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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Como a divisão sexual do trabalho limita a participação das mulheres em determinadas profissões


Como pensar a problemática de gênero nos grandes empreendimentos?

Quando um grande empreendimento se instala em um município é comum que a geração de emprego e renda seja apresentada como principal benefício para aquela população. Na teoria, espera-se que tais benefícios possam atingir tanto homens quanto mulheres, mas na prática os homens têm sido os principais beneficiários diretos, visto que os perfis profissionais demandados para a construção e operação dos empreendimentos são, em grande parte, em funções tradicionalmente masculinas: pedreiros, soldadores, mecânicos, carpinteiros, eletricistas, armadores e montadores, operadores de equipamentos, auxiliares, assistentes e ajudantes da construção civil e de processos industriais.

Ainda que não sejam impedidas diretamente de ter acesso a estas vagas, a ocupação de mulheres nesse espaços irá, frequentemente, esbarrar numa barreira social: os estereótipos de gênero que definem alguns trabalhos como femininos e outros como masculinos. Nesse sentido, é fundamental a compreensão de que as relações de gênero – que são ao mesmo tempo estruturantes e transversais à totalidade do campo social – são ativas também no trabalho e se exprimem através da divisão sexual do trabalho.

Ao contrário do que possa parecer ao senso comum, esta divisão não é natural e sim modulada histórica e socialmente. Ainda que suas modalidades concretas variem grandemente no tempo e no espaço, a divisão sexual do trabalho segue a linha de demarcação dos espaços masculinos e femininos.

Na prática, isso resulta numa distribuição diferencial de homens e mulheres no mercado de trabalho, com a ausência de um dos sexos em determinados espaços e a sobrerrepresentação de um dos sexos em outros. 

A divisão sexual do trabalho opera a partir de dois princípios organizadores: o princípio de separação, segundo o qual existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres; e o princípio de hierarquização – um trabalho de homem “vale” mais do que um trabalho de mulher. Assim, a divisão sexual do trabalho não irá definir, portanto, apenas o que se faz, mas também o salário e a qualificação de quem faz.

Estes princípios podem ser aplicados graças à ideologia naturalista que reduz o gênero ao sexo biológico, remetendo a um “destino natural da espécie”: as mulheres teriam mais habilidades para determinadas atividades, especialmente aquelas relacionadas à esfera reprodutiva; os homens teriam outro tipo de habilidades, sendo designados prioritariamente à esfera produtiva. É assim que a divisão sexual do trabalho traz o discurso de adequação de feminino e masculino, quando, na realidade, é um conjunto de modalidades diferenciadas de socialização que constrói papéis sociais e “qualidades femininas e masculinas” que sejam coerentes com as atribuições dadas a cada um.

Desde cedo, no âmbito familiar e na educação escolar, e depois mais tarde, na formação no trabalho, a socialização é, em geral, muito orientada pelos papéis tradicionais de gênero, construindo para as mulheres, por exemplo, competências relacionadas ao cuidado, em detrimento de outras habilidades associadas aos homens.

Assim surgem as definições de trabalho “leve” ou “delicado” como um trabalho de mulher, em oposição ao trabalho pesado, realizado por homens. Da mesma forma, são criados os discursos de maior adequação das mulheres ao trabalho doméstico, que resultam em uma divisão desigual deste trabalho entre os sexos.

Como consequência desse processo de socialização, muitas mulheres podem não se reconhecer em funções tradicionalmente masculinas. E, mesmo aquelas que se interessam por estas funções, e/ou possuam as habilidades necessárias para desempenhá-las, precisarão transpor as barreiras sociais dos estereótipos de gênero, expressas em práticas mais ou menos diretas que dificultam o acesso dessas mulheres a estas vagas (como exigências de formação específica ou experiência anterior, discriminações, desincentivo familiar etc.).

A oferta de qualificação para mulheres nessas áreas e a reserva de cotas para elas nas vagas geradas pelos grandes empreendimentos poderiam ser propostas para minimizar, em parte, essa dificuldade de acesso.

No entanto, para além deste tipo de proposta prática, é preciso que a abordagem de gênero seja discutida mais profundamente, como uma questão transversal aos processos de licenciamento e implantação desses empreendimentos.

Desconsiderar esta problemática não é apenas deixar de contribuir para a diminuição das desigualdades entre mulheres e homens no mercado de trabalho. É também reforçar as desigualdades sistemáticas que, de forma mais ampla, mantém estável todo um sistema de gênero onde os homens ocupam uma posição de dominação em relação às mulheres.

Fonte: Socioeconomia.org, por Livia Hoffmann

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Morre Luiz Carlos Maciel, o principal pensador da contracultura no Brasil



Aos 79 anos, morre Luiz Carlos Maciel, jornalista e pensador da contracultura

Principal ensaísta e pensador da contracultura no Brasil, o jornalista, diretor teatral e roteirista Luiz Carlos Maciel morreu na manhã deste sábado (9), aos 79 anos, no hospital Copa D'Or (Copacabana), no Rio de Janeiro, onde estava internado desde 26 de novembro com um quadro de infecção. Maciel sofria, nos últimos meses, com o agravamento da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Segundo a filha do escritor, Lúcia, o boletim médico apontou falência múltipla dos órgãos. Até o momento, não há informações sobre o velório.

O ensaísmo de Maciel articulou a contracultura brasileira com escritores e agitadores internacionais, anti ou extra-acadêmicos, e contribuiu para torná-la mais consciente de si própria, ao informar sobre ideias insurgentes e movimentos de vanguarda dos anos 60 e 70. Seus textos no "Pasquim", "Flor do Mal", "Última Hora" e "Fairplay" influenciavam adeptos do desbunde, esquerdistas menos ortodoxos e jovens aflitos para "cair fora" e encontrar um novo estilo de vida.

O espírito contracultural se manifestou em Maciel ainda na faculdade de Filosofia, em Porto Alegre (RS), onde nasceu em 15 de março de 1938. Aproximou-se do existencialismo de Sartre e do teatro do absurdo, encenando "Esperando Godot", de Samuel Beckett, com Lineu Dias, Mário de Almeida, Paulo José e Paulo César Pereio, do Teatro de Equipe. Autor do ensaio "Sartre, Vida e Obra" (1967), Maciel destacaria a relevância do filósofo francês em sua transição para a vida adulta, por despertá-lo para a liberdade e a responsabilidade.

Confiante na profecia do amigo Glauber Rocha de que a Bahia lideraria uma revolução cultural, ele decidiu mudar-se para Salvador e assumir uma cadeira de professor da Escola de Teatro, em 1959. Na capital baiana, dirigiu uma montagem elogiada da peça cabralina "Morte e Vida Severina" e foi o protagonista do homoerótico "A Cruz na Praça" (1959), o curta desaparecido de Glauber, que lhe confiaria, perto de morrer, os originais da peça "Jango: Uma Tragedya".

Em 1960, com uma bolsa da Fundação Rockefeller, Maciel partiu para o Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. O mergulho na vida americana enriqueceu o repertório de autores e tendências comportamentais da futura e legendária coluna "Underground" no semanário humorístico "Pasquim", do qual tornou-se um dos fundadores a convite do jornalista Tarso de Castro. Entre 1969 e 1972, Maciel era o recordista de cartas da redação, como reconheceu o cartunista Jaguar, e passou a ser chamado de "guru da contracultura", um epíteto aceito a contragosto e fortalecido depois do texto "Conselhos a mim mesmo", em que recomendava: "1. Escuta o canto do ser. Ele tem mais de mil vozes. Olha a dança do ser. Ela tem mais de mil passos".

Na "Underground", e também em artigos para a grande imprensa, Maciel apresentou o zen-budismo de Alan Watts, os testes com LSD do escritor americano Ken Kesey, Timothy Leary e os benefícios terapêuticos das experiências psicodélicas, os odiados Hell's Angels, "Eros e Civilização" de Herbert Marcuse, a ação política do poeta beat Allen Ginsberg e o Gay Liberation Front da Califórnia (em confronto com Ginsberg).

Mais: o hipster segundo Norman Mailer, o Living Theatre, o romancista alemão Hermann Hesse, os Panteras Negras, Wilhelm Reich e a revolução sexual, Carlos Castaneda e os ensinamentos do bruxo Don Juan, as interpretações histórico-psicanalíticas de Norman O. Brown. Assimilou gírias dos desbundados e comentou as religiões orientais, o rock, o jazz, a antipsiquiatria, a anti-universidade, a liberação sexual, o feminismo de Yoko Ono, a maconha e o movimento hippie, além de fazer perfis de artistas como Bob Dylan, Jimi Hendrix, Richie Havens, Santana e —entrevistou-a no Rio, junto com Hélio Oiticica— Janis Joplin. Antecipou-se em décadas às campanhas nacionais contra políticas repressivas a usuários de drogas. Era uma florida revolução dentro da revolução cultural do Pasquim no jornalismo brasileiro.

Em oposição ao machismo confesso de outros membros do "Pasquim", ele simpatizava com os gays, os hippies, as feministas e os tropicalistas. Perto de embarcar para o exílio em Londres, em 1969, o compositor Caetano Veloso recebeu de Maciel a tarefa de enviar artigos para o semanário, uma colaboração bem-vinda para quebrar o gelo político em torno do grupo baiano. Gilberto Gil e Jorge Mautner também seriam acolhidos por suas páginas no período. No final de 1970, o Exército prendeu a equipe do humorístico e Maciel teve a grossa cabeleira cortada na Vila Militar.

Cabelos crescidos, ele deixou o "Pasquim" em 1972, pressionado pelo humorista Millôr Fernandes, inimigo e substituto de Tarso na chefia. Antes da despedida, estimulado por Sérgio Cabral, criou e editou o nanico "Flor do Mal", ao lado de Rogério Duarte, Torquato Mendonça e Tite de Lemos. Imerso de vez no jornalismo, comandou a edição brasileira da revista "Rolling Stone", outra experiência de vida curta, e colaborou com veículos como "Correio da Manhã", "Jornal do Brasil", "O Jornal", "Fatos e Fotos" e "Veja". Na Folha, a pedido de Tarso, escreveu para o caderno "Folhetim". Na "Ilustríssima", em 2015 e 2016, publicou seus últimos textos na imprensa.

NOVA CONSCIÊNCIA

Os ensaios contraculturais de Maciel saltaram dos jornais para duas coletâneas populares nos anos 70: "Nova Consciência" (1972) e "A Morte Organizada" (1975), complementados adiante pelo volume "Negócio Seguinte" (1978). A tensão entre cultura e contracultura, poder e antipoder, liberdade e repressão, atravessa o seu pensamento. "Nunca ninguém defendeu teses irracionalistas em estilo tão calmamente lógico", definiu Caetano Veloso.

No livro "Geração em Transe - Memórias do Tempo do Tropicalismo" (1996), ele repassou a convivência com os três artistas que julgava centrais na contracultura brasileira: Glauber, José Celso Martinez Corrêa e Caetano, independentes entre si mas sincronizados em 1967, quando o filme "Terra em Transe", a montagem de "O Rei da Vela" e a canção "Tropicália" traumatizaram as sensibilidades estéticas.

No ciclo contracultural, o ensaísta conviveu e guardava afinidades com uma lista plural de agitadores: Rogério Duarte, Gilberto Gil, Torquato Neto, Plínio Marcos, Jorge Mautner, José Agrippino de Paula, Leila Diniz, Othon Bastos, Antonio Bivar, Leon Hirszman, Helena Ignez, João Ubaldo Ribeiro, Waly Salomão, Jorge Salomão, Jards Macalé e a trupe dos Novos Baianos. Aprofundou, em tempos recentes, a amizade com o diretor Gerald Thomas.

Em suas memórias, Maciel apresenta um aspecto biográfico pouco conhecido: seu trabalho no Laboratório de Interpretação Crítica do Teatro Oficina, um passo para os atores chegarem ao estilo interpretativo de "O Rei da Vela", a peça de Oswald de Andrade que lhe fora indicada pelo diretor e crítico italiano Ruggero Jacobbi e que ele recomendou ao diretor Zé Celso. Em 1968, Maciel se afastou dos palcos, na sequência do duplo veto da censura à sua direção de "Barrela", de Plínio Marcos, no Teatro Jovem, e "As relações naturais", de Qorpo-Santo, no Teatro Glauce Rocha.

Dizia-se polímata ou homem sem especialização. Chegou a dirigir o longa "Society em Baby-Doll", em 1965. Nos anos 80, enraizou-se na atividade de roteirista na Rede Globo, integrando a equipe do "Globo Repórter" e, dentro do núcleo de Daniel Filho, de especiais como "João Gilberto Prado Pereira de Oliveira" (1980), "Baby Gal" (1983) e "Chico & Caetano" (1986). Ainda trabalharia como roteirista na Rede Record, nos anos 2000. Condensou essa experiência no livro "O Poder do Clímax - Fundamentos do Roteiro de Cinema e TV", reeditado este ano pela Ed. Giostri. Aos 77 anos, viu-se pela primeira vez desempregado. No ano passado, foi convidado para ser consultor da série "Os Dias Eram Assim", da Globo, escrita por Angela Chaves e Alessandra Poggi. "O Sol da Liberdade" (Ed. Vieira & Lent), sua última coletânea, revisitou a vanguarda do Tropicalismo, filósofos como Heráclito, Nietzsche e Heidegger, o escritor americano de ficção científica Philip K. Dick e o filme "Matrix" (1999).

Luiz Carlos Maciel, que dirige a peça "Boca Molhada de Paixão Calada", de Leilah Assunção, que estreia no Teatro Igreja.

Limitado pelo enfisema pulmonar, que se agravou este ano, Maciel sentava-se em posição de lótus, no gabinete, e passava os dias ouvindo Duke Ellington, o ídolo maior. Buscou em vão o raro LP "The Duke In São Paulo", um concerto gravado em 1968 no Teatro Municipal, jamais encontrado em seus garimpos no exterior. Sofreu com a perda de um pedaço de sua coleção de discos de jazz na última mudança de apartamento, mas pacificou-se ao lembrar de uma lição de Norman O. Brown: é preciso saber despedir-se para sempre. Nos últimos anos, publicava seus textos no Facebook e continuava a ler e discutir os mestres Heidegger, Sartre, Castaneda e Philip K. Dick.

Descontente com o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão da direita ao poder —com ela, a caretice, sua velha inimiga—, Maciel lamentou, em casa, duas semanas antes da internação hospitalar: "Conseguiram transformar o Brasil no país mais chato do mundo". Em seu último ensaio, "Memórias do Futuro" (inédito), pensado como introdução a um livro imaginário, o ensaísta defendeu um ponto de vista utópico: "A questão que nos confronta, hoje, é a necessidade de novas lembranças do futuro, de informação sobre nosso destino através de um processo semelhante ao que operou nos anos 60".

Filho de Logunedé, no Candomblé, Maciel aceitou os ensinamentos de Jesus e Buda, conheceu a Umbanda e o Santo Daime, absorveu o gnosticismo e preservou cautelas ateístas.

Ele deixa a viúva, Maria Cláudia, atriz, com quem estava casado desde 1976, os filhos Lúcia Maria e Roberto (do primeiro casamento com Yonne), quatro netos, 13 livros e oito gatos batizados com nomes de filósofos pré-socráticos. Arriscava-se à futurologia ao prever a manchete de sua morte: "Morre Luiz Carlos Maciel, o guru da contracultura".

Fonte: Folha de São Paulo, por Cláudio Leal, 09/12/2017

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Curso de extensão da USP sobre Judith Butler e Michel Foucault

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Judith Butler e Michel Foucault
A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, por meio do Departamento de Antropologia Social, ofereceu, no segundo semestre deste ano, um curso de extensão, denominado Poder e Performatividade Pública: introdução a Judith Butler e Michel Foucault, que aborda conceitos-chave da teoria de ambos os autores bem como suas correlações. Quem administrou as aulas foi a professora Jacqueline Moraes Teixeira (ver ps vídeos abaixo), e os textos do curso podem ser acessados no google drive clicando aqui.
Jacqueline Moraes Teixeira

Considerando a importância que esses dois autores têm nas discussões sobre gênero, em particular, Judith Butler, recentemente alcunhada, por grupos conservadores, de criadora da "ideologia de gênero", vale a audiência desse curso e a leitura de seus textos. 


Arqueologia do Saber/ Michel Foucault


As Palavras e as Coisas/ Michel Foucault 
Corpo e Dispositivo da Segurança em Michel Foucault  
Governamentalidade e Dispositivo do Poder Pastoral pt.1  
Governamentalidade e Dispositivo do Poder Pastoral pt.2  
História da Sexualidade / Michel Foucault pt.1  
História da Sexualidade / Michel Foucault pt.2  
Problemas de Gênero 1/ Judith Butler 
Problemas de Gênero 2/ Judith Butler  
Relatar a si mesmo / Judith Butler  
Vidas precárias 1 / Judith Butler  
Vidas precárias 2 / Judith Butler  
Performatividade e Teoria da Assembleia / Judith Butler

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Brasileira vence concurso por usar grafeno para fornecer água potável a residências


Brasileira vence concurso mundial por sua pesquisa com carbono


A vida de Nadia Ayad, recém-formada em engenharia de materiais pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), mudou bastante em 2016. Além de se formar pela instituição, localizada no Rio de Janeiro, Nadia levou o primeiro lugar no desafio mundial da Sandvik sobre a utilização do grafeno, um material à base de carbono.

Era uma oportunidade de ouro. Com a chamada para o desafio, Nadia se debruçou sobre os estudos que existiam sobre a substância, encarada com entusiasmo pelos cientistas. Derivado do grafite, trata-se de um composto 200 vezes mais resistente que o aço e que ganhou título de melhor condutor térmico e elétrico do mundo. Coube à brasileira, que já possuía experiência em pesquisa, elaborar um projeto para utilizar o material em dispositivos de filtragem e sistemas de dessalinização. O projeto tem como base uma preocupação constante e justificada: como garantir que, no futuro, tenhamos acesso à água potável? Iniciativas como a elaborada pela brasileira podem sugerir um caminho.

Ciência no exterior, ciência no Brasil

Ainda que Nadia já tivesse um pezinho na área de pesquisa desde cedo, graças à carreira acadêmica dos pais de origem sudanesa, a experiência nas universidades onde estudou valeram muito. Depois de iniciar a formação em engenharia no IME, instituição de destaque no Brasil, conseguiu uma bolsa do Ciência Sem Fronteiras para estudar na Inglaterra.

Na Universidade de Manchester, onde passou um ano, teve contato com grandes nomes da área e com os campos de pesquisa pelos quais se interessava.
Na Inglaterra, pude ver onde está a pesquisa hoje. Eles tem muitos recursos e acesso a muitas facilidades para fazer acontecer”, sintetiza Nadia.
Essa experiência no Reino Unido fez com que tivesse acesso também a estágios, como o que realizou na Imperial College London. Por lá, ela pode trabalhar no desenvolvimento de um polímero que substituísse válvulas cardíacas. Era uma forma de entender, em termos mais gerais, a parte mecânica das células, e como os estímulos ao redor — como o aumento no fluxo de sangue, por exemplo — influenciavam o funcionamento do coração.

“Quero melhorar a ciência no Brasil”

Com o estágio na Imperial College na bagagem e uma formação forte em engenharia de materiais, Nadia resolveu, em vez de passar pelo mestrado, fazer diretamente o PhD no exterior, candidatando-se diretamente a universidades dos Estados Unidos e do Reino Unido. Na lista de instituições, estão nomes conhecidos, como o americano MIT (Massachussetts Institute of Technology) e a britânica Universidade de Cambridge.

Quero que, no futuro, as pessoas não precisem ir para fora para ter acesso à pesquisa de ponta

O projeto de Nadia Ayad para o PhD trata do uso de biomateriais para induzir as células-tronco a formar tecidos como os das cartilagens, por exemplo, em versão 3D. Nas universidades estrangeiras, a brasileira encontra mais oportunidades para o tema e também mais recursos.
Mas também vejo que há muitos aspectos positivos no Brasil. A experiência no exterior mostra que dá para aprender com o que se faz lá fora e, ao mesmo tempo, entender o que fazemos de bom aqui”, explica Nadia.
De olho na carreira acadêmica e focada nos potenciais usos de biomateriais dentro da medicina, Nadia pretende trazer mais discussões sobre o seu tema de análise ao Brasil, onde o campo de estudos dá os primeiros passos.
Quero que, no futuro, as pessoas não precisem ir para fora para ter acesso à pesquisa de ponta”.
Fonte: Estudar Fora.org, por Priscila Bellini, 28/12/2016

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