quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quero game over para os black blocs (ou Batman nunca esteve ao lado de Bane)

Batman nunca esteve ao lado de Bane
Depredações de pontos de ônibus, bancas de jornal, sinais de trânsito, orelhões, semáforos, lixeiras, vitrines de lojas e agências bancárias, etc. afetam apenas a vida da população e não a qualquer “sistema”. Os “eike batista” não pegam ônibus, não pagam contas em caixa eletrônico, são amigos do rei, e ficam tão incomodados com as ações dos revolucionários de araque quanto ao ser picados por um mosquito.

Pela imprevisibilidade de suas consequências, ações violentas só se justificam em situações muito específicas, contra alvos muito focados, com objetivos bem determinados e logística precisa. Senão são mera expressão de indignação irracional que frequentemente se torna tiro no pé. É a velha história do pessoal que incendia ônibus em protesto pela precariedade do transporte público tornando o transporte ainda mais deficiente.

O resultado da “estratégia” violenta dos black blocs é um desastre:

· Onera ainda mais a população (usuária dos serviços quebrados a ser recuperados com o dinheiro dos “contribuintes” via impostos) e dá mais trabalho ao garis;

· Afasta a população das manifestações de rua, isso num momento do país quando elas precisariam virar rotina. (Os coxinhas não querem ficar no fogo cruzado entre a polícia e os anarcotários e correr o risco de levar na coxinha, nos olhinhos, na cabecinha, como costuma acontecer. E foram os coxinhas que fizeram das manifestações de junho um fato memorável, para ficar nos anais da História);

· Prejudica a economia (calcula-se já em 15 bilhões de reais o prejuízo causado pelas manifestações de rua desde junho), levando os comerciantes a buscar empréstimos nos bancos para arcar com as perdas inesperadas, ironicamente contribuindo com o sistema capitalista que os BB dizem combater;

· Mela a imagem de todos os libertários, pois reforça o estereótipo do anarquista como meramente um desordeiro acéfalo e violento que quer espalhar o caos. É a anarquia na acepção popular e pejorativa do termo;

. Leva a medidas repressivas, como a recente proibição do uso de máscaras em manifestações, sendo que algumas máscaras, como a do Anonymous (V de Vingança), já eram até marca registrada dos últimos protestos de rua. Naturalmente que as máscaras não são o problema, mas quando usadas para esconder a identidade de quem pratica vandalismo, tudo muda de figura;

· Dá munição aos conservadores que, por causa das depredações, desde junho, procuram desqualificar todos os protestos, embora a princípio estes tenham sido majoritariamente pacíficos. A cada vandalismo dos black bostas, os conservadores marcam um ponto.

Concluindo, em um texto sobre os black blocs, li que os ditos, considerando que a estratégia da não-violência empregada por Gandhi, Luther King, Mandela, etc., não chamaria mais a atenção da grande imprensa (?), decidiram partir para campanhas de destruição de propriedade privada a fim de resgatar a atenção dos meios de comunicação e demonstrar simbolicamente seu repúdio a alguns símbolos do avanço do capitalismo transnacional.

Primeiro, há que se questionar de onde tiraram a ideia de que ações não-violentas não chamam mais a atenção da mídia. As grandes paradas gays, mundo afora, festivas e pacíficas, atraem permanente atenção da mídia e cumprem seu propósito de combater o preconceito contra as pessoas homossexuais. As próprias manifestações de junho, majoritariamente pacíficas, atrairam a atenção da imprensa por sua grandeza, por serem fato notável, e não por causa do vandalismo que, aliás, a maioria da população repudia.

Segundo, Gandhi, Luther King e Mandela, com ações não-violentas e conciliatórias, tinham propósitos claros e foram muito bem sucedidos. Tiraram o império britânico da Índia, acabaram com a segregação e o apartheid raciais em seus países sem banhos de sangue. Sua intenção não era chamar a atenção da mídia e sim combater o colonialismo e o racismo e libertar seus povos com o mínimo de perdas humanas. A mídia foi apenas um instrumento a mais para a multiplicação dos ideais desses grandes homens. Qual o objetivo dos black bostas? Chamar a atenção da mídia para seu repúdio ao capitalismo transnacional? Tenham dó! Já imaginou se todos fossem para as ruas demonstrar de forma violenta seu repúdio contra todas as mazelas do país e do mundo? Estaríamos numa guerra civil, o que ninguém duvide ser o sonho de muitos desses psicopatas.

Os black bostas apenas jogam um game violento com os robocops do Estado para ver quem ganha o troféu da estupidez e da truculência. Ao que tudo indica, buscam uma vítima fatal para ostentar como prova da brutalidade da polícia e do sistema, em um cenário por eles mesmos armado com atos de violência que a polícia se vê obrigada a reprimir, pois para isso é paga. Dada à deficiência de formação democrática da polícia brasileira (inclinada à truculência e ao autoritarismo, fora a inépcia estratégica das ações de contenção de arruaceiros), do resultado atual das manifestações, com gente ferida, atropelada, cega por balas de borracha, intoxicada por sprays de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo, pode-se passar, se essa rotina de depredações continuar, para a produção de um cadáver a ser debitado unicamente na conta dos robocops, como se os black bostas fossem apenas vítimas e não também protagonistas e cúmplices desse cenário explosivo.

Quero game over para os black bostas, esses paladinos do niilismo que, embora se digam anarquistas, apenas reforçam o poder do Estado, legitimando sua necessidade e suas ações mais repressivas.

E antes que me esqueça. Batman nunca esteve do mesmo lado que Bane!

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