recomenda-se discrição na leitura.”

Fonte: Exame, 17/07/2014. Para acesso ao vídeo O Fim do Brasil, clicar aqui.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rompendo a camisa de força dos gêneros: ‘homens, libertem-se’

Homens sempre usaram saias através da história
Essa história de hoje qualquer tipo de atividade social, cultural, política ter que vir com apoio governamental é realmente muito difícil de encarar.

Há duas, três décadas atrás, se faria a mesma coisa exclusivamente pela via voluntária, comunitária. Falar em liberdade de qualquer tipo com respaldo estatal sempre será meio contraditório, para dizer o mínimo, sobretudo considerando que o estatismo faz parte dessa mesma mentalidade patriarcal e autoritária que o movimento pela libertação dos homens diz combater.

Apesar desse porém, a ideia em si é boa. Vai ao encontro do que penso sobre a necessidade de acabar com a educação diferenciada que massacra a individualidade das pessoas, forçando meninas e meninos a se encaixarem  num modelito de mulher (hétero + feminino) ou  de homem (hétero + masculino) que não raro está em desacordo com a personalidade de cada criança. Esses modelitos mutilam sobretudo as potencialidades das mulheres, mas os homens também perdem na história. São criados para serem toscos, brutos, violentos, egoístas, parasitas. Felizmente, eles também estão se cansando dessa fórmula funesta e procurando outras maneiras de ser.

Particularmente, não acho que seja o caso de trocar de papéis, antes que alguém se confunda. O que nossa sociedade convencionou chamar de masculino e feminino conforma apenas características humanas que foram arbitrariamente separadas entre os sexos. Por exemplo, o "masculino" detém boa parte das qualidades humanas responsáveis por formar gente autônoma, independente, resiliente (capaz de absorver impactos sem se quebrar). São qualidades a ser cultivadas por ambos os sexos. Do mesmo modo, sensibilidade e delicadeza (que não são sinônimo de frouxidão) se configuram igualmente como qualidades a ser incorporadas por ambos os sexos. Um mundo com menos guerras e violência generalizada pode ser um dos bons resultados do fim dessa departamentação forçada. Outro bom resultado será sem dúvida a existência de um mundo onde cada pessoa possa ter a liberdade de definir como quer ser de acordo com sua individualidade e não como a sociedade exige que seja.

Seguem artigo do Globo sobre a libertação e dois vídeos do site da campanha (ver fontes ao final).

Ação ‘Homens, libertem-se’ lança manifesto pelo direito de brochar, falir e chorar
Movimento apoiado por artistas que pede fim do machismo tem autorização para captar R$ 400 mil via Lei Rouanet

RIO - Posso brochar. Posso falir. Posso ser frágil. Posso ser sensível. Posso ser cabeleireiro, decorador, artista e não gostar de futebol. Posso admirar uma mulher que eu ache bela com respeito. São esses e muitos outros os preceitos do movimento “Homens, libertem-se”, que estimula o macho (heterossexual) a romper estereótipos em que vivem aprisionados. O músico Paulinho Moska, os cartunistas Laerte e Miguel Paiva, os atores Lúcio Mauro Filho, Marcos Breda e Álamo Facó, o escritor Nelson Motta e a historiadora Mary Del Priore apoiam a ação.

A iniciativa é uma parceria entre o coletivo mo[vi]mento, de Rio e Minas, e o grupo teatral The Living Theatre, de Nova York. O projeto teve autorização de captação, por meio da Lei Rouanet, de até R$ 400 mil para intervenções artísticas que provoquem reflexão sobre a opressão masculina. Nos eventos, a cargo de grupos de teatro de vários estados, serão distribuídas as saias-cangas símbolo do movimento. Elas poderão ser trocadas por calças, que serão doadas a instituições de caridade.

‘Eles se impõem prisões’

A ideia para a ação, que começa a ganhar corpo pouco antes da comemoração do Dia Nacional do Homem (15 de julho), veio à cabeça da atriz Maíra Lana quando ela viu um homem usando saia em sua cidade, Ouro Preto.
Os homens ficaram desconcertados, e eu achei tão engraçado. Era só uma peça de roupa, mas revelava muito sobre as prisões que eles se impõem — lembra. — Faz 200 anos que as mulheres fizeram a primeira passeata pelo direito de usar calças. Então é um absurdo que meninos sejam punidos na escola por expressar sua subjetividade.
Maíra se refere a um estudante do tradicional Colégio Bandeirantes, de São Paulo, que, em junho de 2013, foi impedido de assistir a aulas usando saia, gerando protestos e angariando simpatias dos colegas, que fizeram “saiaços” em apoio.

A ideia de que “homem não chora” também foi fortemente confrontada, quando, após a derrota da seleção na Copa, alguns jogadores de futebol, como o novo ídolo David Luiz, desabaram em lágrimas.
É importante esses ídolos mostrarem quem são, sem filtros, extravasando o que sentem. Isso contribui para que outros homens se sintam confortáveis para expor emoções e angústias — comenta Maíra.
Uma das possíveis críticas ao manifesto do “Homens, libertem-se” é não mencionar a opressão sofrida pelos homossexuais. Segundo a criadora da ação, isso acontece porque “todos os homens estão incluídos no manifesto, sejam heterossexuais ou gays.”
Mas o nosso maior alvo é o homem hétero — admite. — Queremos que ele reveja seu conceito de masculinidade e identidade, como os homossexuais e as mulheres já fazem há décadas.
Em seu livro “Homem ainda não existe”, a psicóloga Christina Montenegro afirma que o grupo masculino é o único que não se organizou para discutir gênero.
É um absurdo que o comportamento dos homens ainda seja limitado. A opressão gera a violência com o outro e também consigo. Não é à toa que todas as estatística mostram que os homens são os que mais adoecem, os que mais se suicidam e conformam a maior parte da população presidiária e manicomial... Eles têm questões internas não resolvidas — afirma Christina.
As mulheres também ganham

O cantor e compositor Paulinho Moska, apoiador da ação, conta que se sentia oprimido pelo ideal de masculinidade na adolescência:
Eu era magrelo, usava pulseirinhas hippie e me identificava com Caetano, Gil e Bowie, que eram andróginos. Passei a ser chamado de bicha e viado de forma agressiva. Sofri até me ver livre da representação masculina clássica.
Nelson Motta ressalta que a reflexão pode causar um benefício não só para eles, mas também para elas, que vivem viveriam melhor num mundo com homens livres e menos violentos:
Participo do movimento porque amo as mulheres. Tenho três filhas e duas netas, que merecem amor, respeito e homens sensíveis e educados.


Fonte:
O Globo, por Marina Cohen,14/07/2014; site Porque Homens Libertem-se

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Fusionismo não: liberais e conservadores, cada um na sua!


Reproduzo abaixo texto publicado originalmente no site do Instituto Liberal por seu diretor, João Luiz Mauad, sobre a sempre polêmica união de liberais e conservadores contra o inimigo comum: o petismo ou a esquerda em geral. A essa união se dá o nome de fusionismo, como bem explica o autor. 

Particularmente, vejo essa união como uma parceria caracu, onde os liberais entram com a teoria econômica e de governo e os conservadores entram com a tradição (pra que serve mesmo isso?) e a péssima fama que merecidamente possuem. Não há vantagem nenhuma para os liberais nessa união. Pelo contrário, ela é marcada pela incoerência, tendo em vista que ninguém pode falar em defesa da liberdade em geral ao lado de notórios liberticidas como os conservadores. 

E as diferenças são mais do que as relativas à interferência do Estado no âmbito dos negócios e na vida dos indivíduos, como diz o autor. Para mim, a diferença fudamental é de espírito: o liberalismo é filho do Iluminismo, da idade da razão, da crença na capacidade humana de se superar, superar as limitações do meio-ambiente e evoluir sempre. O conservadorismo é o oposto. Acha que o ser humano é uma porcaria, imperfeito, que precisa de ajuda divina ou muita repressão para não sair fazendo bobagens.

Pra mim, conservadorismo de fato não passa de verborreia para disfarçar a visão de mundo dos frouxos de espírito. Dos frouxos, dos mesquinhos, dos tacanhos, dos sexualmente mal resolvidos, dos obscurantistas, dos pessimistas, dos imobilistas. São todos tropofóbicos (tem pavor de mudanças de qualquer tipo). Se borram tão facilmente que só aceitam mudanças (a cada século mais ou menos), se elas tiveram algo de permanência (sic). São contranatura portanto, pois contra a mais universal das leis universais que é a da perpétua mudança. Tudo muda inevitavelmente, queiram ou não os conservadores de todo o tipo.

Daí que concordo com o autor quando diz:
Para o sucesso da causa liberal, é essencial que saiamos com urgência da sombra dos conservadores. Precisamos acabar de uma vez por todas com essa “simbiose” e emergir como uma marca totalmente independente, equidistante de conservadores e progressistas, como queria Hayek, e não como um sub-produto do conservadorismo. Precisamos, acima de tudo, defender a liberdade sem ressalvas, deixando claro, sempre que necessário, que as nossas diferenças, muitas vezes são profundas e inconciliáveis.
Infelizmente, parece que somos minoria, eu e o autor. Os conservadores se comportam nos meios liberais como os petistas e socialistas em relação aos movimentos sociais: sempre cooptando e aparelhando. E da mesma forma que os movimentos sociais perderam a legitimidade na fusão com a velha esquerda, assim ocorre na parceria caracu entre liberais e conservadores. Quem perde são as ideias liberais. Pros conservadores, é um prato cheio.

Por que digo não ao fusionismo

Peço licença para meter a minha colher nesse debate entre Filipe Altamir e Filipe Rangel Celeti, sobre o fusionismo.

Resumidamente, fusionismo é uma corrente política nascida nos Estados Unidos que pretende unir liberais (lá chamados de libertários) e conservadores, com o intuito de enfrentar o inimigo comum de ambos: o esquerdismo (os liberais de lá). Politicamente, esta fusão deveria ficar sob o guarda-chuvas do Partido Republicano. Como este partido é majoritariamente conservador, não há como escapar da conclusão de que se trata de um acordo desigual, com os conservadores no controle, enquanto aos libertários sobra a alternativa de não atrapalhar.

No Brasil, embora o fusionismo seja algo bastante novo, de uns tempos para cá têm sido cada vez mais frequentes certos posicionamentos ditos “pragmáticos” que pedem a união de conservadores e liberais a fim de derrotar o inimigo comum: o petismo. Infelizmente, sempre que vejo conservadores defendendo tal arranjo, o corolário obrigatório é que os liberais abram mão, pelo menos temporariamente, de algumas de suas agendas.

Assim, em nome desse “algo maior”, deveríamos deixar de lado questões de direitos civis importantes, como a liberação das drogas, o casamento gay, a prostituição, a liberdade de imigração, a eutanásia, as pesquisas com células tronco, etc., e focar em questões de cunho exclusivamente econômico e político, onde haveria convergência de princípios e um inimigo comum.

O maior problema para a concretização dessa “união” não são as diferenças filosóficas, de valores, como alguns insistem em fazer crer. Como já expliquei anteriormente, nada impede que um verdadeiro liberal preserve valores conservadores, como tradição, prudência, família, etc. A diferença importante e, a meu juízo, inconciliável está na esfera política, principalmente em relação às visões, absolutamente incompatíveis, das duas correntes sobre a intrusão do Estado na vida dos indivíduos.

Em termos simples, como bem resumiu James Eyer, a diferença essencial entre o liberalismo e as demais filosofias políticas envolve especificamente a quantidade de autoridade que o governo deve ter sobre os assuntos privados. Grosso modo, os esquerdistas querem que o governo promova o bem, ou pelo menos aquilo que eles consideram bom, incluindo, entre outras políticas, cuidar da saúde e educação, promover ações afirmativas ou distribuir a renda de forma mais equânime. Para isso, esperam que o governo taxe pesadamente as empresas e os cidadãos de maior renda, além de regular os negócios e o comportamento das pessoas, na medida necessária para a promoção da indefectível “justiça social”.

Já os conservadores querem que o governo evite o mal, a degeneração dos valores e dos costumes, enfim, o comportamento imoral, ainda que este comportamento não traga nenhum dano ou perigo para terceiros e afete exclusivamente os próprios agentes. Embora os conservadores gostem de dizer que preferem um governo limitado, eles geralmente não resistem à implantação de programas governamentais e leis positivas que promovam a sua agenda moral.

Assim, tanto esquerdistas quanto conservadores acreditam, cada um a seu modo, ser missão dos governos tornar o mundo melhor, fornecer uma liderança moral e, last but not least, proteger as pessoas de si mesmas, seja em relação a sua saúde ou sua moralidade. E, concorde-se ou não com esses objetivos, todo cidadão será forçado a pagar pela sua implementação, seja com seu dinheiro ou com a sua liberdade. 

Os liberais, diferentemente das duas outras filosofias políticas anteriormente citadas, acreditam que a caridade é voluntária, a moral é pessoal (no sentido de que não deve ser legislada) e só o dano a terceiros deve ser considerado ilegal. Para os liberais, portanto, o auto-governo é um direito inalienável de cada indivíduo.

Para um conservador, por outro lado, a sociedade (a cidade, a comunidade ou seja lá que nome queiram dar ao coletivo), em grande medida, deve prevalecer sobre o indivíduo, a fim de manter o que chamam de “ordem natural”. Ocorre que nem sempre os desejos e objetivos do indivíduo estão em conformidade com os da comunidade. Permitir, por exemplo, o consumo de drogas, o casamento gay ou a prostituição significa quebrar certas tradições, razão pela qual a maioria dos conservadores denunciam essas bandeiras liberais como francamente imorais e defendem que os governos proíbam tais atividades. Olhando por este prisma, como enfatizou Jeremy Kolassa em artigo sobre o tema, não há como negar que conservadores e progressistas são dois lados da mesma moeda intervencionista. 

Mesmo na esfera econômica, o liberalismo e o conservadorismo diferem. Enquanto os liberais são pró-mercado, muitos conservadores são pró-negócios – vide as políticas de Bush, em 2008, para salvar empresas em dificuldade, como GM, Chrysler e outras. Se os liberais são contrários a quaisquer tipos de subsídios e privilégios a empresas estabelecidas, alguns conservadores adotam a política inversa, defendendo subsídios, proteções tarifárias e benefícios que aumentem a competitividade das empresas tradicionais estabelecidas e evitem a todo custo o impulso da destruição criadora. Afinal, não há nada mais conservador do que a manutenção do status quo.

A verdade é que a confusão entre conservadorismo e liberalismo (e ela existe de fato, gostemos disso ou não) costuma dificultar muito o discurso liberal, pois muitas vezes somos tachados de hipócritas pelas pessoas desinformadas, que acreditam que políticas e bandeiras conservadoras e liberais são sempre as mesmas, quando efetivamente quase nunca o são. 

Isso não quer dizer, evidentemente, que liberais e conservadores devam brigar permanentemente, que não possam aliar-se sobre determinadas questões. Se há uma agenda positiva em que conservadores e liberais concordam, devemos trabalhar juntos nela, por que não? Porém, para o sucesso da causa liberal, é essencial que saiamos com urgência da sombra dos conservadores. Precisamos acabar de uma vez por todas com essa “simbiose” e emergir como uma marca totalmente independente, equidistante de conservadores e progressistas, como queria Hayek, e não como um sub-produto do conservadorismo. Precisamos, acima de tudo, defender a liberdade sem ressalvas, deixando claro, sempre que necessário, as nossas diferenças, muitas vezes são profundas e inconciliáveis.

Por tudo isso, digo NÃO ao fusionismo, seja ele formal ou informal, ostensivo ou disfarçado.

Fonte: Instituto Liberal, João Luiz Mauad, 15/07/2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

24% de aumento na conta de luz é mais um dos resultados das estrepolias de Dilma na economia


Com mais um socorro a elétricas, conta deve subir 24% em 2015

Novo empréstimo será de R$ 6,5 bi. Deste total, BNDES entra com R$ 3 bi
BRASÍLIA e RIO - O governo federal fechou a concessão de mais um socorro para as distribuidoras de energia, no valor de R$ 6,5 bilhões. O acordo, fechado na semana passada com um consórcio de dez grandes bancos, prevê que o BNDES entrará com R$ 3 bilhões e os demais bancos com R$ 3,5 bilhões, seguindo os moldes do empréstimo anterior, de R$ 11,2 bilhões, realizado em abril por um consórcio de bancos públicos e privados. Segundo fontes do governo, esta será a última operação de ajuda ao setor elétrico em 2014 e 2015.

As condições de financiamento ainda estão sendo fechadas, mas já é certo que o BNDES emprestará os recursos nas mesmas condições dos demais bancos e usará recursos próprios, sem necessidade de aportes do Tesouro. O novo empréstimo deve ser anunciado pelo governo até sexta-feira e liberado às distribuidoras até o fim do mês. Procurado, o BNDES não comentou o assunto.

O novo socorro pesará ainda mais no bolso dos consumidores. Segundo cálculos da Safira Energia, considerando o novo empréstimo e o socorro anterior, de R$ 11,2 bilhões, além do repasse de custos das térmicas de 2013, que foi adiado para 2015, a conta de luz deve ficar de 24% a 25% mais cara em 2015 e também em 2016. Somente este novo empréstimo tem impacto de cerca de 3% na conta de luz.

O governo recorreu ao BNDES diante da impossibilidade de novos aportes por parte do Tesouro e da resistência dos bancos privados em bancar integralmente a necessidade de financiamento das distribuidoras.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prorrogou para o dia 31 deste mês o vencimento de um débito de R$ 1,3 bilhão que as distribuidoras têm junto à CCEE exatamente para dar tempo de negociar uma saída financeira para o setor. A alternativa de mais um aporte direto do Tesouro, na avaliação da equipe econômica, não seria viável em um momento de aperto nas contas públicas.

‘É A SOLUÇÃO MAIS VIÁVEL’

Para Fábio Cubeiros, gerente de Regulação da Safira Energia, o governo deve confirmar o novo empréstimo às distribuidoras.

— Tudo indica que deve sair esse empréstimo porque é a solução mais viável e porque na época do primeiro já se previa essa possibilidade. Eles devem estar acertando os detalhes — destacou Cubeiros.

Segundo Cubeiros, apesar de as tarifas já registrarem reajuste elevados neste ano, há uma boa parte de custos represados — em razão do ano eleitoral e do possível impacto na inflação — que só será repassada para as tarifas nos próximos dois anos.

A especialista em energia e ex-diretora do BNDES Elena Landau diz que as empresas estão apenas aproveitando a oportunidade que lhes foi dada.

— Está tudo dentro do previsto na legislação. É uma combinação da queda na demanda e no ritmo de atividade com a elevação do preço de energia. Tentativa de controlar o mercado artificialmente nunca dá certo — destacou Elena.

O empréstimo de abril, de R$ 11,2 bilhões, foi bancado por um grupo de dez bancos com taxa de Certificado de Depósito Interbancário (CDI) mais juro de 1,9% ao ano e prazo de quitação até outubro de 2017, mas sem data clara de carência para início dos pagamentos.

A necessidade de recursos para o setor elétrico vem, principalmente, da renovação das concessões de energia em 2012 e foi agravada pelas condições do mercado, em razão das chuvas escassas e da redução do nível dos reservatórios. Estes fatores levaram a uma disparada do preço da energia elétrica no mercado de curto prazo neste ano.

Fonte: O Globo, por Danilo Fariello / Ramona Ordoñez / Martha Beck, 22/07/2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ao votar nulo, você beneficia quem está na frente nas intenções de voto


Voto nulo é um clássico libertário. Faça chuva ou faça sol, a proposta é sempre votar nulo. E, como diz o Bolívar Lamounier, no texto abaixo, o voto nulo é tão válido como qualquer outro. A cidadã, o cidadão votam como querem. Aliás, o certo é que ninguém seja obrigado a votar, como ainda acontece nessa nossa democracia meia-sola.

Entretanto, apesar de legítimo, não votar ou votar nulo ou em branco também tem consequências políticas. Não procede a ideia de "não participação no processo político", ao se abster de votar ou ao anular o voto ou ao votar em branco. Não se sustenta a ideia do "não sujar as mãos" com a política viciada, do "nada vai mudar mesmo", ao desconsiderar a política institucional. Goste-se ou não dela, ela está aí determinando os rumos de nossas vidas, mudando sim as coisas pra melhor ou pior.

Lavar as mãos também vai ajudar a definir os vencedores e perdedores de um pleito. Omissão também interfere na política como, aliás, em quase tudo. Não votar, votar em branco ou votar nulo tendem a beneficiar quem está com maior possibilidade de ganhar a eleição. No caso do pleito que se avizinha, o beneficiário será o PT. Portanto, a despeito do desalentador quadro da política brasileira, não vote nulo. Segue texto do cientista político Bolívar Lamounier sobre o assunto bem como dois vídeos explicando o tema mais detalhadamente.

VOTO NULO: COMO, QUANDO, PARA QUÊ?

Entendamo-nos, primeiro, quanto aos conceitos, uma vez que a pergunta comporta pelo menos duas interpretações bem distintas. No sentido legal e moral, a resposta só pode ser positiva; o voto nulo é tão válido como qualquer outro. O cidadão vota como quer; este é um princípio "sine qua non" da democracia. No regime democrático, por definição, inexistem instâncias com legitimidade para forçá-lo a escolher desta ou daquela forma.

A questão que ora nos ocupa é portanto de ordem prática: qual é, em comparação com outras estratégias de protesto, a eficácia do voto nulo? Em que medida e sob que circunstâncias ele produz realmente o efeito desejado? É claro que em situações falsamente democráticas ou marcadamente ditatoriais o voto de protesto pode valer mais que a escolha substantiva.

No caso brasileiro, o melhor momento para examinarmos os prós e contras do voto nulo são as eleições legislativas de 1970, colhidas em cheio pela chegada dos "anos de chumbo". Naquelas condições, não surpreende que o voto nulo (a soma dos votos em branco e nulos, melhor dizendo) atingisse um índice inusitadamente alto.

Que lição podemos tirar desses números? É preciso admitir que, naquele ano, o voto de protesto produziu um efeito perceptível; sem ela, o MDB teria feito bancadas um pouco maiores, mas ainda pequenas e submetidas de qualquer forma à espada de Dâmocles do AI-5. Há, no entanto, um argumento ponderável no sentido oposto. O "recado" do protesto foi dado, mas seu efeito político foi duvidoso, para dizer o mínimo. Em poucas semanas, ninguém mais se lembrava dele. Alguns deputados a mais em Brasília poderiam ter tido uma vida útil mais longa como oposicionistas.

Que dizer da situação atual? Qual pode ser, nas eleições deste ano, a serventia do voto nulo? Afastemos, desde logo, a suposição de que um alto percentual de votos nulos acarreta a nulidade da própria eleição. Trata-se de uma crença totalmente desprovida de fundamento; a Constituição vigente nada estipula nesse sentido.

A questão a considerar é, pois, o objetivo dos proponentes do voto nulo. Protestar contra o quê, exatamente? Uma razão amiúde invocada para o protesto é o desgaste das instituições, nos três ramos do governo. O desgaste de fato existe e se deve a uma infinidade de razões.

O Congresso atual alterna momentos de omissão, de anarquia e de subserviência ao Executivo, desservindo o interesse público nos três casos. Episódios de corrupção multiplicam-se nos três Poderes, numa sucessão interminável. É um estado de coisas lastimável, mas a contribuição do voto nulo à correção dele é rigorosamente zero. Neste caso, nada há na anulação que se possa chamar de público –ou seja, de político, no melhor sentido da palavra. Nas condições do momento, ele apenas exprime um mal-estar subjetivo, difuso, de caráter individual. Qualquer que seja seu peso nos números finais da eleição, ele será apenas uma soma desses mal-estares e da apatia que deles decorre.

Um protesto contra as políticas do governo atual? Realmente, na política econômica, há equívocos de toda ordem; na educação, é até difícil dizer se há alguma política; na área externa, uma descabida simpatia por ditaduras de vários matizes; sem esquecer a incompetência e os abundantes desmandos que se têm verificado em certas empresas públicas, a começar pela Petrobras. Dá-se, no entanto, que tais políticas derivam fielmente da coalizão partidária no poder; motivos para combatê-las não faltam, mas o voto nulo não as combate. Bem ao contrário, ele contribui para a permanência delas, ao facilitar a pretendida reeleição de Dilma Rousseff.

BOLÍVAR LAMOUNIER, 71, é cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultoria e autor de "Intelectuais e ideologias no século 20"

Fonte: Folha de São Paulo, Tendências e Debates, 12/07/2014

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites