terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Genial até o fim, David Bowie transforma a própria morte em obra de arte

Bowie em cena do videoclipe de "Lazarus", lançado dias antes de seu novo disco, "Blackstrar"Foto: David Bowie / Divulgação
No último clipe, "Lazarus", Bowie transforma a morte em obra de arte
Artista aparece em uma cama de hospital cantando versos que, diante do impacto de sua morte, ilustram sua emocionante despedida

"Olha aqui, eu estou no paraíso", começa a cantar Bowie em Lazarus, canção daquele que nenhum fã poderia imaginar que seria mesmo seu último disco,Blackstar, lançado na última sexta-feira, dia em que completou 69 anos. A melancólica canção remete ao personagem bíblico (Lázaro é o homem que Jesus Cristo traz de volta do mundo dos mortos) — e era justo um fã de Bowie querer interpretá-la como uma celebração do artista à vida e à retomada da carreira com mais uma de suas surpreendentes reinvenções sonoras. 

Mas o videoclipe de Lazarus, revisto agora sob o tremendo impacto da morte de Bowie, foi de fato uma despedida. Visivelmente debilitado pelo câncer que enfrentou de forma muito reservada nos últimos 18 meses, Bowie aparece em uma cama de hospital cantando versos como "eu estou em perigo, nada tenho a perder" e falando de "cicatrizes que não podem ser vistas" . Está vendado, com dois pequenos objetos circulares sobre os olhos, emulando os milenares rituais que colocam moedas sobre as vistas dos mortos. 

Por um breve momento, aparece próximo a uma janela, iluminado, e dança lembrando "do tempo que cheguei a Nova York e estava vivendo como um rei". Essa sequência pode ter sido seu esforço derradeiro esforço para mostra-se ao fãs com a energia performática e transgressora que lhe foi tão característica ao longo de sua trajetória. E então vai saindo de cena lentamente, caminhado para trás até fechar a porta. O brilho vira escuridão. Bowie foi um artista corajoso inovador até seus últimos instantes. Fez de seu próprio obituário uma emocionante obra de arte.

Veja a letra de Lazarus

Look up here, I'm in heaven
I've got scars that can't be seen
I've got drama, can¿t be stolen
Everybody knows me now
Look up here, man,
I'm in danger
I've got nothing left to lose
I'm so high it makes my brain whirl
Dropped my cell phone down below
Ain't that just like me
By the time I got to New York
I was living like a king
Then I used up all my money
I was looking for your ass
This way or no way
You know, I'll be free
Just like that bluebird
Now ain't that just like me
Oh I'll be free
Just like that bluebird
Oh I'll be free
Ain't that just like me

Fonte: Zero Hora, por Marcelo Perrone, 11/01/2016

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