terça-feira, 4 de abril de 2017

A Presença das Mulheres na Filosofia

"Quantas filósofas conhecemos? Quantas filósofas brasileiras conhecemos?
Não adianta falarmos que não existe mais machismo na filosofia,  nem conservadorismo,
se não encontramos, na prática, a presença das mulheres nestes setores"
Procurando sobre o tema "mulher e filosofia'", encontrei a entrevista abaixo com a professora e pesquisadora Juliana Pacheco, feita pela escritora Monica Marques para o site da revista Capitu, bem como o texto "As Mulheres entram na filosofia" (clique no link para baixar) da professora de filosofia Maria Luísa Ribeiro Ferreira da Universidade de Lisboa. Assim como nas ciências, em particular nas exatas, a contribuição das mulheres na filosofia sempre foi subestimada e invibilizada. Resgatar essa contribuição é, portanto, também de grande importância. E, falando nisso, retifico a declaração da Juliana Pacheco de que a mundialmente famosa filósofa Martha Nussbaum tem um único livro traduzido para o português. De fato, já são 4 os livros: Sem fins Lucrativos, Fronteiras da Justiça, A fragilidade da bondade e Educação e Justiça Social. Seguem as capas.





Também é possível baixar os dois livros da Juliana Pacheco, clicando nos seguintes links:  Filósofas: A Presença das Mulheres na Filosofia e Mulher e Filosofia: As Relações de Gênero no Pensamento Filosófico. Boa leitura!

Filósofas — Invisibilidade e Luta

Falar de mulher e filosofia ainda é algo que gera uma estranheza, pouca aceitabilidade e credibilidade. O que existe é a falta de reconhecimento dos trabalhos produzidos pelas mulheres

Quando pensamos em filosofia, quase espontaneamente vem à mente a clássica imagem de homens velhos e sábios. Também é assim na política. Muito dificilmente a imagem de uma mulher se refere a ela enquanto agente político ou intelectual. Da mesma forma como se apagou a resistência dos negros frente ao racismo, apagou-se da história a maioria das mulheres que, contrariando as privações a que eram (e ainda são) submetidas, produziram conhecimento e agiram politicamente.

O que devemos perguntar é: mas será que não existiram mesmo? Quem são e a quem interessa esse apagamento e ocultação?

A professora e pesquisadora Juliana Pacheco organizou dois livros a fim de desmistificar o pensamento filosófico como atividade essencialmente masculina. O mais recente, lançado no fim de 2016, Filósofas: A Presença das Mulheres na Filosofia, e um de 2015, Mulher e Filosofia: As Relações de Gênero no Pensamento Filosófico, com prefácio da filósofa Marcia Tiburi, ambos disponíveis em pdf no site da Editora Fi. Conversamos com ela sobre o legado das mulheres para história da filosofia, a apropriação do conhecimento produzido por mulheres (sem creditá-las, obviamente), a percepção da mulher na filosofia ontem e hoje, e mais!

Juliana nasceu em 1986, no Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre, onde leciona Filosofia, na rede privada, para o ensino médio, Educação para Jovens e Adultos (EJA) e educação infantil. Realiza pesquisas sobre as mulheres na história da filosofia, desde 2009, buscando resgatar a presença e importância das mesmas no campo filosófico. Em 2015 organizou o primeiro evento da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul (RS) sobre as mulheres na filosofia, o qual resultou no Mulher e Filosofia. Em 2017 seus dois principais projetos são a organização de um terceiro livro, Filósofas Latino-Americanas, e um trabalho ligado à filosofia para crianças.

Como nasceu o Filósofas e o que a motivou a organizá-lo?

A ideia deste livro nasceu na época em que eu ainda cursava a graduação em filosofia, na PUC/RS, no ano de 2009. Logo que entrei no curso foi notória a presença predominante da figura masculina, tanto em relação aos colegas como aos professores, e principalmente aos conteúdos aplicados em aula. Ou seja, eram mencionados e trabalhados apenas conceitos e teorias de filósofos homens.

Devido a essa “ausência” feminina, comecei a pesquisar sobre as mulheres dentro da filosofia e descobri a existência de muitas filósofas; e que, por vários fatores, elas foram ocultadas da história da filosofia. Era impressionante ver o espanto e surpresa de colegas quando eu comentava sobre a existência de filósofas desde a Antiguidade, pois acreditavam no que sempre ouviram falar: que a filosofia foi “construída” pelos homens. Foi percebendo a importância e emergência desta questão que surgiu a motivação para a criação e organização do livro, o qual, além de trazer a presença dessas mulheres filósofas, busca de certa forma reparar e até mesmo fazer justiça com as pensadoras que contribuíram para a história do pensamento filosófico. Dessa forma, procura-se evidenciar a presença de filósofas mulheres, mostrando que a filosofia não é apenas tecida por mãos masculinas, e que a “faculdade do pensar” não se restringe aos homens.

Qual o legado das filósofas para a história da filosofia?

As filósofas contribuíram bastante para a história da filosofia, principalmente em relação ao aspecto existencial, mostrando que qualquer ser humano é capaz de filosofar e que sua condição não está determinada por aspectos biológicos e/ou naturais. Digo isso no sentido de que as mulheres precisaram questionar, refletir e romper com a condição existencial imposta a elas. Elas tiveram um trabalho dobrado e difícil, de se autoanalisar e lutar pelo direito de “pensar”. Partindo das filósofas mais antigas, podemos mencionar Aspásia de Mileto, que possuía a arte do bem falar, tendo sido ela a ensinar retórica a Sócrates — como consta no diálogo Menêxeno, escrito por Platão. Isso muda toda aquela tradição em que a oratória era algo desenvolvido e aperfeiçoado pelos homens.

Já na Idade Média, podemos mencionar Christine de Pizan, uma filósofa e poetisa que tratou de diversos assuntos, tendo como marca principal a defesa das mulheres. Enfatizou a questão do acesso à educação para as mulheres, dizendo que se fosse dado a elas o mesmo ensinamento que os homens recebiam, não haveria essa diferença entre os sexos. Isso mostra uma visão social e política a frente de seu tempo. Na modernidade, a filósofa Olímpia de Gouges também se dedicou às questões dos direitos das mulheres e dos desfavorecidos. Ela criou a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã para rebater a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, buscando promover uma sociedade igualitária.

Quando a mulher se destaca em alguma descoberta ou estudo, há sempre uma justificativa, de modo a afirmar que a sua capacidade se deve ao ensinamento, orientação e/ou parceria com algum homem

Na contemporaneidade, a filósofa Simone de Beauvoir também contribuiu bastante com as questões sobre a emancipação e os direitos das mulheres. Sua famosa frase “não se nasce mulher, torna-se” ganhou muita repercussão, principalmente entre as feministas, pois mostra a raiz do problema da existência feminina, que é a questão da condição estabelecida pela sociedade. Ou seja, na medida em que se nasce “mulher”, a criança já começa a ser moldada conforme as regras femininas de comportamento, vestimenta, gostos, hábitos etc.

Poderia mencionar inúmeras filósofas e seus conceitos e contribuições, mas, de modo geral, percebemos que o maior legado das filósofas para a história da filosofia está centrado na área da filosofia política, pois elas tiveram que se libertar do privado e conquistar o público para serem notadas e ouvidas. Se essas questões e ações políticas não tivessem acontecidos, as mulheres ainda estariam presas no campo doméstico sem ter a chance de pensar sua existência, ou seja, sem tem a chance de fazer filosofia. Além dessa contribuição geral, há as contribuições mais específicas, como o conceito de “banalidade do mal”, da filósofa Hannah Arendt; o objetivismo de Ayn Rand; a junção de ativismo político com teoria filosófica da filósofa Iris Young; o “marxismo” de Rosa Luxemburgo, entre tantas outras.

Uma das questões levantadas no livro que mais me fascinaram é a apropriação de conhecimentos e ideias de mulheres pelos homens sem que, contudo, haja reconhecimento quanto a autoria. Gostaria que comentasse alguns exemplos dessas apropriações indevidas e falasse um pouco sobre isso.

As questões de apropriações indevidas decorrem da dificuldade em reconhecer a capacidade cognitiva das mulheres. Quando a mulher se destaca em alguma descoberta ou estudo, há sempre uma justificativa. Geralmente essas justificativas são feitas de modo a colocar a figura masculina sobre a feminina, no sentido de que a capacidade e habilidade de determinada mulher se deva ao ensinamento, orientação e/ou parceria com algum homem. Podemos pensar no caso da Simone de Beauvoir, a qual é colocada sempre como a parceira de Sartre, sem ser vista como produtora intelectual autônoma, inclusive muitos dizem que seus escritos estão embasados nos conceitos deste filósofo. Mas por que não pode ter sido o contrário? Por que muito da teoria existencialista de Sartre não pode estar embasada nas concepções de Simone? Afinal, eles eram parceiros intelectuais também, trocavam ideias, conhecimentos, faziam debates, dialogavam entre eles, e isso gerava influência — seja direta ou indireta — no momento de construírem seus conceitos e teorias.
A visão de que a mulher é naturalmente um ser medíocre, incapaz, submisso e inferior ao homem, percorre tanto os filósofos antigos como os contemporâneos, o que muda é a maneira como cada um deles aborda essa visão

Podemos pensar também o caso da filósofa Diotima de Mantinea, a professora de Sócrates. A presença de Diotima é encontrada no livro de Platão O Banquete. Nesta obra, Sócrates anuncia que todo seu conhecimento sobre a teoria do amor foi ensinado pela sua mestra Diotima de Mantinea. Contudo, ainda há muita resistência em se considerar que a grande figura da filosofia, Sócrates, tenha sido pupilo de uma mulher. Essa resistência é percebida no momento em que se coloca a existência desta filósofa em dúvida, pois a única informação que temos a respeito dela está nessa obra de Platão; dizem que ela pode ter sido somente uma personagem. Porém, não vemos com tanta insistência ou relevância a existência de Sócrates sendo colocada em dúvida, já que igualmente só sabemos da existência dele pelas obras de Platão. Sócrates continua sendo trabalhado e mencionado nos cursos, filmes são feitos sobre sua vida como filósofo; em relação a Diotima nada é feito, nem ao menos reconhecê-la como figura responsável pela genealogia do amor.

Outro exemplo importante a ser mencionado aqui é o filósofo René Descartes. Ninguém sequer imagina que esse influente filósofo obteve ajuda, estímulo, informações de mulheres no momento de aperfeiçoar seus conceitos e teorias. Para o fechamento do sistema cartesiano, as indagações e provocações dessas mulheres foram essenciais, pois fizeram com que Descartes se autoquestionasse, ou melhor, que problematizasse suas próprias afirmações e teses. Uma dessas mulheres a contribuir para a teoria cartesiana foi a Elisabeth de Boêmia, que trocou diversas cartas com esse filósofo, abordando medicina, metafísica, psicologia, entre outros temas.

No entanto, esses mesmos filósofos, segundo mostra o livro, têm opiniões bastante “interessantes” sobre as mulheres. Gostaria que você comentasse um pouco sobre a percepção dos filósofos acerca das mulheres ao longo do tempo.

Podemos dizer que, ao longo da história, os filósofos reforçaram e estabeleceram o papel das mulheres dentro da sociedade, colocando-as sempre numa posição de inferioridade e subordinação. A visão de que a mulher é naturalmente um ser medíocre, incapaz, submisso e inferior ao homem, percorre tanto os filósofos antigos como os contemporâneos, o que muda é a maneira como cada um deles aborda essa visão. Alguns foram mais diretos, outros mais sutis. Platão, quando utiliza no Timeu o mito da criação do homem, só reforça a ideia de que a mulher é um ser pecaminoso e indigno. Aristóteles ao constatar masculino e feminino como contrários, colocando o feminino como a privação do masculino, está reforçando a ideia de que a mulher deve se privar e se submeter a vontade de seu contrário, o homem. Kant, ao tratar da questão da menoridade intelectual, vai afirmar que, apesar de alguns homens pensarem de modo autônomo, as mulheres não possuem essa capacidade, ou seja, todas elas são menores intelectualmente, dependendo do pensamento e orientação de outros. Spinoza, ao falar da democracia em seu Tratado Político, exclui a participação das mulheres, apelando para questões biológicas e naturais. Rousseau atribui às mulheres apenas a função doméstica (mãe e esposa), justificando isso pela questão física, de que a mulher é menos forte que o homem, e pela questão da maternidade, que limita sua independência.
As mulheres na filosofia estão aí, querendo entrar, porém, pouquíssimas portas se abrem, causando a impressão de que apenas os homens gostam e podem fazer filosofia

São muitos os filósofos que descreveram negativamente as mulheres, mas gostaria de referenciar uma visão positiva, a de John Stuart Mill, um dos poucos filósofos não misóginos, que reconheceu a mulher como um ser capacitado intelectualmente. Em seu livro A Sujeição das Mulheres, esse filósofo tenta mostrar o equívoco de se considerar a mulher como portadora de uma natureza subalterna. Ele vai dizer que não se pode conhecer a capacidade das mulheres porque nunca houve a chance delas mostrarem. Assim, não há como afirmar que as funções exercidas por cada sexo em nossa sociedade estão adaptadas a sua natureza.

Gostaria de saber ainda se essas opiniões são presentes em certa medida em nossa sociedade e se afetam a autocompreensão das mulheres e a sua entrada no campo filosófico.

Infelizmente, essa visão misógina e machista permeia nossos dias atuais, sendo difícil, para nós mulheres, o reconhecimento não só no campo filosófico como nos demais setores da sociedade. A figura feminina ainda está ligada apenas ao emocional, sendo distanciada da racionalidade. Assim, falar de mulher e filosofia ainda é algo que gera uma estranheza e consequentemente pouca aceitabilidade e credibilidade. Não existem poucas mulheres interessadas por filosofia ou uma ausência de filósofas atualmente, o que existe é a falta de reconhecimento dos trabalhos dessas mulheres.

E por que isso ocorre em pleno século XXI? Porque ainda vivemos — por incrível que pareça — numa sociedade patriarcal, que influencia e interfere no próprio desenvolvimento de quem faz filosofia, levando a acreditar na falsa ideia de que a capacidade racional é exclusividade masculina. Isto é um problema gravíssimo, pois leva ao conservadorismo e “aniquila” com um dos principais pontos da filosofia: a busca pelo conhecimento verdadeiro. Por isso, o que precisa ficar claro é que, mesmo as mulheres sendo relegadas, existiram e existem um número significativo de mulheres produzindo filosofia, e que as mesmas não são incapacitadas filosoficamente, mas rejeitadas e excluídas deste campo, sem haver o devido espaço e reconhecimento para suas produções e trabalhos.
Um colega verbalizou: A Tiburi é uma mulher inteligente, ela não sabe só sobre feminismo e mulheres”. Muitas coisas podemos tirar desta afirmação, principalmente o machismo e preconceito, tanto em relação a Tiburi quanto em relação ao que deve ser considerado filosófico ou não

Até pouco tempo se acreditava que na Idade Antiga não existiram filósofas, mas agora sabemos que elas foram ocultadas. Dessa forma, podemos pensar da mesma maneira a “entrada” hoje das mulheres na filosofia: elas estão aí, querendo entrar, porém, pouquíssimas portas se abrem, causando a impressão de que apenas os homens gostam e podem fazer filosofia.

Como é hoje a percepção sobre as mulheres na filosofia? Desde a entrada na faculdade, o tratamento dispensado por professores e colegas, até o respeito e interesse pela produção feminina etc.

Ainda encontramos muito preconceito e discriminação hoje no que diz respeito a percepção sobre as mulheres na filosofia. Não é fácil romper com anos de discursos machistas revestidos com falsas verdades. Porém, há uma pequena diferença, a qual costumo chamar de “era da sutileza”, pois, atualmente, a maioria dos acontecimentos preconceituosos e discriminatórios estão camuflados, ocorrendo de forma sutil, deixando dúvida se de fato é algo machista e/ou misógino.

Se antigamente a maioria dos filósofos buscou naturalizar a condição das mulheres, hoje em dia, ainda se carrega muito disso, e se busca naturalizar algumas atitudes machistas com um discurso não-intencional, que distorce os acontecimentos e argumentos. Para comprovar que isso ainda é algo presente, é só pensarmos e analisarmos os fatos, como o número de mulheres nos cursos de filosofia. É menor o número de professoras de filosofia lecionando nas escolas e nas universidades, assim como o número de alunas nos cursos de graduação. A ausência de professoras de filosofia, não se dá por haver poucas mulheres, mas por causa das instituições de educação, que acabam, de certa forma, dando preferência para os homens. Em relação as alunas, muitas mulheres se interessam por filosofia e outras áreas consideradas de “cunho masculino”, porém, a discriminação e desvalorização que elas sofrem conduzem-nas ao distanciamento, fazendo-as acreditar que essa é uma área em que a atuação masculina é mais válida.

Quando cursei filosofia na PUC/RS, tinha apenas uma professora mulher, sendo que ela só lecionava a disciplina de didática e estágio. Na pós-graduação, o corpo docente era formado somente por homens (e continua sendo). Por que esta professora mulher não ministrava disciplinas como filosofia moderna, metafísica ou tantas outras? Pensemos também na pergunta: Quantas filósofas conhecemos? Reduzindo a pergunta: Quantas filósofas brasileiras conhecemos? Isso só mostra que não adianta falarmos que não existe mais machismo na filosofia, nem conservadorismo, se não encontramos, na prática, a presença das mulheres nestes setores, se não vemos o reconhecimento de suas produções, se não trabalhamos suas teorias e conceitos nas salas de aula.

Destaco um episódio que aconteceu comigo na época da graduação, quando conversava com um colega sobre a filósofa Marcia Tiburi. Em certo momento esse colega verbalizou: “A Tiburi é uma mulher inteligente, assisti a um vídeo dela falando sobre Adorno e outros filósofos, ela conhece mesmo, não sabe só sobre feminismo e mulheres”. Muitas coisas podemos tirar desta afirmação, principalmente o machismo e preconceito, tanto em relação a Tiburi, quanto em relação ao que deve ser considerado filosófico ou não. Outro episódio que ajuda a elucidar essas sutilezas foi quando estava apresentando em um evento acadêmico uma comunicação sobre as mulheres na filosofia. Ao mencionar a visão positiva do filósofo John Stuart Mill sobre as mulheres, um dos estudantes de doutorado em filosofia comentou: “Stuart Mill só escreveu esse livro para ‘pegar’ mulher”. Esse comentário gerou muitos risos, mostrando o quanto, nós mulheres, ainda temos que enfrentar dentro deste espaço.

Quais filósofas atualmente se destacam no Brasil e no Mundo e quais suas principais contribuições?

Muitas mulheres, mesmo com as barreiras, estão aos poucos conquistando espaço e visibilidade. Posso sublinhar algumas, escondidas por esse Brasil. Uma delas é Marcia Tiburi, que vem ganhando destaque e sendo considerada a “filósofa pop”. Ela já escreveu diversos livros e seu trabalho está bastante voltado para a área da filosofia política e feminismo. Um dos seus livros que mais apareceram no ano passado e que considero de extrema importância para a atual situação política do Brasil é o Como Conversar com um Fascista. Neste livro ela trata de analfabetismo político, discurso de ódio, alienação, pensamento heterônomo, entre outros problemas. O que particularmente gosto no trabalho de Tiburi, é a forma como ela desenvolve suas ideias e conceitos com uma linguagem acessível, possibilitando que o conhecimento chegue para todas as pessoas.

Outra filósofa brasileira a se destacar é Marilena Chauí, que já tem mais de vinte livros publicados e que também é bastante envolvida com a filosofia política, adotando claramente a posição de esquerda, tendo fortes influências marxistas, envolvendo-se com a luta de classes e defendendo os direitos das minorias. Chauí, como Tiburi, é uma filósofa que expõe suas ideias e ideologias sem medo, com uma coragem que conduz à reflexão crítica, deixando enxergar além da obviedade.

Não posso deixar de mencionar a filósofa Djamila Ribeiro, que vem ganhando espaço ao desenvolver trabalhos sobre gênero, feminismo e racismo. Em 2015 escreveu o prefácio do livro Mulheres, Raça e Classe, da filósofa Angela Davis, que foi o primeiro a ser traduzido para o português.

Agora, falando das filósofas que se destacam no mundo, começo citando Judith Butler, uma pensadora que veio para romper com os paradigmas sociais, desconstruindo a visão binária de gênero, procurando mostrar que os seres humanos devem ser livres na construção de sua identidade. Outra filósofa é Angela Davis, que continua em evidência até hoje. As obras dessa filósofa refletem e questionam como o racismo, o sexismo e o capitalismo criam uma sociedade opressora. Suas últimas produções têm se voltado ao sistema carcerário americano. Em seu livro As Prisões são Obsoletas?, mostra que o verdadeiro propósito das prisões não está em solucionar os problemas sociais, mas apenas em deslocá-los, fazendo com que as pessoas não pensem sobre os problemas da sociedade, principalmente os produzidos pelo racismo e pelo capitalismo. Outra filósofa conhecida mundialmente e que ainda tem apenas um livro traduzido para o português é Martha Nussbaum (N.E. não confere. Ela já tem 4 livros traduzidos no Brasil) Ela está entre os principais intelectuais que mais tem pensado e falado sobre a questão das humanidades. Seus trabalhos estão voltados à filosofia política, à educação, à economia, à ética, entre outros assuntos.

Fonte: Revista Capitu, por Monica Marques

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