8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Comentarista do Jornal da Cultura pede que Lula devolva dinheiro público que gastou com amante

Marco Antonio Villa
Até agora não tenho senões ao historiador Marco Antonio Villa, hoje presença constante na mídia virtual e televisiva. Em geral ponderado em suas análises, bem fundamentadas, vem se constituindo numa voz de oposição aos descalabros do petismo e ao mar de lama em que a quadrilha submergiu o país. 

No vídeo abaixo, do Jornal da Cultura, Villa fala até um pouco exaltado sobre as últimas falcatruas envolvendo Lula e sua amante Rosemary Noronha, como quem tira o sapo da garganta. O tom é de desabafo, ecoando o sentimento de muitos. Sua fala se inicia aos 04:20.

Villa lançou recentemente o livro Men$alão, o maior caso de corrupção da história política brasileira que ainda não li mas já me recomendaram. Confira outros de seus textos no Blog do Villa.
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mulheres e desigualdades

Eliana Cardoso fala sobre as persistentes
 desigualdades entre mulheres e homens
A igualdade entre mulheres e homens permanece distante. Tudo já começa mal a partir da educação diferenciada que treina meninas e meninos de forma diferente em claro prejuízo do sexo feminino. E continua até a idade adulta com diferenças salariais que privilegiam os homens em detrimento das mulheres, embora hoje a escolaridade das mulheres, no mundo ocidental, seja maior que a dos colegas e sua competência igual. Isso sem falar na permanência da sobrecarga do trabalho doméstico nas costas das mulheres, pois os mancebos, no geral, continuam se recusando a arcar com a parte que lhes cabe na manutenção e limpeza do lugar onde vivem.

Prevalece ainda, ao redor do mundo, verdadeiras barbáries cometidas contra as mulheres sob o olhar complacente das autoridades internacionais: estupros, espancamentos, mutilações variadas e a hedionda mutilação genital. No artigo abaixo, por exemplo, a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas, Eliana Cardoso, faz uma comparação entre a situação das mulheres brasileiras e egípcias e nos traz a horrenda estatística de que 91% das egípcias foram vítimas de mutilação genital. É estarrecedor.

O artigo no geral é bem interessante e vale a leitura. Faço um porém somente quanto à abordagem da professora ao citar as leitoras de Cinquenta Tons de Cinza. Com o grande sucesso do livro (que ainda não me animei a ler), muita gente careta começou a dizer que as mulheres querem mesmo é um homem dominador e que gostam de apanhar. 

Ah, me poupem, né, minha gente!? Negadinha não sabe diferenciar fantasia erótica da realidade? Mulheres e homens que brincam de submissos em relações sadomasoquistas estão em busca de prazer, através da dor ou por outras vias consideradas exóticas, mas seu objetivo é o gozo. Na vida real, aliás, muitos dos ditos "submissos" ocupam postos de mando em suas respectivas profissões, são independentes em todos os sentidos e nem um pouco chegados a apanhar fora de cena.

Mulheres e desigualdades

Por ELIANA CARDOSO

Acabei de arrumar as malas para uma conferência em Oxford sobre as desigualdades entre homens e mulheres no contexto dos países em desenvolvimento. Sobre esse assunto, a mesma camisa não veste dois emergentes. Basta comparar o Brasil e o Egito. Tendo visto de perto como vivem as mulheres naquele país - pois me casei com um egípcio em 1999 e morei no Cairo até 2002 -, poderia contar histórias para ilustrar as estatísticas do Banco Mundial (The World Bank Gender Statistics) e as do relatório The Global Gender Gap Report (publicado pelo World Economic Forum). Mas na comparação entre os dois países, a força dos números me basta.

Aqui a inserção da mulher no mercado de trabalho contribui para o crescimento econômico e a melhoria dos indicadores de bem-estar. Mas a mortalidade feminina antes dos 5 anos de idade (que é de 4,5 em mil meninas nos países ricos, na média) continua alta no Brasil: 14 em mil (e no Egito, 20 em mil).

As brasileiras desconhecem os sofrimentos da mutilação genital imposta a 91% das egípcias entre 15 e 49 anos de idade. E enquanto a lei brasileira dá às mulheres iguais direitos à guarda dos filhos durante o casamento e após o divórcio, esses direitos no Egito pertencem ao homem. Lá, 39% das mulheres acreditam que o marido tenha o direito de bater nas mulheres em determinadas circunstâncias. Não tenho ideia desse número aqui, na nossa terra, mas suspeito que, se ainda existem brasileiras favoráveis a tapas e chicotes, elas o sejam não por imposição religiosa, mas por desvio de comportamento, raro até mesmo entre as leitoras de Cinquenta Tons de Cinza.

A educação faz toda a diferença: 90% das brasileiras adultas sabem ler, mas apenas 58% das egípcias. As mulheres representam 42% da nossa força de trabalho (comparável à média de 44% nos países mais ricos) e apenas 24% no Egito. A razão entre mulheres e homens que ocupam altos cargos entre oficiais, advogados e gerentes (48% em média nos países mais ricos) é de 56% no Brasil e 12% no Egito.

Aonde quero chegar? Ao fato de que a situação da mulher no Brasil se parece mais com a que existe nos países ricos do que com a de outros emergentes. Aqui, como nos países ricos, a disparidade salarial persiste. E aqui, como lá, as mulheres se queixam da dupla jornada. Os grupos mais abastados contam com a ajuda de empregadas. Entre os pobres, entretanto, elas carregam sozinhas a responsabilidade das funções domésticas.

Mas hoje o foco de nossas preocupações é o Egito. As revoluções que derrubaram velhas ditaduras também promoveram os partidos islâmicos. A Irmandade Muçulmana e os salafistas conquistaram mais de 70% dos assentos no Parlamento. Alguns líderes bloqueiam abertamente a participação da mulher na vida pública e muitas candidatas, nos materiais de campanha, substituíram a foto do próprio rosto por imagens de flores.

O presidente Mohamed Morsi, em meio a protestos contra o governo e deserções de seu próprio Gabinete, orquestrou o voto de aprovação da nova Constituição - que adiciona à Constituição de 1971 artigos que atribuem a uma instituição religiosa a responsabilidade formal pela interpretação da Sharia (principal fonte de legislação). As questões modernizadoras referentes aos direitos das mulheres ficaram de lado.

Apesar dos desafios, há razões para acreditar que as mulheres acabarão vencendo. Quando? Ainda vai demorar, mas considere: apesar de somente uma em cada três mulheres participar da economia formal no mundo árabe, sua participação na força de trabalho está aumentando e muitas famílias agora contam com duas fontes de renda. O Egito depende das receitas do turismo - 11% do produto interno bruto (PIB) em 2011 - e peleja por um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos. Atrair investimentos diretos e turistas é chave para o crescimento econômico. Questionar os direitos das mulheres afugenta o apoio internacional.

Por outro lado, a nova Constituição mostra maior preocupação em estabelecer as bases para um califado islâmico do que em promover os interesses do Egito. A ascendência política de grupos radicais pode restringir ainda mais a liberdade feminina, como aconteceu no Irã com o triunfo da teocracia islâmica. Seria péssimo. Os direitos da mulher fazem parte de demandas mais amplas para a mudança social e política. Servem de termômetro para o futuro da região. Assinalam o destino do conjunto mais amplo dos direitos das minorias e das liberdades de religião e expressão. O que está em jogo é nada mais, nada menos que a possibilidade de a democracia se tornar realidade no mundo árabe.

Razão para otimismo é que os movimentos recentes têm mobilizado as mulheres como nunca se via no mundo árabe. A nova geração exige assento à mesa do poder, invadindo as ruas e as redes sociais. Milhares de blogs de organizações femininas pedem mudanças. Tais pedidos nada garantem. Entretanto - seja na política ou na mídia, na educação ou na força de trabalho -, pouco a pouco, mas a passos cada vez mais rápidos, a realidade da vida diverge das normas que os fundamentalistas gostariam de impor à sociedade.

Hoje, as forças que dividiam secularismo e islamismo ocorrem dentro do próprio Islã. Os árabes moderados insistem em que o Islã é compatível com os direitos das mulheres e aceitam o papel público delas na sociedade. Embora ideias extremistas nunca desapareçam, é possível que a posição moderada se torne dominante nesta caminhada difícil para uma sociedade mais livre.

Mesmo nos países ricos se avança vagarosamente. Só em outubro de 2012 a Inglaterra mudou o sistema de progenitura, que permitia aos irmãos mais jovens herdar o trono antes de suas irmãs mais velhas. Mas... devagar vamos longe. Conheço bem a diferença entre as ideias e atitudes da minha época de menina em Minas Gerais e as deste século 21 em Sampa.

Fonte: Estadão, 09/01/2013, WWW.ELIANACARDOSO.COM

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Egalia: construindo a igualdade entre os sexos desde a creche

Crianças brincam na creche sueca Egalia
O que se convencionou chamar de masculino e feminino são características humanas arbitrariamente separadas entre homens e mulheres pela educação diferenciada. Crianças são adestradas a caber na forma, ou camisa de força, desses papéis sexuais, independente de suas características individuais de temperamento, caráter, propensões, habilidades. A função da educação diferenciada é conformar as crianças à seguinte fórmula: masculino + heterossexual = homem; feminino + heterossexual = mulher. O objetivo geral sempre foi o condicionamento “natural” da mulher à submissão, a dominância masculina e a restrição da sexualidade humana ao papel reprodutivo.

E os conservadores, religiosos ou não, sabem bem disso, basta ver sua histeria quanto à inserção da educação sexual nas escolas onde a homossexualidade possa ser tratada como natural. A homossexualidade é a prova de que a formulinha acima citada é fundamentalmente cultural e não natural como dizem. Se fosse natural, não ficariam tão preocupados com a possibilidade de “ensinarem homossexualismo” para seus filhos. Ao afirmarem que é possível “ensinar homossexualismo” para seus filhos, reconhecem que o “heterossexualismo” dos mesmos foi ensinado. Seu receio, portanto, é de que seu ensino para o “heterossexualismo” sofra a concorrência de outra perspectiva de educação. Naturalmente, isso na cabeça deles, porque o combate da homofobia nas escolas brasileiras visa apenas amenizar ao menos o bullying homofóbico para que os estudantes homossexuais possam se formar em paz.

Mas há outras experiências educacionais mundo a fora que podem deixar os conservadores mais ainda de cabelos em pé. São as experiências educacionais que visam educar as crianças sem papéis de gênero (gender free), de forma neutra. Em 20 de junho de 2011, em Estocolmo, na Suécia (bairro de Sodermalm) foi inaugurada uma creche pública, a Egalia, onde as crianças são educadas sem educação diferenciada, ou seja, de forma neutra quanto ao gênero. 

A creche para crianças na faixa de 1 a 6 anos é um dos exemplos mais radicais dos esforços suecos para garantir igualdade entre os sexos desde quase o berço. Lá, além das crianças brincarem com todo o tipo de brinquedo, sem a tradicional divisão de brinquedo de menina e de menino, até os pronomes de tratamento “ele” ou “ela” foram abolidos. As crianças chamam umas as outras simplesmente de “vän” (amigo ou amiga). 

Em outras situações, por exemplo, quando um(a) profissional (doutor/a, policial, electricista, etc.) está para visitar a creche a trabalho, anuncia-se sua chegada usando o neologismo “hen”, outro neutro. Segundo os funcionários da creche, isso dá às crianças a possibilidade de imaginar que pode aparecer um homem ou uma mulher, independente da profissão informada, o que lhes amplia a visão de mundo. Para a equipe da Egalia, o fundamental é que a creche possibilite que as crianças venham a ser o que desejarem em vez de preencherem as expectativas da sociedade que quer meninas boazinhas e bonitinhas e meninos durões e assertivos. E que lhes permita também encarar a sexualidade, em todas as suas variantes, como natural, a se acostumar igualmente com a ideia de casais homossexuais, com duas mães, dois pais. 

De fato, desconstruir os papéis de gênero, na Suécia, não é exclusividade da Egalia. Ocupa hoje papel central nos currículos nacionais para as pré-escolas, com base na visão de que, mesmo numa sociedade igualitária como a sueca, os garotos ainda são criados com vantagens injustas. A diferença é que, enquanto outras pré-escolas já não provocam polêmica, não falta gente para dizer que a pedagogia da Egalia é muito radical. 

Concordo em parte com essa colocação. Sou totalmente favorável à educação indiferenciada (livre de gênero) porque a tradicional só serve mesmo para mutilar o potencial das crianças ao forçá-las a se encaixar em papéis muitas vezes contrários à sua índole. As maiores prejudicadas com a educação tradicional são as meninas, em vários sentidos, mas os meninos também perdem muito com ela, entre outros fatores porque não desenvolvem a capacidade para a afetividade e a empatia. 

No entanto, não vejo sentido em se abolir os pronomes de tratamento “ele – ela”. Primeiro, porque as diferenças anatômicas e fisiológicas entre os sexos, por si só, justificam sua existência. Segundo, pelas dificuldades linguísticas que sua abolição cria, de difícil execução em muitas línguas (nas neolatinas, como a nossa, por exemplo). Terceiro, porque a sociedade ainda é majoritariamente assentada na divisão de gênero, e uma ruptura radical com ela pode levar ao oposto do que se pretende, ou seja, em vez de incluir com mais igualdade de oportunidades pode virar um fator de inadaptação. Devagar também se chega longe. 

No mais, espero morrer velhinha para poder ver a expansão das escolas livres de educação diferenciada, livres da camisa de força dos estereótipos de masculino e feminino que tanto mal nos têm feito. A educação diferenciada me lembra a deformação promovida pelo enfaixamento dos pés das chinesas em tempos idos sob a desculpa esfarrapada de que o aleijão resultante era feminino.

Fonte: site CBS News

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Hugo Chávez: crônica de uma morte anunciada

Mulher segura imagem de Chávez ao
rezar pelo presidente em igreja de Caracas
O site do diário espanhol ABC diz, em artigo intitulado Crónicas de una enfermedad anunciada por ABC, que desde 23 de janeiro de 2012 divulgara que o presidente da Venezuela Hugo Chávez teria cerca de doze meses de vida se continuasse se recusando a fazer o tratamento adequado do câncer que o acometia, deixando temporariamente as funções presidenciais.

Chávez ridicularizou a informação dizendo tratar-se de invenções de um certo diário espanhol. Entretanto, durante os meses das operações que o caudilho realizou em Cuba, em junho de 2011, o jornal teve acesso a informes elaborados por canais de inteligência a partir de diagnósticos dos médicos. Além do câncer na próstata, Chávez desenvolvera metástases no cólon, ossos e medula.

Apesar das negativas do chavismo sobre essas notícias, em fins de fevereiro de 2012, Chávez foi submetido a uma nova operação para retirada de um tumor na zona pélvica. Novamente passada a cirurgia, os chavistas negaram a continuidade dos problemas de saúde do comandante. Outra vez o ABC publicou, em junho, nova informação dando conta de que o rabdomiosarcoma do presidente permanecia alastrando-se por seus ossos. Informava também que, para suportar as dores e manter a atividade eleitoral da campanha presidencial de 2012, Chávez estava tomando fentanil, substância cem vezes mais potente do que a morfina, fora altas doses de esteroides. 

No dia 29 de novembro passado, o periódico igualmente informou a recidiva do câncer na mesma região onde o presidente já havia sido operado anteriormente, notícia desta vez confirmada pelo próprio Chávez, em sua última aparição pública antes da nova operação realizada em Cuba, no último dia 11 de dezembro.

Também só agora o governo chavista admitiu a severa infecção pulmonar que acometeu o caudilho, após a última intervenção cirúrgica, embora continue negando a metástase em seus ossos e medula bem como o recente achado de células cancerígenas na parede interna do abdômen e da bexiga.

Em outras palavras, Chávez está em estado terminal, há mais de 20 dias internado no hospital CIMEQ (Centro de Investigações Médico Cirúrgicas), em Havana, Cuba, mas seus partidários continuam se recusando a dar notícias oficiais sobre seu estado. O hospital citado se encontra sob segurança máxima para evitar o vazamento de informações. Estão ganhando tempo para elaborar forma de impedir as novas eleições presidenciais que constitucionalmente devem ser convocadas pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, em 30 dias contados da morte ou renúncia do atual mandatário.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

E no que deram as denúncias de fraudes na Loteria da Caixa?

Senador Álvaro Dias e a denúncia de lavagem de
dinheiro via loterias da Caixa
O texto e o vídeo são antigos, de 2011, mas andam circulando pelas redes sociais atualmente. Decidi divulgá-los também para que todos saibam que até em prêmio de loteria estão nos roubando.    Eu, por exemplo, não sabia que já havia provas formais de fraudes nos sorteios. Lavagem de dinheiro com a cumplicidade de funcionários da Caixa. Vejam a descrição do esquema e a fala de Álvaro Dias sobre o assunto. E a gente achando que só os sortudos é que ganham!!!

Destaque: Entre os ganhadores citados estão, por exemplo, um cidadão que ganhou 525 prêmios, no valor de R$3,8 milhões; outro ganhou 327 prêmios, no valor de R$1,6 milhão e um terceiro, vencedor de 206 prêmios, em sete modalidades de loteria, num valor superior a R$ 1,257 milhão. Outro caso que ilustra bem a “sorte” de determinadas pessoas é o de uma pessoa que ganhou 17 vezes, aproximadamente R$ 4 milhões, sendo vários prêmios em loterias diferentes, no mesmo dia. E a maioria das pessoas já estava envolvida em vários outros crimes, como estelionato, homicídio e crimes contra o sistema financeiro.

Líder do PSDB retoma providências para investigar fraudes em loterias da Caixa

Em pronunciamento no Plenário nesta terça-feira (11/10), o Líder do PSDB, Alvaro Dias, anunciou que retomará iniciativa que tomou no ano de 2007, de denunciar e tentar levar à frente investigações sobre a ocorrência de fraude no pagamento de prêmios de loterias da Caixa Econômica Federal. Neste sentido, o senador tucano protocolou na Mesa do Senado requerimento de informações encaminhado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre o andamento das investigações a respeito de lavagem de dinheiro e manipulação em concursos lotéricos.

No requerimento, o Líder do PSDB afirma que entre 2004 e 2007 solicitou, ao Ministério da Justiça e à Caixa Econômica Federal, informações sobre graves denúncias de fraude e de lavagem de dinheiro nas loterias federais, praticadas por quadrilhas que compravam ilegalmente os bilhetes premiados. Segundo Alvaro Dias, os dados do Conselho de Controle das Atividades de Atividades Financeiras – COAF confirmaram as denúncias, identificando mais de 75 pessoas envolvidas e movimentando o montante superior a R$ 32 milhões.

“Neste sentido, com o intuito de dar prosseguimento à prestação de contas para toda a sociedade, torna-se indispensável o encaminhamento do resultado dessas investigações e a informação sobre a responsabilização penal de todos os envolvidos”, afirma o senador tucano em seu requerimento, que faz duas solicitações ao ministro da Justiça:

- No requerimento de nº 1.293 de2004, solicitei ao Ministério da Justiça, por intermédio do Requerimento de informações nº 1.293/2004, dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, sobre a suspeita da ação de quadrilhas que fraudavam o recebimento dos prêmios de loteria da Caixa Econômica Federal, do período de 2002 a 2006. Requisito que sejam encaminhadas as conclusões administrativas sobre as investigações do COAF, no âmbito do Ministério da Justiça, referentes aos casos de fraude identificados no Requerimento nº 1.293/2004.

- Solicito que sejam encaminhadas informações sobre os inquéritos e possíveis ações judiciais apresentadas em função dos casos de fraude nas loterias da Caixa Econômica Federal.

Prerrogativas constitucionais

No seu pronunciamento, Alvaro Dias relatou que as denúncias que fez no ano de 2007 lhe renderam uma ação, promovida pelo Ministério Público Federal, por vazamento de informações sigilosas. O inquérito, autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Eros Graus, levou o senador a ser intimado e depor na Polícia Federal, não usando o senador, entretanto, sua prerrogativa parlamentar de dar o depoimento em seu próprio gabinete. Alvaro Dias lembrou que procurou pessoalmente a Polícia Federal, e lá assumiu que foi o responsável por divulgar as informações veiculadas à época na imprensa.

“Não poderia eu ficar calado, em silencio, ser cúmplice de crimes que chegavam ao meu conhecimento. É evidente que não me cabia colocar num baú as informações que recebia de que criminosos estariam lavando dinheiro na Caixa Econômica com prêmios nas loterias. A procuradora do Ministério Público Federal denunciou e sugeriu dois anos de prisão. Esse é o Brasil. Quem denuncia o crime pode ser preso, o criminoso, não. Artífices dos grandes crimes são sempre protegidos e preservados, e só se admite que se punam os coadjuvantes dos criminosos”, disse o senador.

O Líder do PSDB destacou que ao fazer as denúncias sobre as fraudes com loterias da Caixa, exerceu a prerrogativa assegurada pela Constituição, que em seu artigo 49 garante a ele que possa fazer denúncias em Plenário e ainda resguardar suas fontes. O senador disse ainda ter passado os últimos quatro anos sem tocar no assunto em respeito à Justiça, uma vez que o processo tramitava em segredo, e que só retomou agora o tema por conta da ação que corria contra ele ter prescrevido. Para o Líder do PSDB, não é possível que as autoridades públicas do país continuem ignorando casos tão graves como os relatados desde aquela época.

Para relembrar o caso

Como ocorre a fraude: de acordo com o senador, uma das formas pela qual pode ocorrer o processo da lavagem do dinheiro é a seguinte: o interessado na ação criminosa deposita o dinheiro na agência em que existe o esquema, ou é avisado por alguém da Caixa Econômica Federal sobre a presença de um vencedor, a fim de comprar-lhe o bilhete. O itinerário prosseguiria com o comparecimento do verdadeiro ganhador do prêmio à agência, para sacar o dinheiro. Com a conivência de alguém da agência da Caixa, o prêmio é pago com o dinheiro do interessado em lavar, que havia depositado anteriormente. Como o prêmio pode ser descontado até 90 dias após o sorteio, o agente da Caixa ou o interessado em lavar o dinheiro segura os bilhetes vencedores, até que atinja o valor de interesse do beneficiário da lavagem. Quando isso acontece, o bandido vai até a agência da Caixa e saca os bilhetes premiados, como se fosse o ganhador. Nesse momento, a operação se completa. A agência informa o ganhador do prêmio à central de loterias da Caixa, que evidentemente não é o verdadeiro ganhador. Existem casos suspeitos de que agentes da Caixa participem da operação, como o de determinada pessoa que descontou 107 prêmios em um mesmo dia, sendo que os prêmios apresentavam datas com diferença de até um mês e em sete modalidades de loteria.

Entre os ganhadores citados estão, por exemplo, um cidadão que ganhou 525 prêmios, no valor de R$3,8 milhões; outro ganhou 327 prêmios, no valor de R$1,6 milhão e um terceiro, vencedor de 206 prêmios, em sete modalidades de loteria, num valor superior a R$ 1,257 milhão. Outro caso que ilustra bem a “sorte” de determinadas pessoas é o de uma pessoa que ganhou 17 vezes, aproximadamente R$ 4 milhões, sendo vários prêmios em loterias diferentes, no mesmo dia. E a maioria das pessoas já estava envolvida em vários outros crimes, como estelionato, homicídio e crimes contra o sistema financeiro.

Projeto para evitar lavagem de dinheiro

Na época em que apresentou a denúncia, Alvaro Dias também protocolou no Senado Projeto de Lei para estabelecer instrumentos para evitar que as loterias da Caixa Econômica Federal sejam utilizadas para ações de lavagem de dinheiro. Pelo projeto, ao sacar o prêmio, o vencedor deve comprovar inicialmente a origem dos recursos de suas apostas e o gerente somente poderá pagar o prêmio após a comunicação prévia à Central de Loterias, bem como ao Coaf, ficando o saque bloqueado até informações dos referidos órgãos. O saque fica então condicionado à identificação completa do sacador e à verificação se o mesmo tem antecedentes criminais, com a comunicação à Polícia Civil de cada Estado onde se localiza a agência. As agências da Caixa deverão manter banco de dados sobre os sacadores de prêmios durante o ano. As regras só valem para sacadores de prêmios que registram mais de 10 premiações a serem resgatadas simultaneamente. A Caixa deverá verificar a reincidência de saques nas agências onde há suspeita de lavagem de dinheiro para apurar o fato mediante auditoria interna.

Eduardo Mota – Assessoria de Comunicação da Liderança do PSDB no Senado

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