8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

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sábado, 29 de outubro de 2022

A eleição da marmelada: comê-la ou não comê-la, eis a questão?

Findo esse suplício de pseudodebates, concluo que essa eleição foi a maior marmelada da história recente, como se diz popularmente. Sempre disseram que Bolsonaro e seu séquito não se conformariam com um resultado negativo nas urnas e alegariam fraude de algum tipo. O que não se esperava é que a oposição fosse cooperar tanto com essa narrativa. Agora, eles podem gritar parcialidade com razão.

Como disse a jornalista Paula Schmitt, a campanha do Lula é “a materialização do maior conluio corporatocrata já visto numa campanha política. A coisa é tão surreal que parece comédia. A elite toda está com Lula, em todos os níveis do Consenso Inc –o cartel não-oficial mas extremamente síncrono entre empresas, mídia, acadêmicos, especialistas, artistas e influencers...”

Faltou falar dos piores integrantes desse cartel: os juízes das Supremas cortes, STF, TSE, que de suprema mesmo só têm a parcialidade que resolveram escancarar nessa eleição. Primeiro, como disse um ex deles, Marco Aurélio Mello, o STF resolveu ressuscitar o Lula com base em argumentos de fazer corar pedra, tipo a competência do foro do julgamento do petista que não deveria ter sido em Curitiba, mas sim em Brasília. Como então permitiram que fosse em Curitiba e autorizaram a prisão do cara? Depois, a parcialidade do juiz Sérgio Moro, como se Lula não tivesse sido julgado por outros 8 juízes também. Todos parciais? E, se não houve corrupção, nos casos julgados pela Lava Jato, de onde os integrantes da operação tiraram os 25 bilhões que devolveram aos cofres públicos? Do próprio bolso? Me poupem.

Livraram a cara do Lula com o objetivo de recolocá-lo na presidência da República. Havia sim condições de ter feito o impeachment do Bolsonaro em função, por exemplo, de suas ações desastrosas na pandemia que não o transformaram em genocida (como qualquer um que conheça o significado do termo sabe) mas o colocaram, por negligência e irresponsabilidade, na posição de culpado por mortes que poderiam ter sido evitadas. Se em 2020, em função da pandemia, não havia condições para tal, em 2021 já havia sim, mas não quiseram fazê-lo porque interessava deixar o Bolsonaro aí sangrando (assim pensavam) para ser sparring do Lula. Sem Lula na jogada, abria-se a possibilidade de renovação política com gente capaz de aglutinar votos suficientes para vencer Bolsonaro. Essa história de que só Lula poderia vencer Bolsonaro faz parte das lorotas do cartel.

Como se não bastasse, resolveram travestir um dos personagens mais autoritários da História brasileira, oriundo do grande partido mais autoritário surgido desde a redemocratização, como paladino da democracia contra o fascismo do Bolsonaro. Logo Lula que, antes e durante seus governos, fez um tour por tantas ditaduras mundo afora, com quem negociou obras para os parças da Odebrecht, que até o Muammar al Gaddafi, pervertido genocida ditador da Líbia, por 42 anos, consta como doador de sua primeira campanha na delação de Antonio Palocci.

Lula com Kadafi durante encontro em Abuja, Nigéria, em novembro
 de 2006 Foto: Ricardo Stuckert
Tanto os escândalos de corrupção dos governos Lula quanto seus amores e negociatas com tiranos pelo mundo foram amplamente divulgados pela imprensa. Não obstante, o TSE, em especial seu presidente, o liberticida Alexandre de Moraes, resolveu não só proibir a veiculação dessas informações, sob a desculpa de combate a fake news, como inclusive, no último capítulo dessa infâmia, resolveu obrigar emissora a veicular a fake news de que Lula é inocente. O PT ficou tanto tempo no poder que crianças ou adolescentes daquele período (2003-2016) podem estar votando pela primeira vez agora. Como então, esses novos eleitores não podem saber do passado de um dos candidatos?

A própria ministra Carmen Lúcia se saiu com uma história de que “não se podia permitir a volta de censura sob qualquer argumento no Brasil”, mas muito excepcionalmente, até o dia 31, endossava a censura prévia de um documentário sobre a facada que vitimou Bolsonaro na campanha anterior e a desmonetização de canais pró Bolsonaro. E, ainda por cima, afirmou que era para não comprometer a lisura, higidez e a segurança do processo eleitoral e dos direitos do eleitor.

Então, você vai a um jogo de futebol para ver seu time jogar, o juiz e os bandeirinhas aparecem com o emblema do time adversário e só apontam faltas para o seu time, sem falar em anulações de gols e expulsões de jogadores só do seu time e você acredita na lisura dessa arbitragem? Meu time já saiu do campeonato na primeira rodada, mas um dia pode estar na final. E se calha de seu Alexandre e dona Carmen ainda estarem por aí e decidirem vir com sua “lisura” para cima da minha turma?

Imprensa pode ser parcial. Em grandes democracias, a mídia inclusive assume que está apoiando candidato(a) X ou Y. Melhor do que fingir uma imparcialidade que não tem. E o leitor ou a leitora é que decidem se dão crédito a determinadas empresas de comunicação ou não. Em democracias, não existe essa história de querer obrigar uma emissora a defender teses que ela de fato não endossa. Sério que, desde os idos dos anos 70 do século passado, não ouvia mais falar em censura prévia e esse tipo de imposição a veículos de comunicação. Isso é muito grave. Se a imprensa pode demonstrar parcialidade, juiz não pode não.

E não me venham com historinha de que, como o Bozo é o pior dos mundos, vale tudo para tirá-lo da presidência. Das besteiras que Bozo diz, falar em regular a mídia eu nunca ouvi. Seu Lula, por outro lado, não tira isso da cabeça e da boca. Com a “lisura” dos integrantes da suprema, fica mais fácil obter esse tipo de objetivo – esse sim - inquestionavelmente fascistoide.

Ainda, nessa eleição, me impressionou também o quanto a esquerda em geral está datada. Na campanha do Lula tudo tão surrado: os slogans, as musiquinhas, aquele papinho cínico e furado de esperança e amor, gente abrindo livro para formar L num país de analfabetos e semianalfabetos. Da cruza infernal das eternas viúvas do muro de Berlim com a esquerda identitária (uma degeneração dos muito justos movimentos sociais do passado), surgiu uma esquerda mais preocupada com o sofrimento da turma do elu/delu via erros de pronomes do que com os reais interesses das classes trabalhadoras. Não por menos são as classes trabalhadoras que vêm, cada vez mais, apoiando a extrema-direita em todo o mundo.

Por último, não sou eu que vou dizer em que os outros devem votar. Reconheço que nos colocaram numa situação de se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Entretanto, acho importante que, nessa quase escolha de Sofia, as pessoas votem sem ilusões. Ninguém aí está defendendo democracia coisa nenhuma, nem mesmo os que teriam obrigação de defendê-la. No caso do Lula, todo esse conluio elitista de empresas, mídia, acadêmicos, especialistas, artistas, influencers, políticos, juízes, etc. estão defendendo seus interesses, vide Marina e Simone Tebet, por exemplo, de olho em cargos num possível governo petista. Quem quiser engolir essa marmelada, portanto, que o faça consciente. Lembrando que ainda existe a possibilidade de simplesmente não comê-la.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A eleição dos buracos negros, do ponto de não retorno e da absorção da luz

Buraco Negro

Apelidei a atual eleição de 'buraco negro". Originário de um colapso gravitacional de estrelas, o buraco negro apresenta densidade infinita, campo gravitacional intenso, atrai todos os elementos que cruzam o seu horizonte, configurando um ponto de não retorno e absorvendo até a luz.

Nesta eleição temos dois buracos negros, atraindo e absorvendo os elementos políticos que cruzam seu horizonte. Sabíamos que num embate entre petistas e bolsonaristas a baixaria seria farta, mas eles conseguiram se superar.

Depois da história da maçonaria, do satanismo, do canibalismo, de um tal creme de leite, agora temos a homofobia sendo usada pela esquerda contra um guri conservador. Passaram uma imagem, supostamente tirada de um vídeo, onde também supostamente o tal guri aparece fazendo boqt num sujeito. A justificativa para a tal exposição é que o guri seria um gay hipócrita que combate os direitos homossexuais, por aí. Entretanto, ao que tudo indica, o vídeo é falso, o cara que aparece na foto, tirada do vídeo, é um ator pornô, e o guri é hétero. Aí a coisa fica bem feia porque estão imputando homossexualidade a alguém como difamação, a homossexualidade não sendo de natureza difamatória, né mesmo? Não estamos no Irã. Vários gays que conheço estão putos.

E o buraco negro à esquerda continua absorvendo a centro-esquerda e direita para uma tal frente democrática, como se estivéssemos na II Guerra Mundial e fosse necessário fazer aliança com o Stalin para vencer o Hitler. Isso quando estamos, na real, numa mera luta entre duas forças populistas autoritárias e picaretas que se digladiam para ver quem vai nos roubar as poupanças e o futuro simplesmente. Li artigo de um sujeito espinafrando o Lula de cabo a rabo, mas dizendo que votará nele para salvar a tal democracia. Nesse caso, o buraco negro à esquerda já chegou ao ponto de não retorno e absorveu até a luz circundante.

Por outro lado, o buraco negro à direita, já absorveu os lava-jatistas, como o Sérgio Moro, que se uniu a seu antigo algoz, Bozo, contra o lulopetismo. Como ele disse que deixou o governo do Bozo porque o dito o estava impedindo de combater a corrupção, com que cara fica agora nessa aliança e qual a sua real disposição de combater a corrupção no Senado? Estelionato eleitoral para todos os lados.
E os buracos negros estão absorvendo tanto tudo à sua volta que afetam até o campo gravitacional um do outro, tanto que já temos o vice do Zema (Novo), que apoia o Bozo, declarando voto no Lula e o vice do Rui Costa (PT-BA), que apoia o Paim naturalmente, que declarou voto no Bozo. Ler com calma. 

Melhor essa eleição acabar logo antes do país inteiro chegar no ponto de não retorno e desaparecer nos buracos negros e do mapa-múndi.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Por que a oposição entre socialismo e capitalismo é uma falsa questão


Eu ri com esse vídeo do Ranking dos Políticos, ao fim do post, reagindo a outro vídeo do Guilherme Boulos, onde o dito fala um monte de falácias sobre as maravilhas do socialismo em oposição ao capitalismo. Eu, mesmo quando estava na faixa de idade do pessoal que hoje acredita nos leros do Boulos, já não acreditava em socialismo. Cresci ainda sob a Guerra Fria, quando os podres da URSS já circulavam pelo mundo: o genocídio dos ucranianos, o Grande Terror, obras do Stalin (um das maiores genocidas da História), mas, depois, já sem o carniceiro, também a invasão da Hungria (1956) e da Tchecoslováquia (1968) pela tropas soviéticas. - Nunca ouviram falar da primavera de Praga? - Depois da queda do muro de Berlim e, em seguida, do fim da URSS, mais informações circularam sobre a mortandade (na casa dos muitos milhões) em todos os países que caíram sob o jugo do chamado socialismo real. Fora que, como jovem ativista do movimento homossexual, lá nos idos de 1980, eu também já sabia dos campos de reeducação de homossexuais em Cuba, do sufoco generalizado que era ser gay ou lésbica em países onde a individualidade das pessoas não tinha vez e cuja moral não era lá muito diferente dos evanjegues americanos ou da ultradireita em geral. 

Eu sou da geração da contracultura que era libertária e imensamente crítica tanto da tecnocracia e da sociedade de consumo dos EUA quanto da tecnocracia e do totalitarismo soviéticos. Minha geração queria pensar em outras possibilidades que não essas que nos apresentavam. Problema é que a AIDS, identificada em 1981, fechou de vez as portas da contracultura, que já vinham se estreitando desde a década de 70, acabando com a revolução sexual e todo clima libertário e também libertino da geração do "paz e amor". E a contracultura, como movimento específico, não se rearticulou nas décadas seguintes. Quem veio a se rearticular na década de 90 foi a esquerda ortodoxa, as então viúvas do Muro de Berlim, com as mesmas velhas ideias que não passaram no test drive da História em canto algum, em momento algum. E foi essa velha esquerda que fez a cabeça das novas gerações, principalmente na América Latina e no Brasil. Daí hoje essas gerações ficarem pagando o grande mico de apoiar gente como o Boulos e, ainda pior, o neostalinista, Jonas Manoel, que um idiotizado Caetano Veloso resolveu trazer à luz.

A discussão capitalismo versus socialismo é uma falsa questão porque não se pode comparar um sistema que funciona, apesar dos seus muitos pesares, com outro que nunca funcionou. Os adeptos dessa relíquia macabra socialista só servem para nos impedir de discutir, com ideias de hoje, o capitalismo em si mesmo e o custo ambiental e humanamente insustentável do seu sucesso. 

Mas, pessoal, socialismo não funciona mesmo. E não, isso não é papo da direita. É a real. O exemplo da China que, quando puramente comunista, fora matar milhões também de fome e em execuções sumárias, era um país rural e atrasado e virou, ao aderir à economia de mercado, uma potência mundial em apenas 50 anos, deveria ter enterrado de vez a ideia do socialismo como alternativa ao capitalismo. Incrível, no entanto, o quanto a humanidade prefere manter essa neurose coletiva de insistir nesse mesmo erro eternarmente.

A discussão capitalismo versus socialismo é uma falsa questão porque não se pode comparar um sistema que funciona, apesar dos seus muitos pesares, com outro que nunca funcionou. Os adeptos dessa relíquia macabra socialista só servem para nos impedir de discutir, com ideias de hoje, o capitalismo em si mesmo e o custo ambiental e humanamente insustentável do seu sucesso. 

Ah, e o Trump ganhou na Flórida porque o eleitorado latino (20%), composto majoritariamente de cubanos e seus descendentes, compram sua retórica anticomunista. E de comunismo esse pessoal, que viveu a coisa na própria pele, nem quer ouvir falar.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Presença de mulheres no Congresso brasileiro é muito menor que nos parlamentos da maioria das nações do G-20 e da América Latina

Deputada Tábata Amaral (PDT-SP) tem na educação a sua principal plataforma.
 Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Brasil é vice-lanterna em representação feminina no Congresso
Presença de mulheres no Congresso é muito menor que maioria das nações do G-20 e da América Latina; no mundo, País é apenas o 157º

Apesar de o número de mulheres no Congresso ter quase dobrado em 20 anos, o Brasil ocupa a vice-lanterna no quesito representação política feminina em duas listas de 20 países. Em comparação com os integrantes do G-20 - os países mais ricos do mundo - e com os conterrâneos da América Latina, o País amarga a 19ª colocação, com apenas 10,7% de mulheres no Congresso (somando Câmara e Senado), de acordo com dados do Banco Mundial. 

Dentre os membros do G-20, que reúne as maiores economias do mundo, o México é quem tem o maior porcentual de mulheres no parlamento: 48,2%. A única nação que perde para o Brasil — e por pouco — é o Japão, com 10,1%. Na América Latina, dois países têm mais mulheres do que homens como parlamentares: Cuba e Bolívia. Quem perde para o Brasil é o Haiti, com pífios 2,5% de representação feminina.

Apesar de ainda estar num patamar baixo, o Brasil vem registrando aos poucos um aumento no número de mulheres na política. Há 20 anos, em 1998, o porcentual era de 6,6% e chegou a cair para 5,7% nos dois anos seguintes, antes de começar a crescer.

Em toda a base de dados do Banco Mundial, o Brasil aparece na 157ª posição de um total de 187.
Mudanças

Algumas medidas foram adotadas pela Justiça Eleitoral nos últimos anos para tentar mudar o histórico de baixa representação. Em 2009, ficou definido que 30% das candidaturas dos partidos devem ser de mulheres. E, para as eleições do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que 30% dos recursos do fundo eleitoral precisam ser destinados a elas.

A professora Vera Chaia, da PUC-SP, que coordena uma pesquisa sobre lideranças políticas no Brasil, atribui a subrepresentação à falta de espaço, de oportunidade e ao controle interno dos partidos. Segundo ela, existe também uma questão cultural e machista de desqualificar a mulher como se ela fosse incapaz de exercer um cargo político. "A ênfase maior das campanhas é na participação masculina", diz.

Vera avalia ainda que há uma falta de sensibilidade dos homens em relação à representação feminina. Ela pondera, no entanto, que apenas o fato de ser mulher não significa que a parlamentar representará "interesses eminentemente" desse público.
Se fizermos uma leitura apenas nesse sentido, está equivocada. A mulher no Parlamento tem também uma representação dos ideais de seu partido e não somente de uma posição ligada a um determinado do setor da sociedade", diz.
Para o professor José Alvaro Moisés, que conduz pesquisas sobre a qualidade da democracia na Universidade de São Paulo, os números de subrepresentação mostram a dificuldade de obtenção de financiamento, o que atrapalha a organização de campanhas de sucesso. Além disso, ele diz que as oligarquias que comandam os partidos são, em geral, machistas e não aceitam bem a presença de mulheres nem de mudanças.
Há um controle muito grande de quem dirige os partidos e essas oligarquias tendem a se perpetuar e, em muitos casos, favorecer pessoas ligadas a eles ou a seus interesses".
A deputada Tábata Amaral (PDT-SP), em seu primeiro mandato, é uma das 77 parlamentares que atuarão na Câmara nos próximos quatro anos. Para ela, é motivo de comemoração o maior número de mulheres na Casa – eram 51 na última legislatura -, mas é necessário trabalhar para elevar essa quantidade. “Sei o quanto foi difícil chegar aqui e temos que ampliar a participação das mulheres na política”, diz. No Senado, o número passou de 13 para 12 mulheres com as eleições do ano anterior. 
A mulher não tem apoio para se candidatar, para ir para a escola, para fazer faculdade. O Brasil é extremamente violento contra as mulheres”. Tábata defende que sejam dadas mais oportunidades para meninos e meninas no âmbito da educação. “A desigualdade começa no universo acadêmico”, afirma, defendendo sua principal bandeira.
Fonte: O Estado de S.Paulo, Alessandra Monnerat, Caio Sartori e Paulo Beraldo, 07 de março de 2019

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Jair Bolsonaro e a perversão do liberalismo


Como disse outras vezes, Bolsonaro nada tem de liberal, nem sequer no sentido econômico. Sempre foi estatista, corporativista e desenvolvimentista. Não por menos votou com o PT em muitas questões. No sentido das liberdades políticas e individuais, então, nem se fala. Um sujeito que nega o estado laico, que acha que minorias devem se curvar à maioria, é tudo menos liberal.

E, claro, o PSL não é um partido liberal, muito menos liberal social, a mais "esquerdista" das correntes liberais. O PSL é uma sigla de aluguel que se alugou para a extrema-direita bolsonariana. O pessoal realmente social-liberal, que estava tentando reformar o partido para fazer o nome combinar com a doutrina, abandonou o dito com a chegada de Bozo.

E Paulo Guedes, um liberal, no sentido econômico ao menos, se juntou ao Bozo pra tentar implantar suas ideias no governo. Como vão se entender é que são elas.

A The Economist é uma tradicional revista liberal de fato, no sentido amplo do termo. Já escreveu sobre Bozo antes e agora repete a dose com o texto "Jair Bolsonaro e a perversão do liberalismo. Revivendo o casamento profano da América Latina entre a economia de mercado e o autoritarismo político." Vale a leitura, inclusive pra gente ter uma ideia do que pode nos acontecer e já ir se preparando.

Jair Bolsonaro and the perversion of liberalism
Reviving Latin America’s unholy marriage between market economics and political authoritarianism

I
n july, at a convention of his small and inaptly named Social Liberal Party, Jair Bolsonaro unveiled his star hire. Paulo Guedes, a free-market economist from the University of Chicago, has done much to persuade Brazil’s business people that Mr Bolsonaro can be trusted with the country’s future, despite his insults to women, blacks and gays, his rhetorical fondness for dictatorship and the suddenness of his professed conversion to liberal economics. At the convention Mr Guedes praised Mr Bolsonaro as representing order and the preservation of life and property. His own entry into the campaign, he added, means “the union of order and progress”.

That prospect seems poised to make Mr Bolsonaro, a former army captain, Brazil’s president in a run-off election on October 28th. A survey by Ibope, a pollster, gives him around 52% of votes, to 37% for Fernando Haddad, his opponent from the left-wing Workers’ Party (pt); 9% of respondents said they would abstain. Mr Bolsonaro has benefited from a public mood of despair over rising crime, corruption and an economic slump caused by the mistakes of a previous pt government.

In the PowerPoint slideshow that passes for his manifesto, Mr Bolsonaro promises “a liberal democratic government”. Certainly Mr Guedes champions some liberal economic measures. He proposes to slim Brazil’s puffed-up, ineffective and near-bankrupt state through privatisations and public-spending cuts, and to undo the country’s serpentine red tape.

Yet Mr Bolsonaro’s words are often neither liberal nor democratic. He stands for “order”, but not the law. He urges police to kill criminals, or those they think might be criminals. He wants to change human-rights policy to “give priority to victims”, though presumably he does not mean the victims of extra-legal killings by police. He lacks a liberal regard for the public good in his plans to favour farmers over the environment and withdraw Brazil from the Paris agreement on climate change.

Whereas Mr Guedes proposes economic deregulation, Mr Bolsonaro wants moral re-regulation. He vows “to defend the family”; to “defend the innocence of children in school” against alleged homosexual propaganda; and to oppose abortion and the legalisation of drugs. As a congressman, he proposed birth control for the poor. He calls the generals who took power as dictators in Brazil in 1964 and ruled for two decades “heroes”. In July one of his sons, Eduardo Bolsonaro, who is a congressman, said “a soldier and a corporal” would be enough to shut down the supreme court. (The candidate distanced himself from these “emotional” comments, saying “the court is the guardian of the constitution.”)

When Comte hijacked liberalism

The combination of political authoritarianism and free-market economics is not new in Brazil or Latin America. Indeed, Mr Guedes’s phrase at the convention harks back to the point in the history of Latin American thought when the notions of economic and political freedom became divorced. “Order and Progress” is the slogan stamped across Brazil’s flag. There is no mention of “freedom” or “equality”. The slogan was dreamed up when Brazil became a republic in 1889 under the influence of positivism, a set of ideas associated with Auguste Comte, a French philosopher. Positivists believed that government by a high-minded “scientific” elite could bring about modern industrial societies without violence or class struggle.

Positivism was little more than a footnote in Europe. But it was hugely influential in Latin America, especially in Brazil and Mexico. It combined a preference for strong central government with a conception of society as a hierarchical collective, rather than an agglomeration of free individuals. Positivism hijacked liberalism and its belief that progress would come from political and economic freedom for individuals, just when this seemed to have become the triumphant political philosophy in the region in the third quarter of the 19th century. According to Charles Hale, a historian of ideas, positivism relegated liberalism to a “foundation myth” of the Latin American republics. It was to be paid lip service in constitutions but ignored in political practice. In a sentiment to which Mr Bolsonaro might subscribe, Francisco G. Cosmes, a Mexican positivist, claimed in 1878 that rather than “rights” society preferred “bread…security, order and peace”.

The divorce between the ideas of political and economic freedom in Latin America was in part a consequence of the region’s difficulty in creating prosperous market economies and stable democracies based on equality of opportunity. But it has also been one of the causes of that failure.

Liberalism had struggled to change societies marked by big racial and social inequalities, inherited from Iberian colonialism, especially in rural Latin America. Liberals abolished slavery and the formal serfdom to which Indians were subjected in the Andes and Mexico. But the countryside remained polarised between owners of latifundia (large estates) and indentured labourers. Missing were yeoman farmers, or a rural bourgeoisie. André Rebouças, a leader of the movement to abolish slavery in Brazil (which happened only in 1888), envisaged a “rural democracy” resulting from “the emancipation of the slave and his regeneration through land ownership”. It never happened.

Positivists rejected the liberal belief in the equal value of all citizens and imbibed the “scientific racism” and social Darwinism in vogue in late 19th-century Europe. They saw the solution to Latin American backwardness in immigration of white European indentured labourers, which initially prevented a rise in rural wages for former slaves and serfs.

The ignored lesson of Canudos

The high-minded positivists who ran the Brazilian republic were humiliated by a rebellion in the 1890s by a monarchist preacher at Canudos, in the parched interior of Bahia in the north-east. It took four expeditions, the last involving 10,000 troops and heavy artillery, to crush Canudos, at a cost of 20,000 dead (some of the defenders had their throats cut after surrendering). Euclides da Cunha, a positivist army officer-turned-journalist who covered these events, wrote in “Os Sertões” (“Rebellion in the Backlands”), which became one of Brazil’s best-known books, that the military campaign would be “a crime” if it was not followed by “a constant, persistent, stubborn campaign of education” to draw these “rude and backward fellow-countrymen into…our national life”.

That was a liberal response from a positivist writer. Again, it didn’t happen. Veterans from the Canudos campaign would set up the first favelas in Rio de Janeiro, which soon were filled with migrants from the north-east. Their descendants may end up as victims of Mr Bolsonaro’s encouragement of police violence.

Liberalism never died in Latin America, but in the 20th century it often lost out. With industrialisation and the influence of European fascism, positivism morphed into corporatism, in which economic freedom yielded to the state’s organisation of the economy, as well as society, in non-competing functional units (unions and bosses’ organisations, for example). Corporatism, with the power it awarded to state functionaries of all kinds, appealed to many of the region’s military men.
That became clear when many countries suffered dictatorships in the 1960s and 1970s. The Brazilian military regime would intermittently adopt economic liberalism, especially under the aegis of Mario Henrique Simonsen, a brilliant economist (and one of Mr Guedes’s tutors). He twice tried to impose fiscal and monetary squeezes to curb inflation. His nemesis was Antonio Delfim Netto, who favoured expansion through debt and inflation, which would cost Brazil a “lost decade” in the 1980s. The dictatorship that Mr Bolsonaro so admires ignored Da Cunha’s plea: it left to civilian leaders a country in which a quarter of children aged seven to 14 were not at school. Only in the current democratic period, under the constitution of 1988, has Brazil achieved universal primary education and mass secondary schooling.

The exception to military corporatism was General Augusto Pinochet’s personal dictatorship in Chile from 1973 to 1990. Pinochet sensed, rightly, that corporatism would require him to share power with his military colleagues. Instead, he called on a group of civilian economists, dubbed the “Chicago boys” because several had studied at the University of Chicago, where the libertarian economics of Friedrich Hayek and Milton Friedman held sway.

Trial and error from the Chicago boys

The Chicago boys applied these principles in Chile, whose economy had been wrecked by the irresponsibility of Salvador Allende, a democratic socialist overthrown by Pinochet. Their programme would eventually lay the foundations for Chile to become Latin America’s most dynamic economy at the turn of the century. But it was akin to a major operation by trial and error and without anaesthetic. They slashed import tariffs and the fiscal deficit, which fell from 25% of gdp in 1973 to 1% in 1975. They privatised hundreds of companies, with no regard for competition or regulation. Worried that inflation was slow to fall, they established a fixed and overvalued exchange rate. The result of all this was that the economy came to be dominated by a few conglomerates, heavily indebted in dollars and centred on the private banks.

In 1982, after a rise in interest rates in the United States, Chile defaulted on its debts and the economy slumped. Poverty engulfed 45% of the population and the unemployment rate rose to 30%. Pinochet eventually dumped the Chicago boys and turned to more pragmatic economists, whose policies contributed to Chile’s post-dictatorship prosperity.

Something similar happened in Peru under the presidency of Alberto Fujimori, who governed from 1990 to 2000. He sent tanks to shut down congress and pushed through a radical free-market economic programme. Again, that laid the basis for a dynamic economy but carried heavy costs. Mr Fujimori’s regime engaged in systematic corruption, and his destruction of the party system and of judicial independence had consequences that are still being felt. In Guatemala and Honduras, Hayekian anti-state libertarianism has led to dystopias from which citizens migrate en masse to escape from weak governments unable to provide public security or encourage economic opportunity (see article).

Mr Bolsonaro is a fan of Pinochet, who “did what had to be done”, he said in 2015. (This included killing some 3,000 political opponents and torturing tens of thousands.) So is Mr Guedes, who taught at the University of Chile in the 1980s, when the dean of its economics faculty was Pinochet’s budget director. Mr Guedes wants a flat income tax, a libertarian but not liberal measure. (Adam Smith, the father of liberal economics, favoured a progressive tax.)

So is Brazil in for a dose of pinochetismo? Mr Bolsonaro is not the army commander—indeed he was eased out of the army for indiscipline in 1988. And he is not a convincing economic liberal. At heart, he is a corporatist. As a congressman for 27 years, he repeatedly voted against privatisation and pension reform, and for increases in the wages of public servants.

Many of Mr Guedes’s proposals are vague, but sensible in principle and overdue. They include cutting the deficit and the public debt and reshaping public spending. Many of his proposed privatisations are necessary. As he told Piauí, a newspaper, Brazil is “paradise for rent seekers and hell for entrepreneurs”. He rightly wants to change that. But in many of these things Mr Bolsonaro may be his opponent. Mr Guedes may not last long.

Under a Bolsonaro presidency, Brazil could hope for a reformed, faster-growing economy and a president who keeps his authoritarian impulses in check. But there are plenty of risks. Perhaps the biggest is of illiberal democracy in which elections continue, but not the practice of democratic government with its checks and balances and rules of fairness. That could arise if a Bolsonaro presidency descended into permanent conflict, both within the government and between it and an opposition inflamed by Mr Bolsonaro’s verbal aggression. Frustrated, he might then lash out against the legislature and the courts. Separating economic and political freedom may seem like a short cut to development. But in Latin America it rarely is: the demand for strong government has vied with a persistent yearning for liberty.

Fonte: The Economist, 25/10/2018

terça-feira, 26 de setembro de 2017

A conquista do voto feminino no Brasil


Nísia Floresta
O caminho que levou à conquista do voto feminino no Brasil se inicia, após 1850, com a formação das primeiras entidades de mulheres em luta por seus direitos. Suas principais bandeiras eram o direito à educação e ao voto. Destacaram-se, nessa luta, pioneiras como a abolicionista e feminista Nísia Floresta no Rio Grande do Norte e Violante Bivar e Velasco na Bahia. Em 1852, Violante fundou o primeiro jornal dirigido por mulheres chamado O Jornal das Senhoras, seguida, em 1873, pela mineira Francisca Senhorinha da Motta Diniz que criou, em Campanha (MG), o jornal feminista O Sexo Feminino. 

Também a pernambucana Josefina Álvares de Azevedo, radicada no Rio de Janeiro, fundou, em 1888, o jornal A Família (1888-1898) em prol da elevação do “status” das mulheres na sociedade brasileira através da educação e do direito ao voto. Em seu periódico, Josefina publicou uma série de artigos, sob o título O direito de voto, com vistas a obter esse direito para as mulheres no novo regime republicano, através de emenda ao Projeto da Constituição de 1891.

A emenda de autoria do constituinte Saldanha Marinho, no entanto, não passou, dada à pressão contrária dos machistas da época. De qualquer forma, vale ressaltar os nomes dos homens que apoiaram essa primeira iniciativa de possibilitar que as mulheres pudessem participar efetivamente da vida política do País. Foram eles os constituintes César Zama, Almeida Nogueira, José Lopes Trovão, Epitácio Pessoa, Nilo Peçanha, Érico Coelho, Índio do Brasil, César Zama, Godofredo Lamounier, Hermes da Fonseca, Ruy Barbosa e o Barão Rio Branco.

Outras tentativas foram feitas, através de emendas e projetos de lei, por deputados e senadores, entre 1894 e 1926, mas nenhuma obteve sucesso. Até que, em 1927, o Rio Grande do Norte incluiu, em sua Constituição Estadual, um artigo permitindo o voto feminino. Assim sendo, as primeiras eleitoras brasileiras foram as professoras Julia Barbosa de Natal e Celina Vianna, da Cidade de Mossoró, bem como também seria potiguar, a primeira prefeita eleita, Alzira Teixeira Soriano em 1928.


Evidentemente, a conquista do voto feminino no Rio Grande do Norte turbinou a luta pelo voto para todas as brasileiras. Dos anos vinte aos anos 30, quando da conquista do voto, destacaram-se nessa luta a bióloga Bertha Lutz que, tendo vivido no exterior, voltara imbuída dos ideais sufragistas, e a militante anarquista Maria Lacerda de Moura. Juntas fundaram a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher que, em 1922, passou a se chamar Federação pelo Progresso Feminino.

Por fim, em 1931, o governo Vargas aprovou a princípio um código provisório que concedia voto limitado às mulheres. Sob protestos, posteriormente, em 24 de fevereiro de 1932, na elaboração do novo Código Eleitoral, Vargas concede pleno direito de voto às mulheres sob as mesmas condições que os homens, ainda que o voto feminino não fosse obrigatório.

Carlota Pereira de Queiróz, eleita a primeira deputada federal brasileira
Em outubro de 1932, foram nomeadas Bertha Lutz e Nathércia da Cunha Silveira para a Comissão do Anteprojeto da nova Constituição Brasileira. Em maio de 1933, à época da Assembléia Nacional Constituinte, Carlota Pereira de Queiróz, médica paulista, foi eleita a primeira deputada federal brasileira. E, em 1935, Maria do Céu Fernandes é eleita como primeira deputada estadual do Brasil pelo voto popular do Rio Grande do Norte

Em 10 de novembro de 1937, contudo, Vargas dá início à ditadura do Estado Novo, suprimindo a Justiça Eleitoral, abolindo os partidos políticos e instituindo o voto indireto para presidente. As mulheres só voltariam a votar e ser votadas no final dos anos 40, com Conceição da Costa Neves, eleita para deputada por São Paulo em 1947, e Ivete Vargas, eleita deputada federal também por São Paulo, em 1950. Ambas tiveram os direitos políticos cassados, em 1969, por outra ditadura, desta feita a militar. E, para o Senado, foi eleita em 1979, pelo estado do Amazonas, Eunice Michiles, após o falecimento do Senador João Bosco de Lima, de quem era suplente.

Hoje, apesar da lei de cotas criada em 1996, que estabelecia 20% de candidaturas femininas nas eleições do país e da lei 2.034/2009, que estabelece que "cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo", as mulheres continuam sub-representadas na política, embora sejam quase 52% do eleitorado. De acordo com pesquisa realizada e divulgada pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), em agosto de 2016, com dados de 2012, e outras informações sobre o pleito de 2016, atualmente as Câmaras municipais contam com o total de 7,8 mil vereadoras, configurando 13,5% do total dos cargos. E 23% das cidades do país não têm nenhuma mulher em suas respectivas Câmaras.

Para o executivo municipal, em 2016, 11,6% dos prefeitos eleitos no primeiro turno foram mulheres. Para a Assembleia Legislativa, dos 1.059 deputados estaduais eleitos em 2014, apenas 121 foram mulheres, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, a cada 10 deputados, apenas 1 é do sexo feminino, configurando 11,4% do total de eleitos. No Senado, a representação feminina é de 12 senadoras entre os 81 eleitos. Já na Câmara dos Deputados, elas ocupam 50 cadeiras no universo de 512 parlamentares, sendo que 14 Estados e o Distrito Federal não possuem mulheres em suas bancadas. 

Em outras palavras, ainda há muito que avançar. Por isso, a fim de enfrentar esse quadro de sub-representação feminina na política brasileira, a bancada feminina no Congresso acordou com o TSE o lançamento, em abril de 2016, da campanha “Igualdade na Política”. Nada mais necessário do que campanhas como essa, considerando que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) o Brasil, no continente americano, só tem mais mulheres no parlamento do que o Haiti, Belize e São Cristovão.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Fernando Holiday, de token black a ponta de lança do reacionarismo

Eleito vereador no último pleito, Fernando Holiday, do Movimento Brasil "Livre" (MBL), um dos grupos que organizou as manifestações pelo impeachment de Dilma afirmou, em sua página do facebook: 
Meu primeiro pronunciamento feito aqui na minha página pós-eleição, além de divulgar os gastos finais de campanha, foi apoiar a medida do prefeito eleito João Doria de EXTINGUIR a secretaria de Igualdade Racial e LGBT. Precisamos diminuir o tamanho da máquina da prefeitura! Sou e serei a favor de qualquer redução de gastos ou estruturas burocráticas." 
Bem, Doria voltou atrás em sua fala sobre extinguir secretarias (não sei como ficará a situação agora) e, no caso da LGBT, nem poderia extingui-la porque sequer existe. Ao que tudo indica, Holiday não está a par desses detalhes, mais preocupado em jogar para sua plateia de reaças empedernidos.

Entretanto sua fala provocou engulhos em muitos, inclusive em mim. Me fez lembrar direto o personagem do filme Django Livre (de Quentin Tarantino), Stephen, interpretado magistralmente por Samuel Lee Jackson, o negro liberto que trabalha para o escravocrata Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), em sua plantation, e é mais vil com os outros negros do que o próprio patrão. Claro que vão dizer que estou exagerando na analogia, pois não há como comparar as imbecilidades ditas por Holiday, num regime democrata, com as falas e ações escrotas de um agente do sistema escravagista. No entanto, o desprezo que o personagem de Jackson provoca nos espectadores do filme, em mim também naturalmente, não é muito diferente do que senti ao ler a fala de Holiday. Guardadas às devidas proporções, a motivação de ambos é sim a mesma. Adiante.


Naturalmente,  a performance de Holiday vem rendendo assunto nas redes sociais e já virou tema de postagens em blogs e sites tanto ditos de direita quanto de esquerda. No site Diário do Centro do Mundo, de esquerda, Marcos Sacramento escreveu texto intitulado Quantos mandatos Fernando Holiday do MBL cumprirá até tornar-se negro?, criticando Holiday, entre outras coisas, por ser contra cotas e por querer extinguir a secretaria de promoção da igualdade racial de São Paulo. O título e o texto são bem equivocados pois querem fazer crer que se uma pessoa negra não for favorável a cotas raciais ela não seria negra de fato. Ser negro então deixa de ser uma condição inata para se tornar um modelo específico de militância!? Eu, hein!

Do outro lado, blogueiros e colunistas de direita saíram em defesa do Stephen tupiniquim afirmando coisas do tipo: "A esquerda não consegue entender a existência de Holiday porque acredita ter o monopólio da defesa dos negros, pobres e “oprimidos” em geral. (Leandro Narloch)."  Ou "O negro, o gay, a mulher, nada disso importa. Não como indivíduo, ao menos. Só começam a importar quando servem de mascote para a esquerda, para sua agenda totalitária estatizante. E isso só acontece quando aceitam o papel de vítimas, de coitadinhos, clamando por intervenção estatal(Rodrigo Constantino)." Festival de clichezinhos direitosos repetidos ad nauseum.

Mas quem disse que o problema de Holiday  é não se encaixar nos parâmetros de esquerda que a militância seja negra ou LGBT define como corretos? Vamos lembrar que uma parcela do movimento negro sempre foi contra cotas raciais. Ativistas históricos do movimento foram contra a implementação das cotas. A autora deste texto foi e continua sendo contra cotas raciais. Acho um grande equívoco. Agora, porque sou contra a ala racialista que tem preponderado no Movimento Negro nos últimos anos, eu vou atacar o movimento negro em si mesmo, sair por aí dizendo que a luta contra o racismo é desnecessária, coisa de vitimistas, porque somos todos apenas "indivíduos"!!?? Querer extinguir secretarias que lidam com essa questão específica sob a desculpa esfarrapada de reduzir gastos ou estruturas burocráticas? Até parece que não existem outras instâncias governamentais bem mais supérfluas onde promover cortes, não é verdade? Essa gente subestima tanto assim a inteligência alheia?

O mesmo em relação ao movimento LGBT, feminista, qualquer outro. Minhas críticas ao movimento LGBT, do qual sou uma das fundadoras, são inúmeras, sobretudo pelo aparelhamento petista que sofreu nos últimos anos. Daí eu atacar o movimento em si mesmo, desqualificando toda uma história de lutas, na base da enorme falácia de que somos apenas "indivíduos" e não tem sentido a gente lutar em coletivos!!?? Esse papo furadésimo de contra "coletivismos" pra lá e pra cá que se ouve frequentemente no meio liberaleco-conservador!? Vale destacar que as únicas pessoas realmente julgadas como indivíduos neste mundo são os donos do poder, ou seja, os homens brancos, héteros, burgueses e cristãos (com algumas variações aí), os estereótipos do privilégio. O restante da humanidade é julgada por fazer parte de algum coletivo em primeiro lugar e não como indivíduo. E obviamente não foram as esquerdas que coletivizaram as pessoas e sim os próprios conservadores com seus preconceitos, discriminações e seu mundo de excludências. As esquerdas, quando muito, manipulam os coletivizados para seus propósitos.

Enfim, repetindo, o problema do Holiday não é ele não se encaixar nos parâmetros que a militância de esquerda criou para lidar com as questões relativas aos direitos humanos. O problema com Holiday é ele se encaixar nos parâmetros que a direita criou para combater os direitos humanos. Holiday poderia ser crítico dos movimentos sociais e buscar inclusive trazer novas propostas para os mesmos de uma perspectiva diferente da atual. Poderia promover até quem sabe uma benéfica renovação dessas expressões políticas através do diálogo crítico.  Mas o que ele quer é jogar para a plateia conservadora que o elegeu e que, como todo mundo sabe, é contrária aos direitos humanos. Holiday é mais do que um token black.* É um ponta de lança do reacionarismo que usa de sua negritude e suposta homossexualidade como fator divisionista das lutas por direitos humanos a fim de revertê-las e até mesmo impedi-las. Trata-se de um oportunista que surfou na onda antipetista e nas manifestações do impeachment de Dilma para se eleger encenando uma mistura de alborghetti, datena e ratinho com falsa indignação. Quer se dar bem na vida a qualquer preço. A História registra várias figuras como ele ao longo dos séculos. Os cristãos o celebram no sábado de Aleluia.


* Token Black é o nome que se dá ao membro de uma minoria historicamente discriminada inserido em qualquer ambiente adverso a sua especificidade apenas para que se crie a impressão de tolerância e ausência de preconceitos. 

Token Black é o nome do personagem da animação South Park exatamente por ser a única criança negra do desenho. 


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A fênix sinistra: PT tenta renascer das cinzas via frente partidária de esquerda para as eleições municipais de 2016

PT quer renascer das cinzas
A serpente e seus ovos
por Ruy Fabiano

Com ou sem impeachment, uma coisa é certa: a Era PT chegou ao fim. O partido não dispõe de quadros para seguir no comando do país. Seus principais líderes ou estão na cadeia ou empenhados em dela escapar, a começar por quem o simboliza, o ex-presidente Lula, de quem Dilma é apenas marionete.

Não quer isso dizer que a estrutura – CUT, MST, UNE, ONGs etc. - e as ideias que se apossaram da máquina estatal, e a lesaram como nunca dantes neste país, largarão o osso com tanta facilidade.

A serpente PT botou ovos. Os partidos-satélites, como PSOL, PSTU, PCdoB e mesmo a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva – o maior silêncio da crise -, aí estão para receber os sobreviventes.

O próprio PT, ciente de sua impotência eleitoral, concebe a estratégia de compor uma frente partidária de esquerda para as eleições municipais do ano que vem. Rui Falcão, presidente do partido, já explicou como isso funcionaria.


Quer ocultar a estrela da legenda, hoje amaldiçoada, dissolvendo-a em meio a uma frente “progressista”, que tentará levar adiante as “conquistas sociais” que os petistas juram ter estabelecido, embora a crise econômica, decorrente das políticas que o partido concebeu, se encarregue de desfazê-las uma a uma.

A clientela do Bolsa Família é de mais de 45 milhões de pessoas, que há 17 meses não têm reajuste, o que dispensa comentários. Os “mais de 30 milhões que ascenderam à classe média” – e esses números compõem um discurso, não uma demonstração -, se lá chegaram, já fizeram o caminho de volta, segundo as estatísticas de desemprego.

As pesquisas de opinião mostram o desgaste petista nas classes mais carentes, de que foram gigolôs nas últimas décadas. Enfim, o partido que levou o país à falência econômica, política, social e moral precisa salvar-se do naufrágio nos botes salva-vidas que cuidou de providenciar. E não é difícil identificá-los.

Basta ver o empenho, por exemplo, do PSOL em valer-se de Eduardo Cunha como cortina de fumaça para desviar a atenção de infratores bem mais pesados, alguns deles, como os ministros Edinho Silva e Aloizio Mercadante, dentro do próprio Palácio do Planalto. Se Cunha justifica a indignação – e não há dúvida de que sim -, por que Edinho e Mercadante, e a própria Dilma (citada por seis delatores, enquanto Cunha o foi por dois), não?

A indignação seletiva compõe a tecnologia de sobrevivência da esquerda, hoje ancorada em milhares de ONGs que dependem de verbas do Estado para sustentar a vasta militância, inimiga de uma burguesia fictícia, que ela melhor que ninguém representa.

O silêncio de Marina Silva, que em momento algum exibiu qualquer indignação com a roubalheira da Petrobras – até aqui orçada em R$ 20 bilhões -, e só veio a público para opor-se ao impeachment, não surpreende. Tem coerência biográfica.

Ela já se manifestou reiteradas vezes nostálgica do PT, abraçada à tese de que a proposta original era boa, mas foi distorcida – e Lula teria sido arrastado sem o perceber.

A proposta original, no entanto, era essa mesma – e Lula jamais foi outro. Quando se faz um retrospecto da ação do partido antes de chegar à presidência da República, quando agia apenas no âmbito dos municípios, já estava tudo lá.

O que aconteceu, por exemplo, em Campinas, com o assassinato do prefeito Toninho do PT, e em Santo André, com o de Celso Daniel, ao tempo em que o PT era oposição, dá uma mostra dos métodos que seriam expandidos e aperfeiçoados em Brasília.

Marina é fã de Lula – e Lula é quem hoje sabemos. Não o critica, nem a Dilma, ainda que tenha sido ofendida por ambos, em níveis cruéis, na campanha. Prefere silenciar e recolher a militância sobrevivente em sua Rede. É uma pescaria silenciosa, mas não invisível. Pretende herdar a organicidade e a estrutura de uma máquina que se empenha em dar sequência, em grau menos truculento, a um projeto de poder que estava na gênese do PT.

O impeachment, ainda que não saia – e, dada a crise econômica, é difícil imaginar essa hipótese, mesmo com a visível cumplicidade nos três poderes -, permite que se vislumbre os riscos embutidos no futuro, onde a fênix esquerdista aspira ao renascimento.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O colapso do governo Dilma e seus possíveis desdobramentos

Ao que tudo indica, o governo Dilma está mesmo na base do balança mais não cai (até agora). E a boataria come solta. Circulam rumores vários, desde a carta-renúncia que Dilma já teria escrito até as articulações em torno do vice-presidente, Michel Temer, para substituí-la, caso não apareça também denunciado em alguma delação premiada futura. Enquanto isso, os tucanos, para variar divididos, estão entre apoiar um possível governo Temer ou insistir na possibilidade de novas eleições. Seja como for, vale ler os três possíveis cenários do pós-Dilma que o Merval Pereira aponta no artigo abaixo intitulado Colapso Anunciado.
Acrescento também o vídeo, ao fim do artigo abaixo, do debate no Painel da GloboNews, do William Waack (08/08/05), com o historiador  Marco Antonio Villa, o cientista social Cláudio Couto e o economista Eduardo Giannetti da Fonseca. Também sobre a crise política e econômica em que se encontra o Brasil.
Colapso Anunciado

O governo Dilma caminha para um colapso, que pode desembocar no impeachment decretado pelo Congresso, ou na cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As duas situações têm soluções dentro da Constituição. No primeiro caso, assume o vice-presidente Michel Temer para completar o mandato, no segundo são convocadas eleições diretas, caso a impugnação ocorra nos dois primeiros anos do mandato.

Se ela se der nos dois últimos anos, isto é, a partir de 2017, haverá eleição indireta pelo Congresso.
  
É o que diz a Constituição:

“Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.

§ 1º – Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

§ 2º – Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores”.

Para escapar dessas ameaças, a presidente Dilma pode tomar medidas de reforma ministerial, redução do número de ministérios, e fortalecer o papel da coordenação política, dando mais poderes ao PMDB do vice Michel Temer.

Nos bastidores há negociações de todos os tipos, desde o apoio ao vice-presidente quanto a aposta nas próximas colaborações premiadas que podem inviabilizar tanto o PMDB quanto o PT.

O PSDB está nessa encruzilhada, com a maior parte de seus membros com um olho a longo prazo, à espera da decisão do TSE, mas o outro próximo do PMDB caso o Tribunal de Contas da União (TCU) impugne as contas do primeiro governo Dilma.

Caso o processo de impeachment se inicie no Congresso devido ao TCU, os tucanos darão apoio e participarão de um governo Temer de coalizão nacional. Mas a opção de uma nova eleição que legitime o novo presidente é a preferida do presidente da sigla, senador Aécio Neves.

A indefinição do PSDB pode reaproximar o PMDB do PT para garantir a continuidade do governo, mesmo aos trancos e barrancos. 

Partindo da premissa de que 2015 ficará marcado pelo colapso do ciclo econômico e político liderado nos últimos 12 anos pelo PT, o economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, traçou três cenários para o 2º governo Dilma, todos apontando para conjunturas difíceis, dois deles já analisados na coluna de ontem (UTI e Recuperação).

No cenário de “Colapso”, avaliado como o mais provável, há três desdobramentos possíveis.
Terceirização - esvaziamento do poder da presidente com a ‘terceirização’ da economia para a equipe econômica e da coordenação e gestão da política para o vice Michel Temer, do PMDB.

Neste caso, ainda esse ano, haveria uma reconfiguração da equipe de governo com uma recomposição da base de sustentação parlamentar e redução de incertezas; resgate parcial do ajuste fiscal e financeiro abrindo-se perspectivas para uma retomada do crescimento, a partir de 2017, e declínio da inflação, em 2016. A operação “Lava-jato”, neste cenário, teria efeitos impactantes, porém diluídos no tempo.

Impeachment da presidente Dilma, com acentuação das expectativas econômicas negativas imediatas. O ajuste fiscal fracassa, as “pautas bomba” prosperam, as expectativas negativas dos agentes econômicos e a insatisfação da sociedade se acentuam ainda mais e a perspectiva de inflação supera os 10% ao ano. 

No campo político há total perda de confiança da presidente e a base de sustentação desaparece. Este cenário só se torna provável em três hipóteses: (a) se as contas da presidente forem rejeitadas no TCU e no Congresso por conta das “pedaladas fiscais” de 2014; (b) se o TSE reconhecer financiamento ilegal na campanha eleitoral da presidente e vice, em 2014; ou (c) se os efeitos da operação “Lava-Jato” alcançarem inequivocamente a pessoa da presidente.

Por enquanto, este cenário parece tão improvável quanto a de uma rápida recuperação da popularidade da presidente, mas uma mudança radical nas próximas semanas não pode ser descartada.

Renúncia da presidente Dilma por motivos semelhantes ao cenário de impedimento. Considerado o passado de militância da presidente ou os traços de sua personalidade, este também é, para a Macroplan, um cenário de probabilidade remota, mas que não deve deixar de ser considerado.

Fonte: Blog do Merval Pereira, O Globo, 09/08/2015

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Lula agora tenta se dissociar de Dilma e do PT

A Revolução Cultural de Lula
por Merval Pereira

Não é sem razão que o líder do PT José Guimarães teve coragem para se levantar contra as críticas de Lula ao PT. Ele faz parte de uma elite política que galgou degraus na hierarquia partidária a partir da abertura de vagas provocada pela prisão dos principais líderes do partido.

Quando um assessor seu foi preso num aeroporto com dólar escondido na cueca, José Guimarães não era ninguém a nível nacional, onde reinava seu irmão Genoíno, condenado no mensalão e posteriormente anistiado pela presidente Dilma.

Alguns anos depois do mensalão, lá está Guimarães no primeiro plano. E logo agora vem Lula querer uma revolução interna? Lembro-me bem de uma cena icônica do alpinismo social que tomou conta das figuras proeminentes do PT assim que chegou a poder.

Numa mesa do restaurante Antiquarius no Rio, o recém-eleito presidente da Câmara João Paulo Cunha, hoje em prisão domiciliar, o professor Luizinho e outras figuras menos conhecidas na época (talvez até mesmo o próprio José Guimarães) tomavam um porre de licor francês, embriagados de poder. 

Guimarães pode nem saber direito, mas está estrebuchando contra o que pressente ser uma manobra de Lula contra seus interesses. “[...] O PT precisa urgentemente voltar a falar pra juventude tomar conta do PT. O PT está velho. (...) Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, mais ousada, com mais coragem. Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projeto. E acho que nós precisamos criar um novo projeto de organização partidária nesse país”. 

Fora o ato falho de falar em “livrar a nossa pele”, quase uma confissão, Lula está tentando fazer sua pequena Revolução Cultural dentro do PT, e pode sobrar para gente como José Guimarães. A Revolução Cultural foi comandada pelo então líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, para neutralizar o fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante, que gerou a morte de milhões de pessoas devido à fome generalizada.

A oposição crescente a Mao no interior do Partido Comunista foi atacada pelos “comitês revolucionários”, formados por jovens radicais que seguiam cegamente o pensamento de Mao e desmoralizavam os intelectuais e membros mais antigos do Partido que o criticavam.

Não chegamos a esse ponto no PT, mas, à sua maneira, Lula, como faziam os jovens chineses com os críticos de Mao, está colocando metafóricos chapéus de burro na presidente Dilma e em todos os petistas que, como José Guimarães, acham que ele no momento mais atrapalha do que ajuda com essas sessões de terapia pública que vem fazendo.

E não é à toa que o senador Lindbergh Farias voltou a ser o cara-pintada de outrora para defender Lula das críticas de Guimarães. Uma disputa de gerações petistas, boa para Lula, que está tentando salvar a sua pele, fingindo que quer salvar o PT.

Todo esse desvario de Lula nos últimos dias tem a ver com a Operação Lava-Jato, que o pega num momento de fragilidade política do governo, do PT e de sua própria figura, antes inatacável, hoje exposta às críticas da opinião pública.

Por isso mesmo, o truque que deu certo diversas vezes, hoje tende a não dar. Toda essa crise petista tem a ver com Lula, foi ele quem levou o partido para acordos políticos deletérios, em nome de um pragmatismo político que cobra seus custos.

O aparelhamento do estado, uma das características do governo petista desde o primeiro momento foi uma estratégia montada por Lula e José Dirceu para tomar conta do poder central. A ampla coalizão partidária sem nexo programático e sem cobranças morais, que acabou em mensalões e petrolões, saiu da cabeça de Lula e José Dirceu, que muito antes de o PT chegar ao poder central já praticavam essa promiscuidade entre o público e o privado nas prefeituras controladas pelo partido.

A morte do prefeito Celso Daniel, exemplar da conseqüência extrema desse tipo de política fisiológica, precedeu a eleição de Lula para a presidência em 2002, e o mensalão de 2005.

A presidente Dilma, que na visão de Lula estaria com ele no “volume morto” da política, foi criação única e exclusiva do ex-presidente, a “nova matriz econômica” começou a ser colocada em prática na metade de seu segundo governo, e deu no que deu.

Lula agora tenta dissociar-se dela e do PT, que está “velho” e só pensa em “empregos, em vencer eleições”. No último momento, com um salto triplo carpado, o grande canastrão tenta dar uma reviravolta política no destino decadente que se avizinha.

Fonte: Globo, 24/06/2015

segunda-feira, 16 de março de 2015

EUA podem endossar oficialmente tese de fraude eletrônica nas nossas eleições 2014


EUA podem endossar oficialmente tese de fraude eletrônica nas nossas eleições 2014

Em 29 de outubro de 2006 o poderoso matutino The New York Times denunciou que os EUA investigavam a presença das mãos do governo de Chávez num suposto golpe eletrônico em urnas, em vários países. O centro de tudo era a empresa venezuelana Smartmatic. Empresa essa que, aliás, também trabalhou no Brasil prestando seus serviços nas eleições presidenciais de 2014.

Nas eleições presidenciais de 2014 a empresa recebeu um contrato junto ao TSE no valor de R$ 136.180.633,71 (cento e trinta e seis milhões, cento e oitenta mil, seiscentos e trinta e três reais e setenta e um centavos)

Esse contrato foi revogado meses depois com sua publicação no Diário Oficial da União.

Sabem qual o problema de tudo isso, que muitos lerão como “mais uma teoria conspiratorial”? É que no próximo dia 21 de março a presença da Smartmartic no Brasil vai ser discutida nos EUA, no prestigioso The National Press Club. Falarão sobre o tema o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, Olavo de Carvalho, o irmão do ex-presidente Bush, Jeb Bush, e o sempre sério e respeitado senador Marco Rubio. Confira:

Ou seja: os EUA passam a endossar, justamente nestes tempos bicudos, a tese de que o Brasil pode ter sofrido um golpe eletrônico chavista.


Agora, os dois pontos polêmicos contra a Smartmatic:

1) O general venezuelano Carlos Julio Peñaloza que foi Comandante Geral do Exército da Venezuela e há alguns anos vive exilado em Miami, descreveu o controle dos resultados das eleições venezuelanas. Confira abaixo a tradução:

Cuba desenvolveu um Plano de Controle Eleitoral Revolucionário (PROCER) na Venezuela, que inclui a manipulação das máquinas de votar e cujo objetivo é estabelecer neste país um regime comunista sob uma fachada eleitoral democrática.

Em artigo anterior sobre a SMARTMATIC, afirmei que essa empresa, fundada por quatro inteligentes engenheiros venezuelanos recém-graduados, foi o cavalo de Tróia desenhado pelo G2 cubano para controlar as eleições venezuelanas. No presente escrito descreverei a forma como se formulou e desenvolve esse plano, cujo objetivo é perpetuar um governo comunista por trás de uma máscara democrática na Venezuela.

O que lerão na continuação não é ficção científica nem especulações, senão o produto de uma detalhada investigação sobre tão delicado tema. É parte de uma seqüência de artigos escritos na convicção de que quanto mais conheçamos a fraude eletrônica que se nos aplica, melhor poderemos combatê-la. O que não devemos fazer é ignorá-la ou, pior, negá-la. 

O “Plano de Controle Eleitoral Revolucionário” (PROCER), é a primeira aplicação cibernética do “Projeto Futuro” de Fidel Castro. Este mega-plano foi formulado como parte da estratégia a utilizar no cenário internacional que Castro chamou de “a batalha das idéias”. O objetivo é construir o que eles chamam a “Pátria Grande Socialista”, dirigida vitaliciamente por Fidel e seus sucessores mediante o controle das mentes nos países dominados. Isto aparece escrito em detalhes no meu livro “O império de Fidel”, que circulará nos próximos dias. O plano PROCER é só uma faceta de um plano mestre que vai além do meramente eleitoral.

O “Plano PROCER” foi desenvolvido no máximo segredo por um seleto grupo dos mais brilhantes professores e alunos da Universidade de Ciências Informáticas (UCI) de Cuba, em conjunção com o G2. Seu objetivo foi controlar o sistema eleitoral venezuelano desde Havana para potencializar o carisma e popularidade de Chávez. Na Venezuela seria fácil desenvolver o plano, dada sua arraigada cultura do voto. Este país conta, além disso, com recursos financeiros para custear o investimento e tem predisposição ao uso de tecnologias avançadas.

A “Universidade de Ciências Informáticas” (UCI) de Cuba, foi fundada em 2002 como um projeto favorito de Fidel desde que o chefe do G2, Ramiro Valdés, lhe vendeu a idéia. Este centro de estudos tem seu pedigree na inteligência militar cubana porque foi criado nas antigas instalações da “Base Lourdes”. Esta instalação secreta era a sofisticada estação de rádio-escuta e guerra eletrônica soviética criada para espionar e atacar ciberneticamente os Estados Unidos durante a Guerra Fria. A instalação foi inicialmente operada exclusivamente por brilhantes técnicos em comunicações e computação da URSS, mas depois do colapso soviético passou para mãos cubanas. Antes de se retirar, os soviéticos deram treinamento técnico aos novos operadores do G2 cubano. Na UCI forma-se o creme e a nata dos experts em telemática e espiões eletrônicos cubanos. A telemática é disciplina que se ocupa da integração dos sistemas informáticos de controle e comunicações em projetos cibernéticos aplicados a sistemas sócio-políticos como o “PROCER”.

A UCI serve de fonte de pessoal técnico e cobertura para a “Operação Futuro”, a mais apreciada jóia da coroa cubana. “Futuro” é o nome-chave do desígnio hegemônico de Fidel na Hispano-América. Para conseguir esse objetivo, a UCI dirigida pelo G2 cubano desenha e executa uma série de projetos telemáticos super secretos, que vão desde o controle de identidade até aplicações eleitorais e controle cibernético do governo e do Estado. Estes projetos estão enquadrados em um cenário estratégico que Fidel chama “a batalha das idéias”.

O plano “PROCER” para a Venezuela complementa a política de infiltração de agentes e guerrilheiros que Fidel manteve desde que chegou ao poder em 1959. Constitui o passo decisivo que permitirá aos irmãos Castro dominar a Venezuela. 

A arma cibernética tem como objetivo a penetração dos sistemas informáticos de alguns países vizinhos através de seus sistemas de comunicações. Esta estratégia permitiria obter informação classificada e eventualmente controlar os países escolhidos, em conjunção com os agentes cubanos infiltrados em seu seio e seus colaboradores. Depois do colapso soviético esta idéia permaneceu congelada por longo tempo por falta de recursos. A chegada de Chávez ao poder em 1999, permitiu a Fidel contar com financiamento adequado para desenvolvê-la. Naquela ocasião, o “PROCER” estava pronto.

2) A operação eleitoral levada a efeito pela Smartmatic na Venezuela, segundo o general, dispunha de uma “rede top secret”, uma espécie de intranet paralela que permitiria o controle da votação e encaminharia os dados da votação em tempo real para um data center provavelmente instalado em Cuba.

Este post alerta o leitor a algo bem simples: os EUA entraram de cabeça, agora, na tese de que nossas eleições foram fraudadas.

Diz algo, não?

Fonte: Blog Claudio Julio Tognolli, 13/03/2015

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Brasil preso no labirinto criado pelo PT


Destaque

 A intervenção ordenada por ele (Lula) foi cirúrgica: cooptou-se o programa econômico da candidatura da oposição. Num passe de mágica, voltou-se, como soe acontecer nos labirintos, ao mesmo lugar de 2003, com as elites econômicas, demonizadas no discurso da campanha eleitoral, novamente reconhecidas como parceiras estratégicas do novo governo do PT. A fórmula cáustica "hegemonia às avessas" do sociólogo Francisco de Oliveira, cunhada em 2007, para designar a situação em que "os dominantes consentem em ser politicamente conduzidos pelos dominados" desde que não se questione a "forma da exploração capitalista", tem aí recuperado o seu sentido original, embora continue tão enigmática quanto ao tempo da sua formulação. Ela pode ser própria para quem deseja viver em labirinto, ou tentar sair dele por métodos confusos, quando se perde ainda mais.

Dilma, o Minotauro e seu labirinto

Labirintos são lugares perigosos e não se deve entrar neles sem o fio de Ariadne com que Teseu, depois de matar o Minotauro que afligia a cidade de Tebas, teve como encontrar o caminho de saída. Por motivos diversos dos que levaram Octávio Paz a descrever o México como o labirinto da solidão, título do ensaio clássico que dedicou à formação do seu país, também a metáfora do labirinto pode servir-nos para compreender algo do nosso. Sem fio que nos guie, desconfiados das linhas retas, pegamos gosto pelos zigue-zagues, em que sempre nos perdemos, retornando a passagens já percorridas.

Essa sina tem sua marca de origem na própria fundação do nosso Estado, quando um movimento nacional-libertador, que germinava na então colônia, foi atalhado pelo episódio da Independência, em que o filho do rei metropolitano foi consagrado como imperador. Teríamos, a partir desse desfecho singular, de procurar uma rota americana consultando velhos mapas ibéricos, o que fizemos, visto da perspectiva de hoje, tudo pesado, até que com relativo êxito, embora o labirinto ainda seja a nossa morada.

A conciliação entre contrários, fórmula descoberta nos primeiros anos do Segundo Reinado e que nos veio para ficar, mesmo quando invocamos princípios fortes em nome de revoluções, como nos anos 1930, em que Vargas, arguto intérprete da política do Império - não à toa, dois de seus principais colaboradores, Oliveira Vianna e Francisco Campos, se contavam entre os admiradores da política imperial -, foi capaz de governar com a Carta de 1934, composição bizarra da ordem liberal com a corporativa, e, mais tarde, em 1937, com uma Carta protofascista que jamais levou a sério, dela fazendo uso para fins de conservação do seu poder. Foi, aliás, sob a vigência formal dessa última Carta que Vargas declarou seu apoio aos Aliados na 2.ª Guerra Mundial, e enviou tropas para combater o fascismo na Itália.

Definitivamente, o Brasil é a terra da revolução passiva, em que a condição para que as coisas mudem é a de que, ao fim, elas fiquem como estão - movimento, pois, labiríntico -, lição que, bem antes de aprendermos nos livros, já tínhamos entranhado na nossa experiência política, como na frase famosa do estadista mineiro Antônio Carlos de Andrada, às vésperas da revolução de 1930; "Façamos a revolução antes que o povo a faça". E aí, nessa montagem, ainda em curso, do segundo governo de Dilma Rousseff, mais uma situação exemplar de como coexistimos com o Minotauro em seu labirinto. Nas histórias infantis de Monteiro Lobato, seus personagens aquietavam a fúria desse monstro da mitologia com os deliciosos bolinhos de Tia Anastácia, mas na cena aberta diante de nós a tarefa parece ser bem mais complexa.

Ao longo da campanha presidencial, o céu de brigadeiro com que se inicia a jornada da candidata à reeleição logo se vai turvar com a ameaça da candidatura Marina Silva, que, desconstruída com ferramentas sacadas do arsenal do diabo - como Dilma antes de aberta a sucessão prometera fazer, se fosse o caso -, pavimentou o caminho para o crescimento da candidatura de Aécio Neves. Ferramentas de segunda geração foram, então, mobilizadas: o nacional-desenvolvimentismo, antes evocado em surdina, torna-se um dos carros-chefes da campanha, jovens lideranças das redes sociais e das jornadas de junho de 2013 são incorporadas, nem a velha esquerda é esquecida. O nacional-popular, renegado nas origens do PT, teria encontrado um lugar no partido e eventuais energias utópicas poderiam sentir-se liberadas. Foi por um triz, mas foi o que bastou.

Embalada pela vitória eleitoral, a direção política do PT apresentou seu plano de ação, que parecia saído das páginas de A Razão Populista (Três Estrelas, São Paulo, 2013), de Ernesto Laclau - professor emérito de Essex, recentemente falecido -, sofisticado trabalho em que argumenta em favor do paradigma populista como um experimento capaz de combinar com êxito o institucionalismo com as demandas sociais originárias de uma mobilização espontânea do povo. Freud, Lacan, Wittgenstein, mais o Gramsci da teoria da hegemonia suportam sua difícil e tortuosa construção, exercício hermenêutico que conclui no sentido de negar a existência, na cena contemporânea, de ontologias privilegiadas. O mundo do trabalho e seus personagens teriam perdido centralidade em nome da emergência do povo.

Para sua sorte, Dilma conta com Lula. Esse mestre nas artes da revolução passiva não tardou a perceber a gravidade dos riscos de as veleidades populistas dominarem a agenda do novo governo. E barrou-lhes o caminho. Romper com sua política, bem-sucedida em dois mandatos, em meio a uma tempestade perfeita - alta da inflação, crescimento zero, perda de credibilidade interna e internacional -, qualificada pelos malfeitos da Petrobrás, apenas com o aríete de ruas desgostosas da política e do exército Brancaleone reunido às pressas no segundo turno da campanha eleitoral seria marcar um encontro com o desastre.

A intervenção ordenada por ele foi cirúrgica: cooptou-se o programa econômico da candidatura da oposição. Num passe de mágica, voltou-se, como soe acontecer nos labirintos, ao mesmo lugar de 2003, com as elites econômicas, demonizadas no discurso da campanha eleitoral, novamente reconhecidas como parceiras estratégicas do novo governo do PT. A fórmula cáustica "hegemonia às avessas" do sociólogo Francisco de Oliveira, cunhada em 2007, para designar a situação em que "os dominantes consentem em ser politicamente conduzidos pelos dominados" desde que não se questione a "forma da exploração capitalista", tem aí recuperado o seu sentido original, embora continue tão enigmática quanto ao tempo da sua formulação. Ela pode ser própria para quem deseja viver em labirinto, ou tentar sair dele por métodos confusos, quando se perde ainda mais.

Fonte: Luiz Werneck Vianna, O Estado de S.Paulo, 07/12/2014

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