quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Clipping legal: Os 100 livros essenciais da literatura mundial

A revista BRAVO! enumerou 100 livros de literatura que não podem faltar em sua lista de livros de leitura imprescindível. Para chegar a esses 100 livros, a revista contou com a ajuda de colaboradores e se baseou  nos estudos do crítico americano Harold Bloom, autor de O Cânone Ocidental e Gênio, além de rankings anteriores, como os da revista Time e da Modern Library, selo tradicional da editora americana Random House. Como toda a lista de "essenciais", está aberta à crítica e a adendos, possibilitando o surgimento de outras listas. Entretanto, de fato, lendo esses 100 mais, você já pode dizer que conhece um pouco de literatura e, sendo a literatura a antropologia das antropologias, segundo Fernando Cristóvão, da Universidade de Lisboa, que conhece também algo sobre o gênero humano. Listarei os 100 em quatro postagens.

Abaixo os primeiros vinte e cinco:

1. Ilíada, de Homero
"Aira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles o irado desvario, que aos Aqueus tantas penas trouxe, e incontáveis almas arrojou no Hades." Com esses versos inicia-se a Ilíada, que, junto com a Odisseia, ambas atribuídas a Homero, lançou as bases da literatura ocidental. Ao discorrer sobre uma realidade vasta e profunda, esses dois poemas épicos não só contribuíram para moldar uma nação e uma cultura, mas também causaram impacto duradouro no que veio depois - ou seja, em quase todos os autores e obras descritos nas páginas que se seguem.

2. Odisseia, de Homero

Transposta para a literatura do século 20 por James Joyce, em Ulisses, e presente na estrutura de um sem-número de obras artísticas desde a Antiguidade em gêneros que vão do teatro às artes plásticas, a Odisseia é o que o crítico Otto Maria Carpeaux definiu como "a bíblia estética, religiosa e política dos gregos que se transformou na bíblia literária da civilização ocidental inteira". Continuação da Ilíada, a obra acompanha Odisseu (nome grego de Ulisses) em sua jornada de regresso à sua cidade natal, Ítaca, após a Guerra de Troia. Durante os dez anos de sua viagem, ele enfrenta a ira de deuses, a sedução de ninfas, é capturado por ciclopes e sofre o assédio de sereias, entre outras peripécias.

3. Hamlet, de William Shakespeare
Não existiria o homem moderno sem um autor como ele. "William Shakespeare, psicólogo incomparável, inventou para nós uma nova origem, na ideia mais iluminada até hoje descoberta ou inventada por um poeta: o autorreconhecimento gerado pela autoescuta", diz o crítico americano Harold Bloom. Ele acrescenta que sem a peça Hamlet (1600-1602) não haveria autores como o alemão Johann Wolfgang von Goethe, como não seria possível o russo Fiódor Dostoiévski escrever livros como os Irmãos Karamazov e Crime e Castigo.

4. O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
Antes de ser batizado com o título de Dom Quixote de la Mancha, o modesto fidalgo rural Alonso Quijano gostava de caçar em sua propriedade, comia lentilhas às sextas-feiras e vestia calças de veludo para ir a festas. Era um homem comum, na casa dos 50 anos, "rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador". Seu principal passatempo, que por vezes lhe consumia dias e noites inteiros, era ler livros de cavalaria.

5. A Divina Comédia, de Dante Alighieri
Mais que um compêndio interminável dos símbolos da história europeia até o século 14, escrito concisamente na forma de um grande poema, A Divina Comédia é uma alegoria, em si mesma, da vida humana - ou, pensam alguns, a bíblia escrita por um só homem. A obra narra a odisseia (além dos moldes do clássico de Homero) de um homem, que é o próprio Dante, em busca do paraíso onde estará a amada Beatriz - que, para muitos historiadores, foi o amor não concretizado do autor. A Divina Comédia é organizada em três livros - Inferno, Purgatório e Paraíso -, num total de 33 cantos.

6. Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Monumental é um termo corriqueiro e rasteiro para descrever os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, do escritor francês Marcel Proust. Não apenas pelas mais de 3 mil páginas que acompanham as dezenas de edições já publicadas em qualquer língua - ou pelo número de personagens (25 principais e uma miríade de secundários) e cenários (cinco, cada qual com seu papel na narrativa) -, mas pelo gigantismo da proposta literária de Proust: dissecar a relação do homem com o tempo e com a memória. Em As Ideias de Proust, o crítico Roger Shattuck discute qual a melhor maneira de ler um dos livros mais complexos e densos da história.

7. Ulisses, de James Joyce
"Um romance para acabar com todos os romances." Foi assim que parte dacrítica literária recebeu o lançamento de Ulisses em Paris, em 1922. Depois de quase oito anos debruçado sobre o livro, o irlandês James Joyce (1882-1941) finalmente lançava a versão integral da sua grande obra.

8. Guerra e Paz, de Leon Tosltói
"O irmão mais velho de Deus." Foi essa a alcunha dada pelo historiador Paul Johnson ao escritor russo Leon Tolstói no ensaio que lhe dedicou em seu livro Os Intelectuais. Polêmicas do britânico à parte, Tolstói foi, de fato, um homem extremamente ambicioso.

9. Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski
A Rússia do quarto romance de Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski (1821-1881), Crime e Castigo, publicado em 1867, é uma sociedade desigual e decadente, tomada pela tradição czarista e por arroubos revolucionários socialistas, miséria e corrupção. Nascido em Moscou e vivendo em São Petersburgo, o autor, que já escrevera romances e participara de periódicos, entrega-se ao socialismo, e acaba preso e condenado à morte - quando a comutação da pena lhe envia à Sibéria, onde conviverá com criminosos, prostitutas e maníacos que povoarão a densidade das páginas de seus livros e darão origem a Recordações da Casa dos Mortos (1862). Se era considerado um jovem escritor promissor, é só depois dos 40 anos, ao escrever sua célebre obra, que cairá nas graças do público leitor da Rússia e do mundo.

10. Os Ensaios, de Michel de Montaigne
Há figuras do passado que o tempo aproxima ao invés de afastar. Montaigne é uma delas. Como observa o historiador italiano Carlo Ginzburg, somos irresistivelmente atraídos pela sua abertura nas relações com as culturas distantes, pela sua curiosidade diante da multiplicidade e diversidade da vida humana e pelo diálogo cúmplice e implacável que ele entretem consigo mesmo.

11. Édipo Rei, de Sófocles
"Sabes, ao menos, de quem és nascido?" A pergunta que o cego vidente Tirésias faz a Édipo, rei de Tebas, é a síntese de Édipo Rei, de Sófocles (496-406 a.C.), um dos fundadores da tragédia grega ao lado de Ésquilo (525-456 a.C.) e Eurípides (480-406 a.C.). A história do homem que, sem saber, mata o pai e se casa com a mãe teve diversas versões e larga influência sobre a literatura, chegando ao século 20 na esteira da teoria dapsicanálise, criada por Sigmund Freud (1856-1939).

12. Otelo, de William Shakespeare
Escrita e representada pela primeira vez em 1604, Otelo é vista como um grande estudo psicológico das fraquezas humanas. Inveja, ciúme e vingança forjam, pelo jogo entre a ação premeditada e a ação impensada, uma das mais encenadas tragédias da história do teatro e do cinema. Talvez a mais comovente das tragédias shakespearianas, Otelo levou aos palcos discussões modernas para a época, como o casamento inter-racial e a ascensão dos árabes na política.

13. Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Gustave Flaubert (1821-1880) escreveu que gostaria de ser enterrado junto de seus manuscritos, para que durassem tanto quanto ele. A fixação pelas páginas explica seu apuro literário. Nenhuma frase era impensada, nenhum cenário, descrito sem os menores detalhes - tudo em Flaubert é sistemático, matemático, preciso, do estilo que flui de seu texto ao objeto colocado na sala de um personagem, que o definirá para sempre.

14. Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe
Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), é a obra de uma vida. O alemão tinha apenas 23 anos quando fez o primeiro esboço dahistória, que depois seria conhecido como Fausto Zero (Urfaust). Retomaria a obra lançando Fausto: Uma Tragédia com quase 60 anos (1808), por fim concluindo-a em 1832, ano de sua morte, aos 83.

15. O Processo, de Franz Kafka
Na manhã em que completa 30 anos, Josef K é visitado no quarto de pensão onde mora por dois sujeitos que o informam de que está preso. Os homens se recusam a revelar a natureza da acusação e comunicam ao réu que ele poderá responder ao inquérito em liberdade, desde que se apresente para interrogatórios periódicos no tribunal. É esse o argumento inicial de O Processo (1925), romance que Franz Kafka (1883-1924) - advogado que se ocupou vários anos de um ofício burocrático em uma companhia de seguros e se tornou, segundo o filósofo francês Jean-Paul Sartre, "pai da literatura moderna" - nunca concluiu.

16. Doutor Fausto, de Thomas Mann
Thomas Mann (1875-1955) queria escrever um livro sobre a lenda de Fausto desde 1901, mas só o fez em 1947, depois de encontrar sua fonte de inspiração - a barbárie nazista, que o levou a exilar-se nos Estados Unidos e a escrever um dos maiores livros da literatura alemã. A lenda de Fausto é antiga. Surge numa Europa do século 16 impregnada pela religião, que explicava o presente com as tintas do medo e expiava a culpa nos que a transgrediam.

17. As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
Charles Baudelaire (1821-1867) é conhecido em todo o mundo pela alcunha de "poeta maldito". Maldito pela sífilis, pela predileção pelas drogas, pela sexualidade exacerbada e pela defesa de todos esses vícios numa poesia agressiva e existencial. Ele é o "poeta da arte pela arte e da busca da forma perfeita", diz a crítica Glória Carneiro do Amaral.

18. O Som e a Fúria, de William Faulkner
Indagado em entrevista para a revista The Paris Review, em 1956, sobre a dificuldade de seus livros, que exigiam por vezes duas ou três leituras, William Faulkner (1897-1962) foi lacônico: "Sugiro que leiam quatro vezes". Da mesma forma que era rigoroso com seus leitores, cobrava muito de si mesmo. Antes de publicar O Som e a Fúria (1929), considerada uma das obras-primas da literatura contemporânea, Faulkner reescreveu o texto cinco vezes.

19. A Terra Desolada, de T. S. Eliot
Nas cinco partes do longo poema A Terra Desolada (1922), do americano naturalizado inglês T. S. Eliot (1888-1965), encontra-se um sumário conciso da história do pensamento ocidental. Entre as vozes que se alternam, há constantes empréstimos à literatura europeia, à literatura indiana e à Antiguidade clássica. Homero, Dante Alighieri (1265-1321), Virgílio (70-19 a.C.), William Blake (1757-1827) e William Shakespeare (1564-1616) - entre pelo menos mais 35 escritores e pensadores -, além de canções populares, passagens e citações em seis línguas estrangeiras, inclusive o sânscrito, podem ser localizados nas múltiplas paisagens da obra.

20. Teogonia, de Hesíodo
A Teogonia, ou o nascimento dos deuses, é um poema fundacional que explica a suposta origem do mundo pela narrativa da genealogia dos deuses. Tradicionalmente atribuído a Hesíodo, data do século 7 a.C. - época anterior ao período áureo da vida grega, quando surgem a pólis, a moeda, o alfabeto e a escrita, todos adventos do século 5 a.C., o mesmo do filósofo Platão. Por ser originalmente cantada, e não escrita, a Teogonia é composta em hexâmetros dactílicos (arranjo de sílabas longas e breves), que garantiam musicalidade aos versos e poderiam ser facilmente memorizados.

21. Metamorfoses, de Ovídio
A pax romana, período de prosperidade do "século de Augusto", foi ambiente propício para o "poeta do amor" - epíteto que se colou a Ovídio (43 a.C.-18 d.C.), autor favorito da sociedade mundana do Império. Roma investia na construção de bibliotecas públicas, templos e monumentos e financiava o trabalho de historiadores como Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.), arquitetos como Vitrúvio (80/70-25 a.C.) e poetas como Virgílio (70 a.C.-19 d.C), além do próprio Ovídio. Foi um período de ascensão das letras latinas, cuja influência perduraria mil anos depois no Renascimento, chegando até os dias atuais.

22. O Vermelho e o Negro, de Stendhal
Não se sabe ao certo o que Stendhal (1743-1842) queria dizer com o título de sua obra mais célebre, O Vermelho e o Negro. Muitos atribuem o negro à cor da batina do protagonista e o vermelho ao sangue em que esta é lavada após a guilhotina; ou à batina em contraposição à farda militar, vermelha na época de Napoleão; ou simplesmente à morte e à paixão presentes na trama. Certo é que Sthendal (cujo nome real é Marie-Henri Beyle) conseguiu escrever um tratado sobre o amor e o ódio na psique humana e sobre uma sociedade que estraçalha a ambição de um jovem em guerra com seus anelos com a mesma frieza que o faz com os soldados na guerra.

23. O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald
"Ninguém deveria viver além dos 30 anos." A frase de Francis Scott Fitzgerald (1896-1940) quase pode ser aplicada ao próprio escritor. Corroído por uma vida de excessos, sobretudo os alcoólicos, ele morreria aos 44 anos vítima de parada cardíaca.

24. Uma Temporada no Inferno, de Arthur Rimbaud
Uma obscuridade envolve o francês Arthur Rimbaud (1854-1891), que, de certo modo, teve duas vidas. Uma até os 20 anos, quando se tornou um dos desbravadores da lírica moderna, influenciando desde os surrealistas até a geração beat americana. A outra começa com sua total renúncia ao fazer poético para correr o mundo.

25. Os Miseráveis, de Victor Hugo
Um homem condenado a anos de prisão por ter roubado um pão pode não soar estranho no Brasil. Mas nenhum caso até hoje rendeu uma história tão extraordinária como a de Jean Valjean, o protagonista maltrapilho de Os Miseráveis, de Victor Hugo (1802-1885), um clássico da literatura francesa que já inspirou filmes, seriados, musicais e até uma novela brasileira. Historiadores dizem que o autor de O Corcunda de Notre Dame (1831) e Os Trabalhadores do Mar (1866) escreveu mais de 1 milhão de versos, além de engajar-se nas lutas políticas e ideológicas do século 19.

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