8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sábado, 10 de janeiro de 2009

A ética do outing: Quando é válido assumir os outros!

Coming out of the closet é a expressão em inglês que, na tradução para o português, virou o célebre sair do armário. Sair do armário é quando uma pessoa decide assumir sua homossexualidade ou qualquer outra preferência sexual não-ortodoxa publicamente.

Outing, por sua vez, é a expressão também em inglês que designa o ato de tirar alguém do armário à revelia. Ação política controversa, pois implica expor a privacidade alheia, ela divide opiniões em sua aplicação, mas vem sendo utilizada cada vez mais em todo o mundo.

Para alguns ativistas LGBT, o outing deveria ser feito com todos os enrustidos, pois eles contribuem pouco ou nada para o avanço dos direitos humanos LGBT, embora se beneficiem imensamente dos ganhos conquistados pelos que tiveram a coragem de se assumir.

O argumento é consistente, mas esbarra no fato de que as pessoas dependem de empregos para sobreviver, e a homossexualidade, ou qualquer outra atividade sexual diferente da heteronormalidade tradicional, pode ainda ser motivo de demissão no trabalho, pode criar problemas na relação da pessoa com a família e mesmo em seu círculo pessoal de socialização.

Por essa razão, o outing indiscriminado, mesmo de celebridades, não costuma ser bem aceito. Prefere-se incentivar as pessoas a que se assumam espontaneamente no seu ritmo de autoaceitação para que o sair do armário se dê com o mínimo de problemas em relação ao entorno de cada um(a).

Entretanto, há uma variante do outing que tem ganho cada vez mais adeptos: o outing de pessoas que, embora pertencentes a minorias sexuais, atuam contra os direitos dessas minorias ou contra membros dessas minorias, por razões pessoais egoístas, como ascender na carreira, ou para prejudicar um desafeto.

Nesses casos, o outing é não só moralmente justificável como necessário. Ao não fazê-lo, principalmente contra gente influente, permite-se que essas pessoas continuem agindo em prejuízo da comunidade ou dos indivíduos aos quais atingem diretamente. O silêncio e a inação da comunidade em relação a essas pessoas torna a todos cúmplices de suas atitudes hipócritas e deploráveis. Pelo contrário, ao assumi-las, encoraja-se pelo menos algumas delas a pensar duas vezes antes de repetir as mesmas ações no futuro.

Concordo inteiramente com essa última perspectiva. Pior do que os que lutam contra nossos direitos, não sendo da comunidade, só mesmo os que, sendo do meio, atuam contra os interesses coletivos ou contra membros da comunidade por razões mesquinhas.

Obviamente, não se fala aqui de pessoas que são discretas simplesmente, reservadas, e não ficam levantando bandeira a toda hora e em todo o lugar. Essas pessoas agem naturalmente, não escondem que são LGBT mas também não ostentam, não podendo, portanto, ser classificadas como “no armário” muito menos como traidoras da causa.

Fala-se aqui de enrustidos que chegam ao ponto de difamar e perseguir outros membros da comunidade enquanto secretamente continuam mantendo relações não-heterotradicionais. Estes devem ser assumidos para expor sua hipocrisia e destruir sua má influência.

O outing às vezes é mal-visto porque utilizado também por pessoas sem princípios que invadem a privacidade alheia para faturar com matérias sensacionalistas ou para simplesmente prejudicar alguém. Principalmente celebridades costumam sofrer com a imprensa marrom que não mede esforços para divulgar detalhes picantes da vida íntima de artistas, políticos e gente influente em geral.

Nesse quesito, não só a homossexualidade de alguns mas também o fetichismo de outros são um prato cheio para os escândalos. Em março do ano passado, o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, foi vítima desse tipo de ação antiética. Um vídeo, em que ele aparece em cenas sadomasoquistas de temática nazi com algumas mulheres, foi divulgado na Internet, pelo tablóide inglês News of The World, e virou um escândalo total.

Mosley foi várias vezes ameaçado de demissão e afirmou que a revelação devastou sua família. De qualquer forma, conseguiu dar a volta por cima, assumiu suas preferências e até conseguiu processar o jornal por invasão de privacidade. Segundo o presidente da FIA, a divulgação das imagens foi obra de alguém da área do motor a fim de desestabilizá-lo.

Naturalmente, o outing político nada tem a ver com esse tipo de ação mercantilista e de má-fé. Ele é estritamente destinado aos hipócritas que, embora membros de uma comunidade estigmatizada, usam dos estigmas que a afetam para atacar indivíduos dessa mesma comunidade ou para, ao combater a luta pelos direitos dessa comunidade, usufruir de benesses pessoais. O outing dessas pessoas é, nessas circunstâncias, como afirma o ativista Peter Tatchell, da aguerrida organização inglesa OutRAge, a quem devo muitas das idéias desse artigo, uma potente técnica de autodefesa queer.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Maysa, Quando Fala o Coração

A minissérie Maysa, Quando Fala o Coração, está bombando no IBOPE. Não pude deixar de segui-la, como a maioria (É, de vez em quando, eu me afino com a maioria), e curtir a trajetória dessa mulher tão intensa, bela e sofrida.

Ainda não tenho uma avaliação bem clara da série, pois está em seus primeiros capítulos, mas venho apreciando a história. Alguns atores me parecem um pouco empostados, dando um ar de documentário à série mais do que de narrativa dramática simplesmente.

A Larissa Maciel, que interpreta Maysa, me pareceu também um pouco forçada a princípio, mas agora, já no quarto capítulo, acho que começou realmente a encarnar a diva. Só seus esforços para emular a cantora já valem um bom conceito. Deve ter ficado muito tempo (dizem que 8 meses) assistindo os vídeos da Maysa para imitar seus trejeitos.

Mas eu não sabia que a Maysa, além de beber que nem um gambá (de onde saiu essa expressão?), armava também tantos escândalos e barracos. Já andam dizendo que ela foi a versão alcoólica e brasileira da Amy Winehouse...rsss que também capricha na maquiagem carregada nas pálpebras.

O fato é que a mulher emplacou muitos sucessos dor-de-cotovelo e de fossa, como se dizia, deixando indeléveis, na memória coletiva, os hits Ouça e Meu Mundo Caiu. Como não há nesse mundo quem, em fase adulta, não tenha curtido uma dor de amor, dá para entender o porquê do sucesso de ontem e de hoje da cantora.

Historicamente falando, a aproximação da Maysa da bossa nova, via o amante Ronaldo Bôscoli, também é interessante de se ver. A bossa nova vai desanuviar os ouvidos e a paisagem da música brasileira. Tudo fica light, mesmo quando a letra tem tom menor. A imagem da mulher passa de fatal destruidora de homens, dos sambas-canção do Lupicínio e outros, à musa (olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...), o amor perde as tintas carregadas e os fins-de-caso não dão mais vontade de se pendurar no lustre.

Mas os anos 50, 60 e 70, de diferentes formas, foram mesmo as décadas do excesso, bossa-nova à parte. Era como se muita energia reprimida tivesse explodido em muitas contravenções, contraculturas, rebeldias meio autofágicas de toda uma coletividade. Maysa foi apenas um de seus produtos de boa qualidade. É bom revê-la e ouvi-la de novo, como no vídeo abaixo, quando esteve no Japão, cantando Manhã de Carnaval.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Baila Comigo: Dança de Salão para o público LGBT

Conheci Giovane Salmeron durante as comemorações do Dia do Orgulho Lésbico (19 de agosto) de 2006, quando ele ministrou uma aula de dança de salão para as participantes do evento, introduzindo-as nos primeiros passos do mambo e do bolero, culminando com um arretado forró. Após uma hora e meia de bailado, todas estavam suadas e exaustas, mas com sorrisos radiantes pela dinâmica e a diversão da atividade.

Em outubro de 2008, Giovane abriu seu próprio espaço em São Paulo onde também desenvolve o projeto Duco et Ducitur (do latim “conduzo e sou conduzido”) para o público LGBT. Como ele disse - e eu concordo -, "A Dança, enquanto prática social, nos dá a sensação de pertencimento e estabilidade de que tanto precisamos e merecemos."

Entrevistei Giovane para o site da Um Outro Olhar e convido a tod@s para ler a entrevista:
http://www.umoutroolhar.com.br/entrevistas_bailacomigo.htm

domingo, 4 de janeiro de 2009

A revolução do garfo: uma revolução sem sangue!

Nos últimos anos, na América Latina, temos tido a ascenção dos populismos de esquerda, daquela esquerda tradicional, arcaica, que acredita em revolução comunista, socialista e ditaduras do proletariado. Daquela esquerda que, nos países em que se instalou, no século passado, produziu regimes totalitários e milhões de mortos nas suas chamadas revoluções.

O vídeo abaixo, contudo, fala de um outro tipo de revolução: da revolução do garfo, sem uma gota de sangue. Uma revolução acessível a cada um(a) de nós, bastando um pouco de consciência e compaixão. Poderíamos dizer: mude sua alimentação e salve o planeta!

A proposta vegetariana hoje se baseia em 3 pilares:

1) a questão ética (ou comer com o mínimo de crueldade):
Se nós, seres humanos, não somos carnívoros e sim onívaros, ou seja, comemos de tudo, podendo viver sem carne, temos o direito de matar animais para produzir alimento, considerando o imenso sofrimento que tal escolha causa a seres que, como nós, tem frio, tem fome, tem medo?

2) a questão da saúde:
O ciclo natural de vida dos animais de abate é totalmente detonado, pois eles não são vistos como seres vivos e sim produtos. São obrigados a ingerir hormônios e antibióticos, entre outras coisas, vivem confinados e sofrem barbaridades até serem mortos. Quem come carne ingere todas essas drogas e todo esse sofrimento.

3) a questão ambiental:
Para criar pasto para os animais de abate e para produzir alimento para eles, milhares de hectares de floresta virgem são derrubados, destruindo o habitat natural de várias espécies, o que também contribui com o aquecimento global. O que se produz de comida, para alimentar o gado, daria, se fosse fornecido diretamente aos humanos, para acabar com a fome no mundo. Esses animais, com suas fezes, também poluem o solo e as águas e até com seu puns afetam a camada de ozônio.

Já há quem diga que, para ter um futuro, a humanidade terá que compulsoriamente deixar de comer carne, pois o planeta não aguentará por muito tempo o sistema de alimentação que temos atualmente.

Não precisamos esperar por esse dia. Podemos começar essa revolução agora, mudando progressivamente nossos hábitos alimentares. O vídeo abaixo fala um pouco de tudo isso com mais propriedade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Passado, presente, futuro!

Me interessei pelo Budismo tempos atrás - já faz um tempo – meio por acaso meio por destino (quem sabe?). O primeiro mel que atraiu a abelha existencialmente indagadora foi o filme O Pequeno Buda, do Bertolucci. À parte a beleza do filme em si mesmo – que recomendo - e mais do que a trajetória "maravilhosa" do Sidarta Gautama, do nascimento à Iluminação, o que mais me impressionou foi a forma como morre o monge tibetano, que busca, no roteiro, em algumas crianças, seu mestre renascido.

Ele vinha doente e tinha como sua última missão encontrar a criança em que reconheceria seu mestre. Como o mestre era brincalhão, 3 crianças mostraram suas características, e o monge as apresentou (as crianças), em seu monastério, como o lama renascido. Cumprida sua missão, ele sentou para meditar e se foi, sem drama, como se estivesse apenas dormindo.

Fiquei impressionada, pensando se realmente alguém poderia morrer assim, tão placidamente. Tempos depois comprei um livro chamado Conhecimento da Liberdade, sem reparar que era de outro monge tibetano. Gostei do livro, das questões que abordava e me dei conta, ao fim, de que as idéias levantadas pelo autor refletiam sua formação budista. Curiosa, passei a ler sobre o Budismo, suas diferentes escolas, e, por fim, acabei indo parar num templo Zen no bairro da Liberdade, em São Paulo capital, por indicação de uma conhecida.

E foi com o Zen que acabei me relacionando mais intimamente, apesar de inúmeras idas e vindas, intermitências que por certo não contribuíram para minha imagem na avaliação da mestra. Apesar de discípula um tanto indisciplinada do zen-budismo (o que não deixa de ser uma ironia), as idéias budistas calaram fundo em minha mente e mudaram muita coisa na minha maneira de ver o mundo, a sociedade, as pessoas, a vida.

Mais para ser vivido do que entendido, o Zen é prático, não teórico, tanto que busca desligar o piloto automático, em que a maioria de nós leva a vida, não só através da meditação propriamente dita mas também da sacralização de todo o cotidiano. Sua proposta, como a de todo o Budismo, é de que se viva a vida aqui e agora porque o presente é o único tempo real de que dispomos. Fácil de dizer, dificílimo de fazer, tal proposição encerra, contudo, uma sabedoria que se aplica a todo mundo, independente de sexo, etnia, orientação sexual ou seja qual for a especificidade.

Por isso, para começar o ano, resolvi transcrever aqui uma das anedotas filosóficas Zen (que é pródigo nelas) que mais expressam essa verdade, verdade que, se apreendida, poderá fazer de nossos 2009 um ano bem melhor do que os anteriores.

Um dia, caminhando pela selva, um homem encontrou um tigre feroz.

Ele correu, mas logo chegou à beira de um penhasco. Descendo por um cipó, viu outro tigre lá embaixo.

Então apareceram dois ratos e começaram a roer o cipó...
Subitamente, ele viu um morango maduro e apetitoso.

Ele o colheu e colocou na boca...

Delicioso!

Não viva no passado. Não se preocupe com o futuro. Aproveite o momento. Ser feliz é agir conforme as circunstâncias, sejam elas quais forem.
Feliz 2575!

Imagem e texto: Zen em Quadrinhos, Tsai Chih Chung, Ediouro, 3 edição.

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