8 de Março:

A origem revisitada do Dia Internacional da Mulher

Mulheres samurais

no Japão medieval

Quando Deus era mulher:

sociedades mais pacíficas e participativas

Aserá,

a esposa de Deus que foi apagada da História

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ANIMA ANIMUS


























Mora em mim
Um menino tímido,
Um malandro sacana,
Um Brad Pitt sem fama
Que quer na cama
Uma mulher de seios à espreita,
Numa camisola branca,
De dedos frágeis, boca rubra,
De pernas longas entreabertas,
Com uma vulva ávida e agridoce,
Com seu mar negro onde mergulho fundo
Como quem não quer mais voltar para esse mundo
Onde tudo me atordoa.

Míriam Martinho

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

F comme Femme - M de Mulher

F comme Femme foi um sucesso do cantor e compositor belga-italiano Salvatore Adamo no fim dos anos 60, em 1968 mais precisamente. Eu estava entrando na adolescência e não entendia nada de francês nem de mulher, mas já achava ambos lindos.

Continuo não entendendo nada de francês, só o instrumental, e embora meu conhecimento de mulheres tenha melhorado bastante com o tempo, não saberia dizer o quanto entendo destes meus inesgotáveis objetos de desejo. Quem sabe não sempre fui um homem preso no corpo de uma mulher... rsss

De qualquer forma, continuo achando ambos lindos: o idioma francês e a mulher. Por isso, num momento sessão nostalgia, postei um vídeo com a música (com cenas do Adamo), a letra original e uma tradução que parece apropriada.

Como também femme para nós, por um empréstimo via inglês, é aquela senhorita que faz par com a butch, quem quiser encarar uma dupla leitura da chanson que fique à vontade. Bon appetit!

F comme Femme

Elle est éclose un beau matin
Au jardin triste de mon coeur
Elle avait les yeux du destin
Ressemblait-elle à mon bonheur ?
Oh, ressemblait-elle à mon âme ?
Je l'ai cueillie, elle était femme
Femme avec un F rose, F comme fleur

Elle a changé mon univers
Ma vie en fut toute enchantée
La poésie chantait dans l'air
J'avais une maison de poupée
Et dans mon coeur brûlait ma flamme
Tout était beau, tout était femme
Femme avec un F magique, F comme fée

Elle m'enchaînait cent fois par jour
Au doux poteau de sa tendresse
Mes chaînes étaient tressées d'amour
J'étais martyre de ses caresses
J'étais heureux, étais-je infâme ?
Mais je l'aimais, elle était femme

Un jour l'oiseau timide et frêle
Vint me parler de liberté
Elle lui arracha les ailes
L'oiseau mourut avec l'été
Et ce jour-là ce fut le drame
Et malgré tout elle était femme
Femme avec un F tout gris, fatalité

À l'heure de la vérité
Il y avait une femme et un enfant
Cet enfant que j'étais resté
Contre la vie, contre le temps
Je me suis blotti dans mon âme
Et j'ai compris qu'elle était femme
Mais femme avec un F aîlé, foutre le camp

Salvatore Adamo

M de Mulher
Ela desabrochou numa bela manhã
No jardim triste de meu coração.
Trazia os olhos do destino,
Assemelhava-se a minha felicidade?
Oh, ela se parecia com minha alma?
Eu a colhi, ela era mulher,
Femme como "f" rosa, como flor.

Ela transformou meu universo,
Encantou toda a minha vida,
A poesia cantava no ar,
Eu tinha uma casa de bonecas.
E em meu coração ardia minha chama,
Tudo era belo, tudo era mulher," femme" com um "f" mágico,
"f" de fada.

Ela encantava-me cem vezes por dia
Com o doce arrimo de sua ternura.
Minhas cadeias estavam trançadas pelo amor,
Eu era mártir de suas carícias.
Eu era feliz... e seria eu um infame?
Mas eu a amava, ela era mulher.

Um dia, o pássaro tímido e débil
Veio falar-me de liberdade.
Ela arrancou-lhe as asas,
O pássaro morreu com o verão.
Naquele dia fez-se o drama
E, apesar de tudo, ela era mulher,
Femme com um "f" todo cinzento, de fatalidade.

Na hora da verdade
Havia uma mulher e uma criança,
Aquele menino em que eu me convertera
Contra a vida, contra o tempo.
Estou encolhido dentro de minha alma
E compreendi que ela era mulher.

tradução de Marysa Alfaia

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sexo pago: você faria?

A propósito de uma matéria sobre saunas para lésbicas, rolou uma divertida e significativa discussão, na lista gls, uma das mais freqüentadas do meio lgbt, sobre sexo casual entre mulheres, que acabou terminando num papo sobre dstês e sexo pago.

Me chamou a atenção o fato de as mulheres mais velhas serem mais abertas quanto a possibilidade de sexo casual, sexo entre desconhecidas e mesmo sexo pago enquanto as mais jovens, em geral, mais ligadas ao ideal do amor romântico.

Por medo da transmissão de dstês, em relação as quais as mulheres seriam mais vulneráveis inclusive por questões anatômicas, ou por considerarem que, para fazer sexo, é imprescindível haver ligação afetiva também, a maioria disse que dispensaria as saunas para éLes.

Sexo pago então, nem pensar pelo visto. Mas por que não? Mulheres não teriam simples necessidades físicas também? O que haveria de tão problemático em pagar por sexo? Não seria uma relação às vezes mais honesta e igualitária do que muitas relações amorosas onde falta sinceridade e sobra manipulação?

O que você acha?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Imagine eu e você - Imagine Me and You

Imagine Me and You é uma gracinha de filme. Uma comédia romântica lésbica, com duas mulheres bonitas, todo o mundo compreensivo, e uma cena de reecontro, em meio a um trânsito congestionado, de amolecer o mais empedernido dos corações.




Imagine Me & You
(Imagine Me & You, EUA, Inglaterra, Alemanha, 2005)
Gênero: Comédia
Duração: 94 min.
Produtora(s): BBC Films, Cougar Films Ltd., Ealing Studios, Focus Features, Fragile Films, X-Filme Creative Pool
Diretor(es): Ol Parker
Roteirista(s): Ol Parker
Elenco: Piper Perabo, Lena Headey, Matthew Goode, Celia Imrie, Anthony Head, Darren Boyd, Sue Johnston, Boo Jackson, Sharon Horgan, Eva Birthistle, Vinette Robinson, Ben Miles, John Thompson (5), Mona Hammond, Ruth Sheen

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A implosão da Mentira - Affonso Romano de Sant'Anna

Fragmento 1
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes.
Alegremente mentem.
Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam.
Mas suas frases falam.
E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade pela mentira,
nem à democracia pela ditadura.

Fragmento 2
Evidente/mente
a crer nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.
Mentem com a cara limpa
e nas mãos o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente
como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical? mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país de mentira
—diária/mente.

Fragmento 3

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.

Mentem como se Colombo
partindo do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.

Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.

Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.

Penso nas flores cuja verdade das cores
escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre
diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5
Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira
só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.

Poema publicado em 1980, pelo autor, em vários jornais, mas também em algumas antologias como A Poesia Possível, Editora Rocco, Rio de Janeiro, 1987.

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