terça-feira, 1 de março de 2011

João Gordo: como ser vegetariano sem ser chato!

Na IstoÉ de 26 de janeiro, saiu uma reportagem sobre 3 celebridades que aderiram ao vegetarianismo, mas nem de longe fazem o perfil que a maioria das pessoas tem dos vegetarianos. Na matéria intitulada Vegetarianos Improváveis, literalmente dois pesos pesados, João Gordo e Mike Tyson, e o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton revelam porque deixaram a carne de lado.

João Gordo inclusive deu entrevista sobre sua conversão, para o site da IstoÉ, que reproduzo abaixo, onde, com seu jeito desbocado, descreve o percurso que percorreu até abolir o muy discutível hábito de se alimentar de cadáveres. É bem divertida a entrevista.

Fiquei pensando na questão dos estereótipos vigentes sobre os vegetarianos e até onde os próprios não colaboram um pouco com a visão de chatice que muita gente tem deles. Provavelmente ela vem do fato de muitos vegetarianos serem também militantes dos direitos dos animais e não perderem uma chance de fazer proselitismo pela abolição do consumo de carne.

Como ninguém, contudo, gosta de patrulha ideológica, as pessoas se sentem constrangidas quando censuradas por ter um hábito sobre o qual nunca tinham parado para pensar, em relação ao qual nunca viram nada demais. O fato é que são poucas as pessoas que crescem numa família vegetariana, acostumadas desde cedo com alimentos feitos a partir do reino vegetal. A maioria de nós cresce em famílias carnívoras e não fica refletindo sobre a origem do bife que chega à mesa.

Na adolescência, eu mesma era a rainha do bife mal-passado, da linguiça e outros embutidos. Chegava até a comer bife cru. Hoje, a simples menção desse fato me revira o estômago, mas naquela época, eu não pensava sobre o assunto porque ainda não tinha informações sobre o horror da indústria do abate, sobre os problemas de saúde que o consumo de carne acarreta e os danos que a pecuária extensiva traz ao meio-ambiente. À medida que minha informação sobre o tema foi aumentando, encaminhei-me para o ovolactovegetarianismo, mesmo assim o percurso até ele foi cheio de idas e vindas e o abandono das carnes gradual.

João Gordo
Por isso, meu proselitismo nesse tema não é dogmático e se limita mais a veicular, por exemplo, aqui no blog, as boas razões para as pessoas pelo menos diminuírem o consumo de carne. No meu cotidiano, porém, só me estendo sobre o assunto quando me perguntam porque sou vegetariana, sobretudo se vierem me alugar com contra-argumentos falaciosos. Aí defendo meu ponto-de-vista do porque considero a dieta vegetariana uma alternativa alimentar mais ética e saudável, mas sem censurar quem adora um churrasco, embora obviamente não seja figura assídua nesse tipo de evento.

Quando questionada então, explico que a primeira razão para alguém se tornar vegetariana(o) é o fato de a natureza nos possibilitar essa escolha. Nós, seres humanos, não somos carnívoros. Somos onívoros, podemos sobreviver e inclusive viver bem sem comer bichos. Então, por que continuamos comendo carne se isso acarreta tanto sofrimento aos animais, muitos dos quais, como a ciência cada vez mais reconhece, têm emoções bem semelhantes às nossas, tem dor, tem medo? Por um simples hábito que herdamos dos tempos das cavernas? Mas não estamos mais no Paleolítico.

Informo também que outra boa razão para se ser vegetariana é a preservação de nossa própria saúde. Os chamados animais de abate são tratados como coisas, não como seres vivos, e têm seu ciclo de vida natural completamente detonado, para atender ao ritmo industrial, recebendo hormônios e antibióticos de modo a crescer mais depressa e mais do que o normal. Quem consome muita carne engole a adrenalina do estresse desses animais, pela curta e sofrida vida que levam, de sua consciência do extermínio, e de toda a porcaria que os criadores lhes enfiam goela abaixo.

Pondero que outra boa razão ainda, para se ser vegetariana, é a preservação ambiental. A fim de alimentar os animais de abate, principalmente o gado bovino, produzem-se toneladas de grãos que, se dadas diretamente aos seres humanos, matariam a fome de toda a humanidade. Dadas aos animais de corte, vão produzir muito menos alimento para um número bem menor de humanos. Além disso, a criação de pastagens para esses animais se dá à custa da destruição de cada vez maiores porções de mata virgem, o que elimina o habitat de outras espécies e aumenta a poluição por ausência de árvores. Fora que o gado também consome grande quantidade de água, um bem que tende a ser cada vez mais escasso, e polui terras e fontes com suas fezes.

Na matéria da IstoÉ sobre os vegetarianos improváveis, citam uma pesquisa sobre hábitos alimentares informando que 28% dos brasileiros tem reduzido o consumo de carnes. A pesquisa também estima que 5% da população passa ao largo dos açougues. Isso prova que, sem precisar de xiitismos, apenas com boa informação, as pessoas também mudam de comportamento, passando a consumir alimentos produzidos sem tanto sofrimento e sem tantos danos à saúde e ao planeta.

E fiquem com a entrevista do João Gordo que está muito boa e nada chata!

Indicação de leitura: Vegetarianismo e Ciência, Dr. Julio César A. Navarro, ph.D, pág. 252, Editora Alaúde.
E na Super-interessante deste mês, matéria de capa intitulada O Que pensam os Animais, dando conta de que a ciência começa a descobrir que sim, os animais também são gente. Imperdível! Edição 289, Mar/2011


3 comentários:

Ótimo artigo! Gostei de sua postura serena sobre o assunto. Já fui vegetariano por dez anos e, hoje, consumo menos de 30% da carne que um brasileiro, em geral, consome. Paulo Stekel

Eu sempre digo, quando me perguntam se sou vegetariana, que prefiro não usar rótulos. Não como mais carnes (há 4anos) por ter lido muito sobre o assunto e estar convencida de que posso viver sem consumí-la. Para me fortalecer li inúmeros livros e reportagens sobre o assunto, mas um em especial, na minha opinião, denominado "Tudo o que vive é teu próximo", uma visão espiritualista p/ a questão e com muitos dados atuais sobre outras dietas mais interessantes.De modo que gostei muito encontrar o tema aqui e parabenizo pela reportagem. Abraço.Sônia Siqueira.

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