quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Clipping legal: Religião na Política (não combina)

Iguais no amor pela corrupção e no desprezo pela democracia
A aliança do lulopetismo com pastores evangélicos, como o famigerado bispo Macedo, vem desde a eleição de 2002. Durante o governo de FHC, Edir Macedo e seus bispos vinham sofrendo vários inquéritos e processos movidos pela Polícia Federal e pela Procuradoria da Receita Federal. Edir Macedo inclusive fugiu para Miami, onde ficou até o final do mandato tucano, só voltando ao Brasil quando Lula assumiu a presidência. Não por coincidência, ninguém mais teve notícias dos inquéritos na Polícia Federal contra a Universal, inclusive o processo contra a compra da TV Record por intermédio de duas empresas sediadas em paraísos fiscais. Também sumiu o processo movido em 1998 pela Procuradoria da República, para cassação da licença da rede Record por ter sido comprada com dinheiro de uma religião, portanto com dinheiro isento de tributação.

Agora, Crivella, Ministro da Pesca (sic), sobrinho de Macedo, declarou ao Estadão (16/09/2012) que Lula ajudou a Universal inclusive a expandir seus templos pelo continente africano Embora aparentemente estranha, essa aliança se baseia em sólido terreno comum: ambas as partes amam a corrupção e desprezam a democracia, ambas atentam contra o Estado de Direito, contra a democracia representativa e o Estado laico. Ambas acham que o estado brasileiro, que é dos brasileiros, não de seitas de qualquer espécie, é a casa da mãe joana. Caso Russomano ou Haddad se elejam, essa aliança, interrompida agora pela corrida eleitoral, tende a ser rearrumada. Votar em qualquer um deles é votar neste velho esquema deletério vigente no Brasil. Abaixo editorial do Estadão de hoje falando sobre esse fenômeno preocupante que conspira contra o fundamento constitucional do Estado laico.

Religião na política

O Estado de S.Paulo

A contaminação das campanhas eleitorais no País pela disputa religiosa é um fenômeno crescente e preocupante que conspira contra o fundamento constitucional do Estado laico. Em São Paulo e em outras importantes cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, esse lamentável fenômeno se agrava nos últimos tempos, e por aqui explode no atual pleito municipal, especialmente em função de uma questão que não tem nada a ver com eleições: o acirramento da disputa entre a Igreja Católica e as confissões evangélicas, à frente a Igreja Universal do Reino de Deus.

Dias atrás o conflito entre católicos e seguidores da igreja do bispo Edir Macedo reacendeu-se por causa da divulgação, pelas redes sociais, de texto publicado em maio de 2011 no blog do pastor da Universal Marcos Pereira, presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e atual coordenador da campanha de Celso Russomanno à Prefeitura da capital. O texto continha duras críticas à Igreja Católica por conta da edição, pelo MEC, do chamado "kit gay", manual de orientação didática acusado pelo lobby evangélico no Congresso Nacional de fazer apologia do homossexualismo. A reação foi tão violenta que o então ministro da Educação, Fernando Haddad, mandou suspender a publicação.

O reavivamento dessa polêmica, movido certamente por interesses eleitorais, provocou vigoroso contra-ataque da Igreja Católica: no último domingo a Arquidiocese de São Paulo divulgou longa e dura nota assinada pelo cardeal arcebispo dom Odilo Scherer, lida durante as missas, sob o título Política, com ofensas à Igreja, não!. Afirma o documento que a Arquidiocese, em obediência aos cânones da Igreja Católica e às determinações da Justiça Eleitoral, orienta seus fiéis "para que os espaços e os momentos de celebrações religiosas não sejam utilizados para a propaganda eleitoral partidária, nem para pedir votos para candidatos", embora reconheça que "também deu orientações e critérios sobre a participação dos fiéis na campanha eleitoral e na vida política da cidade e sobre a escolha de candidatos idôneos, embora sem citar nomes ou partidos". Em seguida, afirma que a Igreja Católica foi "atacada e injuriada, de maneira injustificada e gratuita, justamente num artigo do chefe da campanha de um candidato à Prefeitura de São Paulo".

Afirma ainda a nota que "a manipulação política da religião não é um benefício para o convívio democrático e pluralista e pode colocar em risco a tolerância e a paz social". E conclui reiterando "orientação para que os fiéis católicos votem de maneira consciente (...) para que nossa cidade seja governada por autoridades dignas e atentas à promoção do bem da cidade, mais que aos interesses de parte". Forçado pelas circunstâncias, o fato é que o chefe da Igreja Católica em São Paulo acabou misturando política com religião e contribuindo para ampliar a "manipulação" que sua nota condena.

Não deixa de ser irônico, de qualquer modo - e isso, na verdade, reflete o nível rasteiro desta campanha eleitoral -, o fato de que Celso Russomanno, candidato pelo partido comandado pela Universal, faz questão de ostentar sua condição de "católico fervoroso". Na medida em que política e religião não se devem misturar, não há problema no fato de um candidato a prefeito católico ter o apoio de fiéis de outra confissão religiosa. Ocorre que, neste caso, apesar do discurso e da pose, Celso Russomanno, para usar a expressão popular, "não é muito católico" nem seus apoiadores no comando do PRB são simples correligionários, mas hierarcas de uma poderosa organização religiosa que é dona de um partido político.

Assim, se não fosse falso e mal-intencionado, soaria apenas como ofensa pueril ao discernimento dos eleitores o argumento usado no maior caradurismo por Russomanno, no debate promovido pelo Estado e pela TV Cultura, para rebater as acusações de que sua candidatura estaria a serviço dos interesses das organizações, religiosa e comerciais, do bispo Edir Macedo: "No meu partido 80% dos membros são católicos; 20% são evangélicos, dos quais 6% seriam da Igreja Universal. Portanto, não existe um partido político comandado por uma igreja". O fato é que a legenda de Russomanno é comandada por uma igreja.

0 comentários:

Postar um comentário

Compartilhe

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites