quinta-feira, 26 de abril de 2012

Oásis de Bethânia: contido e elegante


Algumas cantoras se tornam antológicas e embora, com o passar do tempo, apenas se reciclem, como, por exemplo, no pop, Madonna, e, na MPB, Maria Bethânia, continuam melhores do que as suas contemporâneas. É o caso das últimas produções dessas artistas, onde não há grandes inovações, mas, mesmo assim, a qualidade do trabalho permanece acima da média. 

Em Oásis de Bethânia, a cantora baiana fez um CD intimista, contido, sem as grandiloquências dramáticas que já caracterizaram muitos de seus trabalhos, mas com uma certa melancolia bem no ponto, resultando em um todo elegante e agradável de ouvir.

Boa maneira de recuperar sua imagem um tanto desgastada pela participação, em 2011, na tentativa de realização de um blog milionário, onde declamaria poesias, a ser financiado via Ministério da Cultura. Em entrevista à revista Época, ela inclusive diz que deu, na música Carta de Amor, uma resposta  indireta aos que a criticaram. 

Posto abaixo o vídeo desta música e também o da música Fado, uma das minhas preferidas. Na página de vídeos do blog, posto todas as músicas do Oásis da Bethânia.  Dá para apreciar sem moderação.

Faixas do CD 
01. Lágrima
02. O Velho Francisco Part. Esp. Lenine
03. Vive Part. Esp. Djavan
04. Casablanca
05. Calmaria
06. Fado
07. Barulho
08. Lágrima (Citação)
09. Carta de Amor
10. Salmo

Carta de Amor
Não mexe comigo que eu não ando só
eu não ando só, que eu não ando só
não mexe não (2x)

Eu tenho Zumbi, Besouro o chefe dos Cupis
sou Tupinambá, tenho Erês, caboclo boiadeiro
mãos de cura, Morubichabas, Cocares, Arco-íris
Zarabatanas, Curarês, Flechas e Altares.

A velocidade da luz no escuro da mata escura
o breu o silêncio a espera. Eu tenho Jesus,
Maria e José, todos os Pajés em minha companhia
o menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
o poeta me contou.

Não mexe comigo que eu não ando só
eu não ando só, que eu não ando só
não mexe não (2x)

Não misturo , não me dobro a rainha do mar
anda de mãos dadas comigo, me ensina o baile
das ondas e canta, canta, canta pra mim, é do
ouro de Oxum que é feita a armadura guarda o
meu corpo, garante meu sangue, minha garganta
o veneno do mal não acha passagem e em meu
coração Maria ascende sua luz, e me aponta o
caminho.

Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã,
giro o mundo, viro, reviro tô no recôncavo
tô em face, vôo entre as estrelas, brinco de
ser uma traço o cruzeiro do sul, com a tocha
da fogueira de João menino, rezo com as três

Marias, vou além me recolho no esplendor das
nebulosas descanso nos vales, montanhas, durmo
na forja de algum, mergulho no calor da lava
dos vulcões, corpo vivo de Xangô

Não ando no Breu nem ando na treva
Não ando no breu nem ando na treva
é por onde eu vou o Santo me leva
é por onde eu vou o Santo me leva(2x)

Medo não me alcança, no deserto me acho, faço
cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo
meus pés recebem bálsamos, unguento suave das
mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro, no
Oásis de Bethânia.

Pensou que eu ando só, atente ao tempo num
comece nem termine, é nunca é sempre, é tempo
de reparar na balança de nobre cobre que o rei
equilibra, fulmina o injusto, deixa nua a justiça

Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão
e pra onde você for não leva o meu nome não
e pra onde você for não leva o meu nome não(2x)

Onde vai valente? você secô seus olhos insones
secaram, não veêm brotar a relva que cresce livre
e verde, longe da tua cegueira. Seus ouvidos se
fecharam à qualquer musica, qualquer som, nem o
bem nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe
você pisa na terra mas não sente apenas pisa,
apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve as
teclas do teu piano, você está tão mirrado que
nem o diabo te ambiciona, não tem alma você é
o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.

O que é teu já tá guardado
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar,
não sou eu que vou lhe dar.(2x)

Eu posso engolir você só pra cuspir depois,
minha forma é matéria que você não alcança
desde o leite do peito de minha mãe, até o sem
fim dos versos, versos, versos, que brota do
poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita
na palma da inspiração de Caymmi, se choro quando
choro e minha lágrima cai é pra regar o capim que
alimenta a visa, chorando eu refaço as nascentes
que você secou.

Se desejo o meu desejo faz subir marés de sal e
sortilégio, vivo de cara pra o vento na chuva e
quero me molhar. O terço de Fátima e o cordão de
Gandhi, cruzam o meu peito.

Sou como a haste fina que qualquer brisa verga
mas, nenhuma espada corta
Não mexe comigo que eu não ando só
eu não ando só, que eu não ando só(2x)
não mexe comigo



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