quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ana Popovic, a branca da Sérvia que arrasa tocando e cantando o negro Blues

Nascido nos campos de algodão dos EUA, onde os negros escravos trabalhavam de sol a sol e cantavam para acompanhar seus fardos e seu fado, o blues traduzia o sofrimento de um povo cativo que sempre soube transformar a dor em poema. Tanto que "blue", além de azul, naturalmente, significa tristeza, melancolia, em inglês. Com o passar dos anos, porém, o blues, o estilo musical, transformou-se também em música dos corações partidos, e igualmente, da sensualidade, da ironia e da poesia.

Ramificou-se em vários tipos, partindo do original Delta blues (o blues de raiz do delta do Mississipi acústico) para o blues de Chicago (a fusão entre o blues acústico do Delta e a introdução da guitarra elétrica no blues) e o Texas Blues (um blues elétrico e rápido). E, dos EUA, sobretudo o blues eletrificado de Chicago e Detroit se espalhou  pelo mundo inteiro, não sem antes gerar outros filhos como o jazz e o rock (mistura do blues negro com o country branco).

Globalizado, o blues influenciou músicos em todo o mundo, dos ingleses Rolling Stones (um dos redescobridores desse estilo musical) e Eric Clapton, para falar nos mais conhecidos, até vejam só a última sensação do gênero, a guitarrista (sim, uma dama), uma senhora branca e sérvia (sic) que estará se apresentando agora em maio, nos dias 9, 10 e 11, no Samsung Galaxy Best of Blues Festival, no WTC Golden Hall, em São Paulo, ao lado de nomes como Jeff Beck, Buddy Guy, Joss Stone, Jonny Lang e Trombone Shorty. O nome dela é Ana Popovic e, além de cantar, no melhor estilo "negro", ainda arrasa na guitarra. (Ver aqui e aqui outra dama que arrasa nas cordas eletrificadas)

Abaixo, matéria sobre a Ana Popovic (cantando, me lembrou a Janis Joplin) e dois vídeos com ela mostrando porque o blues, nascido preto, pobre e cativo, brota, contudo, das vísceras de qualquer pessoa que tenha de fato um coração.

Guitarrista celebrada pelos mais renomados bluesmen, chega, enfim, Ana Popovic

Música é uma das atrações Samsung Galaxy Best of Blues Festival, que acontece em maio
Jotabê Medeiros 

A grande esperança do blues é mulher. E é bonita. E é branca. E é sérvia. Seu nome é Ana Popovic, e ela barbariza tanto com sua Fender Stratocaster 1964 quanto com seus vestidos curtíssimos e sua pose de modelo de propaganda de xampu.

Estrela do Samsung Galaxy Best of Blues Festival, no WTC Golden Hall, em São Paulo, nos dias 9, 10 e 11, ao lado de nomes como Jeff Beck, Buddy Guy, Joss Stone, Jonny Lang e Trombone Shorty, Ana é a loira eletrificada do novo blues. Pela primeira vez no Brasil para tocar (ela conta que já veio antes como turista para conhecer os carnavais de Salvador e Rio de Janeiro, e ficou três semanas), a guitarrista é a grande sensação dos festivais norte-americanos. Este ano, foi a única mulher convidada para a 8.ª edição do Experience Hendrix Tour – os outros eram Buddy Guy, Eric Johnson, Zakk Wilde, Bootsy Collins, Dweezil Zappa, David Hidalgo (dos Los Lobos), além do baixista Billy Cox (que tocou com Hendrix) e do baterista Chris Layton (que acompanhou Stevie Ray Vaughan).

Nos grandes festivais, ela lota as tendas – como sucedeu no ano passado no JazzFest de New Orleans. "Quando eu tinha dois anos, o blues me conquistou. Meu pai tinha uma grande coleção de discos e, desde que me lembro, sempre gostei do gênero. O blues é parte do que eu sou. Não sou americana, mantenho o meu toque europeu. E não uso botas nem chapéu, vou a discotecas dançar com meus amigos. Mas, tirando isso, todo o resto é o mesmo: eu toco a guitarra do blues, eu amo o mainstream do blues", disse a cantora ao Estado, anteontem, falando por telefone de sua casa, em Memphis, Tennessee.

Aos 37 anos, mãe de dois filhos, Ana Popovic contraria totalmente o estereótipo do blues sulista norte-americano, embora esteja totalmente ambientada ali. "Você não precisa ter nascido nos Estados Unidos para tocar blues. Há bluesmen em todo lugar, e fãs de blues em todo lugar. Eu cresci ouvindo Elmore James, Robert Johnson, Steve Ray Vaughan, Robert Cray, John Scoffield, Bukka White e também as bandas de rock, como Cream e Led Zeppelin. Claro, ouvi também o jazz europeu, Django Reinhardt e os outros. Mas, geralmente, eram artistas americanos, o Delta blues, o Texas blues, o rock sulista", ela lembra.

Ana é divertidíssima. Desafiada a relacionar todas as guitarras que tem, ela contabiliza seis ou sete instrumentos – a famosa Strato 1964, mais uma Telecaster 1971, mais uma peça vintage de 1957. "Não sou uma colecionadora de guitarras, tenho algumas boas para a estrada e outras para o estúdio. Sempre preferi sapatos", brinca.

Os guitarristas hendrixianos, entretanto, prestam muito mais atenção ao seu estilo do que aos seus sapatos. Vinte deles a "adotaram" na recente turnê Experience Hendrix, especialmente por conta de sua ousadia "old school" - expressa no álbum mais recente, Can You Stand the Heat?, produzido por Tony Coleman, baterista de B.B. King. "Fiz algo diferente porque eu gosto mais das canções meio desconhecidas de Hendrix, aquelas que não se tornaram hits. Sou um tipo meio lado B. Hendrix é um dos melhores ainda hoje. Adoro a energia dele, especialmente do seu trio", ela conta. Entre as canções que ela toca, estão House Burning Down, Belly Button Window e Can You See Me?

Ela nasceu em Belgrado e morou muitos anos em Amsterdã (onde sua família ainda tem residência), quando foi descoberta pelos americanos por conta do disco Comfort to the Soul, que lhe valeu uma indicação para o WC Handy Blues Awards como artista revelação. Agora, mudou-se de mala e cuia para o coração de Memphis.

"Eu vim a Memphis há dez anos, indicada por um selo para gravar um disco de blues (Comfort to the Soul). Conheci as pessoas na cidade, a gravação foi com uma banda fantástica. Os músicos daqui tocam divinamente. É um lugar bacana, o tempo é bom, minha banda vive por aqui. Eu já tinha vivido em New Orleans e Los Angeles, mas era muito conveniente fixar residência em Memphis". Para seu primeiro show na América Latina, ela promete uma fusão de blues, soul, funk e rock no festival, e quer muito conhecer os bluesmen brasileiros.

Samsung Galaxy Best of Blues 
WTC GOLDEN HALL. Avenida das Nações Unidas, 12.551. Dias 9 e 10, a partir das 19h. Dia 11, a partir das 18h30. DE R$ 150 a R$ 900. Classificação etária: 16 anos

Fonte: O Estado de S. Paulo, 25/04/2014

0 comentários:

Postar um comentário

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites