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quinta-feira, 7 de abril de 2022

Capacitação em tecnologia para mulheres

Crédito: site do Laboratoria
Entidades como Laboratória e Letscode (Devel{Elas}} dão cursos gratuitos para corrigir desigualdade no setor, onde mulheres são apenas 23%; empresas como Itaú, iFood e Nubank dão empregos

Nos últimos dois anos, intensificou-se o número de cursos que capacitam profissionais nas diversas de tecnologia. Como forma de combater o déficit do segmento feminino, programas abriram caminho para que mulheres pudessem se recolocar no mercado de trabalho. Passadas as primeiras edições dessas iniciativas, contamos as histórias de duas mulheres que terminaram suas formações e buscaram a ponte com o primeiro emprego na área.

O mercado da tecnologia vem sendo movimentado por instituições como LaboratóriaProgramaria e Let’s Code que sozinhas ou em parceria com grandes empresas, como Oracle, TIM, Ifood, Nubank e Itaú, formam profissionais para atuar no mercado, muitas vezes, de forma gratuita. Além da capacitação técnica, programas como esses evidenciam o interesse do mercado em não só formar profissionais de tecnologia, como uma preocupação com a diversidade e inclusão, uma vez que há foco em grupos discriminados como mulheres e pessoas negras.

Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), a projeção é de um déficit anual de 106 mil profissionais até 2025. Em relação ao sexo, um levantamento realizado pela plataforma de empregos Catho mostrou que a presença de mulheres na área é de 23,6%, sendo que mulheres são 52% da população brasileira.

Carolina Daniel buscou a área da tecnologia aos 29 anos. Enquanto cuidava da filha recém-nascida, ela fez cursos na área. Foto: Taba Benedicto/Estadão
Formação com salário e benefícios

O primeiro emprego de Carolina Daniel na área da tecnologia começou efetivamente há uma semana. Aos 29 anos e com a carreira voltada para a área de humanas, como arquiteta e atriz, a alternativa da tecnologia surgiu durante a pandemia, enquanto cuidava da filha recém-nascida.
Com um bebê de colo, eu me senti muito à mercê da maternidade, muito focada nela. Bebês crescem rápido e você pensa que não está fazendo nada com a sua vida, então comecei a ficar muito aflita com a minha carreira. Meu marido, que já era área de tecnologia, me indicou alguns cursos e eu resolvi fazer. Me senti intelectualmente estimulada, ainda que eu estivesse só pensando em mamadas e fraldas”, conta.
Depois de alguns cursos livres, ela encontrou a escola de desenvolvedores Let’s Code e participou de dois programas de formação e contratação. O modelo de trabalho deles é baseado em parceria com empresas: a escola ensina programação gratuitamente para alunos selecionados e a organização patrocinadora do programa contrata alguns formandos.

Ao longo de três meses, Carolina aprendeu uma formação básica em dados, além de soft skills necessárias para o mercado de trabalho. Durante o tempo de curso, ela e os outros 35 selecionados já foram contratados pelo Itaú e passaram a receber salário e benefícios, enquanto se formavam. Ao término da capacitação, e já tendo feito entrevistas com diversas áreas dentro do banco, ela foi designada ao cargo de engenheira de dados júnior.

Com pouco tempo de experiência, Carolina entende que o seu maior desafio daqui para frente é entender o seu momento de mercado, principalmente considerando a maternidade e a transição de carreira.
Eu vejo muita gente entrando na tecnologia com 20 anos. O meu chefe mesmo tem 29, a mesma idade que eu. Eu estou em um outro momento da vida. Eu tenho uma casa para administrar, nove gatos, um cachorro, uma filha e uma família. Estou fazendo um movimento muito agressivo de carreira, indo do 8 ao 80 em um ano. Então, vou ter que correr atrás. Ao mesmo tempo, eu sei que eu trago uma bagagem comigo que ninguém mais tem, de alguém que passou por vários momentos da vida”, conta.
Alternativa ao desemprego

O desemprego durante a pandemia foi o pontapé para Ana Beatriz Costa, de 28 anos, conseguir se profissionalizar na área de tecnologia. Graduada em recursos humanos, sua experiência profissional passava longe da área de exatas: trabalhou em loja, foi massoterapeuta e entrevistadora do Cadastro Único (plataforma em que famílias acessam benefícios sociais do Governo).
 
Ana Beatriz Costa, de 28 anos, se profissionalizou na área de tecnologia devido ao desemprego na pandemia. Foto: Autorretrato
Parada em casa, ela lembrou que gostava muito de mexer com a linguagem html quando era adolescente.
Eu passava horas no Tumblr (plataforma de blogging) brincando com html. Por que não transformar esse gosto em tecnologia em uma carreira?”, diz.
Ela estudou sozinha por conteúdos no Youtube e fez cursos livres de uma semana de duração, até que conheceu a Laboratória, edtech que forma mulheres para reduzir o déficit dessas profissionais na tecnologia. Depois de seis meses de curso, se formou e conseguiu uma vaga como analista de dados júnior no Banco Next.

Hoje, já no mercado, diz que o maior desafio é seguir estudando novos conceitos.
Como eu entrei em uma área nova, eu preciso entender os conceitos que eu uso. A Laboratória me deu o conceito, mas o foco é em autoaprendizagem, então eu comecei do zero”, conta.
Para quem quer entrar no mercado da tecnologia, o conselho de Ana Beatriz é acreditar que é possível.

Não é tão difícil quanto parece. Muitas empresas têm aberto vagas procurando profissionais que estão na transição de carreira. A área de tecnologia pode não ser fácil, mas é acessível. A gente consegue conteúdo com uma certa facilidade na internet”, aconselha.

Quem são os empregadores?

Agora  empresas de diferentes segmentos e portes têm desempenhado papel importante na contratação dos profissionais de tecnologia, como iFood, Creditas, Accenture e NuBank, com destaque para bancos e fintechs (tecnologia e inovação aplicadas na solução de serviços financeiros).

Para debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo uma dica é o perfil "estadão carreira e empreendedorismo", no Telegram, pelo seguinte link ou digitando @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo.

Cursos de Programação

Laboratória: As inscrições para a 8ª edição do bootcamp de programação estão abertas até 15 de maio, pelo site. O curso é online e gratuito, mas, após a conclusão e a entrada no mercado de trabalho, as profissionais devem pagar uma parte do custo total do curso para financiar os estudos de outras mulheres. Os requisitos são: ser mulher, maior de 18 anos, viver no Brasil e ter cursado o Ensino Médio em escola pública ou particular com bolsa integral por critério de renda, além de ter disponibilidade para se conectar de segunda a sexta, no período da tarde.
Lets’ Code: A escola não é voltada apenas para mulheres, mas há processos focados na participação feminina e em maiores de 40 anos. Não há nenhum programa com inscrições abertas no momento, mas os interessados podem acompanhar novas aberturas no site do projeto.
Programaria: Com o slogan "empoderar mulheres através da tecnologia diminuindo o gap de gênero no mercado de trabalho, é isso que fazemos.", a programaria oferece curso on line de programação

Com informações de Mulheres se capacitam em tecnologia e trocam de profissão na pandemia, por Marina Dayrell, O Estado de S.Paulo, 26/ 03/2022 


terça-feira, 4 de maio de 2021

Maria Goeppert Mayer foi a segunda mulher a receber um Nobel de Física por definir a estrutura do núcleo atômico

Maria Goeppert Mayer só se tornou professora titular aos 54 anos Getty Images
"Voluntária", "bolsista", "pesquisadora associada": estes foram alguns dos títulos que Maria Goeppert Mayer acumulou ao longo de 30 anos liderando pesquisas científicas que a levaram a ganhar o Prêmio Nobel de Física em 1963.

Em outras palavras, a física alemã trabalhou a maior parte de sua carreira em diferentes universidades americanas sem receber salário. Ela pesquisava "apenas pelo prazer de fazer física", diz sua biografia publicada pelo Prêmio Nobel.

Embora houvesse regras antinepotismo nos Estados Unidos naquela época, a verdade é que "nenhuma universidade teria pensado em contratar a esposa de um professor", explica a academia sueca. Era o marido dela, o químico americano Joseph Mayer, que conseguia os cargos de professor e pesquisador em tempo integral, enquanto ela recebia as sobras. Literalmente.
"Ela viu um escritório vazio e perguntou se poderia usá-lo; negaram e, em vez disso, deram a ela uma sala no sótão", diz a renomada Universidade Johns Hopkins, nos EUA, uma das instituições de ensino onde o casal trabalhou.
A história dela, contada no âmbito do projeto The Women of Hopkins, "é um exemplo de determinação perante os obstáculos", reconhece a universidade.

Quando Goeppert Mayer finalmente se tornou professora titular, ela estava com 54 anos.

Sétima geração

Goeppert Mayer nasceu em 28 de junho de 1906 em Katowice, cidade que fazia parte da Alemanha na época, mas hoje pertence à Polônia.

O pai dela era a sexta geração de uma família de acadêmicos, e sempre presumiu que a única filha iria para a faculdade e seguiria o legado familiar.
Meu pai costumava me dizer: 'Quando você crescer, não se torne uma mulher', no sentido de uma dona de casa", disse Goeppert Mayer, citada pelo Nobel.
Embora inicialmente sua intenção fosse se formar em matemática, ela decidiu estudar física após participar de um seminário de mecânica quântica ministrado por Max Born, um dos pais do então incipiente ramo da ciência.

Born acabaria se tornando o mentor de Goeppert Mayer ao longo de seus anos de estudo na Universidade de Göttingen, na Alemanha.

Mas depois de completar o doutorado, a jovem se casou e mudou para os Estados Unidos, em parte em busca de melhores oportunidades acadêmicas e também para ficar longe do movimento político que culminaria na ascensão de Adolf Hitler ao poder.

Na verdade, durante a Segunda Guerra Mundial, Goeppert Mayer trabalhou no Projeto Manhattan, o programa secreto do governo americano que desenvolveu a bomba atômica.

Projeto Manhattan
A urgência da Segunda Guerra Mundial levou o governo dos Estados Unidos a tratar a capacidade de Goeppert Mayer com mais respeito do que o demonstrado por suas universidades mais importantes", afirma o Nobel.
Em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão
Ela chegou inclusive a dizer que, graças ao Projeto Manhattan, ela conseguiu pela primeira vez na carreira "se firmar" por conta própria como cientista, sem "se sustentar" no marido.

Seus biógrafos concordam que, embora ela apreciasse o respeito que recebeu dos colegas e as responsabilidades adquiridas durante aqueles três anos de trabalho, ela tinha esperança de que o projeto fracassasse.

De acordo com o Nobel, Goeppert Mayer era "veementemente anti-Hitler, mas ciente de que a arma que estava ajudando a criar poderia ser usada contra amigos e familiares que viviam na Alemanha".

E embora a bomba tenha sido desenvolvida e usada nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando dezenas de milhares de pessoas, as pesquisas lideradas por ela não foram efetivamente bem-sucedidas.
Não encontramos nada e tivemos sorte... escapamos da culpa pungente que os responsáveis ​​pela bomba sentem até hoje", admitiria mais tarde, segundo o Nobel.
Os 'números mágicos'

Foi depois da guerra que Goeppert Mayer começou a trabalhar com física nuclear, linha de pesquisa que a levaria a definir a estrutura do núcleo atômico e ganhar o Prêmio Nobel.
Getty Images Quando Goeppert Mayer ganhou o Nobel de Física em 1963, ela se tornou a segunda mulher na história a receber o prêmio.
Sem entrar em muitos detalhes técnicos, o que a cientista conseguiu demonstrar repetidamente é que os núcleos mais estáveis ​​sempre tinham uma certa quantidade de nêutrons ou prótons. Os "números mágicos" eram 2, 8, 20, 28, 50, 82 e 126.

Mas ela não se deu por satisfeita: agora que sabia que eram números especiais, queria saber por quê.

Foi assim que ela começou a desenvolver o que é hoje o famoso modelo nuclear de camadas.

De acordo com um artigo de 2008 da American Physical Society (APS), "o fato de que os núcleos com um certo número de núcleons (nêutrons e prótons) eram especialmente estáveis ​​já havia sido notado antes, mas os físicos tinham certeza de que um modelo de camadas não poderia estar correto."

É que nessa época prevalecia outro modelo criado por ninguém menos que Niels Bohr, que havia ganhado o Prêmio Nobel por suas pesquisas sobre a estrutura dos átomos.

De acordo com a APS, Goeppert Mayer "tinha uma formação menos formal em física nuclear, (então) estava menos enviesada".

Seu colega e amigo Edward Teller resumiu de forma mais eloquente:
Ela teve a ideia absurda de se opor ao modelo de núcleo atômico de Bohr. Fui enfático em minhas críticas. Mas acabou que Maria estava certa e, merecidamente, recebeu o Prêmio Nobel."
Uma de quatro

Goeppert Mayer não era a única capaz de pensar de forma inovadora sobre a estrutura do núcleo atômico.

Quando estava prestes a enviar sua pesquisa para a Physical Review, soube que outra equipe liderada por Hans Jensen havia chegado à mesma conclusão na Alemanha.
Ela pediu que adiassem seu artigo para ser publicado no mesmo número que o deles, mas o dela acabou sendo publicado em número depois do deles, em junho de 1949", diz o artigo da APS.
Mais tarde, Goeppert Mayer e Jensen se conheceram, se tornaram amigos e colaboradores. Juntos, publicaram um livro sobre o modelo nuclear de camadas e, em 1963, compartilharam o Prêmio Nobel.

Naquela época, apenas uma mulher na história havia recebido o Nobel de Física: Marie Curie, 60 anos antes.

Marie Curie foi a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas distintas, física e química, em 1903 e 1911, respectivamente.

Levaria mais 55 anos para outra mulher, Donna Strickland, ganhar o prêmio novamente em 2018. A quarta e última física a conquistá-lo foi Andrea Ghez no ano passado.

O legado

Em 1960, pouco depois de chegar a San Diego para começar seu primeiro trabalho como professora titular na Universidade da Califórnia, Goeppert Mayer sofreu um ataque cardíaco.

Daí em diante, teria uma saúde frágil até sua morte em 1972, mas ainda assim não parou de pesquisar e dar aulas.
É uma daquelas mulheres que lutaram por seus objetivos quando a sociedade exigia que ficassem em casa", diz à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, a física Louise Giansante, autora principal do artigo "Mulheres na física: pioneiras que nos inspiram", publicado em 2018 na revista da Organização Internacional de Física Médica.
Ela enfrentou uma série de desafios em sua vida profissional e pessoal", acrescenta, "o que incluiu guerras e mortes, mas também simplesmente criar seus filhos e ser esposa enquanto tentava continuar sua pesquisa".

Suas descobertas e contribuições marcantes são amplamente utilizadas até hoje. Acho que sua história precisa ser contada e pode servir de inspiração sobretudo para mulheres jovens, que ainda têm que enfrentar muitos desafios", conclui Giansante sobre o legado da física alemã.

Clipping Maria Goeppert Mayer, a Nobel de Física que explicou números mágicos trabalhando sem remuneração, por Ana Pais (@_anapais), BBC News Mundo, 2 maio 2021

quinta-feira, 25 de março de 2021

Metade dos caçadores de 9000 anos atrás era composta de mulheres


Descrição artística de uma mulher  caçadora de  9000 anos atrás nas montanhas andinas do Peru MATTHEW VERDOLIVO/UC DAVIS IET ACADEMIC TECHNOLOGY SERVICES

Os homens antigos são tradicionalmente retratados como caçadores, enquanto as mulheres são coletoras. Mas esse estereótipo pode não ser nada mais do que isso, de acordo com um novo estudo.

A ideia de que os ancestrais do sexo masculino vagavam pela terra com lanças nas mãos enquanto as mulheres ficavam em casa para cuidar dos filhos e preparar refeições parece, na verdade, infundada. Em vez disso os antigos caçadores que viveram há cerca de dez mil eram cerca de metade mulheres, sugere o estudo.

Esta descoberta abre novas possibilidades interessantes de como era realmente a vida dessas mulheres antigas.

Em um estudo publicado na quinta-feira na revista Science Advances, uma equipe de arqueólogos explica que ideias profundamente cimentadas sobre papéis sexuais nas sociedades antigas têm atrasado a ciência.
[Vários] estudiosos teorizaram que tal divisão de trabalho teria sido menos pronunciada, totalmente ausente ou estruturalmente diferente entre nossos primeiros ancestrais caçadores-coletores. [Mas] apesar de tais considerações teóricas, alguns estudiosos relutaram em atribuir a funcionalidade de caça para ferramentas associadas a enterros femininos.”
Essencialmente, o campo resistiu amplamente às teorias sobre antigas caçadoras em favor da narrativa existente de que as mulheres antigas ficavam em casa para ter ou cuidar dos filhos.

Os arqueólogos atribuem parcialmente esse descuido ao “preconceito sexual contemporâneo”. No entanto, os restos que eles descobriram no Peru em 2013 podem oferecer grandes evidências da ideia oposta para serem ignoradas.

Randall Haas, o primeiro autor do estudo e professor assistente de antropologia na UC Davis, disse em um comunicado que essas descobertas mudaram completamente a forma como ele imaginou essas sociedades antigas.
Nossas descobertas me fizeram repensar a estrutura organizacional mais básica dos antigos grupos de caçadores-coletores, e grupos humanos em geral”, disse Haas. “Possivelmente por causa de suposições [históricas] sexistas sobre a divisão de trabalho na sociedade ocidental, descobertas arqueológica de mulheres com ferramentas de caça simplesmente não se encaixavam nas visões predominantes do mundo. Foi preciso um caso forte para nos ajudar a reconhecer que o padrão arqueológico indicava o comportamento de caça real das mulheres.”
O início da caça de grandes animais era possivelmente feita por mulheres e homens

Ao contrário de nossos ancestrais mais modernos, que podem deixar para trás evidências escritas para nos ajudar a reimaginar suas vidas, os cientistas que estudam povos do Pleistoceno Superior e do Holoceno Inferior (cerca de nove mil a doze mil anos atrás) têm muito menos evidências.

Para descobrir como eram esses povos antigos, os acessórios com os quais viveram — e com os quais foram enterrados — podem ser a chave.
Os objetos que acompanham as pessoas na morte tendem a ser aqueles que as acompanharam em vida”, escrevem os autores do estudo.
Escavações dos cemitérios no Peru. Crédito: Randall Haas
No Peru, a equipe descobriu restos que as análises dentais, ósseas e proteicas sugerem ser um indivíduo do sexo feminino entre 17 a 19 anos. Enterrados ao lado desse indivíduo havia uma variedade de itens tradicionalmente encontrados no kit de ferramentas de um caçador de grandes animais, incluindo projéteis pontiagudos, ferramentas de corte e uma faca.

No total, eles encontraram 24 artefatos neste cemitério relacionados à caça e processamento de grandes animais.

Para ter certeza de que a descoberta não foi apenas um acaso, a equipe conduziu uma revisão de 107 sítios arqueológicos que datam da mesma época nas Américas, cerca de dez mil anos atrás.

Com base nas ferramentas encontradas nesses vários cemitérios, a equipe descobriu que eles continham os restos mortais de 16 homens e 11 mulheres caçadoras.
Modelos plausíveis ​​variam entre 30 e 50% da participação feminina, sugerindo que a caça inicial era provavelmente neutra em relação ao sexo ou quase neutra”, escrevem os autores.
Embora as descobertas apoiem ​​uma nova teoria da igualdade sexual entre caçadores e caçadores que vivem no Pleistoceno Superior e no Holesteno Inferior, os autores afirmam que mais trabalhos são necessários para reconciliar essas descobertas com evidências mais recentes sugerindo que esses papéis eram divididos pelos sexos. A caça já foi praticada por homens e mulheres antigas, antes que os homens assumissem um papel de liderança neste trabalho?

Os cientistas especulam que a tecnologia mais crua que os antigos caçadores usaram no Pleistoceno Superior e no Holesteno Inferior pode significar que todas as pessoas capazes (machos ou fêmeas) precisariam ser convocados para caçar em prol da eficiência. Sociedades pré-históricas mais avançadas podem ter precisado apenas dos homens para caçar.

Para responder a essas e outras perguntas, os cientistas esperam concluir análises mais comparativas para descobrir por que essas antigas caçadoras podem ser exceções ou se os arqueólogos estão deixando passar detalhe importantes como resultado do pensamento moderno.

Resumo: A divisão sexual do trabalho com mulheres como coletoras e homens como caçadores é uma grande regularidade empírica da etnografia de caçadores-coletores, sugerindo um padrão de comportamento ancestral. Apresentamos uma descoberta arqueológica e uma meta-análise que desafiam a hipótese do homem-o-caçador. Escavações no local montanhoso andino de Wilamaya Patjxa revelam um sepultamento humano de 9.000 anos (WMP6) associado a um kit de ferramentas de caça com pontas de projéteis de pedra e ferramentas de processamento de animais. Análises osteológicas, proteômicas e isotópicas indicam que este primeiro caçador era uma jovem fêmea adulta que subsistia de plantas e animais terrestres. A análise das práticas de sepultamento do Pleistoceno Superior e do Holoceno Inferior nas Américas situam o WMP6 como o primeiro e mais seguro sepultamento de caçadores em uma amostra que inclui dez outras mulheres em paridade estatística com os primeiros sepultamentos de caçadores machos. As descobertas são consistentes com práticas de trabalho não generalizadas nas quais as primeiras caçadoras-coletoras eram caçadoras de grandes animais. 

Clipping Estávamos todos errados: não eram os homens que caçavam na antiguidade, por Marcelo Ribeiro, 05/11/2020, Hyperscience. Img: Science Mag

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Boudicca, a icônica rainha britânica que botou medo no Império Romano e inspirou feministas do século XX

Há 2000 anos, Boudicca liderou uma revolta e quase derrotou os poderosos romanos
 no que hoje é a Inglaterra.
 
Boudicca - também conhecida como Boadicea na forma latina - é uma figura icônica, mas controversa.

Vista por uns como uma das primeiras combatentes feministas pela liberdade e por outros como uma assassina brutal e sanguinária, ela tem sido uma presença constante na história da Europa.

Cerca de 2 mil anos atrás, essa aristocrata da Idade do Ferro liderou uma revolta e quase derrotou os poderosos exércitos romanos que invadiram sua terra natal, no que seria hoje East Anglia, no nordeste da Inglaterra.

Seja amada ou odiada, Boudicca tem um lugar na história como uma pioneira, com a capacidade de reunir um grande número de tropas de tribos diferentes com seu talento natural para comandar.

Então, que lições de liderança podem ser aprendidas com essa rainha guerreira?

1. Se vestir para a ocasião funciona

Vestida para impressionar - Boudicca sempre foi retratada como
uma guerreira destemida.
Todos sabem a importância de se vestir para a ocasião - mas Boudicca é uma das poucas que perceberam como isso faz diferença.

Ela é comumente descrita como uma mulher feroz e poderosa, dirigindo sua própria carruagem e brandindo uma lança, com seu cabelo selvagem voando ao vento.

Não temos como saber como a rainha realmente era, mas o historiador romano Cassius Dio - escrevendo décadas depois da morte dela - oferece esta descrição:
Na estatura, ela era muito alta, na aparência, aterrorizante, no relance de seu olhar, feroz. (...) Uma grande massa de cabelos negros caía sobre seus quadris, em volta do pescoço havia um grande colar de ouro e ela usava uma túnica de diversas cores, sobre a qual um grosso manto estava preso com um broche."
Há poucas dúvidas de que Boudicca tenha sido uma das primeiras a adotar o poder das roupas para passar uma mensagem - ela sabia como aproveitar esse recurso ao máximo, deixando uma impressão duradoura em seus inimigos.

2. Um nome forte pode te levar longe

Fiel a seu nome, que significa vitória, Boudicca foi bem-sucedida 
nas primeiras batalhas. 
O nome Boudicca é derivado da antiga palavra britônica "boud", que significa vitória.

Boudeg significa portador da vitória, e Boudega - a alternativa feminina -, quem traz a vitória.

Podemos seguramente presumir que esse não era o nome que a rainha guerreira recebeu ao nascer, mas sim um que ela adotou mais adiante.

O nome forte parece ter ajudado na mobilização de um exército.

3. Nunca subestime as habilidades de alguém

Boudicca é ainda lembrada na cidade inglesa St Albans, onde lutou contra os romanos. 
O marido de Boudicca, Prasutagus, era o governante da tribo Iceni de East Anglia. Ele foi tolerante com os romanos invasores e por isso foi autorizado a continuar governando seu povo.

Eles tomaram terras e, quando Boudicca se recusou a pagar grandes impostos, foi publicamente açoitada e forçada a assistir ao estupro de suas duas filhas, com ao redor de 12 anos na época.

Eles também subestimaram a ira de uma rainha desprezada: Boudicca decidiu revidar, reunindo tropas de sua própria tribo e de outras.

Os soldados reunidos derrotaram a Nona Legião Romana, destruindo a capital da Grã-Bretanha romana, Colchester, além das cidades de Londres e St Albans.

4. Treinamento efetivo é mais valioso do que uma grande força de trabalho
Mesmo após seguidas vitórias, Boudicca perdeu a derradeira batalha para os romanos
Após a queda de Londres e St Albans, o governador romano decidiu reunir suas tropas e confrontar o exército de Boudicca.

Embora ela parecesse ter uma vantagem numérica, os homens indisciplinados e mal equipados da rainha não eram páreo para a habilidade de tropas romanas, treinadas profissionalmente e bem armadas.

Mesmo com dez vezes mais soldados, como hoje se imagina, Boudicca foi derrotada pelo exército romano. Ela morreu logo após seu fracasso, depois de supostamente envenenar-se.

5. Destaque-se na multidão

Os romanos não estavam acostumados com mulheres desobedecendo ordens
O ataque liderado por Boudicca não foi o único contra a ocupação romana, mas sua rebelião se destaca na história em grande parte porque ela era mulher.

A arqueóloga britânica Jane Webster, da Universidade de Newcastle, diz que "mulheres líderes ofendiam as sensibilidades romanas".
Não era a ordem das coisas. É por isso que sabemos muito mais sobre essa rebelião do que sobre muitos outras contra Roma."
A professora Miranda Aldhouse-Green, também arqueóloga e autora britânica, acha que Boudicca "é uma figura icônica, porque ela foi uma das poucas mulheres a enfrentar o poder de Roma".

Na verdade, ela continua sendo a única mulher a ter liderado forças combinadas da Grã-Bretanha contra um exército de ocupação.

Os registros históricos que temos sobre Boudicca são escassos, faltam detalhes e os que existem são muitas vezes contraditórios, mas Webster diz que "ela permaneceu na literatura e persistiu como um bom exemplo de rebeldia porque era mulher".

6. É importante ter um modelo

O movimento sufragista se inspirou na rainha guerreira em sua luta pelo voto. 
Durante o século 16, as pessoas voltaram a se interessar por escritores clássicos, e o relato do historiador romano Tácito sobre a rebelião de Boudicca foi ressuscitado.

Outra mulher importante e poderosa no mundo de um homem foi a rainha britânica Elizabeth 1ª, que diz ter se inspirado bastante na história de Boudicca.

Muito mais tarde, os vitorianos reinventaram Boudicca como uma figurona do imperialismo britânico.

Talvez a rainha guerreira tenha sido mais apropriadamente reivindicada pelo movimento sufragista e pelas mulheres que lutam pelos direitos femininos.

Ela se tornou um modelo importante para uma geração que lutou contra o patriarcado e conquistou o voto para as mulheres.

O professor Richard Hingley, arqueólogo da Universidade Durham, no Reino Unido, explica que, por sabermos tão pouco sobre ela, Boudicca "é uma figura muito flexível e ambígua que pode representar muitas coisas diferentes para pessoas diferentes".

Clipping 6 lições de liderança da rainha guerreira que aterrorizou os romanos, 06/01/2021, BBC. Crédito Imagens: Getty Images

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

PM recebe ‘Oscar do Serviço Público’ por criação de Patrulha Maria da Penha de assistência a mulheres

Claudia Moraes Foto: Ana Branco / Agência O Globo

 Claudia Moraes, de 47 anos, despertou o olhar para a causa ao analisar estatísticas e pensar políticas públicas

Na primeira aula de equitação na Academia de Polícia Militar Dom João VI, em Sulacap, Claudia Moraes caiu do cavalo. Hoje tenente-coronel, ela lembra que imediatamente levantou e subiu de novo no animal. E não esquece o nome da égua: Estrela. “Nossa, você tem coragem”, disse o instrutor. Responsável por lançar o programa Patrulha Maria da Penha — Guardiões da Vida, que em um ano e quatro meses de funcionamento já assiste a mais de dez mil mulheres, ela acaba de ganhar o prêmio Espírito Público — uma espécie de Oscar para servidores do país — por sua trajetória.

Nascida na Vila Kennedy, estudante de escolas públicas e ex-funcionária de call center, a oficial de 47 anos ingressou na Academia da PM aos 26, após prestar vestibular para a Uerj. A meta era conquistar a tão sonhada estabilidade do serviço público e poder ajudar a família. Na PM, já enfrentou tiroteio e correu atrás de bandido no meio da rua vestindo uniforme de passeio (usado para eventos da corporação), com salto e saia. Mas sua carreira na PM se destaca pela atuação em gestão. No Instituto de Segurança Pública (ISP), ela foi analista criminal e coordenadora dos conselhos comunitários.

“Meu olhar despertou”

Com a voz rouca depois de um dia inteiro de aula on-line de Direitos Humanos e Sociologia para alunos do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), ela revela uma passagem traumática da vida: conta que sofreu abuso na adolescência, aos 14 anos, dentro de um ônibus, quando ia para a escola. Apesar dessa marca que carrega, diz que foi sua participação na organização do Dossiê Mulher, de 2010 a 2018, no ISP, que a fez se engajar de corpo e alma no tema da prevenção da violência contra a mulher.
 Meu olhar despertou para a violência contra a mulher a partir do trabalho com estatística. Via a cada ano os números se acumulando e me perguntava: Como reduzi-los através de políticas públicas? — conta Claudia, que ali deu uma guinada na carreira: — Queria aprender mais e comecei a me especializar. Fiz mestrado em Ciências Sociais na Uerj e fui da primeira turma de pós em Gênero e Direito da Escola de Magistratura.
Em agosto de 2019, ela criou, com o apoio da instituição, a Patrulha Maria da Penha, que fiscaliza hoje o cumprimento de medidas protetivas de 10.472 mulheres no Estado do Rio. Nesse tempo, foram 231 agressores presos por descumprimento das decisões judiciais e nenhum feminicídio. Algumas vítimas têm contato diário com as equipes, seja por WhatsApp e telefone ou presencialmente, através de visitas das equipes, sempre com um PM homem e uma policial mulher.Tropa, que tem sempre uma mulher, garante execução de medidas protetivas para vítimas Foto: Agência O Globo

Casada com o coronel da reserva Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM do Rio, Claudia dedica o prêmio à equipe da patrulha — há 250 policiais capacitados — e diz:
Atendemos desde mulheres pobres e desempregadas a estudantes e pessoas com perfil de classe média alta. A vida delas é o verdadeiro prêmio.
Pelos últimos levantamentos da Patrulha Maria da Penha, aumentou a adesão de mulheres ao programa na pandemia: entre agosto e novembro, a média diária de ingresso chegou a 30, sendo que, no primeiro ano de funcionamento do projeto, a taxa era de 23.

Mais confiança na polícia

Uma das vítimas a entrar para o programa nesse período foi uma consultora de marketing de 37 anos, mãe de dois filhos, que sofria constantes ameaças, agressões verbais e tortura psicológica do ex-marido e pai das crianças.
Só nunca apanhei. Todo resto teve — conta ela, que, tomada pelo medo, não conseguia mais trabalhar.
Após conseguir a medida protetiva, que proibiu a aproximação do ex-marido, que deve ficar a uma distância mínima de 200 metros, ela recebeu por WhatsApp mensagem da patrulha, que atua em rede com outros órgãos, incluindo o Judiciário.

A vítima diz que o programa não só fez ela se sentir segura, como derrubou preconceitos em relação à PM.
Meu ex-marido ainda é devedor de pensão. Por isso eu digo: para mim, a única coisa que funciona nesse Brasil é a Patrulha Maria da Penha. Quando a polícia entrou, ele, parou até de me mandar mensagens — conta, que já acionou o grupo para ajudar um amigo gay.
Todos os batalhões do estado e mais três UPPs — Rocinha, Andaraí e Barreira do Vasco — têm equipes da patrulha. Enquanto na PM as mulheres são apenas 11% do efetivo — 4.990 de 44.648 policiais —, dentro do programa a presença é menos desigual. Entre os capacitados, elas são 47%. Para fazer parte, tem que ser voluntário, ou seja, precisa querer.

Referência na área, a juíza Adriana Ramos de Mello, titular do I Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, define Claudia como uma profissional de excelência e uma mulher inspiradora:
É uma verdadeira ativista dos direitos humanos das mulheres. Na PM, com sua força, criou a Patrulha Maria da Penha, que é extremamente completa, abrange todo o Rio. Claudia se dedica pessoalmente.

Um dos organizadores do prêmio Espírito Público, Eloy Oliveira, diretor da Republica.org, ONG voltada para a melhoria do serviço público, também elogia Claudia:
Ela passou por muitos lugares na PM do Rio, uma corporação extremamente machista. Ainda assim, o trabalho dela se destacou.
Clipping ‘Oscar do Serviço Público’ premia PM que criou a Patrulha Maria da Penha, que assiste mais de 10 mil mulheres, por Ludmilla de Lima, Globo, 19/12/2020

terça-feira, 26 de maio de 2020

Primeira-ministra da Nova Zelândia agita a Internet com suas medidas progressistas

Jacinda Stardust, ilustração criada por Todd Atticus em um café de Madri, deu a volta ao mundo: serigrafiada em camisetas, em cartazes e até impressa em jornais e capas de livros que analisam o fenômeno Jacinda.
As medidas progressistas da primeira-ministra agitam a Internet.
O que aconteceu para que já não sonhemos (tanto) com o modelo escandinavo?
Durante anos vivemos suspirando pela utopia escandinava e de outros países nórdicos. Queríamos ser mães na Finlândia. Sonhávamos com nossos filhos indo a creches a 300 reais por mês, tendo educação pública até o doutorado e com trabalhar no máximo oito horas por dia (mas de verdade). Que em Helsinque, se você perder a carteira e alguém a encontrar, a devolverá. Pois se eles tinham até uma palavra para a glória (pré-coronavírica) de ficar em casa, só de calcinha (kalsarikänni)! E uma sauna cada dois habitantes! Quem não gostaria de viver nesse país honrado que tinha encontrado a fórmula da felicidade? Mas o fato é que, há alguns meses, os progressistas utópicos deixaram de suspirar pela Finlândia. Agora esticam os olhinhos para Jacinda Ardern, novo ícone da utopia social. Todos sonham em se mudar para a Nova Zelândia. Para tomar a temperatura do assunto, basta dar uma olhada nas redes cada vez que Ardern propõe uma medida social:

“Amo você. O que tenho que fazer para morar aí?”, “Como fazemos para que você seja a presidenta de todo o planeta?”, “Como não te amar?”, “Quero uma presidenta como ela!”, “Jacinda fez de novo”, “Eu quero ir para a Nova Zelândia”, “Estou dentro”, “Nova Zelândia é tudo de bom” ou “Me levem pra láááá” são alguns dos entusiasmados comentários que acompanham os retuítes quando o EL PAÍS publicou no Twitter a última proposta de Ardern: estabelecer uma semana de trabalho de quatro dias para reativar a economia depois do impacto do coronavírus e assim poder impulsionar o turismo enquanto se ajuda os cidadãos a conciliarem a vida profissional com a pessoal.

Desde que virou primeira-ministra da Nova Zelândia aos 37 anos, em 2017, Jacinda Ardern, terceira mulher a chefiar o governo em seu país e a dirigente mais jovem desde 1856, tornou-se um ícone político pop da esquerda global. Especialmente entre os que transitam pela bolha da Internet progressista: são aqueles que aplaudiram seu gesto de calar os machistas quando lhe perguntaram por que não era mãe (já foi), ou os que a defenderam frente a uma campanha de desprestígio por parte da direita (#TurnAdern).

Seguindo o rastro de outra política pop, Alexandria Ocasio-Cortez, Ardern faz um uso estratégico das redes e não hesita em aparecer ao vivo no Instagram de moletom para conversar com seus seguidores sobre a crise do coronavírus. Também conta com ajuda externa: a conta do Facebook @NZLPMemes, supostamente sem origem política, aglutina uma comunidade de mais de 40.000 seguidores que curtem e viralizam memes positivos sobre as propostas de Jacinda. Todos a amam. A tal ponto que seu rosto estampa camisetas (que se esgotam). Uma busca no Google indicará 119.000 resultados para “Jacinda merchandise”. Existem bordados à venda por 35 euros (210 reais) que perguntam “WWJD”: What would Jacinda do? (“o que Jacinda faria?”), camisetas do “Team Jacinda” (“time Jacinda) a 42 euros (252 reais), máscaras repletas de mini-Jacindas a 9 euros (54 reais), ilustrações em que ela toma a forma da princesa Leia, da Mulher-Maravilha e até da personagem feminista Rosie the Riveter.

A iconografia feminista se alia, também, com a veneração pop: a ilustração de Jacinda Stardust, ressignificando a capa de Bowie concebida pela mãe da estilista Phoebe Philo para a capa do seu álbum Aladdin Sane, é uma das mais populares e reproduzidas. Foi inventada pelo artista Todd Atticus em um café de Madri em apenas duas horas, depois que o principal rival dela na campanha, Bill English, a tentou menosprezar em um debate televisivo dizendo:
Agora que a poeira de estrelas [stardust, nome também do personagem de Bowie] assentou, podemos ver a fragilidade das suas propostas”.
Como aconteceu com o “Nevertheless she persisted” (“Entretanto, insistiu”) contra Elizabeth Warren, a desqualificação se transformou em lema viral a favor dela. Três anos depois daquela frase, sua fama e a veneração por seu país não diminuíram em nada.

Primeira-ministra da Nova Zelândia comenta terremoto ao vivo na TV ...
Jacinda Ardern anunciou corte de 20% nos salários dos executivos públicos,
ministros e, naturalmente, dela mesma.
Por que a Internet quer se mudar para a Nova Zelândia?

O que tem um pequeno país do sudoeste do Pacífico com menos de cinco milhões de habitantes para que todos o idealizem atualmente? Uma líder carismática que aposta nas políticas sociais. Ardern se somou à lista de líderes mulheres que provaram uma eficaz gestão sanitária e social perante o coronavírus —aprovou uma lei que, sob o lema de “bata firme e bata rápido”, conseguiu achatar a curva da pandemia em apenas três semanas (com apenas 21 mortos até o momento). Embora sejam os programas, as pautas de ação e a ideologia que definam os resultados, e o gênero não seja critério exclusivo para a validade de uma política, Ardern provou que a Nova Zelândia é um país apetecível para viver.

Ardern abriu o caminho a uma política aglutinadora quando disse aquilo de “eles são nós” e soube administrar a crise decorrente de um ataque terrorista do supremacismo branco contra mesquitas, cobrindo-se com um hijab e abraçando os familiares das vítimas em um ato público:
Não foi fraqueza o que Jacinda Ardern mostrou: exibiu, pelo contrário, uma força incomum na classe política dirigente, reconhecendo a vulnerabilidade como o ponto de referência para pensar a política a partir de outro lugar”, escreveu Máriam Martínez-Bascuñán a propósito desse gesto.
Também disse que seu país estava “no lado certo da história” na luta contra a mudança climática quando aprovou a histórica lei do carbono zero e se comprometeu a eliminar as emissões de gases do efeito estufa até 2050, como exige o Acordo de Paris.

Seu governo de coalizão aprovou um dos pacotes sociais mais aplaudidos contra a epidemia da ansiedade e frente aos elevados índices de violência de gênero detectados ao chegar ao cargo (está entre as piores posições da OCDE). Investiu o equivalente a cerca de seis bilhões de reais ao todo, dos quais uma boa parte se destinará ao chamado “centro perdido”: os neozelandeses que sofrem ansiedade leve a moderada e transtornos depressivos, os que estão num ponto intermediário e não precisam de hospitalização, mas cujo mal-estar afeta significativamente sua qualidade de vida. Também anunciou que investirá outro bilhão de reais em políticas contra a violência contra mulheres, entre as quais se inclui uma rede de refúgios para mulheres que sofrem maus-tratos, assistência às cidadãs maoris e cursos educativos para advogados.

Por causa da crise do coronavírus, anunciou um corte de 20% nos salários dos executivos públicos, ministros e, naturalmente, dela mesma. E tornou a fazer história ao propor estabelecer uma semana trabalhista de quatro dias para reativar a economia depois do impacto do coronavírus. “Ouvi muita gente dizer que deveríamos ter uma semana de trabalho de quatro dias. É um acordo que deve ser feito entre empregador e empregado. Mas aprendemos muito durante a covid-19, a flexibilidade das pessoas que trabalham de casa e a produtividade que se pode tirar disso”, afirmou. Quem poderia assumir seu lugar? Enquanto isso, a Internet continuará sonhando em se mudar para a Nova Zelândia.

Clipping Jacinda Ardern torna a Nova Zelândia a nova utopia para onde todo mundo quer se mudar, Noelia Ramírez, 25/05/2020, El País.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Patrícia Medici e Gabriela Cabral Rezende receberam o Whitley Awards, o “Oscar Verde” da conservação ambiental

prêmio cientistas brasileiras
Patrícia Medici e Gabriela Cabral Rezende dedicam a vida à fauna brasileira
 e receberam o Whitley Awards, o “Oscar Verde” mundial
Dois projetos idealizados por pesquisadoras brasileiras foram vencedores do maior prêmio de conservação ambiental do mundo, o "Fundo Whitley para a Natureza", chamado de “Oscar Verde”. Na manhã desta quarta-feira (29) Gabriela Rezende recebeu a notícia da vitória que a beneficia com cerca de R$ 260 mil (40 mil libras esterlinas) para auxiliar o financiamento de seus projetos envolvendo o mico-leão-preto.

Além das iniciativas inscritas, o Fundo ainda garante o principal prêmio da edição a um projeto que já tenha sido vencedor anteriormente e continue merecendo destaque na biodiversidade. Foi nesta categoria que consagrou Patrícia Medici com seu trabalho sobre a conservação de antas no Brasil, recebendo cerca de R$ 400 mil (60 libras esterlinas).

Gabriela Rezende preserva os micos-leões-pretos da Mata Atlântica
Gabriela Rezende estava entre os quinze finalistas do "Fundo Whitley para a Natureza", um dos mais prestigiados prêmios referentes à conservação no mundo, popularmente chamado de “Oscar Verde”. Premiado, o projeto trata da conexão dos fragmentos florestais da paisagem do Pontal do Paranapanema para garantir a reintrodução de micos-leões-pretos em áreas onde ainda não estão presentes.

Implantando o projeto, os corredores ecológicos estabelecerão uma área contínua de mais de 45.000 hectares de Mata Atlântica para micos-leões-pretos, aumentando a população na região e reduzindo a zero o risco de extinção das pequenas populações, já que estarão todas conectadas.
Além do reconhecimento e de toda a visibilidade que o prêmio trás, ele vem com um apoio financeiro que vai ajudar muito a dar os próximos passos para a conservação da espécie. Com esse recurso vamos focar nas atividades de manejo das populações, movimentar grupos de micos-leões-pretos para as áreas que estão sendo conectadas, justamente para garantir que eles ocupem essas áreas restauradas e que isso possibilite o crescimento da população”, explica.
O prêmio conferido usualmente é entregue em uma celebração oficial em Londres, dinâmica que foi modificada em função da pandemia do novo coronavírus. Quanto ao adiamento da cerimônia, Gabriela garante que a comemoração será ainda maior.
Vai ser muito emocionante viver tudo isso no dia da cerimônia, que foi postergada. Trazer notícias boas de conservação da biodiversidade em um momento tão complicado que o mundo está passando é muito especial”, completa.
Também faremos mais plantios de árvores e corredores para alcançar o nosso objetivo final de estabelecer essa grande área contínua e reconectar as populações de mico. Também não podemos deixar de lado as ações de educação ambiental e envolvimento comunitário, que são cruciais para garantirmos a sustentabilidade de tudo que a gente faz”, completa.
O prêmio conferido usualmente é entregue em uma celebração oficial em Londres, dinâmica que foi modificada em função da pandemia do novo coronavírus. Quanto ao adiamento da cerimônia, Gabriela garante que a comemoração será ainda maior.
Vai ser muito emocionante viver tudo isso no dia da cerimônia, que foi postergada. Trazer notícias boas de conservação da biodiversidade em um momento tão complicado que o mundo está passando é muito especial”, completa. 
Patrícia defende a causa da conservação da anta brasileira
Há 24 anos, a bióloga Patrícia Medici, cofundadora da ONG brasileira Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), começou a desvendar os mistérios que envolviam as antas na Mata Atlântica, mais especificamente no Parque Estadual Morro do Diabo (SP). Se a perda de habitat, a caça e o aumento da urbanização eram ameaças para esse mamífero, o projeto utilizou a tecnologia de GPS, armadilhas fotográficas, a restauração de corredores florestais e até a atividade de educação ambiental como ferramentas da conservação da espécie.
Eu comecei a pensar em expandir para diferentes partes do Brasil esse projeto. Além da Mata Atlântica, em áreas que sabíamos da ocorrência desse animal como o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia”, explica Patrícia.
E foi com a ideia de expansão das ações para o Pantanal que o projeto conquistou seu primeiro prêmio no Fundo Whitley, em 2008.
Houve uma reação do tipo: ‘é um projeto sobre antas mesmo que ganhou um prêmio?’ (risos). Isso gerou na gente uma necessidade de falar mais com o público sobre o animal”, relembra a pesquisadora.
Ampliar os conhecimentos, produzir o maior banco de dados sobre o animal e estudar o atropelamento da espécie nas estradas foram conquistas que permitiram que o fundo mantivesse o suporte para os diferentes passos do projeto.
Recebemos auxílio para dar continuidade às ações no Cerrado e agora este prêmio para a Amazônia”, vibra Patrícia.
Em 7 anos, no Mato Grosso do Sul, monitoramos 35 rodovias e detectamos mais 600 carcaças de antas por atropelamentos que ocasionaram a morte de mais de 30 pessoas. É, de longe, o problema mais sério para conservação e um risco para o tráfego nessas rodovias”
O dinheiro recebido pelo prêmio, agora, será dividido entre a expansão do projeto para a Amazônia e um retorno ao local de nascimento da iniciativa para avaliar a população dez anos após a pesquisa original. O valor recebido deve também ajudar a conter ameaças, criar planos a favor das antas e reforçar estratégias que reduzam o atropelamento desses animais em estradas, como cercamentos, radares e passagens de fauna.

A equipe coordenada por Patrícia é composta por cinco pessoas fixas, um trainee de algum país que possua o animal para obter conhecimentos e treinamentos sobre ele e mais sete colaboradores de diversas áreas que analisam, por exemplo, a contaminação de antas por agrotóxicos.

O prêmio "Whitley Fund for Nature " foi fundado na Inglaterra e completa 27 anos em 2020. Nessa trajetória já beneficiou mais de 200 projetos em 80 países com um financiamento que supera 16 milhões de libras, um valor que se aproxima dos 90 milhões de reais. Desde a origem da iniciativa, sete brasileiros já foram premiados (Patrícia Medici, por exemplo, havia vencido em 2008).

O dinheiro para auxiliar os projetos provém de doações de grandes instituições e fundações que vão desde o WWF até a Fundação Leonardo DiCaprio, por exemplo. Também foram premiados na edição deste ano projetos do Quênia, Butão, Nigéria, Indonésia e África do Sul, que envolviam assuntos como chimpanzés, antílopes e anfíbios.

Clipping Conheça as brasileiras vencedoras do maior prêmio de conservação ambiental do mundo, por Gabriela Brumatti e Giulia Bucheroni, Terra da Gente, G1 Campinas, 29/04/2020

terça-feira, 12 de maio de 2020

Pneumologista brasileira se destaca ao usar com sucesso anticoagulante contra a Covid-19

Elnara Negri é destaque por uso de anticoagulante contra Covid-19 Foto: Divulgação
Pneumologista conseguiu alcançar alta taxa de recuperação de pacientes

Uma pneumologista brasileira ganhou destaque em uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo, a Science, ao apresentar um artigo que teve ótimos resultados no combate à Covid-19.

O estudo em questão, conduzido pela doutora Elnara Negri, trata do uso do anticoagulante heparina, usado para reversão da trombose, em pacientes com o coronavírus. Ao redor do mundo, médicos de diversos países também têm comprovado a eficácia do método.

Elnara, que foi a primeira médica no Brasil a observar os bons resultados do medicamento, relatou que o maior problema de pacientes com casos graves de Covid-19 não está no pulmão propriamente, mas na coagulação da rede sanguínea do órgão.
A evasão em cascata de proteínas do sangue leva à coagulação, o que impede a oxigenação adequada – destaca a médica.
A pneumologista conta que percebeu o fato ao atender a primeira paciente com Covid-19, uma idosa com dificuldades para respirar e com problemas circulatórios em um dedo do pé.
 Ficou roxo, ao mesmo tempo em que houve uma queda abrupta na oxigenação – relatou.
Com base na conclusão, Elnara publicou um estudo preliminar, no dia 20 de abril, detalhando a experiência no Hospital Sírio Libanês, onde ela atua, em 27 pacientes com Covid-19. No tratamento, as pessoas com baixa oxigenação no sangue receberam heparina, com a dose sendo reforçada a cada vez que a coagulação aumentava.

Dos 27 pacientes atendidos por Elnara, um não recebeu acompanhamento porque foi transferido para outro hospital, dois mantiveram-se em estado grave, e 24 se recuperaram da infecção, incluindo quatro que tinham sido submetidos à ventilação mecânica. A taxa de recuperação é a mais alta já vista desde o início da pandemia, segundo a conceituada revista Science.

A médica destaca que nem todos os hospitais têm utilizado o medicamento “porque nem todos os colegas acreditam no tratamento”, mas ela ressalta que o momento atual é uma guerra e todos os avanços devem ser considerados para salvar vidas.
Eles querem tudo baseado em evidências com estudos randomizados. Acontece que nós estamos no meio da guerra, e por isso nesse caso, a nosso ver, a observação clínica associada aos dados de autópsia deve ser levada em consideração – finaliza.
Clipping Brasileira se destaca ao tratar Covid-19 com anticoagulante, por Paulo Moura, Pleno.News, 07/05/2020

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Governos chefiados por mulheres viram exemplo de combate à pandemia do coronavírus

Angela Merkel
Chanceler alemã, Angela Merkel, chega ao Parlamento Foto: AFP / Bernd von Jutrczenk 
As respostas dos países à crise do coronavírus têm sido variada e de resultados heterogêneos, mas as de maior sucesso têm em comum governos chefiados por mulheres. Em dois exemplos, Alemanha e Nova Zelândia, as estratégias foram diferentes, mas o êxito foi parecido, em comparação a outras grandes economias.

No primeiro caso, na Alemanha, o governo da chanceler Angela Merkel realizou um vasto número de testes, ofereceu milhares de leitos de UTI e equipou seu pessoal de saúde com as proteções necessárias para lidar com a pandemia. O país foi atingido duramente pelo vírus, mas com uma taxa de mortalidade baixa, cerca de 1,6%. Em comparação, na Itália, ela foi de 12%, na Espanha e no Reino Unido, de 10%.

A Nova Zelândia, liderada por Jacinda Ardern, também se destacou com apenas 9 mortes. Muito graças a sua geografia e tamanho: o país tem apenas 5 milhões de habitantes, menos do que a cidade de São Paulo. No entanto, a liderança de Ardern também contribuiu. Ela determinou testes em massa e tomou a rápida decisão de fechar fronteiras e ordenar o isolamento no início da pandemia.

O que é importante não é a questão de gênero do líder, mas a habilidade do país de eleger o melhor candidato, independentemente do sexo”, escreveu a colunista Emma Burnell do jornal Independent.

Jacinda Ardern
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, carrega sua filha recém-nascida, Neve Te Aroha Ardern Gayford, ao lado de seu marido, Clarke Gayford, ao deixar o Hospital de Auckland. Foto: REUTERS/Ross Land - 24 de Junho de 2018
Uma das respostas mais rápidas à pandemia foi a da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. No dia 31 de dezembro, no mesmo dia em que soube do surgimento de um vírus em Wuhan, até então desconhecido, ela determinou que todos os passageiros retornando da cidade deveriam ser investigados. Somente alguns dias depois é que a Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo do qual Taiwan não faz parte, viria a declarar que o vírus era transmissível entre humanos.

Em janeiro, dois meses antes de a OMS declarar a pandemia, Tsai apresentou 124 medidas para evitar que o vírus se espalhasse sem ter de recorrer ao isolamento total, que viria a ser adotado em vários países mais tarde. Hoje, Taiwan contabiliza um saldo de 393 casos e apenas 6 mortes.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, recebeu apoio depois de recusar os apelos do presidente da China, Xi Jinping Foto: Billy H.C. Kwok/The New York Times.
Na Finlândia, Sanna Marin, a chefe de Estado mais jovem do mundo, de 34 anos, comanda uma cruzada contra a pandemia usando as redes sociais e influenciadores digitais, que vem ajudando o país a manter números baixíssimos de infectados – apenas 3 mil. O sucesso da premiê finlandesa é tão grande que uma pesquisa recente indicou que seu desempenho durante a crise recebeu a aprovação de 85% dos eleitores.

A jovem Sanna Marin após a eleição que a definiu como primeira-ministra.
Foto: Vesa Moilanen/ Lehtikuva /Reuters
De acordo com reportagem da revista Forbes, a Islândia, sob a liderança da jovem primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, também é um caso à parte. Seu governo está oferecendo testes gratuitos para todos os cidadãos, com ou sem sintomas – o país já testou 10% da população. O país registrou 1,7 mil casos e apenas 8 mortos. O governo islandês instituiu também um sistema completo de rastreamento de casos, permitindo que não fosse necessário o isolamento ou fechamento de escolas.

Clipping Governos liderados por mulheres viram exemplo de combate à pandemia, Estadão, 15/04/2020




terça-feira, 14 de abril de 2020

Cientistas brasileiras foram pioneiras no sequenciamento do genoma do coronavírus

Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil em fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)
Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil a partir de fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)

No início de março, duas brasileiras lideraram o trabalho que sequenciou o genoma do novo coronavírus em apenas dois dias, quando a média mundial vinha sendo de 15 dias.

Quem comandou a equipe foi Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da Fapesp. Jaqueline desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes e integra um projeto itinerante de mapeamento genômico do vírus Zika no Brasil.

A coordenadora geral da “missão” é Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela Fapesp e pelos britânicos Medical Research Council e Fundo Newton.

Os pesquisadores conseguiram um resultado tão rápido porque se prepararam. Eles sabiam que a doença poderia chegar ao Brasil e se prepararam para acelerar o processo de sequenciamento.

Segundo Ester Sabino, assim que o primeiro surto de COVID-19 foi confirmado na China, em janeiro, a equipe do projeto se mobilizou para obter os recursos necessários para sequenciar o vírus quando ele chegasse no Brasil.
Usamos essa metodologia para monitorar a evolução do vírus zika nas Américas, mas, nesse caso, só conseguimos traçar a origem do vírus e a rota de disseminação um ano após o término da epidemia. Desta vez, a equipe entrou em ação assim que o primeiro caso foi confirmado”, contou Ester.
O sequenciamento foi realizado com o primeiro caso identificado no país, de um paciente de 61 anos vindo da Itália para São Paulo. O resultado foi publicado e disponibilizado para pesquisadores do mundo inteiro e já foi possível descobrir que o vírus do brasileiro é semelhante ao de um genoma sequenciado do coronavírus na Alemanha.

Com esse sequenciamento, é possível desenvolver mais rapidamente vacinas e tratamentos mais eficientes. “Por meio desse projeto foi criado uma rede de pesquisadores dedicada a responder e analisar dados de epidemias em tempo real. A proposta é realmente ajudar os serviços de saúde e não apenas publicar as informações meses depois que o problema ocorreu”, disse Ester Sabino à Agência FAPESP.

Outros pesquisadores que participaram do sequenciamento do novo coronavírus

Ao lado dessas duas mulheres que fizeram história estão vários outros pesquisadores que elas fazem questão de lembrar, como Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz, Dr. Nuno Faria, Dr. Oliver Pybus, Dra. Sarah Hill e o doutorando Darlan Candido, da Universidade de Oxford, Dr. Joshua Quick e Dr. Nicholas Loman, da Universidade de Birmingham, o mestre Filipe Romero, da UFRJ, a mestre Pâmela Andrade, as estudantes Mariana Cardoso e Camila Maia a bióloga Thais Coletti, a farmacêutica Erika Manuli e as biomédicas Ingra Morales e Flavia Sales. 

Clipping Cientistas brasileiras são as mais rápidas no mundo a sequenciar genoma do coronavírus, por Rafael Melo, Razões para Acreditar (via revista Galileu e Jornal da USP), 02/03/2020

terça-feira, 3 de março de 2020

O século 21 deve ser o século da igualdade entre mulheres e homens, segundo secretário-geral da ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, explica seu compromisso com a igualdade de gênero na The New School, em Nova Iorque. Foto: ONU/Mark Garten
O secretário-geral da ONU, António Guterres, explica seu compromisso com a igualdade de gênero na The New School, em Nova Iorque. Foto: ONU/Mark Garten
O século 21 deve ser o século da igualdade entre mulheres e homens, disse na quinta-feira (27) o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um apelo para transformar o mundo, garantindo a participação igualitária para todos.

Falando a professores e alunos da The New School, uma universidade na cidade de Nova Iorque, o chefe da ONU declarou-se feminista orgulhoso e pediu aos homens em todos os lugares apoio aos direitos das mulheres.
Assim como a escravidão e o colonialismo eram uma mancha nos séculos anteriores, a desigualdade das mulheres deveria nos envergonhar no século 21. Porque não é apenas inaceitável; é estúpido”, disse.
Para o chefe da ONU, a desigualdade de gênero e a discriminação contra mulheres e meninas continuam sendo uma injustiça em todo o mundo.
Desde a ridicularização das mulheres como histéricas ou hormonais, até o julgamento rotineiro das mulheres com base em sua aparência; dos mitos e tabus que cercam as funções corporais naturais das mulheres, ao ‘mansplaining’ e à culpabilização da vítima — a misoginia está em toda parte”, disse ele.
No cerne da questão está o poder, pois as estruturas de poder dominadas por homens sustentam tudo, desde economias nacionais, sistemas políticos, mundo corporativo e além. Mas ele ressaltou que o patriarcado também tem impacto sobre homens e meninos, prendendo-os em rígidos estereótipos de gênero, enquanto uma mudança sistêmica está muito atrasada.
É hora de parar de tentar mudar as mulheres e começar a mudar os sistemas que as impedem de alcançar seu potencial. Nossas estruturas de poder evoluíram gradualmente ao longo de milhares de anos. Uma evolução adicional está atrasada. O século 21 deve ser o século da igualdade para as mulheres”, afirmou.
Problemas criados pelo homem, ‘soluções lideradas por humanos’

O desmantelamento da desigualdade de gênero transformará o mundo, afirmou o chefe da ONU, e é fundamental para resolver desafios globais como conflitos e violência, assim como a crise climática.

Também ajudará a diminuir a desigualdade digital, levar a uma globalização mais justa e aumentar a representação política.
A oportunidade dos problemas criados pelo homem — e eu escolho essas palavras deliberadamente — é que eles têm soluções conduzidas por humanos”, disse ele.
Enquanto as Nações Unidas completam 75 anos este ano, o organismo global está adotando amplas medidas para apoiar os direitos das mulheres, continuou ele.

O mês passado marcou o início de uma Década de Ação para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), destinados a construir sociedades pacíficas, prósperas e inclusivas, além de proteger o planeta.

A Década de Ação visa transformar instituições e estruturas, ampliar a inclusão e impulsionar a sustentabilidade.
Revogar leis que discriminam mulheres e meninas; aumentar a proteção contra a violência; diminuir a desigualdade na educação e no acesso às tecnologias digitais das meninas; garantir acesso total aos serviços e direitos de saúde sexual e reprodutiva e acabar com as disparidades salariais entre homens e mulheres são apenas algumas das áreas que estamos mirando”, disse ele.
No nível pessoal, o secretário-geral da ONU se comprometeu a aprofundar seu compromisso de destacar e apoiar a igualdade entre mulheres e homens durante o restante de seu mandato.

Ele tomará medidas em nível global, como exigir mudanças de governos que têm leis discriminatórias, e dentro da ONU, fortalecendo o trabalho sobre os vínculos entre a violência contra as mulheres e a paz e a segurança internacionais.
A igualdade entre mulheres e homens é uma questão de poder; poder que tem sido zelosamente guardado pelos homens por milênios. Trata-se de um abuso de poder que está prejudicando nossas comunidades, nossas economias, nosso meio ambiente, nossos relacionamentos e nossa saúde”, disse Guterres.
Clipping  ‘O século 21 deve ser o século da igualdade para as mulheres’, diz chefe da ONU

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