segunda-feira, 29 de julho de 2013

Marcha das Vadias não pode virar marcha das obscenas!

Movimento foi o mais comentado em rede social
brasileira à noite (Tasso Marcelo/AFP Photo)
Em decorrência de uma série de estupros ocorridos na Universidade de Toronto, Canadá, no início de 2011, um policial declarou que as mulheres, para evitar a violência, deveriam se vestir com decoro e não como vadias (putas, sluts em inglês). Em outras palavras, o policial responsabilizou as mulheres pela violência de que foram/são vítimas. Como todo o mundo sabe, contudo, estupradores violam desde criancinhas até senhoras de 70 anos, nada tendo o estupro com a forma como as mulheres se vestem ou se portam.

Para protestar contra a fala lastimável do policial, fruto de uma mentalidade em vigor ainda na cabeça de muita gente, mulheres organizaram a Marcha das Vadias que se espalhou pelo mundo. Nela, mulheres vestidas de todas as formas e inclusive mulheres seminuas afirmam simplesmente: "Não importa a forma como eu me visto - posso até estar seminua - isso não dá a nenhum homem o direito de me estuprar." 

A mensagem é muito clara e correta, e, no contexto da Marcha, a nudez se justifica pelo propósito acima mencionado. Todavia, extremistas - sempre eles - vêm ameaçando a validade das marchas com seus excessos. Nesta última Marcha, do dia 27 no Rio, a pretexto de protestar contra a Igreja Católica e seus dogmas que interferem na autonomia das mulheres (caso da descriminação do aborto), houve uma dita performance que se constituiu na quebra de imagens católicas e simulação de sexo anal e vaginal com algumas delas (ver imagem abaixo). 

Tratou-se apenas de espetáculo grotesco e obsceno do tipo que apenas municia os conservadores em seu moralismo e luta contra avanços sociais importantes. As organizadoras já lançaram nota lamentando a quebra das imagens sacras, mas precisam refletir sobre formas de coibir esses extremistas para que as Marchas das Vadias não se transformem em reles Marchas das Obscenas.

Marcha das Vadias reúne mais de mil no Rio e vira hit em rede social
Hashtag #MarchaDasVadiasRj foi a mais utilizada no Twitter Brasil à noite. Radicais quebraram imagens santas e houve discussões com fiéis da JMJ.

A Marcha das Vadias do Rio de Janeiro, em seu terceiro ano consecutivo, reuniu mais de mil manifestantes na orla carioca, na tarde deste sábado (27), e causou alvoroço nas redes sociais, assumindo a liderança dos trending topics do Twitter no Brasil no início da noite. O grupo saiu às 15h20 de Copacabana pela Avenida  tlântica e foi até Ipanema, pela Avenida Viira Souto, pedindo a legalização do aborto e o fim da violência sexual. Por volta das 19h, diminuto, o grupo voltou à Copacabana. Duas horas depois, pelo segundo dia seguido, uma manifestação entrou em espaço reservado para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

O nome irônico do protesto, segundo os organizadores, teve origem no Canadá, quando um policial justificou um estupro por conta das roupas utilizadas pela mulher violentada. No Rio, o grupo reforçou a autodeterminação sobre o corpo feminino caminhando pela praia com gritos e cartazes. Num deles, a manifestante provocava: "Será preciso eu usar burca para você me respeitar?".

O tema, naturalmente, esbarrou em dogmas da Igreja Católica e em fiéis da JMJ que seguiam para o evento religioso, instalado em palco na Praia de Copacabana, na altura da Avenida Princesa Isabel. Com manifestantes usando pouca roupa e algumas delas de seios de fora, as discussões foram acaloradas. "Vou rezar por eles", chegou a dizer uma peregrina.

Integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir, Valéria Marques foi chamada de assassina por outra fiel. "Sinto pena de uma mulher que oprime o próprio gênero. A organização é apenas a favor das mulheres poderem decidir o que fazer com o próprio corpo, incluindo a legalização do aborto", disse Valéria.

Radicais do movimento, no entanto, chegaram a quebrar imagens santas por volta das 16h30. Em outros momentos tensos, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram insultados por manifestantes que perguntavam "Cadê Amarildo?", em alusão ao pedreiro que sumiu há duas semanas depois de prestar depoimento a policiais da UPP da Rocinha. Várias vezes, foram ouvidos gritos de "Fora Cabral".

A Polícia Militar acompanhou a caminhada com cerca de 50 PMs. Após a chegada em Ipanema, o grupo decidiu voltar para Copacabana e questionar fiéis sobre alguns tabus. Ao se aproximar do palco da Jornada Mundial da Juventude, uma barreira humana da Força Nacional foi armada em frente ao Hotel Rio Othon Palace.

O grupo fardado se estendia da calçada à areia e impedia que manifestantes se aproximassem do evento católico. Algumas manifestantes, com os seios à mostra, subiram nos ombros de companheiros e provocaram fiéis. Às 21h, o bloqueio foi furado e parte do grupo ocupou as areias nas proximidades do palco principal da JMJ.

Em nota, os organizadores do ato lamentaram a quebra de imagens. "A performance que envolveu quebra de imagens de santas na Marcha das Vadias hoje não foi programada pela organização deste evento".

Fonte: G1, 28/07/2013

Espetáculo grotesco que deturpa
 a mensagem da Marcha das Vadias



(Fotografias por Lia Ferreira/Vero)

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