quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Desde quando a humanidade conta 1, 2, 3?

Ábaco romano: a máquina de calcular da Idade Média
Como não podia deixar de ser, eis mais um caso de como a humanidade evolui através daqueles que desafiam o coro dos contentes, dos que se aventuram, dos que inventam e corajosamente defendem suas ideias e invenções contra a tradição e os conformistas.

Somar 2 mais 2 é hoje o maior feijão com arroz, com perdão da rima não intencional, algo de conhecimento de todos, embora ainda não ensinado a todos. Entretanto, historicamente falando, não faz muito tempo que a humanidade passou a utilizar os algarismos e a fazer contas simples com eles.

De fato, o mundo ocidental só teve acesso aos mesmos no século 12, quando o filho de um funcionário de comércio e alfândega italiano, que vivia em Bugia, na atual Argélia, chamado Leonardo de Pisa, teve a oportunidade de  estudar e comparar diferentes métodos de operações numéricas, incluindo os utilizados pelos mercadores árabes, que, por sua vez, haviam incorporado o já milenar sistema numérico hindu. 

Como o sistema desenvolvido na Índia era muito mais simples do que o romano, formado pelos símbolos 9, 8,7, 6. 5,4,3, 2,1 mais o 0 (zéfiro, em árabe), Leonardo aprendeu uma maneira bem mais eficiente de calcular e a divulgou na obra Líber Abbaci (Livro do Cálculo) em 1202, apresentando à Europa as operações de somar, subtrair, multiplicar e dividir e democratizando o conhecimento matemático.

Em seu livro, Leonardo explicou o uso dos algorismos e das operações com exemplos da vida cotidiana comercial: preço de bens, cálculo de lucros e as conversões entre diferentes moedas, capacitando as  pessoas comuns a fazer contas e negócios sozinhas, sem precisar de um especialista em ábaco (veja figura acima).

A técnica popularizada por Leonardo ficou conhecida como numeração de al-Khowarizmi, em homenagem ao matemático árabe Mohamed IbnMusa Alchwarizmi, que em 820 escreveu sobre a arte hindu de calcular. Com o tempo, o nome mudou para algorismi que em português virou " algorismo".

Competição entre algoristas e abacistas
 na Idade Média.  Até hoje existem competições
 do gênero sobretudo no Japão
Como de costume, os numerais indo-arábicos levaram tempo para ser aceitos pelos europeus  devido à Igreja - sempre ela - que a princípio os proibiu (algo tão engenhoso só podia ter parte com o diabo),  e aos praticantes de ábaco, temerosos de perder o ganha-pão na disputa com o novo método. O embate  entre o ábaco e o velho sistema numérico romano, e o novo sistema algorítimo, durou até o século 16, com a vitória do último. Mesmo assim o ensino do ábaco só foi abolido definitivamente nas escolas na época da Revolução Francesa (1789). 

Hoje,  historiadores e matemáticos colocam o legado de Leonardo de Pisa, com a invenção do atual sistema de numeração indo-arábico, no mesmo nível de importância da invenção da roda. Graças a ele foi possível o desenvolvimento da astronomia e da navegação na Europa, possibilitando as épicas viagens marítimas de Cristóvão Colombo, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Fernão de Magalhães. Graças a ele a matemática e a engenharia puderam avançar e a computação e a internet nasceram.

Imaginou se Leonardo de Pisa respeitasse a tradição, hem? Usar o ábaco como diversão ainda passa, e essa história de século XX que se refere aos anos de 1900 a gente atura, mas já imaginou o que seria de nós sem o 1, 2, 3 e o 0? 

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